A Igreja Presbiteriana do
Brasil, de 1965 a 1978, foi marcada pelas sucessivas reeleições de Boanerges
Ribeiro à frente do seu Supremo Concilio. Este período teve como
características a repressão e a centralização do poder eclesiástico, o que
encontrou sua correlação no Regime Militar, instalado no Brasil a partir do
Golpe Militar de 31 de março de 1964. Seu caráter ortodoxo e repressivo
remonta, no entanto, às características que fizeram do presbiterianismo
brasileiro, um presbiterianismo bem típico: ênfase no denominacionalismo, no
individualismo, na detenção de uma mentalidade anticatólicas e anti-ecuménica,
na vivência de uma ética ascética intramundana e de não participação social
efetiva, no apego ao passado como referência teológica e de impossibilidade de
abertura para o novo, na leitura e na interpretação bíblico-teológica
fundamentalista. Estas características fizeram com que a partir do final da
década de 50, a Igreja Presbiteriana do Brasil propugnasse uma política
eclesiástica de eliminação daqueles que pensavam diferentemente do pensamento
teológico considerado oficiai e mesmo daqueles que mantinham posturas políticas
diferentes dos líderes da igreja. Considerados inimigos da IPB, foram os
modernistas que buscavam uma pesquisa bíblica a partir dos referenciais da
considerada moderna ciência bíblica, os ecumenistas, que buscavam um diálogo
eclesiástico mais amplo, inclusive, após o Concilio Vaticano II, com a Igreja
Católica Romana e os comunistas que, na verdade, eram considerados aqueles que
mantinham uma leitura bíblica e uma teologia a partir do referencial do
Evangelho Social e, cujo expoente, no Brasil, foi Richard Shaull. Estes
inimigos, em última instância, eram os hereges, os desviantes da "sã
doutrina". A confrontação e perseguição a estes inimigos acirraram-se no
período de Boanerges Ribeiro como presidente do Supremo Concilio da IPB,
período em que, concílios e instituições de ensino teológico foram dissolvidos
e fechados, pastores e líderes, inclusive da juventude, professores dos seminários,
sob pressão, saíram da igreja, deixaram a docência, foram despojados de suas
funções ministeriais e, ainda outros, mediante denúncias junto às agências de
informação do governo foram obrigados a deixar o país, exilando-se. 0 poder
repressivo, assim, fez com que esta igreja não somente se enclausurasse no
passado mas, também, fechasse as portas para que uma nova teologia fosse
gestada no seu meio e uma participação social relevante fosse buscada.
PAIXÃO JUNIOR, Valdir Gonzales. A era do trovão: poder e repressão
na Igreja Presbiteriana do Brasil no período da ditadura militar (1966-1978). Dissertação (mestrado em Ciências da
Religião). São Bernardo do Campo: Universidade Metodista de São Paulo, 2000.
[Orientadora: Drª Yara Nogueira Monteiro].