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terça-feira, 17 de abril de 2018

RESENHA: Os Pioneiros Presbiterianos do Brasil (1859-1900)



            Esse livro elaborado pelo eminente Dr. Alderi S. Matos, historiador oficial da Igreja Presbiteriana do Brasil e também um profundo pesquisador do protestantismo no Brasil, contribui de forma relevante para se preencher uma enorme lacuna da história do presbiterianismo no Brasil.
            A historiografia protestante nacional somente tomou a forma acadêmica após as décadas de setenta e oitenta, quando começaram a emergia nos grandes centros acadêmicos brasileiros os cursos de pós graduação e mais especificamente de mestrado em Ciências da Religião.
Ainda que haja diversos textos produzidos em períodos anteriores, estas obras possuíam um ranço eclesiástico, uma vez que seu alvo primário eram as próprias denominações, que as financiavam, e a defesa de suas respectivas posições históricas e teológicas. Outra característica desta literatura era enaltecer o esforço dos ―heróis da fé, ou seja, aqueles líderes ou pioneiros que implantaram trabalhos denominacionais em determinado lugar ou região.
Nas palavras de Júlio Andrade Ferreira, historiador presbiteriano, a historiografia protestante brasileira ainda que a partir de 1950 fosse quantitativamente crescente, no que tangia a qualidade tornava-se angustiante para os que pretendiam um estudo mais acadêmico, pois segundo ele ―a um simples exame se apercebem do caráter apologético e pouco cientifico, pueril às vezes, da maior parte dessa imensa produção literária.
Um dos raros trabalhos de cunho acadêmico produzido sobre o protestantismo brasileiro é a do eminente professor Émile-G. Léonard, francês que este atuando como docente na Universidade São Paulo e que durante os poucos anos que aqui esteve produziu seu “O protestantismo brasileiro, estudo de eclesiologia e historia social” cujos capítulos foram sendo editados na revista desta universidade e posteriormente editados em formato de livro em meados de 1963 e depois pelas JUERP/ASTE (1981).  O subtítulo revela o escopo e a orientação do autor, onde ele procura relacionar o crescimento do protestantismo no Brasil com diversos fenômenos sociológicos brasileiros e desta forma caracterizar algumas das funções sociais do protestantismo e de suas variadas modalidades.
A obra de Matos supracitada está dentro deste formato acadêmico de produção literária e acadêmica. Ainda que ele seja um historiador oficial da denominação presbiteriana ao qual pertence, seus trabalhos tem sido demarcados pela profunda pesquisa e informações documentais de fontes primárias. Apesar de tratar de vultos eminentes do presbiterianismo pioneiro, o pesquisador consegue produzir textos sóbrios e de interesse para todos aqueles que desejam conhecer um pouco mais sobre a implantação do protestantismo no Brasil através de seu viés presbiteriano.
Nas primeiras linhas de sua introdução Matos esclarece a razão da produção deste volume: “a dificuldade de encontrar em um mesmo volume informações biográficas detalhadas sobre os pioneiros da obra presbiteriana no Brasil”. Ele também explica a razão da delimitação temporal da pesquisa produzida: “por causa da preocupação de abrangência, incluindo-se todos os personagens relevantes, foi preciso limitar o período abordado aos anos de 1859 a 1900, ou seja, o século 19”.
Inclui a guisa de introdução um sucinto resumo da implantação inicial do presbiterianismo no Brasil e inclui dois interessantes gráficos sobre as Missões Presbiterianas Norte-Americanas que foram responsáveis pelo envio desses missionários pioneiros a Igreja Presbiteriana do Norte (PCUSA) através de sua Junta de Missões de Nova York e a Igreja Presbiteriana do Sul (PCUS) através de seu Comitê de Missões de Nashville, bem como as suas respectivas atuações no campo missionário brasileiro, destacando que a Igreja Presbiteriana do Brasil (IPB) está diretamente vinculada à Junta nortista. O segundo gráfico visualiza a evolução histórica da implantação do presbiterianismo no país através da formação de seus primeiros Concílios nacionais, cujo primeiro Presbitério foi estabelecido no Rio de Janeiro, pela razão histórica de que a primeira igreja foi estabelecida na então capital brasileira, mas que era composta pelas duas igrejas estabelecidas na cidade de São Paulo (capital) e Brotas (interior).
O pesquisador inclui igualmente a participação das mulheres no esforço missionário pioneiro presbiteriano. Oferece preciosas informações sobre o papel relevante que as missionárias presbiterianas desempenharam na implantação desta denominação protestante no país. Coloca nome nas “mulheres sem nome” dos pastores missionários que igualmente deram seus melhores anos e algumas a própria vida em prol da evangelização de cunho evangélico protestante em todos os rincões deste continente brasileiro, assim como aquelas missionárias solteiras que igualmente desembarcaram em nossos portos imbuídas de um objetivo claro e definido – estabelecer no Brasil uma denominação presbiteriana forte e irradiadora da mensagem simples do Evangelho de Jesus Cristo. O papel educacional desenvolvido por essas missionárias, aqui apenas mencionados, tem sido motivo de ampla pesquisa acadêmica por diversos vertentes na área da educação no Brasil.
De não menor relevância a obra oferece uma ampla coleção de imagens, algumas raríssimas, destes personagens pioneiros do presbiterianismo tupiniquim, bem como de seus edifícios e templos religiosos e demais monumentos iniciais, tais como uma foto do Rev. Alexander L. Blackford e os quatro primeiros seminaristas do chamado “Seminário Primitivo”, que posteriormente seriam ordenados como pastores desta denominação. Além das imagens alocadas nos diversos capítulos que compõe o livro, o autor ao final vai disponibilizar uma ampla "Galeria de Imagens" de qualidade um tanto rudimentar, mas que possibilita ao leitor uma visibilização interessante sobre o desenvolvimento do presbiterianismo no Brasil.
O autor divide sua pesquisa de forma pedagógica e não meritória apresentando inicialmente os missionários americanos do Norte (PCUSA) e depois os do Sul (PCUS), pelas razões de que foram os nortistas que chegaram primeiro e de que a IPB a eles estão vinculados em sua organização eclesiástica primária; posteriormente são biografados os pastores nacionais, abrindo esse capítulo o Rev. José Manoel da Conceição que foi o primeiro brasileiro ordenado como pastor protestante no Brasil, fato completamente inédito na história brasileira, em que até então havia atuando aqui apenas missionários estrangeiros.
Em um capítulo especifico o pesquisador abarca as denominadas “Missionárias educadoras” onde resgata o mínimo de informações sobre ao menos quinze mulheres que aqui desembarcaram e deixaram suas marcas na reestruturação pedagógica na busca de um ensino nacional relevante e de alto nível.
Neste mesmo capítulo o autor inclui o papel indispensável dos chamados leigos, aqueles que não foram investidos como missionários ou pastores. Entre os vinte e quatro nomes disponibilizados estão de homens e de mulheres que participaram de forma efetiva na construção de uma denominação presbiteriana pujante na amplitude do território brasileiro.    Abre essa sessão do livro a figura de Maria Antônia da Silva Ramos (nome de uma rua no centro de São Paulo), figura eminente da aristocracia paulistana e que labutou por décadas nas plêiades presbiterianas e também contribuiu para a fomentação do que viria a ser a Universidade Presbiteriana Mackenzie, ao vender parte de uma chácara na Consolação ao Rev. George W. Chamberlain e sua esposa Mary, que ali iniciariam a Escola Americana embrionária do futuro Mackenzie College e atual Universidade, no coração da maior cidade do Brasil.
Oferece também o pesquisador uma selecionada bibliografia sobre o presbiterianismo pioneiro no país, que possibilita aos interessados em adentrar às pesuisas sobre essa denominação ou mesmo ao protestantismo de forma mais ampla.
Por fim, o autor acrescenta diversos apêndices que contribuem de forma positiva para a pesquisa da obra por ele elaborada. Os dois primeiros abrangem uma lista com os missionários da Igreja do Norte e do Sul com suas respectivas esposas e seus respectivos períodos de atuação no Brasil; no apêndice três lista igualmente os pastores nacionais e suas esposas delimitando apenas a data das respectivas ordenações pastorais; no apêndice numero quatro enumera todos os Concílios Superiores da IPB e seus respectivos Moderadores (Presidentes), extrapolando o período até 1937; no apêndice cinco dispõe uma lista cronológica das primeiras igrejas Presbiterianas estabelecidas no Brasil; no apêndice numero seis oferece uma cronologia básica da história presbiteriana no Brasil abrangendo o ano de 1859 a 1921. Para facilitar a pesquisa dentro da obra o pesquisador elaborou dois índices sendo o primeiro de Personagens biografados e o segundo por assuntos abordados ao longo do livro.
As limitações de uma obra tão vasta como essa estão justamente no fato de que faltam em diversos biografados maiores informações, visto que no período demarcado pouco valor se dava à preservação de tais informações; também se recente a obra de um aprofundamento maior em determinados temas mencionados, mas que certamente tornaria a obra inviável editorialmente.
Atualmente não temos ou se foi produzido não tomei conhecimento outro trabalho de cunho histórico-acadêmico que ofereça igual, ou melhor, fonte de informação e pesquisa do que este livro do Rev. Alderi S. Matos, sobre a implantação e desenvolvimento do protestantismo, pelo viés presbiteriano, no Brasil.
O presbiteriano de forma especifica e os protestantes evangélicos de forma geral deveriam tomar conhecimento desta obra para que pudessem adquirir uma visão mais ampla desta monumental obra missionária que foi a implantação do protestantismo no nosso país. Na História do Brasil os protestantes praticamente são inexistentes, mas a culpa é nossa mesma, pois nem os próprios evangélicos tem interesse e valorizam suas próprias origens históricas e porque os demais o fariam.

MATOS, Alderi Souza de. Os pioneiros presbiterianos do Brasil (1859-1900). São Paulo: Cultura Cristã, 2004. 592 p.

Utilização livre desde que citando a fonte
Guedes, Ivan Pereira
Mestre em Ciências da Religião
me.ivanguedes@gmail.com
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