Translate

Mostrando postagens com marcador verbete. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador verbete. Mostrar todas as postagens

domingo, 5 de dezembro de 2021

VERBETE: Aborto e Suas Implicações Éticas



Certamente este é um dos temas mais explosivo nos dias atuais. Nas discussões éticas o termo “aborto” é utilizado para se referir à interrupção antinatural, do desenvolvimento de um feto ainda no útero da mulher. Evidente que o pode ocorrer um aborto natural e/ou espontânea o que não gera discussões, pois não envolve uma decisão da mãe.

A palavra “aborto” é formada por dois vocábulos latinos: “ab“(privação) e “ortus” (nascimento), que associados significam a “privação do nascimento”. O substantivo “aborto” deriva-se do verbo latino “aborior” (falecer ou sumir), o oposto de “orior” (nascer ou aparecer).

A novidade da discussão desta temática está no fato de que muitos que se declaram cristãos defendem a liberdade da mulher para fazer está opção contrariando a opinião cristã histórica que sempre se posicionou contrária à está ação terrivelmente nociva e violenta contra a vida humana ainda em formação e totalmente incapaz de se defender. Apesar de constar no Juramento de Hipócrates clara desaprovação, da prática, o aborto era comum no contexto social greco-romano, assim como o infanticídio por consequência. Os líderes cristãos, chamados de Pais (Padres) da Igreja estavam unidos na condenação de ambos, ainda que houvesse divergências na questão de quando a alma passava a habitar o feto, mas no que tangia à provocar deliberadamente o aborto todos eles eram concordes de que não havia qualquer justificativa plausível.

A Didaquê um dos documentos mais antigos do cristianismo (aprox. início do século II), ainda debaixo das leis liberais (hoje chamada de politicamente correta) do Império Romano, se posiciona muito claramente contra o aborto: “Não matarás o embrião por aborto e não farás perecer o recém-nascido” (Didaquê 2,2). Um dos líderes e porta-vozes da Igreja Cristã, em seus primórdios, Tertuliano (150-220), deixa claro o ensinamento ortodoxo de que a morte de um embrião tem a mesma gravidade do assassinato de um ser humano já nascido e que, portanto, impedir propositalmente a geração de uma criança é um homicídio em potencial. Agostinho (354-430) um dos maiores teólogos cristão, respeitado e amplamente utilizado pelos protestantes, assim como o teólogo Tomás de Aquino (1225-1274), utilizado pelo catolicismo romano, ambos consideravam pecado grave interromper a gestação e o desenvolvimento da vida humana. Até tempos muito recentes, havia um consenso amplo no cristianismo de que a vida, tanto no estágio embrionário quanto no fetal, era sagrada e digna de respeito. Infelizmente hoje os cristãos, sejam protestantes (evangélicos ou católicos), que se posicionam contrários à liberação legal do aborto, são classificados pelas mídias, amplamente abortistas, pejorativamente de fundamentalistas, como se defender a vida fosse algo opcional. As ideologias abortivas cada vez mais banalizam o valor intrínseco da própria vida.  

O texto primário utilizado pelos cristãos ortodoxamente históricos é o Sexto Mandamento: “Não mataras” em que é interpretado como Deus tendo um relacionamento com o ser humano enquanto em sua formação embrionária, ou seja, Deus trata o embrião como sendo de fato um ser humano completo. Assim foi dito a Jeremias: “Antes que eu te formasse no ventre eu te escolhi e antes de você nascer, eu te consagrei” (Jeremias 1.3). Nas narrativas evangélicas temos o testemunho a respeito de João, o Batista, de que quando as mães, Isabel e Maria, se encontraram, após a Anunciação, o feto do ventre de Isabel “saltou de alegria” mediante a presença do ainda feto Jesus que já estava sendo gerado no ventre de Maria (Lucas 1.39, 44).

Os textos trazem a implicação de que os fetos já possuem personalidade desde a concepção e, portanto, tem direito a uma absoluta proteção. Evidente que os chamados cristãos liberais oferecem outra explicação, partindo do entendimento de que a vida somente começa quando a criança de fato nasce, ou seja, quando a respiração entra nas narinas e o ser então se torna "um vivente” ...então o Senhor Deus formou o homem do pó da terra e soprou em suas narinas o fôlego de vida, e o homem se tornou um ser vivente (Gênesis 2.7). Uma exegese completamente destituída de seu contexto textual, visto que Adão não foi gerado no ventre de uma mulher, mas foi criado diretamente por Deus, o que não mais ocorrerá a partir do nascimento de seus filhos através de Eva. Eles advogam que esta interpretação tem sido ensinada de forma consistente na tradição judaica desde os seus primórdios, entretanto, a tradição judaica não está acima da autoridade das Escrituras.

No livro de Êxodo, que narra a formação da nação israelita, onde estão sendo estabelecidas as diretrizes fundamentais de suas leis constitucionais, há um exemplo de que se alguém incidentalmente causar um aborto espontâneo em uma gestante, essa pessoa não deve ser denunciada como assassino. E um pouco mais além, o texto não considera nem mesmo a perda do feto em si, como gerador de “dano” à mulher, pois descreve o que deveria em caso que fosse necessário reparação (Êxodo 21.23).  Neste caso em particular, os códigos legais mosaico se distinguem em relação a outros códigos legais da época como os da Suméria, Assíria, Babilônia, Hitita ou Persa, onde em todos se iguala a causa de um aborto espontâneo com um proposital como sendo homicídio.

Evidente que nos tempos atuais os avanços da medicina utilizam intervenções cirúrgicas especificas para se extrair o feto indesejado, todavia, na essência não é totalmente distinto daquela época em que ocorria pela violência, principalmente guerras, ou envenenamento.

Outro aspecto contemporâneo da discussão é o fato de que com o avanço da medicina tornou-se possível compreender melhor o desenvolvimento fetal da criança, o que contrasta com ignorância da época da antiguidade. Mas como diz o caipira: “pau que bate em João, bate também em José”. Esse mesmo avanço tecnológico medicinal revela cada vez mais claramente que o feto ainda em suas primeiras semanas manifesta percepções e sensações de dor, bem como é possível desde muito cedo obter evidências fotográficas de formação de membros completos em um embrião, por exemplo, uma mão perfeitamente formada, mas minúscula.

Mas os defensores do aborto insistem que datar a personalidade desde a concepção é quase impossível, e eles defendem, em vez disso, que a personalidade se desenvolve lenta e imperceptivelmente durante o período de gravidez e primeira infância, e que nenhum limite é, portanto, de significado moral fundamental em uma realidade em evolução e desenvolvimento.

Dentro do contexto da ética cristã predomina o fato de que o aborto nunca deve ser considerado bom em si mesmo. É sempre um mal mesmo em casos considerados legalmente justificáveis. Dentro desta perspectiva, denominada de doutrina de duplo efeito, ampla maioria de cristãos concordam primariamente de que o aborto é justificado quando a vida da mãe está em perigo real, entretanto, um número expressivo vai além e entendem que possa ocorrer o aborto também quando a gravidez foi decorrente de estupro ou quando o a criança é identificada com algum tipo de doença congênita com sequelas irreversíveis, neste último os questionamentos são mais enfáticos, visto que há inúmeros casos de pessoas que superaram as mais diversas deficiências congênitas. Entretanto, apesar de discutíveis cada um destes casos e até outros similares, não se anula o fato de que a esmagadora maioria dos abortos deliberados são gravemente imorais.

Os denominados cristãos liberais, ainda que nem todos, vão muito mais além, deixando de lado a bíblia e implicações morais, e tomam como primícia as implicações sociais como o bem-estar da família existente ou conforme as ideologias mais recentes avocam o "direito da mulher de escolher", pois somente ela e última instância é dona de seu corpo.

Esta mudança de foco é decorrente da chamada "deterioração processual", que passou a legislar sobre a perspectiva de "aborto sob demanda" em grande parte dos tribunais. O que tem levado os cristãos e protestantes evangélicos mais ortodoxos teologicamente a lutarem pelo endurecimento em relação as legislações locais, nacionais ou regionais, contra esta ampliação legalista dos tribunais judiciais. 

            As palavras de Dietrich Bonhoeffer, que viveu nos nefastos dias do nazismo, inclusive morrendo em uma de suas prisões, que vivenciou a banalidade da vida humana, que era ceifada pelos motivos mais triviais imagináveis, coloca o seu posicionamento, bem como dos cristãos que ainda levam a sério a bíblia como Palavra de Deus, sobre a questão ética do aborto:

O extermínio do fruto no ventre materno é atentado ao direito de vida conferido por Deus à vida em formação. A discussão da pergunta se aqui já se trata de um ser humano só leva confusão ao simples fato de que Deus, em todo caso quis criar um ser humano aqui e que deste ser humano em formação se tirou a vida deliberadamente. Ora, isso outra coisa não é do que assassinato. Os motivos que levam a tal ato pode ser bem variados; mais: ali onde se trata de um gesto de desespero em extrema pobreza e miséria humana ou econômica a culpa cabe mais à sociedade do que ao indivíduo; finalmente, neste ponto o dinheiro pode encobrir muita leviandade, enquanto justamente entre os pobres o ato cometido após dura luta de consciência

aparece mais facilmente; tudo isso indiscutivelmente afeta, de forma decisiva, a postura pessoal e poimênica diante do autor, mas não pode mudar nada no fato do assassinato em si (BONHOEFFER, 1985, p. 100 [itálico meu].

 

Utilização livre desde que citando a fonte
Guedes, Ivan Pereira
Mestre em Ciências da Religião.
Universidade Presbiteriana Mackenzie
me.ivanguedes@gmail.com
Outro Blog
Reflexão Bíblica
http://reflexaoipg.blogspot.com.br

 

Referências Bibliográficas
ATKINSON, David J. e FIELD, David F. (Ed.) New dictionary of christian ethics & pastoral theology. Universities and Colleges Christian Fellowship, Leicester, England: InterVarsity Press, USA e Inter-Varsity Press, England, 1995.
BANNER, Michael. Christian ethics and contemporary moral problems. Cambridge: Cambridge University Press, 1999.
BECKER, Lawrence C. and BECKER, Charlotte B. (Editors). Encyclopedia of ethics. New York: Routledge, 2001.
BONHOEFFER, D. Ética. Compilado e editado por Eberhard Bethge. Tradução
Helberto Michel, 5ª edição. São Leopoldo, RS: Sinodal, 1985. [5ª edição]. Ele trata dentro da perspectiva da “Procriação e Vida em Formação”.
CHAMPLIN, R. N. Enciclopédia de Bíblia, Teologia e Filosofia. v.1. São Paulo: Magnos, 2013.
GRUDEM, Wayne. Christian Ethics: na introduction to biblical moral reasoning. Wheaton, Illinois: Published by Crossway, 2018.
HENRY, Carl Org.) Dicionário de ética cristã. Tradução e atualização Wadislau Martins Homes. São Paulo: Cultura Cristã, 2007. 
KAISER Jr., Walter C. O cristão e as questões éticas da atualidade: um guia bíblico para pregação e ensino. Tradução de orahldo Janzen e Ingrid Neufeld  de Lima. São Paulo: Vida Nova, 2015.
MORROW, David R. Moral reasoning – a text and reader on ethics and contemporary moral issues. Published in the United States of America by Oxford University Press, 2018. [esta obra não tem cunho evangélico cristão, mas trás três longos artigos sobre o tema que valem a pena serem lidos criticamente].
Artigos Relacionados
Dietrich Bonhoeffer e a Genuína Postura Evangélico-Cristã Diante de Autoridades Déspotas e Corruptas
https://historiologiaprotestante.blogspot.com/2017/09/dietrich-bonhoeffer-e-genuina-postura.html?spref=tw
Protestantismo e sua contribuição na educação no Brasil
https://historiologiaprotestante.blogspot.com/2016/11/protestantismo-e-sua-contribuicao-na.html?spref=tw
VERBETE: Abraham Kuyper
https://historiologiaprotestante.blogspot.com/2021/11/verbete
VERBETE: Neocalvinismo
https://historiologiaprotestante.blogspot.com/2021/11/verbete-neocalvinismo.html?spref=tw
VERBETE – Calvinismo
https://historiologiaprotestante.blogspot.com/2014/01/verbete-calvinismo.html
VERBETE - Protestante
https://historiologiaprotestante.blogspot.com/2013/10/verbete-protestante.html
VERBETE – Protestantismo
https://historiologiaprotestante.blogspot.com/2013/11/verbete-protestantismo.html
 

terça-feira, 16 de novembro de 2021

VERBETE: Neocalvinismo


Recebeu historicamente essa nomenclatura pelo fato de que um de seus expoentes mais relevantes e conhecido foi o pastor Abraham Kuyper (1837-1920) e por esta razão recebe o nome de Kuyperianismo. Ele juntamente com outros líderes eclesiásticos e acadêmicos reformados holandês, no século dezenove, empreenderam a árdua tarefa de identificar e responder aos questionamentos levantados pelo advento da Modernidade. Eles não contradizem as doutrinas cardeais do calvinismo histórico, mas defendem que Calvino almejava muito mais do que um compendio de teologia sistemática acadêmico eclesiástico e tinha como objeto mais amplo inserir as doutrinas bíblicas expostas por ele em todas as esferas da vida: social, cultural e político.

Em contraponto ao Iluminismo francês, pós Revolução Francesa e do Humanismo antropocêntrico racionalista, surge o movimento pietista de resgate da experiência religiosa pessoal e comunitário de cunho subjetivo. Uma outra vertente desta reação é justamente a produzida por Kuyper e seus companheiros que impactados pelo reavivamento religioso, denominado Despertamento, utilizando a estrada da ortodoxia da fé reformada apresentam um novo caminho em direção a envolvimento mais efetivo com o mosaico que perfaz a Sociedade humana.

Guillaume Groen Van Prinsterer (1801-1876), historiador e político é o precursor desta proposta, após ter identificado as consequências nocivas que estavam sendo produzida, na Sociedade de seus dias, com a predominância do absolutismo e individualismo que se opunham abertamente contra a soberania de Deus e das Escrituras (e de fato nos dias atuais experimentamos na pele esta catastrófica verdade na Sociedade brasileira).

Mas será na trajetória do teólogo, acadêmico e político de mente privilegiada e personalidade forte e cativante, mas igualmente um reformado piedoso Abraham Kuyper que os conceitos básicos desta vertente teológica-reformada serão estabelecidos.

Em uma série de palestras sobre o Calvinismo Kuyper faz uma exposição dos aspectos fundamentais do Calvinismo denominando-os como um sistema de vida e não apenas de ortodoxia eclesiástica teológica. O termo alemão Weltanschauung, utilizada em abundância pelos idealista e românticos alemães e também por Kuyper é mais conhecida por "conceito de mundo ou cosmovisão, mas particularmente prefiro "sistema de vida" que tem menos associação com o academicismo, o que está mais em harmonia com a proposta original dele e seus companheiros.

Outro precursor foi James Orr (1844-1913) nascido em Glasgow, na Escócia e foi ministro presbiteriano e professor de história e teologia e que em sua obra The Christian View of God and the World (1893) aplica o conceito de Weltanschaaung ao cristianismo, entendendo que esta forma de ver o mundo é o instrumental adequado para se responder aos questionamentos do ser humano moderno que vive cada vez mais em sociedade.

Mas será em suas Palestras Stone, proferidas na Universidade e Seminário de Princeton, que Kuyper estabelecera as balizas desta renovada perspectiva do pensamento reformado-calvinista. A primeira palestra "O Calvinismo como sistema de vida", bem como as demais seis palestras apresentadas enfatizam que o Calvinismo não pode ser reduzidos a um conjunto de dogmas, mas que Calvino as pensou originalmente como uma proposta bíblica que abarca a totalidade da vida humana e por conseguinte um instrumental de impacto em todas as esferas da Sociedade. Este pensamento de Kuyper está condensada de forma bem clara em uma de suas mais memoráveis frases: “Oh, nenhum pedaço de nosso mundo mental deve ser hermeticamente selado do resto, e não há um centímetro quadrado em todo o domínio de nossa existência humana sobre o qual Cristo, que é Soberano sobre todos, não clame: É Meu!”.   

Outro expoente e colaborador de Kuyper foi Hermann Bavinck (1854-1921), que proveu de forma consistente o fundamento teológico-dogmático a esta nova perspectiva teológica-calvinista e/ou neocalvinismo. Sua monumental obra, em quatro volumes, intitulada Dogmática Reformada foi publicada entre 1895 e 1901 está e atualmente pode ser encontrada em português. Sua luta até morrer foi para que o cristianismo não se limitasse a ser uma seita, mas que a fé cristã permeasse todos os aspectos da vida humana.

Por fim outro nome de extrema relevância para o estabelecimento prático desta nova proposta calvinista é Herman Dooyeweerd (1894-1977) a quem coube a árdua tarefa de dialogar com a academia alemã e suas diversificadas escolas de pensamento e campos do conhecimento. Ele elabora os princípios Calvinistas de lei, política, e sociedade que dariam a direção para o novo pensamento teológico. Seus esforços produziu uma consistente escola do pensamento reformado. Para ele não deve haver uma neutralidade do pensamento ou da filosofia no que concerne a religião. O tripé bíblico Criação-Queda-Redenção tem que se constituir no fundamento da mentalidade cristã e se deve rejeitar as dicotomias que se tentam impor no pensamento ocidental (matéria/forma; natureza/graça; natureza/liberdade).   

 

Utilização livre desde que citando a fonte
Guedes, Ivan Pereira Mestre em Ciências da Religião.
Universidade Presbiteriana Mackenzie
me.ivanguedes@gmail.com
Outro Blog
Reflexão Bíblica
http://reflexaoipg.blogspot.com.br/

 

Artigos Relacionados

VERBETE: Abraham Kuyper

https://historiologiaprotestante.blogspot.com/2021/11/verbete-abraham-kuyper_14.html

VERBETE – Calvinismo

https://historiologiaprotestante.blogspot.com/2014/01/verbete-calvinismo.html

VERBETE - Protestante

https://historiologiaprotestante.blogspot.com/2013/10/verbete-protestante.html

VERBETE – Protestantismo

https://historiologiaprotestante.blogspot.com/2013/11/verbete-protestantismo.html

Calvino Singularidades: O Motivo Primário Para Escrever as Institutas

https://historiologiaprotestante.blogspot.com/2020/03/calvino-singularidades-o-motivo.html?spref=tw

Calvino: Comentários Bíblicos em Ordem Cronológica

https://historiologiaprotestante.blogspot.com/2020/07/calvino-comentarios-biblicos-em-ordem.html?spref=tw

Calvino e a Importância da Música (1ª Parte)

https://historiologiaprotestante.blogspot.com/2020/05/Calvino-e-importancia-da-musica-1-parte.html?spref=tw

Protestantismo e sua contribuição na educação no Brasil

https://historiologiaprotestante.blogspot.com/2016/11/protestantismo-e-sua-contribuicao-na.html?spref=tw

 

   

domingo, 14 de novembro de 2021

VERBETE: Abraham Kuyper


“Oh, nenhum pedaço de nosso mundo mental deve ser hermeticamente selado do resto, e não há um centímetro quadrado em todo o domínio de nossa existência humana sobre o qual Cristo, que é Soberano sobre todos, não clame: É Meu!” —  Abraham Kuyper

Kuyper (1837-1920), pastor, jornalista, professor de teologia e político, serviu sua igreja e seu país com fidelidade e honra. Nasceu em uma família de classe média, em meio a uma Holanda em declínio econômico-social, político e religioso.

 As mudanças econômicas e desastres das Guerras Napoleônicas aceleraram o declínio da glória mercantil e marítima holandesa. As políticas de modernização colocaram a organização e o funcionamento da Igreja Reformada da Holanda sob a autoridade do Estado. Em 1855, Kuyper ingressou na universidade de Leiden, onde foi influenciado pela corrente racionalista. Todavia, o seu primeiro mandato como pastor, em uma congregação de calvinistas conservadores entre 1863-1874, exerceu profunda influência em sua perspectiva teológica de maneira que ele adotou até o fim de sua vida a teologia calvinista histórica e confessional. Logo depois, Kuyper entrou em debates políticos e eclesiais, desafiando a relação entre a igreja nacional e o governo.  

Em 1872, fundou e assumiu a função de editor-chefe do jornal diário De Standaard (O Padrão). Suas críticas ao caráter da igreja estatal, pelas aberturas cada vez maior do liberalismo, foram tão fortes que em 1885 ele e seus companheiros (80 membros do Concílio) foram suspensos na esfera eclesiástica e se autodenominaram “Doleantie” (os enlutados). Apenas quatro anos depois (1889) as igrejas Doleantie - Gereformeerde Kerken em Nederland (Igrejas Reformadas na Holanda) tinham mais de 200 congregações, 180.000 membros e cerca de 80 ministros e posteriormente tornou-se a segunda maior igreja reformada na Holanda. Eles mantiveram o sistema teológico calvinista, inclusive a predestinação e a graça soberana de Deus, mas reafirmaram a responsabilidade de cada crente em relação à igreja, a cultura e a criação (antecipando em muito as discussões ecológicas).

 Ele entrou oficialmente na política com sua eleição para um mandato no Congresso (1874-1878) e lutou contra as reformas educacionais que colocaram mais autoridade sobre as escolas religiosas nas mãos do Estado. Em 1879, por meio do apoio popular à sua campanha contra as reformas educacionais, ele filiou-se ao Partido Antirrevolucionário, de cunho protestante conservador que promulgou suas próprias reformas educacionais e expansão do sufrágio.

Em decorrência de o governo holandês interferir na escolha de professores de teologia na universidade, ele se desligou do Corpo Docente e se constituiu na figura central na fundação da Universidade Livre de Amsterdã em 1880, onde atuou como docente e administrador, uma universidade cristã, mas livre do controle da igreja ou do Estado.

Aliado a grupos católicos, ascendeu ao posto de primeiro-ministro entre 1901-1905. Como líder religioso, organizador social, teólogo e político, deixou sua marca na cultura holandesa e seu pensamento repercute hoje em muitas partes do mundo.

Convidado pela Universidade e Seminário de Princeton em 1898 expos através das chamadas Palestras Stone (Stone Lectures) seus pensamentos teológicos peculiares da forma com que a teologia calvinista deveria ser compreendida e se constitui em ponto de partida para se entender corretamente o que tem sido denominada neocalvinismo ou kuyperianismo, um neologismo muitas vezes usado de forma pejorativa pelos que discordam deste viés calvinista. Posteriormente essas palestras foram reunidas e publicadas, inclusive recentemente no Brasil.  

Para Kuyper o calvinismo original fecundado na mente de João Calvino não deveria ser restrito apenas como um sistema dogmático e eclesiástico, visto que Calvino nunca manifestou essa intenção em quaisquer de suas obras, seja em sua obra magna as Institutas ou na totalidade de seus muitos comentários dos livros bíblicos (que nunca foram ao menos lidas por 90% dos que se autodenominam calvinistas-reformados no Brasil). Ele defendia que a exposição teológica de Calvino proporcionava uma visão do mundo abrangido e, de fato, podia ser percebido como fator fecundante das instituições e valores da sociedade moderna.

Para Kuyper o calvinismo deve ser um sistema de vida, ou seja, deve impregnar todas as esferas da vida humana cotidiana, seja a teologia, política, ciência, filosofia, arte, música ou lazer. Por esta razão ele se tornou um dos principais expoentes do movimento de renovação religiosa e social que ocorreu na Holanda no século XIX, conhecido como Neocalvinismo holandês, o qual foi disseminado em muitos seminários nos Estados Unidos no século XX, de onde veio para o Brasil.

O pensamento de Kuyper influenciou uma expressiva parcela da liderança evangélica americana e suas mais diversas instituições. Mas seu legado na África do Sul tornou-se maior do que na própria Holanda. A sua concepção nacional-cristã tornou-se o fundamento na construção das instituições culturais, política e econômica Afrikaner.

Em 1907 a Holanda celebrou o septuagésimo aniversário de Abraham Kuyper em reconhecimento a sua influência na história da nação por mais de 40 anos. Abraham Kuyper continua sendo um pária no meio calvinista histórico brasileiro, pois para ele a equidistância é uma distorção do pensamento original de João Calvino que interagiu em todas as esferas da vida social contemporânea de sua época. Suas obras, principalmente as que não estejam relacionadas diretamente à teologia foram ignoradas, um termo mais ameno para rejeitadas e que em algumas esferas eclesiásticas têm recebido um selo (invisível) de Index Librorum Prohibitorum.


Utilização livre desde que citando a fonte
Guedes, Ivan Pereira Mestre em Ciências da Religião.
Universidade Presbiteriana Mackenzie
me.ivanguedes@gmail.com
Outro Blog
Reflexão Bíblica
http://reflexaoipg.blogspot.com.br/
 

Artigos Relacionados

sexta-feira, 17 de abril de 2020

Verbete: Adventismo


No sentido amplo do termo é crença na iminente Segunda Vinda e/ou Advento de Jesus Cristo, como conclusão apoteótica da História humana. Mas em um sentido restrito tornou-se a alcunha do movimento que se originou nos ensinamentos de William Miller (1782-1849), de origem Batista, mas que acabou por o Deísmo. Posteriormente retornou às origens Batista como um ministro leigo, substituindo o pastor que se encontrava adoentado. A partir de seu estudo autodidata da bíblia, estudou avidamente as profecias bíblicas e identificou uma serie de textos bíblicos que podiam oferecer um paralelo com as datas contemporâneas (ex.: Jó 10.5; Sl 90.3; 2Pe 3.8) e vivenciando um período profícuo de junção das profecias bíblicas com o fascínio dos estudos matemáticos ele elaborou uma equação que definia o tempo exato da volta de Jesus - entre 1843 e abril de 1844. Mas somente a partir da década de 1830, incentivado pela esposa, começou a pregar suas pesquisas. Em um período aproximado de 13 anos onde percorreu as grandes cidades do país o movimento Milleritas reuniu um numero expressivo de 200 pastores e em torno de 100 mil pessoas para aguardar o retorno de Cristo. Mas para sua grande decepção todo seu esforço provou ser um terrível equivoco. Ele publicamente pediu desculpas e se afastou do ministério. O fracasso de suas previsões ficou conhecido como o - Grande Desapontamento - todavia o movimento iniciado por ele criou vida própria e se desenvolveu através de novos grupos que adaptaram suas perspectivas escatológicas sendo as mais conhecidas a Igreja Adventista do Sétimo Dia, as Testemunhas de Jeová e a Igreja de Deus, que se espalharam por todo o mundo.
Os milleritas (os seguidores dos ensinamentos de William Miller) se reagruparam em varias organizações distintas. Alguns ainda procuraram estabelecer novas datas para o retorno de Cristo, mas outros entenderam que apesar de ser eminente esse retorno ele não poderia ser previsto com exatidão cronológica.
O grupo de maior expressão – Igreja Adventista do Sétimo Dia – surgiu dezenove anos depois do – Grande Desapontamento – imbuídos da crença que eles eram a Igreja Remanescente do Tempo do Fim. O conceito de povo Escolhido foi muito importante para criar e manter a unidade após o período de divisões e conferir uma identidade denominacional. Ensinavam que Miller estava correto, mas que se tratava do inicio da purificação do Santuário Celestial (cf. descrito em Hebreus 9) e do período do Juízo Investigativo Estes dois conceitos tornaram-se a espinha dorsal dos Adventistas do Sétimo Dia.
James e Ellen G. White (de origem metodista), fundadores da igreja (1850-1860), adotou os preceitos do sabatismo e que dentro desse processo de purificação e restauração deveria se resgatar a pratica do sábado como dia de adoração (e não o domingo), bem como uma serie de observâncias do sistema religioso judaico, prescritos no Primeiro Testamento. As doutrinas distintivas desse movimento estavam definidas desde 1863 sob a liderança tripartite de Ellen e James White e Joseph Bates: o juízo investigativo (iniciado por Jesus Cristo em 1844 que será encerrado um pouco antes da volta de Cristo à Terra), o milênio (um período em que a Terra fica desolada), o sábado (como sinal da adoração verdadeira a Deus), o estado de inconsciência dos mortos e Ellen White (como profetiza da Igreja Remanescente, o Espírito de Profecia).
Após mais um fracasso em estabelecer uma data (1874) para o retorno de Cristo, o jovem estudante da bíblia em Pittsburgh, Charles Taze Russel, reinterpretou o ensino de Ellen G. White, de maneira que o ano de 1874 era de fato o tempo de Cristo, mas segundo ele o termo “parousia” (no grego “retorno”), também significava presença. Desta forma, segundo ele, Cristo tornou-se invisivelmente presente para a colheita final dos crentes; ele apareceria uma geração depois, por volta de 1914 e desta forma o milênio em que Cristo reinaria na Terra estava nascendo. O movimento liderado por Russel sofreu profundas mudanças após sua morte, emergindo como Testemunhas de Jeová nos anos 1930. Esse novo segmento distinguiu-se ainda mais do resto da comunidade protestante por suas duras críticas a outras igrejas, seu negação da Trindade e do inferno somados à seu proselitismo acentuado dos membros das demais denominações evangélicas.
Todavia muitos discordaram da questão da purificação do santuário celestial proposto por Russel, mas mantiveram os ensinos de White sobre o sábado e adoção das praticas judaicas bíblicas, de maneira que o movimento adventista se fragmentou ainda mais. Um desses novos grupos denominou-se Movimento do Nome Sagrado, liderados por Clarence Orvil Dodd (1930), que defendia o retorno às raízes hebraicas na vivência, crença e adoração. Sua ênfase estava no fato de que se deveria utilizar apenas o nome sagrado Yahweh (hebraico: יַהְוֶה), e transladado para o português como Jeová, e o nome hebraico de Jesus transladado como Yahshua. As Testemunhas de Jeová adotaram o nome Jeová como sendo o único nome sagrado de Deus. Ambos os grupos rejeitam a Páscoa e o Natal como expressões pagãs e observam os dias sagrados de Levítico 23, como a Páscoa e a Festa das Semanas e são movimentos não trinitários, pois afirmam que a doutrina da Trindade é antibíblica.
A partir da década de 1930, surge o grupo sabatista Igreja de Deus liderado pelo radialista Herbert W. Armstrong (1892-1986) como sua Igreja Rádio de Deus. Após a Segunda Guerra Mundial, Armstrong mudou-se para Pasadena, Califórnia, e mudou o nome para Igreja Mundial de Deus, usando rádio e depois televisão. Como parte integrante de seus ensinamentos, adotou o chamado israelismo britânico, cuja ideia central é de que as lendárias tribos perdidas de Israel deveriam ser identificadas com os povos modernos anglo-saxões. A igreja também desenvolveu uma versão modera dos antigos festivais hebraicos, praticou um sistema de dízimo e se separou das outras igrejas cristãs. Após a morte de Armstrong, seu sucessor, Joseph Tkach Sr., e seu filho, Joseph Tkach Jr., lideraram uma reforma na igreja e abandonaram todas as ideias distintas de Arnistrong, do sabatismo à teoria britânica de Israel, e a moldaram dentro do evangelicalismo ortodoxo. A maioria dos membros da igreja desertou e formaram outros grupos que continuaram os ensinamentos de Armstrong.
O movimento Adventista do Sétimo chegou ao Brasil em através das colônias alemãs estabelecidas no sul do país, visto que na fase inicial da expansão mundial o país mais receptivo à pregação adventista do sétimo dia foi a Alemanha e entre 1824 e 1947 estima-se que cerca de 250 mil alemães entraram no país. Foi no Estado de Santa Catarina que colportores (vendedores de literatura religiosa) adventistas encontraram muitas pessoas que eram sabatistas, mas que não faziam parte de nenhuma denominação especifica e nem eram batizados. Mas somente em 1895 o pastor adventista, responsável pelo Cone Sul J. H. Westphal realizou os primeiros batismos e estabeleceu as primeiras comunidades adventistas no país. Desta forma, ainda que a Igreja Adventista do Sétimo Dia não tenha sido trazida pelos imigrantes, esteve intimamente ligada à imigração alemã que ocorria em direção ao país. É o Brasil que atualmente apresenta a maior membresia em números absolutos deste movimento mundial, que se encontra estabelecido em mais de 200 países.

Utilização livre desde que citando a fonte
Guedes, Ivan Pereira
Mestre em Ciências da Religião.
me.ivanguedes@gmail.com
Outro Blog
Historiologia Protestante

Artigos Relacionados
VERBETE - Protestante
VERBETE – Puritanismo
VERBETE – Protestantismo
VERBETE – Denominacionalismo
VERBETE – Calvinismo
VERBETE – Anglicanismo
VERBETE – Arminianismo
VERBETE – Pais Apostólicos
A Bíblia de Genebra

domingo, 1 de março de 2020

VERBETE - A Bíblia de Genebra


            A cidade de Genebra, na Suíça, foi um dos maiores polos irradiadores do movimento da Reforma do Século XVI.  Um dos responsáveis por isso foi o teólogo-exegeta João Calvino, que elaborou uma das primeiras obras teológicas reformada. Sua aptidão e determinação fizeram de Genebra o centro acadêmico dos reformados e através de sua Academia milhares de pessoas, refugiados de seus países por causa da perseguição implacável das autoridades que se mantiveram católicas romanas, puderam estudar e posteriormente repassarem esse conhecimento aos seus contemporâneos na medida em que retornavam aos seus países de origem.
            Uma das obras mais extraordinárias e perenes que foi produzida em Genebra foi a tradução das Escrituras para o inglês denominada popularmente como a “Bíblia de Genebra”. Esteve envolvido nesse projeto o próprio Calvino, John Knox o reformador escocês, Myles Coverdale o primeiro a imprimir uma bíblia completa em inglês, John Foxe o puritano editor e autor do “Livro dos Mártires” e outros refugiados ingleses em Genebra... fugindo da perseguição sanguinária da rainha católica romana Mary Stuart na Inglaterra, que não tolerava a Bíblia protestante de Genebra, que ensinava explicitamente em suas notas de comentários que o papa era o "anticristo".  Porém, a maior parte do trabalho foi realizada por William Whittingham, um dos pastores da Igreja de Genebra e um amigo querido de João Calvino.
            O Novo Testamento de Genebra foi editado em 1558 e somente depois de dois anos, 1560, saiu a primeira impressão da Bíblia completa, traduzida de acordo com o hebraico e o grego, e conferida com as melhores traduções em diversas línguas. As traduções inglesas anteriores não tinham alcançado os leitores de forma geral, mas a Bíblia de Genebra foi instantaneamente popular. Entre 1560 e 1644, pelo menos 144 edições foram produzidas. Também conhecida como a “Bíblia da Reforma Protestante” tornou-se rapidamente a mais popular versão na língua inglesa, superando e sobrevivendo à “Grande Bíblia” (1539) que foi a primeira edição autorizada da Bíblia em inglês e permitida pelo rei Henrique VIII da Inglaterra a ser lida em voz alta nos cultos da Igreja da Inglaterra e a “Bíblia dos Bispos” (1568), uma tradução em inglês da Bíblia produzida sob a autoridade da Igreja da Inglaterra (Anglicana) e cuja edição de 1602 foi prescrita como o texto base da Bíblia King James.  Mesmo quarenta anos após a publicação da Bíblia King James, versão oficial da Igreja Anglicana para neutralizar os efeitos da versão de Genebra e, portanto a única lida nos cultos oficiais, a Bíblia de Genebra continuou sendo a Bíblia do lar, da família e principalmente dos grupos dissidentes: presbiterianos, congregacionais, metodistas e batistas.
            E de fato há muitas razões para esse sucesso editorial dela:
- Seu custo baixo, inferior a um salario semanal, possibilitava a compra por um número maior de leitores. A Bíblia original de Genebra de 1560 devolveu a Palavra de Deus ao povo.
- Sua tradução foi feita para o inglês popular e assim alcançar com mais facilidade a população em geral, seguindo o padrão utilizado por Martinho Lutero na Alemanha.
- Foi a primeira versão da Bíblia para o inglês feita a partir dos textos em hebraico e grego diretamente, mormente as traduções eram feitas a partir da versão oficial Vulgata Latina.
- Foi a primeira Bíblia a ser impressa na Escócia após sua Reforma liderada por John Knox.
- Foi a Bíblia utilizada pelos Puritanos e posteriormente levada pelos Peregrinos quando atravessaram o mar e se estabeleceram na Nova América (Estados Unidos) em 1620. Foi a Bíblia na qual a América foi fundada, uma vez que a maioria dos Peregrinos estava fugindo da opressão religiosa da Igreja Anglicana (Igreja da Inglaterra) e não queriam nada com sua Bíblia oficial “King James”.
- Foi a versão citada centenas de vezes por William Shakespeare em suas peças.
- Editorialmente ela foi a primeira versão a utilizar o tipo “Romano”, mais fácil de ler, do que o tipo de “Estilo Gótico”, usado até aquele momento;
- Foi a primeira Bíblia em inglês a adicionar versículos numerados a cada capítulo;
- Tornou-se a primeira “Bíblia de Estudo”, com extensas notas de comentários nas margens, em torno de 6500; a fazer uma tradução literal de mais de 700 palavras difíceis do hebraico e do grego; a fazer uma introdução de cada livro; a utilizar mapas e gráficos; ilustrações como da arca Noé, do Tabernáculo, do templo de Salomão e da visão de Ezequiel, das tribos de Israel e das jornadas do apóstolo Paulo.  
            Essa versão da Bíblia popularizou os conceitos teológicos de Calvino e dos reformadores a partir de Genebra.

Utilização livre desde que citando a fonte
Guedes, Ivan Pereira
Mestre em Ciências da Religião.
me.ivanguedes@gmail.com
Outro Blog
Historiologia Protestante

Artigos Relacionados
VERBETE – Pais Apostólicos
VERBETE - Protestante
VERBETE – Puritanismo
VERBETE – Protestantismo
VERBETE – Denominacionalismo
VERBETE – Calvinismo
VERBETE – Anglicanismo
VERBETE – Arminianismo


quarta-feira, 26 de fevereiro de 2020

VERBETE – Pais Apostólicos



O título “Pai [Padres] Apostólicos” faz referência àqueles escritores cristãos do final do primeiro e do segundo séculos, que de alguma forma tiveram contato direto com os apóstolos. Não há uma coleção antiga que contenha todos os escritos deles. A literatura produzida por eles cobre o período da chamada igreja primitiva e se constitui em importantes fontes de informação do período imediato à literatura canônica cristã
Tem sido motivo de debates quais escritores poderiam ser incluídos nesse bloco dos “Pais Apostólicos” [patrum apostolicorum], mas alguns são aceitos amplamente pelos estudiosos como tendo contato direto com algum dos apóstolos: Clemente de Roma (ca. 97), Inácio de Antioquia (ca. 110-117) e Policarpo de Esmirna (ca. 110-120), como atestado por Irineu (Adv. Haer., III, iii, 3, 4) e Eusébio (Hist. Eccl .III.36; v, 20). Os demais escritos desse período pós-apostólicos existentes incluem o primeiro manual de catecúmenos “Didaquê” ou “Ensinamentos dos Doze Apóstolos” (ca. 80–100), a Epístola de Barnabé (96–98), O Pastor de Hermas (ca. 150), Exposições dos Discursos do Senhor por Papias (ca. 150 ) e a Carta a Diógenes (130). Geograficamente abrangem uma área muito ampla o que revela a expansão do cristianismo: Roma (Clemente e Hermas), Esmirna (Policarpo) e Inácio), Hierápolis na Frígia (Papias) e Egito (Didaquê e Barnabé).
Seguindo o padrão dos escritores canônicos do Novo Testamento, os Pais Apostólicos escreveram epístolas ou cartas para corrigir ou consolar os cristãos ou comunidades locais. A influência de seus escritos se fez sentir mais acentuadamente no segundo século e depois foram perdendo espaço para as novas literaturas que foram sendo produzidas por novas lideranças  (Hist. Eccl. III. 16; IV.23) e alguns chegaram até mesmo sendo incluídos nas listas canônicas, como por exemplo o Codex Alexandrinus e o Codex Sinaiticus, mas no final ficaram de fora do cânon definitivo.
Essas literaturas não tinham pretensões de serem tratados teológicos ou filosóficos, mas sempre mantiveram o tom pastoral. Todavia, seu conteúdo tornam-se preciosos para tomarmos conhecimento do desenvolvimento das primeiras comunidades cristãs. Eles tornam-se importantes fontes de idoneidade dos escritos canônicos, pois neles encontram-se muitas citações das literaturas apostólicas que já circulavam pelas comunidades cristãs como regra de fé e prática.
Evidentemente que há nestes escritos temas doutrinários e/ou teológicos tais como a fórmula trinitária, a divindade e humanidade de Cristo, a obra redentora de Cristo, seu sumo ministério sacerdotal e seu sangue derramado como resgate vicário pelos nossos pecados. Outros ensinamentos inclui a vida eterna para o crente, justificação pela fé e a importância boas obras. Clemente de Roma em sua epístola dirigida aos crentes de Corinto defende que os  ensinamentos de Paulo e Tiago sobre fé e obras são complementares, rejeitando a tese de um conflito entre cristãos de origem judaica e gentias no início do cristianismo.
Utilização livre desde que citando a fonte
Guedes, Ivan Pereira
Mestre em Ciências da Religião.
me.ivanguedes@gmail.com
Outro Blog
Historiologia Protestante

Artigos Relacionados
VERBETE - Protestante
VERBETE – Puritanismo
VERBETE – Protestantismo
VERBETE – Denominacionalismo
VERBETE – Calvinismo
VERBETE – Anglicanismo
VERBETE – Arminianismo
VERBETE - Jacob Arminius
VERBETE: Mártir – Origem e Significado

Referências Bibliográficas
GEBHARDT, Oscar de, HARNACK, Adolfus and ZAHN, Theodorus. Patrum Apostolicorum Opera. Lipsiae: J.C. Hinrichs, 1877.
HALL, Christopher A. Lendo as Escrituras com os pais da igreja, 2. ed., tradução de Rubens Castilho; Meire Santos. Viçosa: Ultimato, 2007.
LIGHTFOOT, J.B. The Apostolic Fathers. 5 vols. London: Macmillan, 1893. Updated by Holmes, Michael, The Apostolic Fathers: Greek Texts and English Translations. 3d rev. ed. Grand Rapids: Baker, 2007.
LITFIN, Bryan M. Conhecendo os Pais da Igreja - uma introdução evangélica. Tradução de Márcio Loureiro Redondo. São Paulo: Vida Nova, 2015.