Durante o período do Segundo
Reinado, que demarca o inicio efetivo da implantação da religião cristã pela
vertente protestante no país,[1] um dos movimentos culturais
mais significativos no Brasil, particularmente no tocante à sua vertente literária,
foi o Romantismo. Este movimento irrompe na Europa e começa a tomar forma nos
primeiros anos do século XIX com a publicação da obra dos poetas ingleses
Wordsworth e Coleridge. O alemão Goethe, os franceses Alexandre Dumas e Victor
Hugo e o russo Pushkin, igualmente se constituem em alguns dos nomes mais
importantes do movimento inicial. Apesar da nomenclatura este movimento estava pejado
de um senso extremamente crítico da ordem estabelecida até então pelo Classicismo
e do Neoclassicismo que traziam em seu bojo os princípios de ordem, calma,
harmonia, equilíbrio, idealização e racionalidade. O Romantismo se coloca em
contra posição com uma proposta de:
[...] apreciação da natureza; exaltação da emoção em
detrimento da razão; exame meticuloso da personalidade humana; preocupação com
o gênio, o herói, e o foco em seus conflitos interiores; nova visão do artista
como criador individual supremo; ênfase na imaginação como ponto de partida para
experiências transcendentes; interesse pelas origens históricas e culturais da
nação; predileção pelo exótico, estranho, oculto, monstruoso, doentio e até
satânico. (Enciclopédia Itaú Cultural – Literatura Brasileira).
Apesar de não ter se originado é na França com sua Revolução
sustentada no tripé: Igualdade, Liberdade e Fraternidade, que o Romantismo germinara
com uma força fecundante e pela qual o Brasil será inoculado por seus
conceitos. Um dos pensadores mais importantes e influentes do período final do
Brasil Colonial e inicio do Brasil Imperial, sendo um dos mentores da
Independência, José Bonifácio de Andrada e Silva (1763-1838), após
desentendimentos com D. Pedro I e a dissolução da Constituinte e acossado tanto
por liberais quanto por conservadores acaba exilado em 1823 em território
francês por seis anos. Sua formação naturalista o torna suscetível a vários
aspectos deste novo movimento histórico-cultural-literário principalmente no
que tange as suas fortes ênfases nacionalista; ele toma contato com a
literatura de Byron, Scott e traduz Ossian, e posteriormente produz alguns
poemas expressando um sentimento vivo dos lugares se ajustando confortavelmente
entre os pré-românticos com sua proposição moralizante e civilizadora (CÂNDIDO,
2004, p. 15; CASTELLO, 2004, p. 163).[2]
José Bonifácio acaba por trazer esta sementeira em sua
bagagem quando de seu retorno ao Brasil para exercer nada menos do que a função
de tutor do então menino Pedro de Alcântara, futuro Imperador brasileiro. Com
certeza as sementes do romantismo francês foram transplantadas para a mente em
formação deste menino e que em momento posterior germinará manifestando-se no
propósito perseguido pelo então Segundo Imperador em moldar a forma de ser ou a
criação do ethos brasileiro.[3]
A transição do Primeiro para
o Segundo Reinado não foi sem turbulência, visto que D. Pedro I praticamente foi
forçado a retornar à Portugal, tanto pelas convulsões que lá ocorriam em
decorrência da morte e/ou assassinato de D. João VI, como também pela crescente
pressão politica interna do Parlamento brasileiro que já fomentava um governo
mais Parlamentarista e menos monarquista e de quebra ainda que de forma
incipientemente dava-se os primeiros passos em direção a um governo
republicano.[4]
É nesse contexto que D.
Pedro I abdica do trono brasileiro em favor de seu filho ainda menor em idade cinco
anos, para assumir o trono português. Após o período de tutela e antecipada a
emancipação do jovem monarca, no apogeu de seus 15 anos de idade, D. Pedro II
tem diante de si um enorme desafio não apenas de conciliar uma nação, mas de
moldar uma identidade própria para o país dentro da constelação das nações.
Para que isso fosse possível procura-se um discurso unificador que pudesse simultaneamente
conciliar a tradição monárquica aos anseios de um espírito nacionalista
efervescente. A solução é encontrada no movimento romancista naturalista, onde
as elites politicas e intelectuais entendem ser a forma ideal para saciar o
espírito nacionalista e revestir o governo imperial do glamour imponente
europeu. Francisco Bernardi descreve este momento:
Aqui marca o início das manifestações ostensivas visando
a concretizar os valores essenciais de nossa pátria; tanto no aspecto
histórico-social como no plano artístico-Iiterário. Mesmo influenciado pelo
espírito europeu, o Romantismo brasileiro preocupa-se em realçar a presença da
alma brasileira nos motivos e na linguagem. O Romantismo, no Brasil, coincide
com a independência política. O momento é de ardor e expressão patriótica de
uma nação, quando, de forma intensa, vive as transformações políticas,
econômicas e sociais. (1999, p. 85).
O
marco fundante deste movimento romancista
O ciclo virtuoso do ouro não
apenas criou e multiplicou uma nova classe social ascendente, como proporcionou
que estas famílias abastadas enviassem seus filhos à Europa, dos quais dois
centros se destacam – França e Inglaterra, que representam naquele momento o
modelo ideal de nação desenvolvida e culta. É possível ver nas casas, nas lojas
e nas ruas replicas exatas do modo de pensar e viver destas nações.[5] O relato de Debret,
artista que esteve no Brasil entre 1816 e 1831, demonstra a intensidade desta
influência francesa:
A moda, essa mágica francesa, em boa hora fez sua
irrupção no Brasil. O Império de D. Pedro [I] tornou-se um de seus mais
brilhantes domínios: ela reina como déspota, seus caprichos são leis: nas
cidades, toaletes, refeições, dança, música, espetáculos, tudo é calculado a
partir do exemplo de Paris, e, nessa relação assim como em algumas outras,
certos departamentos da França estão ainda bem atrás das províncias do Brasil”.
(VIDAL, 2009, p. 9-10).
Facilmente de pode
multiplicar os exemplos de identificação com a Europa e, mais especificamente,
com os franceses, entretanto, tudo isso
era muito mais um estado de espírito, norma comportamental, do que uma evolução
sociocultural real.
Como resultado deste
contexto pode-se encontrar flutuando pela Europa grupos de jovens brasileiros
na busca de aperfeiçoamento de seus estudos acadêmicos. Entre estes alguns
amigos se encontram em Paris em 1836. Estão impregnados pela atmosfera francesa
do movimento Romântico que estão produzindo mudanças profundas em toda a
Europa, tendo o espírito nacionalista como um de seus aspectos mais exacerbado.
É neste momento e atmosfera
que estes jovens amigos resolvem iniciar uma Revista para o
qual escolheram propositalmente o título de Niterói [Nitheroy – grafia original] que
teve apenas duas edições, elaboradas e impressas ainda na França, mas que veio
a se constituir no marco inicial do Romantismo brasileiro. Seus jovens editores
são: Gonçalves de Magalhães (1811-1882), Torres Homem (1812-1876) e Araújo
Porto-Alegre (1806-1879). No primeiro número, Magalhães publica um estudo
intitulado "Ensaio sobre a História da Literatura do Brasil"
considerado o manifesto romântico brasileiro. Sua tese é que os brasileiros
deveriam buscar sua própria forma literária, pois “cada povo tem a sua
Literatura, como cada homem o seu caráter, cada árvore o seu fruto”.
O texto de Magalhães é a
expressão de um literato brasileiro que incorpora o pensamento de diversos
europeus que anteviam a necessidade dos brasileiros produzirem uma literatura
mais nacionalista que enfatizasse a cor local, a temática e o ambiente natural
americano em que o Brasil estava inserido, entre os mais conhecidos estão
Almeida Garrett, Ferdinand Denis,[6] Friedrich Bouterweck.
O que se destaca no texto de
Magalhães é a ambivalência entre o nacionalismo e o sentimento antilusitanismo,
que se constitui em um desdobramento entre o clássico e o romântico. Portugal
torna-se o opressor representativo de toda opressão e cerceamento do desenvolvimento
de uma cultura essencialmente brasileira. Tecem-se duras críticas ao colonialismo
inicial feito com o que havia de pior na sociedade portuguesa, criminosos degradados,
pelo massacre das nações indígenas que aqui habitavam muito antes deles
chegarem, e pela manutenção de uma subcultura aqui produzida em todo o período colonial.
Nas palavras de Gonçalves de Magalhães podemos perceber este contexto:
“Não se pode lisonjear muito o Brasil de dever a Portugal
sua primeira educação, tão mesquinha foi ela que bem parece ter sido dada por
mãos avaras e pobres. No começo do século atual, com as mudanças e reformas que
tem experimentado o Brasil, novo aspecto apresenta a sua literatura. Uma só
idéia absorve todos os pensamentos, uma idéia até então desconhecida; é a idéia
de pátria; ela domina tudo, e tudo se faz por ela, ou em seu nome.
Independência, liberdade, instituições sociais, reformas políticas, todas as
criações necessárias em uma nova Nação, tais são os objetos que ocupam as
inteligências, que atraem a atenção de todos, e os únicos que ao povo
interessam” (1836, p.146).
Com as mudanças ocorridas a
partir de 1808 e principalmente 1822, uma nova atmosfera nacionalista exige
mudanças que proporcionem ao país desenvolver uma cultura autônoma que possa de
fato representar todo potencial que o brasileiro e o Brasil possuem. Os
brasileiros libertários devem se desfazer de seu ranço português e buscar novas
formas de construção da sua identidade coletiva.
Com um slogan “Tudo pelo Brasil, e para o Brasil”, o
movimento romântico iniciado por estes jovens, se ajusta perfeitamente na
moldura preparada pela “nova-velha” elite que necessita urgentemente criar o
ethos da nacionalidade brasileira. Evaldo Cabral de Mello coloca bem a razão
desta urgência: “O nacionalismo
brasileiro não precedeu, sucedeu, a criação do Estado nacional. O Brasil não se
tornou independente porque fosse nacionalista mas fez-se nacionalista por
haver-se tornado independente” (2002, p. 15).
É crescente nos primórdios
da independência o espírito nacionalista, que começa a buscar no passado
histórico uma identidade própria, exaltando-se a natureza e a pátria; em meio a
tudo isso o Brasil vivencia sua convulsões sociais, econômicas e políticas, que
culmina com a abdicação de D. Pedro I em favor de seu filho Pedro Alcântara,
com apenas cinco anos; seguindo o período regencial conturbado e finalmente a
antecipação da maioridade do agora D. Pedro II, no alto de seus quinze anos de
idade.
Como vimos acima, o menino
D. Pedro II foi tutelado pelo pré-romântico José Bonifácio, de maneira que na
busca de um ideal que pudesse forjar uma identidade própria, o romantismo surge
como a ferramenta perfeita, capaz de exprimir, de forma original, as singularidades
da nação brasileira. O conceituado professor Valdei Lopes de Araújo sintetiza
de forma peculiar o papel da literatura na formação da nacionalidade
brasileira:
O entendimento das letras como conseqüência e
produto da ação do homem racional, ou seja, do cidadão, é abandonado em favor
de uma compreensão da literatura como produção do gênio e expressão singular de
uma nacionalidade. Como parte mais visível e permanente da história de uma
nação, a literatura assume o papel de “cápsula do tempo” da nacionalidade,
lugar no qual, através de procedimentos da história da literatura, uma imagem
da identidade nacional poderia ser obtida (2008, p. 107-134).
Evidentemente
que tudo isso ainda está em forma embrionária e somente manifestara todo seu
potencial cultural renovador e autóctone no último estágio do Romantismo,
quando vai conseguir se libertar de sua dependência governamental e de fato
iniciar uma produção literária e cultural mais crítica e autônoma.
O apogeu deste movimento
Romancista esta justamente no período mais prospero do Segundo Império, cujo
monarca D. Pedro II vai se constituir no grande incentivador da cultura
nacional, pois tem como propósito moldar a sociedade brasileira conforme sua visão
de mundo moderno e progressista.
Fazendo um Link
É dentro deste contexto
cultural romancista que os primeiros missionários protestantes começam a transplantar
para o Brasil os diversos ramos evangélicos protestantes pelo seu viés
estadunidense. Evidentemente que em graus muito variados estes missionários
americanos, haverão de alimentar e serem alimentados por este ideário
romancista tão fortemente arraigados na sociedade brasileira. Um destes
pioneiros missionário foi o Rev. Jemes C. Fletcher, de origem presbiteriana[7] e que desembarca no Porto
do Rio de Janeiro em 14 de Fevereiro de 1852 (JAMES, 1952, p. 23) então com 29
anos, e permaneceu atuando até meados de 1869, com alguns intervalos.[8] Na mesma medida em que vai
adentrando o país vai sendo tomado por um entusiasmo crescente e apaixonante. Suas
expectativas do Brasil, pelo ideário anglo-americano de progresso, em que a
religião nos moldes protestante (expressa em suas múltiplas denominações)
haveria de alavancar o desenvolvimento econômico, científico e social, encaixa-se
perfeitamente nesta moldura do romantismo proposto pelo Imperador D. Pedro II e
cuidadosamente moldada pela literatura, artes, história, geografia e ciências
daquele momento histórico cultural.
O jovem entusiasta e porque
não dizer romântico missionário presbiteriano acalenta desde o principio o
sonho de atrair e envolver o Imperador para a construção de um Brasil com
ideário religioso protestante que segundo ele seria o passo maior para
alavancar o tão desejado crescimento potencial da nação brasileira. Sua visão
da figura de D. Pedro II demonstra o quanto Fletcher se ajusta perfeitamente à
ideologia romancista que foi pensadamente construída ao longo do reinado do
segundo Imperador brasileiro.[9] No transcorrer das páginas
de seu livro sobre o Brasil e os brasileiros, Fletcher realça ao máximo a
figura do monarca dos trópicos, destacando seu porte majestoso e mente
privilegiada, filantropo, promotor de reformas religiosas e um estudioso inveterado,
verdadeiro modelo para a juventude brasileira. Um capítulo inteiro (o décimo
terceiro) é dedicado especificamente à figura do imperador brasileiro. Em sua
excelente dissertação de mestrado Bruno Gonçalves Rosi (2009) registra:
Pode-se mencionar ainda que a edição de 1857 de O Brasil
e os Brasileiros é concluída com um discurso de Dom Pedro II a respeito das
possibilidades de desenvolvimento ainda diante do Brasil, algo que reforça o
papel atribuído por Fletcher ao monarca brasileiro nesse processo. A vista
dessas informações fica claro que a aproximação entre Dom Pedro II e os EUA, e
conseqüentemente Brasil e EUA, teve importante participação e incentivo de
Fletcher (2009, p. 160).
Sua forma peculiar de
interpretar sua própria missão fica explicita em uma carta longa que escreve ao
seu pai onde declara que sua missão é converter o Brasil ao protestantismo e ao
progresso (VIEIRA, 1980, p. 63). Em uma carta endereçada ao Journal of Commerce
de New York, ele define sua filosofia de ação missionária:
“......sei que alguns podem dizer que não é o papel de um
clérigo missionário estar envolvendo-se com negócios. Mas creio que tenho uma
visão mais alta do que o mero interesse mercantil do meu país, pois sou dos
tais que creem que a religião e o comércio são servos que, unidos com a benção
de Deus, servem para a promoção dos interesses mais nobres e mais altos da
humanidade” (VIEIRA, 1980, p. 65).
A paixão do missionário
americano pelo Brasil extrapola até mesmo os mais entusiastas dentre os
brasileiros. Ele não tem dúvidas em enaltecer o Brasil e defende-lo com todas
as suas forças, como fica claro no caso da guerra do Paraguai. Quando eclodiu a
chamada Guerra do Paraguai e/ou Guerra da Tríplice Aliança (1864-1870)[10] a mídia internacional em
geral noticiava que o Brasil estava demonstrando uma vocação imperialista e
colocava em prática um plano de domínio territorial da América do Sul. Esta
pseuda interpretação partia do principio simplista e ignorante de que um país
tão pequeno como o Paraguai jamais iniciaria uma guerra contra uma nação do
porte do Brasil. Fletcher torna-se então o paladino da justiça, bem aos moldes
do ideário romântico, e como uma voz a clamar no deserto sai em defesa do
posicionamento do Brasil e através de artigos e correspondências procura
demonstrar que a grande mídia estava equivocada em suas interpretações e que na
verdade fora o Paraguai que acalentou pretensões expansionistas e imperiais,
cabendo ao Brasil e seus aliados, depois de esgotados todos os entendimentos
diplomáticos, a única saída possível que fora a declaração de guerra.
Dentro de sua cosmovisão
triunfalista americana e somada ao ideário estabelecido pelo romantismo Fletcher
esforça-se por trazer ao Brasil o progresso nas áreas industriais e cientificas,
conforme molde americano. Para isso ele promove dois eventos significativos:
uma feira industrial[11] e uma expedição científica
do eminente cientista Prof. Louis Agassiz.[12]
Desde sua chega ao Brasil
Fletcher esforça-se para estabelecer contato com a elite política que ele
entende compartilharem de sua visão utópica do país, bem ao sabor do pensamento
romancista. Ao longo dos anos que aqui permaneceu atuando, com pequenos
intervalos, ele vai estabelecer um núcleo que poderia ser denominado de “Os Amigos do Progresso” e dos quais
estariam vinculados por este fio progressista alguns nomes, dos quais se
sobressai o do deputado alagoano Tavares Bastos.[13]
Nas páginas de seu livro “O
Brasil e os Brasileiros”, redigido a partir da obra “Reminiscências de viagens
e permanência no Brasil” de outro missionário de origem metodista Daniel Parish
Kidder, ele enaltece ao máximo o potencial do Brasil, do Imperador, das elites
politicas que ele classifica como sendo progressistas. Até mesmo quando tece
algum comentário negativo do país ele procura explicar as razões da crítica de
maneira a amenizar ou inibir qualquer ideia negativista. O pensamento e as
perspectivas de Fletcher estão afinados no mesmo diapasão de entusiasmo do
núcleo pensante confortavelmente acomodado no Instituto Histórico e Geográfico,
que externa esta confluência de ideais em sua nota crítica ao livro elaborado
pelo missionário americano:
Se alguma vez o seu Autor [referindo-se especificamente a
Fletcher] se permite alguma facécia a respeito de nossos costumes, não é,
todavia com o intento de expor-nos ao ridículo, como têm feito outros viajantes
e escritores. Aponta muito de nossos defeitos, que se não podem negar; mas, em
geral, ameniza com a sua benevolência as críticas que faz: de sorte que
conclui-se antes em seu Autor um afeiçoado do Brasil, do que um desses
viajantes que não tendo saído do seu gabinete maldizem de tudo e de todos; se
Fletcher censura é porque desejaria que o Brasil e os brasileiros progridam na
civilização.(RIHGB, xxv [862], p. 292/293, apud VIEIRA, 1980, p. 80).
Diante destes sucintos extratos
aqui apontados é possível perceber o quanto este missionário protestante
americano com sua visão utópica de um Brasil ainda imaculado ajusta-se
confortavelmente na moldura proposta pelo movimento romancista, estabelecido
pelo Imperador D. Pedro II, com amplo apoio das elites politicas e econômicas
brasileira, através de um conjunto de escritores e demais construtores
culturais do país.
Utilização
livre desde que citando a fonte
Guedes, Ivan
Pereira
Mestre em
Ciências da Religião
me.ivanguedes@gmail.com
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aplicexternas/enciclopedia_lit/index.cfm?fuseaction=definicoes_texto&cd_verbete=12163&lst_palavras
[1] Antes do período referido aqui, houve
algumas pequenas incursões do protestantismo no Brasil sem quaisquer pretensões
maiores e duas tentativas frustrantes através de invasões e conquista militar
primeiramente pelos franceses e posteriormente pelos holandeses, que foram
completamente rechaçadas pelos portugueses e brasileiros. (cf. Primeiros Contatos - Invasões Francesa e
Holandesa -
http://historiologiaprotestante.blogspot.com.br/2013/11/protestantismo-no-brasil-primordios-e.html).
[2] “Suas composições, publicadas mais
tarde no livro O poeta desterrado sob o pseudônimo de Américo Elísio, mostram
uma obra de qualidade bastante razoável, acima da média dos brasileiros da
época, e muito superior à de D. Pedro I, um poeta medíocre” ( GOMES, 2010, p.
155).
[3] Embora identificado com o período de
1836 a 1880, as origens do movimento romântico brasileiro remontam ao contexto
europeu e aos anos de transição entre os séculos XVIII e XIX, quando panfletos
e sermões ganham destaque como veículos de idéias novas e a atividade
jornalística começa a se adensar. Rica de contatos com a cultura européia do
tempo, essa atividade teve papel crucial para a articulação do que alguns
críticos chamam de "pré-Romantismo"
e para a definição das linhas ideológicas
do Primeiro Reinado e da Regência. Frei Caneca (1779-1825),
Visconde de Cayru (1756-1835), Monte Alverne (1774-1823), José Bonifácio (1763-1838), além de Hipólito da Costa e Evaristo da
Veiga, são alguns dos nomes mais influentes nesse momento de transição.
(Enciclopédia Itaú Cultural – Literatura Brasileira – Itálico meu)
[4] Laurentino Gomes nomeia ao menos
quatro razões maiores que levou D. Pedro I a optar pela abdicação em 1831:
escândalos da vida privada e sua dubiedade entre interesses do Brasil e de
Portugal; seu caso com a marquesa de Santos e o falecimento precoce da
imperatriz Leopoldina, amada pelos desfavorecidos; a longa e exaustiva guerra
com a Argentina pelo controle da região da Cisplatina, que onerou ainda mais as
finanças do combalido império brasileiro e agitou os quartéis; por último o
temperamento de D. Pedro I que causavam instabilidades contínuas no sistema
politico do primeiro reinado (2010).
[5] Joaquim Manoel de Macedo, com sua
sátira de “Memórias da Rua do Ouvidor”, resume numa frase a influência francesa
“[...] Quase tudo foi afrancesando” (p. 76). O autor demonstra que se os
franceses fracassaram em conquistar o Brasil no século XVI com o fracasso da
“França Antártica”, acaba por conquistar o país através de seu comércio de
têxteis, vinhos, manteigas, xales, lenços, chapéus, joias e literatura.
[6] O francês Ferdinand Denis (1798-1890)
que viveu alguns anos no Brasil e produziu seu “Résumé de l’histoire littéraire
du Portugal suivi du résumé de l’histoire littéraire du Brésil (1826), foi um
dos pioneiros a estabelecer uma teoria da história da nossa literatura, dentro
da moldura do Romantismo. “Por intermédio de Denis, e de outros franceses que
também viveram aqui, os brasileiros puderam sentir como o particularismo,
inclusive sob a forma do pitoresco, se ajustava ao desejo de diferenciação e
busca de identidade nacional”. (CÂNDIDO, 2004, p. 20).
[7] Fletcher foi ordenado em 13 de
fevereiro de 1851 pelo presbitério de Muncie, Indiana, e no mesmo ano foi
enviado ao Rio de Janeiro como missionário da American and Foreign Christian
Union e capelão da American Seamen's Friend Society.
[8] O professor Davi Gueiros, um dos
poucos a dedicar espaço aos feitos de James C. Fletcher declara: “Autor muitas vezes citado, ainda que pouco
compreendido, James Cooley Fletcher foi um pioneiro do trabalho protestante
missionário no Brasil e um dos que, muito ativamente, contribuíram para o
movimento de protestantização do Império e para a luta em favor da completa
liberdade de culto” (1980, p. 62)
[9] A imagem do imperador brasileiro é a
primeira impressão vista pelo leitor de seu livro “O Brasil e os Brasileiros”,
sendo a primeira das gravuras que ilustram o livro um retrato de Dom Pedro II.
[10] A Guerra do Paraguai foi um conflito
militar que ocorreu na América do Sul, entre os anos de 1864 e 1870. Nesta
guerra o Paraguai lutou conta a Tríplice Aliança formada por Brasil, Argentina
e Uruguai. A causa principal foi as pretensões do ditador paraguaio Francisco
Solano Lopes de conquistar terras na região da Bacia do Prata (abrange áreas no
Brasil, Uruguai, Bolívia, Paraguai e Argentina), cujo objetivo era obter uma
saída para o Oceano Atlântico.
[11] Em 16 de Maio daquele ano a Exposição
promovida por Fletcher foi inaugurada no espaço do Museu Nacional com a
presença do próprio Imperador D. Pedro II, e uma grande comitiva, que
examinaram atentamente todos os artigos trazidos. A exposição industrial ficou
aberta para o público por dois dias e foi um grande sucesso.
[12] Em 1862 ele navegou mais de 3.000
quilômetros pelo rio Amazonas ocasião em que colheu amostras e matéria para
estudo de ciências naturais que enviou ao Prof. Louis Agassiz, cientista
renomado da Universidade de Harvard, e de que este se serviu para seus estudos
ictiológicos e posteriores observações na mesma região.
[13] É
possível inferir certa influência do missionário norte-americano sobre o jovem
entusiasta político alagoano nas páginas das “Cartas do Solitário” e demais
literatura por ele produzida em suas discussões sobre a abertura do rio Amazonas.
É possível que quando saiu os primeiros artigos de Bastos sob o pseudônimo de o
Solitário, em 1861, o político brasileiro já tinha tido a oportunidade de ler a
obra de Fletcher “O Brasil e os Brasileiros”, então em sua segunda edição, de
1859.
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