No sentido amplo do termo é crença
na iminente Segunda Vinda e/ou Advento de Jesus Cristo, como conclusão
apoteótica da História humana. Mas em um sentido restrito tornou-se a alcunha
do movimento que se originou nos ensinamentos de William Miller (1782-1849), de
origem Batista, mas que acabou por o Deísmo. Posteriormente retornou às origens
Batista como um ministro leigo, substituindo o pastor que se encontrava
adoentado. A partir de seu estudo autodidata da bíblia, estudou avidamente as
profecias bíblicas e identificou uma serie de textos bíblicos que podiam
oferecer um paralelo com as datas contemporâneas (ex.: Jó 10.5; Sl 90.3; 2Pe
3.8) e vivenciando um período profícuo de junção das profecias bíblicas com o
fascínio dos estudos matemáticos ele elaborou uma equação que definia o tempo
exato da volta de Jesus - entre 1843 e abril de 1844. Mas somente a partir da
década de 1830, incentivado pela esposa, começou a pregar suas pesquisas. Em um
período aproximado de 13 anos onde percorreu as grandes cidades do país o
movimento Milleritas reuniu um numero expressivo de 200 pastores e em torno de 100
mil pessoas para aguardar o retorno de Cristo. Mas para sua grande decepção
todo seu esforço provou ser um terrível equivoco. Ele publicamente pediu desculpas
e se afastou do ministério. O fracasso de suas previsões ficou conhecido como o
- Grande Desapontamento - todavia o movimento iniciado por ele criou vida
própria e se desenvolveu através de novos grupos que adaptaram suas
perspectivas escatológicas sendo as mais conhecidas a Igreja Adventista do
Sétimo Dia, as Testemunhas de Jeová e a Igreja de Deus, que se espalharam por
todo o mundo.
Os milleritas (os seguidores
dos ensinamentos de William Miller) se reagruparam em varias organizações
distintas. Alguns ainda procuraram estabelecer novas datas para o retorno de
Cristo, mas outros entenderam que apesar de ser eminente esse retorno ele não
poderia ser previsto com exatidão cronológica.
O grupo de maior expressão –
Igreja Adventista do Sétimo Dia – surgiu dezenove anos depois do – Grande Desapontamento
– imbuídos da crença que eles eram a Igreja Remanescente do Tempo do Fim. O
conceito de povo Escolhido foi muito importante para criar e manter a unidade
após o período de divisões e conferir uma identidade denominacional. Ensinavam que
Miller estava correto, mas que se tratava do inicio da purificação do Santuário
Celestial (cf. descrito em Hebreus 9) e do período do Juízo Investigativo Estes
dois conceitos tornaram-se a espinha dorsal dos Adventistas do Sétimo Dia.
James e Ellen G. White (de
origem metodista), fundadores da igreja (1850-1860), adotou os preceitos do
sabatismo e que dentro desse processo de purificação e restauração deveria se resgatar
a pratica do sábado como dia de adoração (e não o domingo), bem como uma serie
de observâncias do sistema religioso judaico, prescritos no Primeiro Testamento.
As doutrinas distintivas desse movimento estavam definidas desde 1863 sob a
liderança tripartite de Ellen e James White e Joseph Bates: o juízo
investigativo (iniciado por Jesus Cristo em 1844 que será encerrado um pouco
antes da volta de Cristo à Terra), o milênio (um período em que a Terra fica
desolada), o sábado (como sinal da adoração verdadeira a Deus), o estado de
inconsciência dos mortos e Ellen White (como profetiza da Igreja Remanescente,
o Espírito de Profecia).
Após mais um fracasso em
estabelecer uma data (1874) para o retorno de Cristo, o jovem estudante da
bíblia em Pittsburgh, Charles Taze Russel, reinterpretou o ensino de Ellen G.
White, de maneira que o ano de 1874 era de fato o tempo de Cristo, mas segundo
ele o termo “parousia” (no grego “retorno”), também significava presença. Desta
forma, segundo ele, Cristo tornou-se invisivelmente presente para a colheita
final dos crentes; ele apareceria uma geração depois, por volta de 1914 e desta
forma o milênio em que Cristo reinaria na Terra estava nascendo. O movimento liderado
por Russel sofreu profundas mudanças após sua morte, emergindo como Testemunhas
de Jeová nos anos 1930. Esse novo segmento distinguiu-se ainda mais do resto da
comunidade protestante por suas duras críticas a outras igrejas, seu negação da
Trindade e do inferno somados à seu proselitismo acentuado dos membros das
demais denominações evangélicas.
Todavia muitos discordaram
da questão da purificação do santuário celestial proposto por Russel, mas
mantiveram os ensinos de White sobre o sábado e adoção das praticas judaicas
bíblicas, de maneira que o movimento adventista se fragmentou ainda mais. Um
desses novos grupos denominou-se Movimento do Nome Sagrado, liderados por
Clarence Orvil Dodd (1930), que defendia o retorno às raízes hebraicas na
vivência, crença e adoração. Sua ênfase estava no fato de que se deveria utilizar
apenas o nome sagrado Yahweh (hebraico: יַהְוֶה), e transladado
para o português como Jeová, e o nome hebraico de Jesus transladado como Yahshua.
As Testemunhas de Jeová adotaram o nome Jeová como sendo o único nome sagrado
de Deus. Ambos os grupos rejeitam a Páscoa e o Natal como expressões pagãs e
observam os dias sagrados de Levítico 23, como a Páscoa e a Festa das Semanas e
são movimentos não trinitários, pois afirmam que a doutrina da Trindade é antibíblica.
A partir da década de 1930, surge
o grupo sabatista Igreja de Deus liderado pelo radialista Herbert W. Armstrong
(1892-1986) como sua Igreja Rádio de Deus. Após a Segunda Guerra Mundial,
Armstrong mudou-se para Pasadena, Califórnia, e mudou o nome para Igreja Mundial
de Deus, usando rádio e depois televisão. Como parte integrante de seus
ensinamentos, adotou o chamado israelismo britânico, cuja ideia central é de
que as lendárias tribos perdidas de Israel deveriam ser identificadas com os
povos modernos anglo-saxões. A igreja também desenvolveu uma versão modera dos
antigos festivais hebraicos, praticou um sistema de dízimo e se separou das
outras igrejas cristãs. Após a morte de Armstrong, seu sucessor, Joseph Tkach
Sr., e seu filho, Joseph Tkach Jr., lideraram uma reforma na igreja e
abandonaram todas as ideias distintas de Arnistrong, do sabatismo à teoria
britânica de Israel, e a moldaram dentro do evangelicalismo ortodoxo. A maioria
dos membros da igreja desertou e formaram outros grupos que continuaram os
ensinamentos de Armstrong.
O movimento Adventista do
Sétimo chegou ao Brasil em através das colônias alemãs estabelecidas no sul do
país, visto que na fase inicial da expansão mundial o país mais receptivo à
pregação adventista do sétimo dia foi a Alemanha e entre 1824 e 1947 estima-se
que cerca de 250 mil alemães entraram no país. Foi no Estado de Santa Catarina que
colportores (vendedores de literatura religiosa) adventistas encontraram muitas
pessoas que eram sabatistas, mas que não faziam parte de nenhuma denominação
especifica e nem eram batizados. Mas somente em 1895 o pastor adventista,
responsável pelo Cone Sul J. H. Westphal realizou os primeiros batismos e estabeleceu
as primeiras comunidades adventistas no país. Desta forma, ainda que a Igreja
Adventista do Sétimo Dia não tenha sido trazida pelos imigrantes, esteve intimamente
ligada à imigração alemã que ocorria em direção ao país. É o Brasil que
atualmente apresenta a maior membresia em números absolutos deste movimento
mundial, que se encontra estabelecido em mais de 200 países.
Utilização livre
desde que citando a fonte
Guedes, Ivan Pereira
Mestre em Ciências
da Religião.
me.ivanguedes@gmail.com
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