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terça-feira, 7 de dezembro de 2021

O Protestantismo Entre as Matrizes Religiosa do Brasil[1]

 

O Brasil é um país extremamente religioso – mas quais são suas Matrizes religiosas? Como essa religiosidade foi formada? Qual a influência disso na Sociedade brasileira atual? Essas e outras questões serão levantadas aqui durante o nosso Simpósio.

A Religião foi e continua sendo um modelador do perfil social de um povo.

Max Weber e milhares de outros estudiosos se debruçaram sobre esta questão e constataram a RELEVÂNCIA da RELIGIÃO sobre todas as Sociedades.

PORTANTO, essa temática é sempre atual e relevante para todos aqueles que desejam compreender melhor o que está acontecendo na Sociedade brasileira.

O nosso desejo é que ao final do nosso Simpósio tenhamos uma visão mais clara e profunda da importância da Teologia/Religião nas nossas vidas e da nossa Sociedade.

OS PROTESTANTISMO NO BRASIL

Alguns esclarecimentos:

A ordem Cronológica mais correta seria: Religiões Indígenas, Religião Católicas, Religiões Afro e Religião Protestantes.

Por que a utilização do PLURAL???

Por que cada uma dessas expressões religiosas não é única, mas dentro de cada uma delas há uma DIVERSIDADE e em alguns casos até CONFLITANTES sobre a forma de expressar sua religiosidade.

Exemplo: O Catolicismo que chega no Brasil não é exatamente o mesmo Catolicismo Europeu.

                  O Protestantismo que chega ao Brasil já vem expressado em suas diversas DENOMINAÇÕES e cada uma delas com características distintas.

                     Assim acontece com a religião indígena e afro.

O nosso Tema Nesta Noite é: O PROTESTANTISMO NO BRASIL

TÚNEL NO TEMPO (quem assistiu essa Série?? – Estamos velhinhos.....)

Algumas Datas Significativas – para entendermos o Protestantismo que chegou no Brasil.

1500 – O Brasil entra no Mapa Mundial

1517 -  31 de Outubro – Na Alemanha Lutero afixa na porta da igreja do castelo de Wittenberg as 95 Teses.

1519  - Simultaneamente começa  na Suíça outro movimento reformador dirigido por Ulrich Zwingli (1484-1531).

1531 - Henrique VIII rompe com a Igreja Romana e torna-se o Cabeça (Papa) da Igreja Anglicana (Inglaterra)

1536 João Calvino chega em Genebra, e foi induzido por Farel a ajudar na Refor

1541. JOÃO CALVINO finalmente introduz a Reforma em Genebra.

1588 – Fundação da Academia Teológica de Genebra, influenciou muitos países da Europa.

1560, sob a liderança de Knox, o Parlamento renunciou ao catolicismo e adotou a fé reformada para a Escócia – Estabelecimento da Igreja no sistema Presbiteriano.

ENQUANTO TUDO ISSO ACONTECE NA EUROPA – O BRASIL CONTINUA TRANQUILO E SOSSEGADO.

Pegaremos uma Nova Rota Cronológica

1531 - Henrique VIII rompe com a Igreja Romana e torna-se o Cabeça (Papa) da Igreja Anglicana (Inglaterra)

- Henrique VIII nunca deixou de ser “católico romano”, portanto ele faz na verdade uma Reforma pró forme – muda tudo para não mudar nada.

- Dentro do Anglicanismo surgem diversos segmentos – debaixo do Guarda Chuva do PURITANISMO – que desejavam reformas mais radicais.

- O PURITANISMOS tem suas subdivisões: Congregacionais, Presbiterianos, Metodistas e Batistas – soa familiar esses nomes??

1629 – Depois de muitas guerras internas e perseguições de ambas as partes – Os Puritanos resolveram atravessar o Oceano e se estabelecerem na América do Norte, conhecido por alguns como Estados Unidos da América.

 O objetivo deles é ter uma Nação em que possam expressar sua religião protestante livre da opressão do Governo.

Cada um dos ramos protestantes inglês se estabelecem, constroem Igrejas, cidades, Universidades e Industria.

ENQUANTO ISSO NO BRASIL – Continuamos totalmente alienados –

Colônia Extrativista e unicamente Católicos.

PROTESTANTISMOS NO BRASIL

Tentativas Frustradas

FRANCESES - 1555 e 1560 – Invasão e Conquista

- Nicolau Durand de Villegaignon (católico carola - Ordem de Malta) associa-se ao rei francês Henrique II (católico) e ao Almirante Gaspar de Coligny (reformado) para estabelecer a FRANÇA ANTARTICA – como refúgio do Huguenotes (reformados) franceses.  

Fracassou - Mas deixou algumas referências: 

Primeiro Culto e Ceia Reformada no Brasil (21 de março de 1557)

Primeiros Protestantes mortos no Brasil 

HOLANDESES - 1630 e 1654 Outra tentativa de Invasão e Conquista

- Os invasores pertenciam à Companhia das Índias OcidentaisFOCO PRINCIPAL controlar as Usinas de açúcar do Brasil.

- Por permanecerem mais tempo no Brasil os holandeses deixaram marcas mais profundas no Brasil:

- Locais: Salvador, Olinda, Recife – Maranhão e Sergipe

- Figura Proeminente – Conde Mauricio de Nassau

- Tolerância Religiosa: em Recife havia uma Igreja Anglicana (ingleses) e uma Igreja Francesa, bem como sinagogas (judeus) e católicos romanos (com suas missas e festas) livremente manifestavam suas expressões religiosas sem restrição ou perseguição mais acentuada.

- Com a saída de Nassau o domínio holandês entra em declínio rapidamente e as forças portuguesas e brasileiras reconquistam os territórios invadidos e expulsam os invasores, definitivamente em 1649.

RESULTADOS DAS TENTATIVAS FRACASSADAS

- Imediatamente a Igreja Católica Romana restabelece a hegemonia religiosa, proibindo toda e qualquer outra manifestação de fé, implantando de forma implacável a cartilha da horrenda Inquisição Religiosa.

- O Brasil fica totalmente isolado de todos os movimentos religiosos, sociais e políticos que estão influenciando e transformando o mundo Europeu e posteriormente o Americano.

- Após repelir estes dois grupos invasores anticatólicos, tudo e todos estrangeiros com qualquer resquício de religião protestante passaram a serem vistos como invasores e deveriam ser imediatamente combatidos e extirpados, de maneira que toda estruturada religiosa protestante foi extinta, e o catolicismo retoma com força total sua catequese e assim permaneceria até as últimas décadas do século XIX.

Mas dois acontecimentos históricos de suma importância para o Brasil e os brasileiros trarão uma luz no final do túnel da implantação definitiva do protestantismo tupiniquim:

PRIMEIRAS ABERTURAS OFICIAIS PARA IMPLANTAÇÃO DO PROTESTANTISMO NO BRASIL

- A transferência da Família Real Portuguesa para o Brasil (1808)

- Fugindo do francês Napoleão Bonaparte

- Escoltados pelos navios de guerra Ingleses

- a carta régia de abertura dos portos brasileiros ao comércio de todas as nações amigas (leia-se Ingleses).

- os ingleses passaram a ter garantia legal para expressar sua religião protestante, podendo inclusive construir seus próprios templos religiosos, com a ressalva de que não se assemelhassem aos templos católicos e não tocassem sinos, que serviam para anunciar os horários de reuniões e cultos, bem como restringia qualquer esforço de proselitismo entre os brasileiros católicos romanos, na linguagem mais protestante, estava proibido qualquer esforço em evangelizar católicos brasileiros.

- E ousadamente, medida as proporções e repercussões históricas, afirmo: com a chegada da corte à Baia de Todos os Santos começava o último ato do Brasil de monopólio católico romano e o primeiro ato do Brasil protestanizado, através de suas mais diversas ramificações, que em breve haveriam de serem transplantadas no país.

A Independência do Brasil e a Primeira Constituição Brasileira

1822 – Apenas 14 Anos depois, o Brasil torna-se Independente;

- Sem dinheiro, D. Pedro I renova o Acordo Comercial com os ingleses;

1824 – Promulga-se a primeira Constituição brasileira, em 25 de março, que será uma das mais inovadoras entre todas elaboradas na época, com exceção da americana e a mais duradoura de todas que foram elaboradas no Brasil posteriormente, e que foi substituída somente 1891 pela primeira, das muitas, constituição republicana.

Uma das maiores novidades contida nesta primeira Constituição brasileira era a clausula referente à liberdade de culto.

É com D. Pedro I que plena liberdade religiosa vai de fato ser estabelecida. Ele teve o cuidado de manter o catolicismo como a religião oficial do novo Império, mas de forma pioneira, desde o descobrimento do Brasil, protestantes, judeus, muçulmanos, budistas e adeptos de quaisquer outras expressões religiosas poderiam professar livremente sua fé. E mais ainda, assegurava-se constitucionalmente, a plena liberdade de imprensa e de opinião, de modo que ninguém poderia ser preso sem processo formal e sem amplo direito de defesa.

Nenhum grupo religioso soube aproveitar ao máximo este artigo constitucional como os protestantes.

Eles não apenas começam a se instalarem no país, como iram aproveitar todos os meios de comunicação da época, preferencialmente os jornais e revistas, para a divulgação de suas mensagens evangélicas de conteúdo protestante.

PRIMEIRA IGREJA PROTESTANTE PARA BRASILEIROS

- O primeiro a fazer uso desta recente liberdade religiosa foi o Médico e Rev. Robert Kalley

Em 19 de agosto de 1855, em Petrópolis – RJ, o Sr. Robert Kalley fundou a primeira Escola Dominical, dando assim origem a igreja Congregacional Fluminense, de fato a primeira protestante tendo membros brasileiros.

Depois de alguns anos no Brasil e tendo recebido como membros de sua denominação duas senhoras da alta sociedade – foi coagido a parar ou seria retirado do país.

Diante desta situação, o Dr. Kelley resolve fazer uma consulta a três dos mais eminentes juristas do Império: Dr. José Nabuco Tomáz de Araujo, então Ministro da Justiça, Dr. Urbano Sabino Pessoa Mello, magistrado e político e Dr. Caetano Alberto Soares, ex-sacerdote católico romano, magistrado e político - solicitando seus pareceres legais e por escrito, conforme um questionário contendo onze pontos relacionados à questão da tolerância e liberdade religiosa no Brasil.

Os pareceres dos juristas foram amplamente favoráveis à causa de Kelley e lhe deram fundamentação legal e constitucional para que continuasse a desenvolver suas atividades religiosas.

“Os pareceres dos juristas e a resolução governamental foram a jurisprudência necessária para que se tornasse mais efetiva a implantação permanente do protestantismo no Brasil, servindo de referência aos demais grupos que começaram a chegar ao país. [...].

Com um culto realizado a 27 de julho de 1845 a Igreja Luterana dava início às suas atividades no Brasil (para os imigrantes alemães e suíços).

 No dia 12 de janeiro de 1862, no Rio de Janeiro, o jovem missionário estadunidense reverendo Ashbel Green Simonton, oficializa as atividades da primeira igreja Presbiteriana do Brasil na língua portuguesa.  

No ano de 1881, chegaram ao Brasil, os primeiros missionários batistas, William Bagby, e Z.C. Taylor, que no ano seguinte, ou seja, em 15 de outubro de 1882, fundaram a Igreja Batista em Salvador – BA.

Com a liderança de Gunnar Vingren e Daniel Berg, no dia 18 de junho de 1911, na cidade de Belém do Pará, foi iniciada a primeira Igreja Assembleia de Deus no Brasil.

HOJE o termo Protestante ficou restrito às Academias, pois todos os demais ramos do cristianismo não Católicos foram englobados no termo EVANGÉLICOS. E como EVANGÉLICOS se aproximam dos 30% da POPULAÇÃO brasileira – o que não é pouco.

Muito se poderia falar das contribuições do Protestantismo no Brasil, mas a areia da Ampulheta está acabando. Meu desejo é que essas informações possam ter contribuído para uma melhor compreensão dos primórdios do Protestantismo no Brasil

Sou grato a todos que pacientemente me ouviram.

Utilização livre desde que citando a fonte

Guedes, Ivan Pereira

Mestre em Ciências da Religião.

Universidade Presbiteriana Mackenzie

me.ivanguedes@gmail.com

Outro Blog

Reflexão Bíblica

http://reflexaobiblica.spaceblog.com.br/

 

Referências Bibliográficas

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CÂNDIDO, Antônio. O romantismo no Brasil. São Paulo: Humanitas / FFLCH, 2004.

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A Confissão de Fé da Guanabara 1558 (Tradução de Erasmo Braga)

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segunda-feira, 4 de novembro de 2013

PROTESTANTISMO NO BRASIL: Primeiras Aberturas Legais (1)

Tratado de Livre Comércio

     Como visto no artigo anterior (http://historiologiaprotestante.blogspot.com.br/2013/10/reforma-religiosa-por-que-ocorreu-no.html) os primeiros contatos do Brasil com o protestantismo foi no formato de invasão e domínio, o que não contribuiu muito para que portugueses e brasileiros olhassem esta nova forma religiosa do cristianismo com simpatia. Somente cento e cinquenta anos depois é que ocorrera um momento histórico que se constituirá em um marco importante para a implantação de denominações protestantes no país.

A Transferência da Família Real Portuguesa
Fuga Corte Portuguesa para o Brasil
http://historiologiaprotestante.blogspot.com.br/

     O ano de 1808 torna-se um marco muito importante para o protestantismo brasileiro, pois sem invasão e sem derramamento de sangue, ele vai receber de presente sua primeira e fundamental abertura para ser implantado no país, das próprias mãos da autoridade maior da nação, o então Regente D. João VI.

     Esta data marca a transferência da família real portuguesa para o Brasil, que será fundamental não apenas para a futura implantação dos diversos ramos do protestantismo no país, mas para a Nação como um todo, pois nunca mais as coisas serão a mesma depois desta data, que não é, mas deveria ser um feriado nacional em deferência a alguns bastante questionáveis em vigência atualmente.

     Tudo começa quando o francês Napoleão Bonaparte inicia sua épica guerra contra as monarquias europeias, onde uma a uma foram sendo derrotadas em campos de batalhas, onde a genialidade estratégica de Napoleão revela-se em todo seu esplendor, como registra Laurentino Gomes:

     Ao longo de uma década, Napoleão travou inúmeras batalhas contra os mais poderosos exércitos da Europa sem conhecer nenhuma derrota. Uma dinastia de reis até então considerada imbatível, a dos Habsburgos do Império Austro-Húngaro, fora batida repetidas vezes nos campos de batalha. Russos e alemães tinham sido subjugados em Austerlitz e Jena, duas das mais memoráveis batalhas das chamadas guerras napoleônicas. Reis, rainhas, príncipes, duques e nobres foram expulsos de seus tronos e substituídos por membros da própria família Bonaparte. (2009, p. 39).

     Em 1807, Napoleão estava no auge do seu poder e espalhava sua sombra temerosa sobre tudo e todos. Entre os últimos reis europeus a serem subjugados, afora a Inglaterra com sua poderosíssima esquadra naval que dominava soberana os mares, restava um dos menores países e provavelmente o que tinha uma das cortes mais retrógradas de toda Europa - o país era Portugal e o rei D. João VI, que na verdade era um príncipe regente, que governava em nome de sua mãe D. Maria I, que havia sido declarada insana e incapaz de governar. Ainda mais, não foi D. João que fora preparado para esta tarefa árdua de governar, havia sido seu irmão mais velho D. José, mas que falece em consequência de varíola em 1788, aos 27 anos. Se não bastasse a desqualificação de estadista, D. João tinha uma personalidade avessa a qualquer tipo de pressão e lhe era torturante tomar qualquer tipo de decisão, além do que vivia envolvido em intrigas conjugais das mais complicas e que lhe trouxe mais dificuldades do que todos seus inimigos externos. Sua digníssima esposa a princesa Carlota Joaquina, era uma espanhola geniosa e maquiavélica sempre pronta para tomar o trono do marido e acusada ao longo dos anos por mais de uma tentativa frustrada de alcançar seus intentos e a primeira suspeita do envenenamento de D. João VI quando já haviam retornado à Portugal.

     A invasão de Portugal pelas tropas napoleônicas era cada vez mais eminente e a D. João restava apenas duas alternativas: permanecer em Portugal e enfrentar o exército napoleônico que estava derrubando os maiores impérios europeu, ou atravessar o Oceano Atlântico, com todos os seus perigos e reveses e transferir-se com a Corte portuguesa para sua colônia mais rica na América, o Brasil. Esta possibilidade não era nova, pois estava sempre colocada na agenda portuguesa a cada crise que colocava, como agora, a coroa portuguesa em grave perigo. Portanto, a fuga para o Brasil se mostrava a mais coerente e natural entre as alternativas. Inoculado nesta decisão estava o sonho de que no Brasil D. João pudesse se reestruturar e fazer um retorno triunfante para recuperar tudo que naquele momento estava perdendo na Europa.

     Em um arriscado jogo de xadrez entre Napoleão e a Inglaterra, o então inócuo D. João vai postergando sua decisão até o momento final. Em acordo secreto o regente português assina um documento com a Inglaterra, onde se comprometia assim que chegasse ao Brasil abrir os seus portos ao comércio com as nações estrangeiras, leia-se Inglaterra, pois até aquele momento unicamente navios portugueses podiam atracar livremente nos portos brasileiros. Simultaneamente envia correspondência a Napoleão insinuando disposto a fazer um acordo nos termos propostos pelo conquistador francês.

     Quando o até então astuto estrategista Napoleão percebeu a manobra do monarca português e ordenou a invasão já era tarde demais. No dia 29 de novembro de 1807, às 07h00, foi dada a ordem de partida e toda corte portuguesa incluindo os membros da família real, distribuídos em vários navios, como precaução de algum naufrágio, iniciam a árdua e perigosa travessia em direção a colônia brasileira, sob a poderosa escolta da armada inglesa. Quando o exército francês invade Portugal, o regente D. João e a rainha mãe já estão em alto mar em direção ao Brasil com toda sua corte. Muitos anos depois, escrevendo suas memórias quando em seu exílio na Ilha de Santa Helena, referindo-se a D. João VI, agora então rei do Brasil e de Portugal, registra: “Foi o único que me enganou”.

     Entre 10.000 e 15.000 pessoas embarcaram com a família real para o Brasil, incluindo toda sorte de extratos sociais da época desde nobres, militares, juízes, médicos e religiosos até serviçais. A viagem foi longa, quase dois meses e extremamente desconfortável. Em um determinado momento da viagem D. João, levando consigo a rainha mãe D. Maria I, resolveu desembarcar primeiramente na Bahia e não no Rio de Janeiro para onde os demais membros da família e viajantes se dirigiram como havia sido programado quando ainda em Portugal. No dia 23 de janeiro de 1808, após 54 dias em mar e aproximadamente 6.400 quilômetros transcorridos, D. João desembarca no porto de Salvador. E Gomes destaca a importância deste momento para o futuro do Brasil, e destaco para o futuro do protestantismo nacional:

A mesma Bahia que trezentos anos antes tinha visto a chegada da esquadra de Cabral, agora testemunhava um acontecimento que haveria de mudar para sempre, e de forma profunda, a vida dos brasileiros. Com a chegada da corte à Baía de Todos os Santos começava o último ato do Brasil colônia e o primeiro do Brasil independente. (2009, p. 96; Itálico meu).

     E ousadamente parafraseando as palavras acima citadas, medida as proporções e repercussões históricas, destaco: com a chegada da corte à Baia de Todos os Santos começava o último ato do Brasil de monopólio católico romano e o primeiro do Brasil protestanizado, através de suas mais diversas ramificações, que em breve haveriam de serem transplantadas no país.

     A chegada e permanência de D. João em Salvador, antes de seguir para o Rio de Janeiro foi estratégico
Tratado Livre Comércio
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e visava manter o mínimo de unidade na multifacetada colônia brasileira. Estes primeiros trinta dias foram cruciais nas mudanças que seriam efetivadas no Brasil. É aqui, no dia 28 de janeiro de 1808, portanto, uma semana após desembarcar no país, que D. João VI vai assinar, no Senado da Câmara seu primeiro e mais famoso e importante ato em território brasileiro: a carta régia de abertura dos portos brasileiros ao comércio de todas as nações amigas. Evidentemente que será os ingleses a se beneficiarem desta nova realidade por muitas
décadas, mas naquele momento portugueses e brasileiros não tinham nenhuma outra opção, visto que somente navios ingleses conseguiam furar os bloqueios franceses de Napoleão. Este tratado foi ratificado e ampliado em 1810 em que a Inglaterra tornava-se aliada comercial preferencial com a colônia brasileira transformada em sede da monarquia portuguesa. Além das inúmeras vantagens comerciais os ingleses passaram a ter garantia legal para expressar sua religião protestante, podendo inclusive construir seus próprios templos religiosos, com a ressalva de que não se assemelhassem aos templos católicos e não tocassem sinos, que serviam para anunciar os horários de reuniões e cultos, bem como restringia qualquer esforço de proselitismo entre os brasileiros católicos romanos, na linguagem mais protestante, estava proibido qualquer esforço em evangelizar católicos brasileiros. Evidente que a reação por parte do clero romano no Brasil foi imediata e o núncio D. Lourenço Caleppi chega ao ponto de ameaçar D. João de excomunhão caso não retirasse essa clausula do tratado, o que nunca ocorreu.

     Mas como diz o ditado caipira brasileiro “onde passa um boi, passa uma boiada”, o protestantismo chegou para ficar e somente se fará expandir a partir deste momento. Serão os ingleses os primeiros a se estabelecerem oficialmente com sua mensagem evangélica protestante no Brasil, incluindo a primazia de serem os primeiros a construírem legalmente um templo religioso não católico no país, pois Mauricio de Nassau havia construído o primeiro templo protestante no Paço Municipal de Recife, mas durante a invasão holandesa. Ainda que incipiente este singelo momento tornar-se-á fundamental para o processo de protestanização do Brasil a partir de meados do século 19 e definitivamente no século 20.


Utilização livre desde que citando a fonte
Guedes, Ivan Pereira Mestre em Ciências da Religião.
Universidade Presbiteriana Mackenzie


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Referências Bibliográficas
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