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sábado, 14 de julho de 2018

História da Igreja: Tácito um Historiador Romano e o Cristianismo



Públio (Gaio) Cornélio Tácito (56/58 d.C.- 118/120 d.C.) foi um historiador romano que viveu no primeiro século. Há poucas informações sobre ele, mas o que se pode afirmar conforme a professora Mariza Moura de Miranda é que:
“pertencia à burguesia provincial, teve excelente educação, iniciou a sua vida pública como orador e que o êxito alcançado levou-o às funções públicas. Favorecido pelos imperadores Flávios foi questor, tribuno da plebe ou edil, pretor e senador”.
Foi um excelente orador e um advogado que serviu no Senado romano, e que foi nomeado para exercer um cargo político na província da Germânia. Arnaldo Momigliano (2004) identifica a relevância de suas obras, considerando Tácito como fonte primária para historiadores, teólogos, moralistas e políticos por mais de três séculos.
Ele é reconhecido como um dos principais historiadores da Roma do primeiro século da era cristã segundo os especialistas que leram suas obras. Escritor de sutilezas e afiada ironia, mas de uma perspicácia transcendente da realidade humana. Um de seus contemporâneos, Plínio o Jovem, em uma correspondência faz uma menção ao colega historiador: “suas histórias serão imortais” (Epístolas, 7, 33). Porém, após o segundo século ele foi quase que completamente esquecido. É provável que uma das razões, entre outras, tenha sido a antipatia de judeus e cristãos pelas suas posturas antissemitas e anticristãs. Um dos escritores cristãos, Tertuliano é contundente e acusa-o de ser “o mais eloquente dos mentirosos” (Apologia, 16). Quase no final do segundo século o Imperador Tácito (275-276), seu descendente, ordena que se façam novas cópias dos escritos históricos para que não se perdessem.
Somente no século IX, período medieval, se redescobre as obras de Tácito, primeiramente uma parte do “Vida de Agrícola” (Gneu Júlio Agrícola, cônsul romano e seu sogro), sua primeira obra publicada, logo após o assassinato de Domiciano e a ascensão de Nerva; posteriormente, na Alemanha, os livros I a VI dos Anais e somente na segunda parte do século XI, na Itália, se encontram os demais livros dos Anais (dezesseis no total), bem como, os livros I a V das Histórias (quatorze ao todo).
Todavia, suas temáticas continuam atuais apesar dos séculos, como por exemplo - como conviver com o poder? A história demonstra que essa convivência é com raríssima exceção corruptora, como tão bem ele registra em sua obra, mas que podemos contemplar a olhos nus na própria história do Brasil desde seus dias de Colônia até os governos atuais, bem como na própria História da Igreja Cristã de ontem e de hoje.
Do que se preservou de suas muitas obras duas se destacam: os Anais e as Histórias são tomados como duas partes de uma mesma obra, onde ele registra pontuando com suas observações pessoais, a história da Roma do primeiro século, começando com a morte de Augusto César em 14 dC e terminando com a morte de Domiciano em 96.
O que possuímos das Historiae é um quadro de uma guerra civil em que os líderes não são mais e talvez até menos importantes do que a multidão – soldados provinciais, plebe romana. Nos Annales, a perspectiva muda. As personalidades do imperador e de suas mulheres, e de alguns poucos generais e filósofos dominam o cenário. (MOMIGLIANO, 2004, p. 163)
Usando a ótica dos imperadores, Tácito contempla os diversos eventos que ocorreram no transcorrer do primeiro século. Para a História do Cristianismo seus relatos adquirem relevância significativa porque coincide com o tempo da vida terrena de Cristo, com o desenvolvimento da igreja cristã primitiva e com os registros canônicos que perfazem o Segundo Testamento.
Muito do material elaborado por Tácito está perdido, mas as partes que permanecem são fascinantes. Um dos livros que sobraram dos Anais é o livro 15, que conta a história do reinado de Nero de 62 a 65 anos. Essa foi uma época muito importante, coincidindo com a prisão de Paulo e o martírio de Pedro, conforme a tradição da igreja, ambos em Roma e sob a autoridade de Nero.
Ele também trata sobre um tema muito importante ocorrido no primeiro século: o grande incêndio ocorrido na cidade de Roma em 64. O historiador registra que havia fortes indícios de que o próprio Nero era considerado responsável pelo incêndio. Ele tinha o desejo de reconstruir a cidade e, se pudesse simplesmente queimar algumas das áreas indesejáveis ​​da cidade, seria mais fácil para ele reconstruir. Mas o fogo ficou fora de controle e acabou destruindo grande parte da cidade. Isso fez com que o povo de Roma se voltasse contra ele. Imediatamente espalha-se a “fake news” de que o incêndio tinha sido iniciado pelos cristãos, que naquele momento era considerado uma seita dos judeus que também não eram bem visto pelo populacho. Tácito nos informa o que aconteceu:
Consequentemente, para se livrar da culpa, Nero colocou a culpa e infligiu as mais requintadas torturas em uma classe odiada por suas abominações chamadas de “cristãos” pela população. Christus, de quem o nome teve suas origens, sofreu a penalidade extrema durante o reinado de Tibério nas mãos de um dos nossos procuradores, Pôncio Pilatos, uma superstição perniciosa, assim controlada por momento, novamente surgiu, não apenas na Judéia, a primeira fonte do mal, mas mesmo em Roma, onde tudo o que é repugnante e vergonhoso, vindo de todas as partes do mundo, encontra um centro e ganha popularidade. Primeiramente foram detidos todos os que se deram como culpados. Depois, graças a tudo o que disseram, uma enorme multidão foi condenada, não tanto pelo crime de incendiar Roma, mas sim por ódio contra a humanidade. Às suas mortes acrescentou-se escárnio de todo o tipo. Coberto com peles de animais, eles foram rasgados por cães e pereceram, ou foram pregados a cruzes, ou foram condenados às chamas e queimados, para servir como iluminação noturna, quando o dia tinha expirado.
Nesta pequena referência de Tácito, podemos observar várias coisas: vemos uma das primeiras referências fora do Segundo Testamento a Cristo, em que Seu julgamento e morte é datada em relação a Pôncio Pilatos e a referência é feita à Sua morte por crucificação; também tomamos conhecimento da atitude dos romanos em relação aos cristãos e a intensa e cruel perseguição que enfrentaram por causa de Nero.
Poucos são os estudiosos antigos ou modernos que duvidam da credibilidade da referência histórica de Tácito sobre os cristãos. Somente em 1885 o P. Hochart concluiu que se tratava de uma interpolação de cristãos ao texto, mas Robert van Voorts argumentou de forma inequívoca de que tais informações não poderiam ser interpolações de cristãos, pois o texto trata o cristianismo e os cristãos como sendo uma “perversa superstição”, “fonte do mal” ou ainda como sendo “horrenda e vergonhosa”, uma caracterização totalmente negativa com as quais nenhum cristão concordaria e por esta razão Tertuliano repudiava as obras de Tácito e o acusa, conforme acima mencionado, de ser “o mais eloquente dos mentirosos” (Apologia, 16). Por fim John P. Meier (1991, p. 168) conclui que não há nenhuma evidência quer seja da arqueologia ou histórica que ofereça fundamento de que o texto teve interpolação de algum escritor cristão posterior.

Utilização livre desde que citando a fonte
Guedes, Ivan Pereira
Mestre em Ciências da Religião.
Universidade Presbiteriana Mackenzie
me.ivanguedes@gmail.com
Outro Blog
Reflexão Bíblica

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Referências Bibliográficas
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DUDLEY, D.R. The World of Tacitus. Londres: Secker& Warburg, 1968.
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terça-feira, 10 de julho de 2018

Protestantismo no Brasil: mudanças que possibilitaram a inserção e desenvolvimento do protestantismo presbiteriano



O BRASIL NO CONTEXTO PRÉ SIMONTON: mudanças que possibilitaram a inserção e desenvolvimento do protestantismo presbiteriano.

BRAZIL IN THE CONTEXT OF PRE SIMONTON: changes that allowed the insertion and development of presbyterian protestantism.

Resumo
Este artigo tem como objetivo destacar o contexto político, econômico, social e religioso que Simonton herdou e onde desenvolveu o seu profícuo ministério missionário. As mudanças em todas estas áreas que ocorreram nos cinquenta anos que antecederam a chegada dele, principalmente nos últimos dez anos, prepararam de forma única a inserção e desenvolvimento do protestantismo presbiteriano no Brasil. Quando Simonton desembarca no porto do Rio de Janeiro o que indicavam apenas possibilidades, os anos posteriores demonstrariam ser uma realidade.

Palavras Chaves
Simonton, Brasil, protestantismo, presbiterianismo, colportagem.

Introdução
O Presbiterianismo estabelece-se no Brasil eclesiasticamente, após alguns esforços pessoais, em 1859 com a chegada do missionário americano Ashbel Green Simonton dando origem a Igreja Presbiteriana do Brasil.
Nos cinquenta anos que antecedem a chegada de Simonton, principalmente nos dez últimos, o Brasil experimenta uma profunda e continua metamorfose em todas suas esferas sociais, que haverão de transformar e alterar definitivamente sua trajetória histórica e principalmente no que concerne à religião. Podemos dizer que estes anos constituíram-se em um período de maturação, para a inserção definitiva do protestantismo na história e na vida dos brasileiros, que perdura até os dias atuais, com todas suas implicações nas mais distintas esferas sociais.
O Brasil na Chegada de Simonton
            Quando Simonton chega ao Brasil o protestantismo já se fazia presente no contexto social e na mentalidade de grande parte dos brasileiros. Afora as duas frustradas e distantes tentativas de um protestantismo invasor pelos Franceses e depois pelos Holandeses, que não são serão examinadas neste artigo, mas que possuem uma ampla bibliografia a ser consultada (MATOS, 2008, pp. 84-93; LESSA, p. 11s.; SCHALKWIJK, 2004).
As Primeiras Aberturas ao Protestantismo
            Desde 1808 com a transferência da Corte portuguesa para o Brasil, debaixo da proteção inglesa, e a simultânea abertura dos portos brasileiros aos países amigos, o país se abriria definitivamente para outras nacionalidades e evidentemente suas respectivas religiões.
            O “Tratado de Comércio e Navegação” (1810) em seu Artigo XII (REILY, 1993, pp. 40-41), firmado por Dom João VI com a Inglaterra, vai permitir a prática cúltica anglicana possibilitando assim, de maneira inédita, que pregações protestantes fossem feitas legalmente no país, ainda que restrita aos estrangeiros, pois permanecia vedada qualquer tipo de proselitismo.
            Em 1824 imigrantes alemães se instalaram na cidade de Friburgo, no Rio de Janeiro, e posteriormente espalharam-se por toda região sul do país, de maneira que em 1830 havia um numero expressivo de 4.800 alemães com suas respectivas igrejas e escolas, formando colônias também em São Paulo, Santa Catarina e Paraná. Em 1827 formou-se a Comunidade Protestante Alemã-Francesa, eram bilíngues, composta por luteranos e calvinistas e posteriormente agregaram-se reformados suíços. (MATOS, 2008, pp. 94-100; MENDONÇA e VELASQUES, 1990, pp. 26-28; REILY, 1984, pp. 51-52; DREHER, 1989, pp. 59-74). Pressionado por esta opção pela imigração europeia, de cunho protestante, em detrimento de outras populações, de origem católica, em 1824 a primeira Constituição Brasileira, redigida por Dom Pedro I com a ajuda de seu Conselho de Estado e debaixo de forte influência do espírito liberal, (GABATZ, 2011) concede-se no Art. 5º a não-católicos o exercício privado, enquanto o exercício público da religião continua sendo privilégio dos católicos:
A Religião Católica Romana continuará a ser a Religião do Império. Todas as outras religiões serão permitidas com seu culto doméstico ou particular, em casas para isso destinadas, sem forma alguma exterior de templo.
As Sociedades Bíblicas e a Colportagem
As Sociedades Bíblicas - Britânica e Americana - começam a enviar seus agentes “colporteurs” que viajam milhares de quilômetros por todo o Brasil distribuindo Bíblias, bem como outros panfletos contendo a mensagem evangélica protestante. (MATOS, 2008, pp. 101-102).
A expansão extremamente rápida e profícua do protestantismo no Brasil é devedora em alto grau às atividades continua da denominada colportagem, que foi exercida inicialmente pelos primeiros missionários e posteriormente por centenas de leigos brasileiros que percorreram todo o país, saindo dos grandes centros urbanos e chegando aos lugares mais distantes e às vilas mais acanhadas, oferecendo bíblias e comunicando a mensagem evangélica pela perspectiva protestante. Soares, que conta em detalhes o desenvolvimento desta atividade no Brasil, registra que o esforço incessante dos colportores tornou-se logo cedo motivo de preocupação por parte das lideranças católicas, conforme se percebe nas palavras do padre Agnelo Rossi ao fazer uma definição dos colportores:
Tradução do vocábulo anglo-gálico colporteurs. São os propagandistas viajantes que, de povoação em povoação, de casa em casa, vão desenvolvendo uma propaganda ativíssima com a venda de Bíblias e opúsculos evangélicos, e com a distribuição de folhetos de propaganda. Ordinariamente, são homens peritos em convencer, com termos sonoros e lábia invulgar. Servem muitas vezes de meio utilíssimo para fundação de novos centros protestantes. Observadores perspicazes, eles sondam o terreno onde sua propaganda é mais ou menos eficaz e informam as seitas sobre as possibilidades dos locais percorridos.  (1939, pp. 146-47, apud SOARES, 1996, p.15 itálico do autor e negrito meu).
            Alguns destes primeiros observadores estrangeiros escreveram suas reminiscências sobre o país e despertaram um crescente interesse por parte de seus concidadãos em relação ao Brasil. Um dos mais populares foi escrito por um missionário metodista americano Daniel P. Kidder – “Reminiscências de Viagens e Permanências no Brasil” (1972) que vai influenciar muito um pastor presbiteriano, James C. Fletcher, que atuara de forma efetiva no país por mais de dez anos e que atualizando as informações anteriormente editadas por Kidder, vai editar um novo livro com o título de “O Brasil e os Brasileiros” (1941) que terá sua primeira edição em inglês em 1857 e reedições atualizadas em 1866, 1867 e 1868, sendo que nas últimas edições foi inserido um capítulo especialmente voltado para os possíveis imigrantes sulistas do pós-guerra civil americana, tendo também algumas edições em português. (VIEIRA,1980, 71). Os livros de Kidder e Fletcher, conforme Ribeiro vai fixar na mente dos norte-americanos uma imagem bastante positiva do Brasil e principalmente em ser “acessível aos protestantes” e “como ‘país de Missão’, ao quais as igrejas protestantes deviam enviar missionárias”. (1981, p. 14).
Os Primeiros Brasileiros e as Primeiras Igrejas Protestantes Brasileiras
            Digno de nota é o esforço empreendido por missionários metodistas americanos que entre os anos de 1835 e 1841, além dos estrangeiros residentes, também alcançaram muitos cidadãos brasileiros com sua mensagem protestante. (REILY, 1993, pp. 92-93; COSTA, 2003, pp. 2-5).
            Mas o primeiro missionário a estabelecer uma denominação protestante com brasileiros e para brasileiros foi o Dr. Rev. Robert Reid Kalley (1855) que fora fortemente influenciado pelos livros de Kidder e Fletcher e persuadido por correspondência por este último a se estabelecer no Brasil (VIERIA, 1980, p. 66; MATOS, 2008, p.106; LEONARD, 1981, p. 55).
Em 11 de junho de 1858 Kalley batiza o primeiro brasileiro marcando assim a data de fundação da Igreja Evangélica, posteriormente denominada Fluminense. Em 1868 um dos diáconos, Manoel José da Silva Viana, estabelece-se em Recife e em 1873 com a presença de Kalley 12 pessoas são batizadas e organiza-se a Igreja Evangélica Pernambucana. (SOARES, 2009, p. 41).
            O Imperador D. Pedro II com seu perfil desenvolvimentista e liberal manteve contatos tanto com Fletcher quanto com Kalley e apreciava e incentivava o espírito progressista do protestantismo americano e europeu o que certamente facilitou em muito a inserção destes no país (VIEIRA, 1980, pp. 64-65 e 121-122; LÉONARD, 1981, pp.47-48).
Mudanças Econômicas e Sociais
            Outro aspecto importante, que antecede a chegada de Simonton, é que o país esta em frenética ebulição, saindo de um sistema estritamente agrário-rural e iniciando seu processo de industrialização e urbanização, alterando substancialmente as estruturas sociais e políticas brasileiras.
            Os dados estatísticos fornecidos por Prado Junior (2004, p. 192) revelam a pujança desta mudança de eixo econômico-social que se revelaria irreversível. E conforme Rocha o “... país estava num decênio de importantes reformas e melhoramentos”, o qual ele destaca alguns exemplos: introdução dos vapores marítimos; a Companhia de Gás na Capital; a estrada de ferro Petrópolis-Mauá; o projeto da Estrada de Ferro D. Pedro II; o aumento da propaganda anti escravagista; o destaque dado aos Estados Unidos como país que mais atraia imigrantes por causa de sua tolerância e liberdade de culto e consciência em contra partida ao cerceamento constitucional de fundo católico romano no Brasil; a melhoria e ampliação do sistema educacional (1941, p. 24).
            Apesar desta efervescência econômico-social o país vivia um período político calmo, onde os dois partidos, o conservador (governista) e o progressista (oposicionista), tinham estabelecido uma aliança sob a liderança do Marquês de Paraná (KIDDER e FLETCHER, 1941, p. 205).
            A Igreja Católica Romana por sua vez estava fragilizada, tanto pelo sistema regalista, quanto por sua crise interna entre os galicanistas, de ideias liberais, que almejavam uma Igreja Católica brasileira, autônoma de Roma, e os ultramontanistas, de cunho conservador, que lutavam por manter a Igreja Católica brasileira debaixo da supremacia papal. (MATOS, 2008, pp. 62-64).
Consulta Jurídica Sobre a Tolerância e Liberdade Religiosa no Brasil
            Uma última questão muito importante que antecede apenas alguns meses da chegada de Simonton, mas que vai ser fundamental para as suas atividades missionárias e denominacional, é a consulta jurídica proposta pelo Dr. Rev. Kalley sobre a tolerância e liberdade religiosa no Brasil.
            Kalley estava sendo coagido de várias formas a parar suas atividades religiosas proselitistas, pois havia batizado e recebido como membros de sua denominação duas senhoras da alta sociedade. Então faz uma consulta a três dos mais eminentes juristas do Império: Dr. José Nabuco Tomáz de Araujo, então Ministro da Justiça, Dr. Urbano Sabino Pessoa Mello, magistrado e político e Dr. Caetano Alberto Soares, ex-sacerdote católico romano, magistrado e político, solicitando seus pareceres legais e por escrito, conforme um questionário contendo onze pontos relacionados à questão religiosa no país.
            Os pareceres dos juristas foram amplamente favoráveis a causa de Kelley e lhe deram fundamentação legal e constitucional para que continuasse a desenvolver suas atividades religiosas. Encaminha ao Governo Imperial suas documentações e os pareceres que são acolhidos pelo então Ministro do Interior, Conselheiro J. N. da Silva Paranhos, que fica satisfeito com as explicações de Kalley e lhe assegura os direitos constitucionais. A resolução oficial do Governo chega às suas mãos em 13 de agosto de 1859, portanto, um dia após o desembarque de Simonton no Brasil. (ROCHA, 1941, p. 95; VIEIRA, 1980, p. 114).
E Pinto sublinha muito bem a importância deste ponto para a inserção permanente do protestantismo no Brasil, em sua dissertação sobre Kalley e a ampliação da liberdade religiosa:
Os pareceres dos juristas e a resolução governamental foram a jurisprudência necessária para que se tornasse mais efetiva a implantação permanente do protestantismo no Brasil, servindo de referência aos demais grupos que começaram a chegar ao pais. [...] Kalley saiu tremendamente fortalecido do episódio, projetando-se nos meios acatólicos e também na elite da sociedade brasileira. Um missionário por conta própria, desvinculado de qualquer denominação, que não representava nenhuma igreja ou sociedade missionária estabelecida no exterior, obteve o parecer importante de que o cidadão tinha o direito de seguir a religião que quisesse, segundo o prescrevia a Constituição de 1824. (2005, p. 111).

            Portanto, quando Simonton desembarca no porto do Rio de Janeiro, no dia 12 de agosto de 1859 encontra um Brasil, político, social, econômico e religiosamente favorável e maturado para a implantação e desenvolvimento de sua denominação presbiteriana. O que os anos anteriores indicavam apenas possibilidades, os anos posteriores demonstraram ser uma realidade.

Utilização livre desde que citando a fonte
Guedes, Ivan Pereira
Mestre em Ciências da Religião.
Universidade Presbiteriana Mackenzie
Outro Blog
Reflexão Bíblica


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Referências Bibliográficas
DREHER, Martin N. Protestantismo de inmigración en Brasil - su implantación en el contexto del proyecto liberal modernizador y las consecuencias del mismo. Revista Cristianismo y Sociedad 27, nº 1, 1989.
GABATZ, Celso. A influência do liberalismo e do protestantismo na constituição da sociedade brasileira. Passo Fundo, RS; Revista Semina V10 - 2º semestre, 2011.
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MATOS, Alderi Souza de. Erasmo Braga, o protestantismo e a sociedade brasileira – perspectivas sobre a missão da igreja. São Paulo: Cultura Cristã, 2008.
MENDONÇA, A. G. e VELASQUES P. Introdução ao Protestantismo no Brasil. São Paulo: Edições Loyola,1990.
PRADO JUNIOR, Caio. História econômica do Brasil. São Paulo: Editora Brasiliense, 46ª reimpressão, 2004.
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ROCHA, João Gomes. Lembranças do passado – Ensaio histórico do inicio do trabalho evangélico no Brasil, do qual resultou a fundação da Igreja Evangélica Fluminense pelo Dr. Robert Reid Kalley. Rio de Janeiro: Centro Brasileiro de Publicidade Ltda, vol. 1, 1941.
SCHALKWIJK, Frans Leonard.  Igreja e Estado no Brasil Holandês (1630 a 1654). São Paulo: Cultura Cristã, 2004.
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VIEIRA, David Gueiros. O protestantismo, a maçonaria e a questão religiosa no Brasil. Brasília: Editora da Universidade de Brasília, 1980.

ABSTRACT
This article aims to highlight the political, economic, social and religious Simonton developed for inherited his fruitful missionary ministry. The changes in all these areas that occurred in the fifty years preceding his arrival, especially in the last ten years, uniquely prepared insertion and development of Protestantism in Brazil. When Simonton arrives at the port of Rio de Janeiro indicated that the only possibilities, years later would show a reality.

KEYWORDS
Simonton, Brazil, Protestantism, Presbyterianism, Canvassing.


sexta-feira, 6 de julho de 2018

Protestantismo Brasileiro - Os Cristãos e o Movimento Sindicalista


A década de cinquenta foi realmente o período mais intenso e tenso da história do protestantismo brasileiro. Estamos na terceira geração de protestantes e, portanto é possível falarmos de um protestantismo brasileiro que experimenta pela primeira vez um conflito aberto de gerações. De um lado estão os poucos remanescentes da primeira geração e a consolidação de liderança composta pela segunda geração e do outro lado o surgimento de uma nova liderança composta proeminentemente por uma juventude completamente inserida nos novos contextos teológico-cultural-social brasileiro e mundial.
As mudanças pós Segunda Guerra Mundial se fazem sentir em todo o mundo e o Brasil não é exceção. Tudo será mudado incluindo a forma de se fazer missão e a forma de ser igreja. O bloco comunista liderado pela União Soviética vai exigir da igreja cristã uma resposta e postura diferente e contundente. Uma destas respostas é o chamado Evangelho Social que se torna um instrumental evangélico para interagir o ser igreja no meio desta nova sociedade que esta nascendo.
No Brasil como em todo o restante do mundo as expectativas e debates são intensificados e novas perguntas exigem novas respostas. A nova geração protestante brasileira esta antenada em todas essas mudanças; nas denominações evangélicas a juventude começa a questionar velhas formulas e tradições; os centros acadêmicos municiados por novas literaturas e perspectivas tornam-se a caixa de ressonância destes novos debates teológicos.
Entre as juventudes protestantes destacam-se os presbiterianos. Suas uniões de mocidade estão inseridas em todas as igrejas por todo o território brasileiro; uma coordenação nacional e regional proporciona um gerenciamento e crescimento local; estão prontos, mas lhes falta um líder que se constitua em catalizador de toda esta energia. É nesse momento que surge a figura do missionário estadunidense Richard Shaull, que a convite da Igreja Presbiteriana do Brasil (IPB) vem lecionar no Seminário Presbiteriano em Campinas. Sua empatia com os jovens seminaristas é imediata e logo se estende por toda a juventude protestante brasileira. Suas propostas são como água fresca para a sedenta mocidade evangélica brasileira. Evidentemente que esse movimento haverá de convulsionar as denominações evangélicas brasileiras que arraigadas em suas estruturas eclesiásticas reagiram de forma contundente para preservarem o que com tanto esforço haviam construído. A ira destes líderes eclesiásticos tem um alvo especifico – Richard Shaull. Todas as suas propostas e todos que de alguma forma as endossam tornam-se anátemas e aproveitando-se da fobia de tudo que se parece ou tenha cheiro de comunismo, de maneira que Shaull e todos que exijam quaisquer mudanças são carimbados com o selo de comunistas que desejam destruir as igrejas. Exatamente como as mais diversas lideranças religiosas judaicas trataram Jesus Cristo e posteriormente a primeira geração de cristãos, que foram perseguidos e mortos, pois traziam uma nova doutrina e costumes, desmontando toda a superestrutura que por séculos havia sido construída ao redor do Templo e do judaísmo.
É nesse contexto conturbado que surge a literatura produzida por Richard Shaull carregado de todas as perspectivas e possibilidades oferecidas pelas novas cosmovisões que estão sendo construídas na Europa e nos Estados Unidos. O título do livro “Cristianismo e a Revolução Social” produz imediatamente dois sentimentos antagônicos, na linguagem evangelical: para os que desejam mudanças uma bênção, mas para os que são avessos às mudanças é uma maldição. O termo “revolução” naquele momento histórico está ligado umbilicalmente à “revolução russa e/ou comunista” cantado em verso e prosa como o maior e mais terrível perigo para o cristianismo no mundo. Na verdade a proposta de Shaull é apenas de demonstrar que o Cristianismo é muito mais revolucionário do que o comunismo. O primeiro visa apenas uma dimensão do ser humano, mas o cristianismo trás uma mensagem para o ser humano de forma integral. Assim como aquela mulher que ao quebrar o frasco daquele precioso perfume e derramá-lo sobre Jesus, acaba por espalhar seu fragor por todo o ambiente de maneira que todos puderam usufruir do raro perfume, assim a mensagem evangélica não pode e não deve ficar limitada ao frasco (denominação) e ser apreciado apenas em pequenas doses a um grupo seleto de pessoas (membros), mas deve permear toda a Sociedade, em todas as suas instâncias, de maneira que todos possam sentir seu agradável perfume. Em palavras mais praticas – o Evangelho tem que sair das igrejas e ser pregado e vivenciado em todas as esferas da Sociedade brasileira. Para Shaull os evangélicos brasileiros tem a grande oportunidade (que perdeu) de impactar a Sociedade com a mensagem completa do Evangelho, permeando suas mais diversas esferas com os princípios evangélicos e construindo uma Sociedade mais justa e igualitária. Abaixo transcrevo um sub capítulo deste livro em que Shaull demonstra a importância dos evangélicos estarem inseridos nos movimentos sindicais e ali fazerem diferença. Se está proposta de Richard Shaull e tantos outros tivesse prevalecido, com todo certeza figuras nefastas como as que recentemente governaram esse país, não teriam surgido ou se viessem a surgir não teriam a força e projeção que angariaram. Esses setores sociais, assim como tantos outros, como a cultura, foram entregues gratuitamente para signatários sociais imbuídos dos ideais mais infestos possíveis, e cujos resultados perniciosos colhemos nos dias atuais. Assim como tudo que se planta, acaba se colhendo, o inverso também é verdadeiro, pois o que não se planta, também não se pode colher. Por fazer a opção de se manter a qualquer custo sua zona de conforto e seu status quo, o protestantismo evangélico brasileiro perdeu a grande oportunidade de mudar os designíos desta Nação, que ficou à mercê do que há de pior na espécie humana depravada.

Os Cristãos e o Movimento Sindicalista
Durante os anos mais recentes, a Igreja Protestante tem começado a perceber a importância que tem o proble­ma das suas relações com o movimento sindicalista. Porque o movimento sindicalista tem-se tornado uma das mais im­portantes forças no nosso mundo moderno. Ele tem sustentado, quase que sozinho, toda a batalha dos trabalhadores na conquista da justiça, na nossa sociedade industrial. Cada vez mais ele se tem tornado uma força que irá determinar em grande medida, a estrutura da nossa sociedade.
Qual deverá ser a nossa relação de cristãos para com este movimento? Qual a articulação do nosso interesse cristão com esta batalha do trabalho? Se o cristão espera exercer qualquer influência na sociedade do futuro, como poderá permanecer à margem deste movimento?
O nosso problema tem-se tornado ainda maior pelo fato de que outras forças, percebendo a importância deste movimento, tenham feito um determinado esforço para controlá-lo, enquanto que nós dormimos placidamente. Por toda a América Latina os comunistas têm assumido a liderança do movimento sindicalista e, em muitos países, já o dominam praticamente. A Igreja Católica não lhes fica muito atrás. Em muitos casos, a sua hierarquia tem como finalidade principal dominar esse movimento. Noutros casos, católicos sinceros e consagrados têm feito um esforço permanente para exercer influência cristã dentro do movimento. Na Alemanha e na França, algumas centenas de padres têm penetrado anônimos, nas fábricas, como operários comuns e estão vivendo vidas de sacrifício e dedicação incomuns. Temos sobre a escrivaninha um recorte de “O Estado de São Paulo”, de hoje, com uma entrevista do Secretário Geral da JOC (Juventude Operária Católica), presentemente viajando através da América Latina, na organização de núcleos jocistas. Segundo a reportagem, já foram organizadas 55 secções da JOC, na cidade de São Paulo, e mais 50, em outros centros industriais do sul do Brasil. O esforço é para a formação de grupos de jovens operários, os quais, com a assistência de estudantes universitários, possam enfrentar e resolver seus problemas, e desenvolver um senso de missão dentro da sociedade industrial.
Qual é, então, a nossa tarefa, como protestantes, em face de tudo isto? Naturalmente que não iremos iniciar qualquer esforço, como igreja, para dominar o movimento sindicalista, ou agir como um grupo de pressão dentro do mesmo, porque isto seria atraiçoar a própria natureza da nossa fé protestante. Mas nós temos a responsabilidade, como cristãos, de dar o nosso testemunho a respeito de Jesus Cristo, em todas as esferas da vida, como também a de afirmar e interpretar a significação da Sua soberania em todas as estruturas da sociedade. Se Jesus Cristo é o Senhor do mundo, então, nós, que nele cremos temos de marcar presença, especialmente nos movimentos que dominam a vida do mundo, para darmos testemunho de Jesus Cristo e do Seu propósito para a vida humana.
Como poderemos nós, cristãos protestantes, começar a fazer isto, hoje, na América Latina? Há, pelo menos 3 coisas que podemos empreender agora:
1. Em quase todas as grandes cidades da América Latina há muitos operários industriais e membros dos sindicatos, que são membros, de alguma igreja protestante. Em muitos casos, os nossos pastores e as nossas igrejas não sabem quantos dos seus membros estão dentro do movimente nem quais deles desempenham atividades diretivas nos sindicatos. Com estas pessoas é que devemos começar, ajudando-as a descobrir a sua vocação cristã — e testemunho que são chamados a dar do seu Senhor, tanto na fabrica como no sindicato.
Se estivermos dispostos a fazer isto precisaremos, antes de tudo, descobrir estas pessoas e que estão elas fazendo. Depois precisamos de estabelecer contacto com elas e despertar o seu interesse e solicitude. Então, devemos providenciar os meios de estudar com elas a sua responsabilidade. Isto poderá ser feito por meio de breves institutos e retiros, e pela formação de pequenos grupos de estudo, que poderiam explorar e discutir estes assuntos. Tais experiências forneceriam material para a discussão e para estudo, por outros grupos através do Continente.
2. Poderemos organizar institutos de treinamento para operários, com cursos noturnos para dirigentes e membros do movimento sindicalista — protestantes e não-protestantes  sobre os problemas e responsabilidades fundamentais do trabalho no mundo moderno A Igreja Católica Romana tem feito largo uso destes métodos, tanto nos Estados Unidos como em outros países. Tem organizado, em grandes cidades, pelo país fora “Institutos do Trabalho”, com classes noturnas para dirigentes e membros dos sindicatos Os cursos são ministrados por padres, professores universitários e estudantes. Estudam os problemas da organização e direção do movimento sindicalista, oratória, leis trabalhistas, a doutrina católica sobre assuntos econômicos e sociológicos, e muitas outras coisas. É natural que indaguemos até que ponto estes institutos são instrumentos para conquistar a confiança dos dirigentes do movimento tornando assim, possível o controle desta grande força de qualquer maneira, porém, permanece o fato de que a Igreja esta presente; ela está prestando notável serviço e esta fazendo sentir o seu impacto sobre o movimento.
Na América Latina, a Igreja Protestante possue uma oportunidade incomum. A Igreja Católica e considerada como instrumento da reação; para muitos o Protestantismo é olhado como uma força nova interessada pelas massas que oferece uma palavra de esperança para o futuro, em razão desta atitude, que ainda persiste em alguns círculos, nós temos a oportunidade de dar um testemunho cristão eficaz neste campo. De novo aqui, são necessárias algumas experiências que possam desenvolver padrões suscetíveis de serem seguidos em qualquer parte.
3. Precisamos de apresentar o movimento sindicalista como uma vocação cristã laica para a juventude das nossas igrejas. Chegou o tempo de abandonarmos, de uma vez, a ideia de que a única vocação cristã é o ministério e de restituir de novo, a ênfase dos reformadores ao chamado do cristão. Dentro da linha de pensamento de que certas vocações leigas são tão importantes como o ministério, poderemos encarecer a necessidade de certos jovens crentes, de altas qualidades, se dedicarem ao movimento sindicalista como sua vocação cristã. A nós nos parece que esta será a réplica protestante aos padres operários católicos. Precisamos com toda a urgência, de alguns dos mais excelentes jovens que se preparem neste ramo e vão às fábricas como operários comuns e começando como simples membros de um sindicato operário, dando suas vidas neste campo como a sua vocação cristã específica.
Estas pequenas sugestões são somente um ponto de partida em nossa solicitude pelo proletariado industrial. À medida que formos avançando deste ponto, nova luz nos pode vir quanto a novas oportunidades e novas responsabilidades.
Cristianismo e a Revolução Social (Richard Shaull)

Utilização livre desde que citando a fonte
Guedes, Ivan Pereira
Mestre em Ciências da Religião.
Universidade Presbiteriana Mackenzie
Outro Blog
Reflexão Bíblica


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O Protestantismo na Capital de São Paulo: A Igreja Presbiteriana Jardim das Oliveiras.

Referência Bibliográfica
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