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segunda-feira, 27 de julho de 2020

VERBETE – Sínodo de Dort


O ensino teológico elaborado por João Calvino é constituído por cinco pontos ou teses? Parece uma pergunta infantil, porém, é uma boa pergunta. E a resposta pode surpreender. A resposta é sim e não!

Sim, o calvinismo contem os cinco pontos - obviamente. Temos livros sobre os cinco pontos. Criou-se um acrônimo - TULIP como uma maneira de memoriza-los mais facilmente: depravação total, eleição incondicional, expiação limitada, graça irresistível e perseverança dos santos.

Porém, temos que dizer: Não, os cinco pontos não são uma síntese do calvinismo. Se quisermos um resumo do calvinismo, devemos recorrer a um de seus grandes documentos confessional, como a Confissão de Fé de Westminster, a teologia calvinista é muito mais ampla e abrangente do que os apresentados no acrônimo - TULIP.

Se não foram elaborados diretamente por Calvino, de onde vieram os “cinco pontos do calvinismo”? É particularmente apropriado fazer essa pergunta agora, porque 2018-19 marcou os 400 anos da elaboração destes cinco pontos do calvinismo. A origem deles encontra-se na Holanda, Sínodo internacional de reformados (1618-1619), na cidade de Dordtrecht (abreviada como Dort), onde as teses produzidas a partir da teologia elaborada por James Hermanson (c. 1559-1609), conhecido por Jacob Arminius foram rejeitadas. Embora este fosse um Sínodo nacional das igrejas reformadas da Holanda, se revestiu de um caráter internacional, pois foi composto não apenas por delegados holandeses, mas também por delegados de oito países estrangeiros.

Armínio sempre fora um aluno brilhante, perpassando pelas melhores Universidades, incluindo um período em Genebra nos dias de Teodoro Beza, sucessor de Calvino. Retorna para a Holanda para servir como ministro reformado na igreja de Amsterdã de 1588 a 1603. Em 1602, Leiden foi devastado pela praga e Franciscus Junius, o professor erudito de teologia da Universidade foi uma dentre centenas de vítimas. Johannes Uitenbogaard, pregador da corte, recomendou Armínio para preencher a vaga. Ele serviu lá apenas seis anos até sua morte em 1609. Ele não chegou a editar uma teologia própria, e nas aulas e pregações públicas se manteve dentro da ortodoxia reformada calvinista, mas em instrução particular a certos alunos selecionados, ele expressou suas dúvidas e insatisfação. Sua influência sobre esses alunos se tornou aparente quando eles se apresentaram para entrar no ministério. Quando seus alunos chegaram da Academia ou partiram para outras academias, eles tomaram posições contra as Igrejas Reformadas, disputando, contradizendo e criticando o ensino de Calvino e subsequentemente do Calvinismo de seus dias, pois suas concepções teológicas se inclinavam para as doutrinas humanistas de Erasmo, quanto à graça soberana (de Deus), em oposição ao que era ensinada pelos Reformadores.

Mas foi somente após sua morte que muitos de seus ex-alunos e amigos acadêmicos estruturaram seus escritos, até então desconhecidos. Em 1610, 46 dessas pessoas produziram um documento, cujo seu título holandês é De Remonstrantie en het Remonstrantisme [O protesto do protestantismo] e o latim trás Articuli Arminiani sive Remonstrantia [Os artigos arminianos com protesto], questionando alguns dos ensinamentos da Confissão Belga (calvinista) sobre questões relacionadas à salvação e o apresentaram ao governo holandês, pedindo que seus pontos de vista fossem considerados e protegidos. Essas declarações de objeção eram normalmente chamadas de remonstrância (protesto vigorosamente reprovador) que passou a ser vinculada aos seus defensores que foram alcunhados de Remonstrantes.

No documento apresentado por eles, bem como em outros materiais produzidos por Armínio, se questionava abertamente alguns aspectos importantes da teologia calvinista em relação à salvação (soteriologia):

1. A eleição está condicionada à previsão da fé.

2. Expiação universal (Cristo morreu por todos os homens e por cada homem, de forma que ele conquistou reconciliação e perdão para todos por sua morte na cruz, mas só os que exercem a fé podem gozar desse benefício).

3. Necessária a regeneração para que alguém seja salvo (aparentemente, uma visão perfeitamente ortodoxa, mas mais tarde ficou claro que a visão deles era tal que negava fortemente a depravação da natureza humana).

4. A possibilidade de resistir à graça.

5. A incerteza quanto à perseverança dos crentes (mais tarde eles deixaram claro que não criam de forma alguma na garantia da perseverança).

Os Remonstrantes acreditavam com base nos escritos de Arminius, de que as Escrituras permitiam uma interpretação da salvação, em que preservava e/ou enfatizava o livre arbítrio e dava aos seres humanos uma maior participação em sua salvação.

Rejeição das Teses Arminiana (Remonstrantes)

            O sínodo, com cerca de noventa delegados eclesiásticos, durou mais de seis meses, de novembro de 1618 a maio de 1619, visto que se aguardava a chegada de todos os delegados convocados; o Sínodo ficou então composto por 84 membros e 18 comissários seculares. Dos 84 membros, 58 eram holandeses, oriundos dos sínodos das províncias, e os demais (26) eram delegados convidados de oito países estrangeiros, dentre os quais Grã-Bretanha, Alemanha, (a França não enviou seus representantes, pois o rei não autorizou a vinda deles), todos com direito a voto. Os motivos para convidar os teólogos estrangeiros foram: a tentativa de garantir a isenção que os remonstrantes alegavam que a igreja da Holanda (calvinista) não possuía; os remonstrantes alegavam continuamente ao povo que as demais igrejas protestantes compartilhavam da mesma visão que eles, de maneira que a presença dos delegados estrangeiros poderia dirimir esta e outras dúvidas.

Percebendo que seria minoria, pois apenas 46 ministros (pastores) havia subscrito a remonstrância e estavam apenas como convidados e não como delegados oficiais, de modo que dificilmente teriam suas teses aprovadas, começaram a tumultuar as sessões do Sínodo e foram convidados a se retirarem do Plenário.

O moderador era Johannes Bogerman e a primeira atividade do Sínodo foi o pronunciamento do juramento:

"Prometo, diante de Deus em quem creio e a quem adoro, que está presente neste lugar, e que é o Perscrutador de nossos corações, que durante o curso dos trabalhos deste Sínodo, que examinará não só os cinco pontos e as diferenças resultantes deles mas também qualquer outra doutrina, não utilizarei nenhum escrito humano, mas apenas e tão somente a Palavra de Deus, que é a infalível regra de fé. E durante todas estas discussões, buscarei apenas a glória de Deus, a paz da Igreja, e especialmente a preservação da pureza da doutrina. Assim, que me ajude Jesus Cristo, meu Salvador! Rogo para que ele me assista por meio do seu Espírito Santo!"

A discussão que se seguiu foi então baseada no principal documento analisado, a representação de 1610 com seus 5 artigos. A maioria dos pastores-delegados holandeses (às vezes descritos como contra-remonstrantes) concluiu não haver fundamentos bíblicos suficientes para validá-los.  Para eles, em grande parte da Remonstrância ecoava nas entrelinhas os antigos ensinamentos de Pelágio, um monge do século IV, com o qual Agostinho debateu exaustivamente, visto que a teologia pelagianas ensinava que apesar do pecado de Adão (queda), os seres humanos mantiveram em si mesmos, por natureza e à parte a graça de Deus, o poder de crer (fé salvadora) em Deus e obedecê-lo.

O documento final, os Cânones de Dort, foi formulado em 59 artigos, separados em 5 pontos de doutrina. O documento foi assinado por todos os delegados em 23 de Abril de 1619. Foram ao todo 154 reuniões ao longo de sete meses. Prevaleceu a interpretação ortodoxa. No transcorrer do tempo os 59 artigos foram sendo sumarizados no que veio a ser conhecido, até os nossos dias, como os Cinco Pontos do Calvinismo, contrapondo-se aos Cinco Pontos do Arminianismo. É preciso esclarecer que o Sínodo de Dort enumerou esses Pontos do Calvinismo, não na sua ordem contemporânea encontrado no acróstico “TULIP”, mas na ordem de “ULTIP”, de maneira que se inicia pela  Unconditional Election (Eleição Incondicional), pois o decreto eterno da eleição incondicional é o fundamento da teologia pactual e da doutrina da salvação, conforme abaixo indicados:

  1. A escolha de Deus daqueles que serão salvos não é condicionada pelo que as pessoas podem ou não fazer, pois é Deus quem, com o tempo, "concederá fé em Cristo e perseverança".
  2. Na cruz, Jesus tomou sobre si os pecados daqueles que Deus escolheu para salvar, dando satisfação plena e permanente a eles.
  3. A corrupção do homem, a sua conversão a Deus e como ela ocorre. O Sínodo tratou os pontos 3 e 4 conjuntamente.
  4. Quando Deus escolhe salvar uma pessoa, essa pessoa perseverará na fé até o fim (esse seria o nosso quinto ponto). 

Desta forma os delegados do Sínodo de Dort  acreditavam que há suficiente embasamento nas Escrituras para apoiar esta interpretação, para isso ofereceram muitas referências bíblicas.

As resoluções deste Sínodo (Cânones de Dort) vieram a fazer parte do padrão de fé reformada, juntamente com as demais Confissões de Fé. Em seu prefácio original temos uma afirmação contundente: "julgamento, no qual é explicada a visão verdadeira, concordando com a Palavra de Deus, referente aos cinco pontos de doutrina acima mencionados, e a visão falsa, discordando da Palavra de Deus, que é rejeitada".

O fato de ser o primeiro Sínodo Reformado internacional e formal, produziu uma unidade teológica entre as igrejas reformadas europeias. Posteriormente, quando da convocação da Assembléia de Westminster (Inglaterra) de 1643 a 1653, ela não precisou partir do zero, pois tinham em mãos os Cânones de Dort como fundamento sólido.

Nestes dias de total liberalismo teológico, os princípios estabelecidos nos Cânones de Dort, chocam e irritam uma grande parcela do evangelicalismo brasileiro. Em dias de decadência moral-teológica onde muitos pastores evangélicos defendem ideologias e agenda sociais abertamente anticristãs e declaram que Deus não intervém na história das pessoas, retornar ao porto seguro do Sínodo de Dort é como encontrar um oásis no meio deste deserto teológico do século XXI .

O eixo central da construção de toda a teologia calvinista reafirmada em Dort é uma fé na soberana e livre graça de Deus e na perfeita expiação de Cristo, que é mais necessária hoje do que no século XVII, pois foram e continuam a se constituir no fundamento da nossa única esperança e confiança. Podemos afirmar que o Sínodo de Dort preservou a Reforma. O próprio Lutero (que não era calvinista) dizia que preferia ter sua salvação nas mãos de Deus do que nas suas. Dort reiterou e esclareceu essa verdade. Somente Cristo e somente a graça, de fato. Amém!

Utilização livre desde que citando a fonte
Guedes, Ivan Pereira Mestre em Ciências da Religião.
Universidade Presbiteriana Mackenzie
me.ivanguedes@gmail.com
Outro Blog
Reflexão Bíblica
http://reflexaoipg.blogspot.com.br/

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Referências Bíbliográficas

Os Cânones de Dort (texto integral), http://bereianos.blogspot.com/2016/02/os-canones-de-dort.html.

CHAMPLIN, R. N. Enciclopédia de bíblia, teologia e filosofia. São Paulo: Hagnos, 2006.

DEWAR, M. W. The British Delegation at the Synod of Dort - 1618-1619. The Evangelical Quarterly, 46: 103-16 (Ap - Je, 1974).

DE JONG, Peter Y. Crisis in the Reformed Churches – Essays in Commemoration of the Great Synod of Dort 1618-1619. Granville, Reformed Fellowship, Inc., 2008. [pp. 233-234].

HOEKSEMA, Homer. C. The voice of our fathers – an exposition of the Canons of Dordrecht. Grand Rapids, Reformed Free Publishing Association, 1980. [pp. 10-14].

GONZALES, Justo L. Uma história do pensamento cristão. São Paulo: Cultura Cristã, 2004.

KLOOSTER, Fred H. The Doctrinal Deliverances of Dort, IN Crisis in the Reformed Churches, ed, Peter Y. DeJong (Grand Rapids, Michigan: Reformed.

LATOURETTE, Kenneth Scott. Uma história do cristianismo - volume II: 1500 a 1975 a.D. São Paulo: Editora Hagnos, 2006.

PRAAMSMA, Louis. The Background of the Arminian Controversy (1586 - 1618), IN Crisis in the Reformed Churches, ed. Peter Y. DeJong (Grand Rapids, Michigan: Reformed Fellowship, Inc., 1968).

PIPER, John. Cinco Pontos: Em direção a uma experiência mais profunda da graça de Deus. São Paulo: Editora Fiel, 2014.

WITTt, Johns R. “The Arminian Conflict and the Synod of Dort," The Manifold Grace of God (probably from Puritan Reformed Studies, Westminster Conference, after 1968). (From the files of Rev. James Visscher, Surrey, B.C.).

VANDERGUGTEN, S. The Arminian Controversy and the Synod of Dort. Taken with permission from the Clarion [Sept. 16-30, Vol. 37, No. 19, 20, 1989].


segunda-feira, 13 de julho de 2020

Calvino, Calvinismo e Educação


Mackenzie-campus-SP-1869

Resumo

O tema desta dissertação é a relação entre educação e religião no pensamento Reformado de João Calvino (1509-1564) e sua influência sobre a formação do Calvinismo. Para isso, é necessário considerar que a Reforma Protestante estabeleceu novos paradigmas religiosos, que modificaram a fé cristã, o homem e a sociedade europeia do século XVI. As doutrinas do sacerdócio universal e da autoridade máxima das Escrituras, formuladas por Lutero, romperam definitivamente a tradicional e milenar hierarquia eclesiástica. Todos precisavam conhecer a Palavra de Deus; logo, todos deveriam saber ler e escrever. Nesse novo modelo de fé, a educação passou a ter um papel fundamental, sem a qual não subsistiria o Protestantismo em suas diversas correntes. A Reforma precisou da educação para: ensinar o novo catecismo, divulgar a Palavra de Deus entre seus adeptos e formar ministros para sua causa. O conhecimento do grego e do hebraico, línguas originais da Bíblia, foi importante não apenas para as novas igrejas, mas também para a cultura do século XVI. Educação e Reforma, portanto, estavam intimamente ligados, como o demonstram os manuais de história da educação. Tomamos como base para este trabalho a obra-prima de João Calvino, a Instituição da Religião Cristã (Christianae Religionis Institutio), na qual pudemos perceber que a educação foi um elemento onipresente e implícito, por isso não há grandes textos de Calvino sobre educação. Ela é, no entanto, pode-se dizer, pedra angular na construção tanto da Teologia quanto da Eclesiologia Reformadas. Estudar a educação na obra de Calvino não é apenas enumerar suas ações nessa área, mas é discutir também sua teologia. Esse foi o método que adotamos neste trabalho. As diferenças em relação à metodologia podem ajudar a explicar a ausência ou não do Calvinismo nos livros de história da educação. O Calvinismo foi, no âmbito religioso, mais difundido do que o Luteranismo. Escócia, França, Holanda, Inglaterra, e depois Estados Unidos receberam decisivamente as influências das doutrinas de Calvino e suas derivações. Entender a educação no Calvinismo é entender também um pouco da educação nesses países. A educação como meio de salvação, ou seja, instrumentalizada pela fé, acabou se tornando uma das mais importantes matrizes da pedagogia moderna.

Palavras chave: Fundamentos da Educação – Calvino – Calvinismo – Tempos Modernos.

 

SUMÁRIO

1          INTRODUÇÃO......................................................................................  08

2          CALVINO E CALVINISMO....................................................................  13

2.1      A REFORMA.........................................................................................  13

2.2      JOÃO CALVINO....................................................................................  17

2.3      CALVINISMO........................................................................................  23

3          TEORIA E PRÁTICA DO PENSAMENTO DE CALVINO.....................  28

3.1   A INSTITUIÇÃO DA RELIGIÃO CRISTÃ E A TEOLOGIA DE CALVINO 29

3.2      A IMPORTÂNCIA DO CONHECIMENTO PARA CALVINO.................  46

3.3      AS REPERCUSSÕES DO CALVINISMO NA SOCIEDADE................  59

4          CALVINISMO E EDUCAÇÃO...............................................................  73

4.1      REFORMA E EDUCAÇÃO...................................................................  73

4.2      PERSPECTIVAS EDUCACIONAIS DO CALVINISMO.........................  88

4.3      CALVINO E CALVINISMO NOS MANUAIS DE EDUCAÇÃO............  111

5          CONCLUSÃO...................................................................................... 117

REFERÊNCIAS.............................................................................................. 120

VIEIRA, Paulo Henrique. Calvino, Calvinismo e Educação. Maringá, 2005. Dissertação (Mestrado em Educação) – Programa de Pós-Graduação em Educação, Área de Concentração: Fundamentos da Educação. Universidade Estadual de Maringá.

 

Orientadora: Prof. Dr. Cézar Alencar Arnaut de Toledo.

 

Guedes, Ivan Pereira
Mestre em Ciências da Religião.
Universidade Presbiteriana Mackenzie
me.ivanguedes@gmail.com
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Reflexão Bíblica
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domingo, 12 de julho de 2020

A Influência de Calvino na Educação: um estudo no Colégio XV de Novembro – Garanhuns/PE


Resumo

Este trabalho é resultante de uma pesquisa documental e de campo sobre as bases educacionais calvinistas oferecidas pelo Colégio XV de Novembro de Garanhuns/PE. Nosso problema de pesquisa foi: Quais foram os principais aspectos da formação educacional calvinista-presbiteriana que influenciaram na formação e história de vida de alguns ex-alunos dessa instituição escolar? Partimos das ideias do teólogo e reformador João Calvino, que deu forte ênfase à educação como forma de evangelizar e ajustar os membros da sua igreja, que por sua vez foi decorrente da Reforma Protestante do século XVI, em Genebra, na Suíça. Os seus ensinamentos foram divulgados por vários adeptos seus, chamados de calvinistas, que levaram sua filosofia protestante a outros países da Europa e Estados Unidos da América do Norte, onde receberam o nome de Presbiterianos. Da América, a Igreja Presbiteriana enviou seus missionários para Pernambuco no Brasil e aqui em 1900 eles organizaram um colégio dentro desta confissão religiosa na cidade de Garanhuns. Nas histórias de vida dos ex-alunos descobriu-se que os fundamentos dessa organização escolar foram centrados em dois eixos principais: o ensino religioso como forma de propagação da fé protestante, e o ensino de matérias seculares visando à preparação de homens e mulheres para servirem na sociedade, contribuindo dessa forma para uma boa formação de dignos cidadãos, preparados para a vida religiosa, familiar e profissional. Os autores que inspiraram esta pesquisa foram: Calvino (2006), Paulo Freire (1989 E 2000), Weber (2004), Femandez-Armesto e Wilson (1997), Ferreira (2000), Delors (2006), entre outros.

 

Palavras chave: Educação Calvinista. Reforma Protestante. Calvinismo. Educação Religiosa.

 

SUMÁRIO

APRESENTAÇÃO............................................................................................ 08

CAPÍTULO 1 INTRODUÇÃO METODOLÓGICA............................................. 10

1.1      OBJETO DE PESQUISA........................................................................ 11

1.2      JUSTIFICATIVA..................................................................................... 11

1.3      PROBLEMAS E OBJETIVOS DA PESQUISA....................................... 12

1.3.1   Problema de pesquisa............................................................................ 12

1.3.2   Objetivo Geral........................................................................................ 13

1.3.3   Objetivos específicos............................................................................. 13

1.4 METODOLOGIA......................................................................................... 13

1.4.1   Tipo de pesquisa.................................................................................... 13

1.4.2   Técnicas de pesquisa............................................................................. 14

1.4.3   Descrição da pesquisa........................................................................... 15

1.4.4   Roteiro da entrevista.............................................................................. 16

CAPÍTULO 2 A EDUCAÇÃO CALVINISTA: FUNDAMENTAÇÃO HISTÓRICA E TEÓRICA.......................................................................................................... 18

2.1      CONTEXTO HISTÓRICO DOS REFORMADORES.............................. 19

2.1.1   Precursores da Reforma Protestante..................................................... 20

2.1.2   O Surgimento de Calvino....................................................................... 26

2.1.3   A Conversão de Calvino......................................................................... 28

2.1.4   Calvino em Genebra.............................................................................. 32

2.1.5   O Pensamento de Calvino..................................................................... 33

2.1.6   A educação em Calvino......................................................................... 40

2.1.7   A educação apoiada no Calvinismo em outros países e no Brasil.......  47

CAPÍTULO 3 O COLÉGIO XV DE NOVEMBRO E AS HISTÓRIAS DE VIDA DE ALGUNS EX-ALUNOS..................................................................................... 54

3.10 SURGIMENTO DO COLÉGIO XV DE NOVEMBRO................................ 55

3.2 AS HISTÓRIAS DE VIDA........................................................................... 60

CONSIDERAÇÕES FINAIS.............................................................................. 70

REFERÊNCIAS................................................................................................ 73

ANEXOS..........................................................................................................  77

 

SILVA, Daniel Ferreira da. A Influência de Calvino na Educação: um estudo no Colégio XV de novembro - Garanhuns/PE. João Pessoa, 2010. Dissertação (Mestrado) - Universidade Federal da Paraíba, Centro de Educação, Programa de Pós-graduação em Ciências das Religiões, 2010.

SILVA, Daniel Ferreira da. A Influência de Calvino na Educação: um estudo no Colégio XV de novembro - Garanhuns/PE. João Pessoa, 2010. Dissertação (Mestrado) - Universidade Federal da Paraíba, Centro de Educação, Programa de Pós-graduação em Ciências das Religiões, 2010.

Orientadora: Pª Drª  Maria Otília Telles Storni

  

Guedes, Ivan Pereira
Mestre em Ciências da Religião.
Universidade Presbiteriana Mackenzie
me.ivanguedes@gmail.com
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sexta-feira, 3 de julho de 2020

Calvino: Comentários Bíblicos em Ordem Cronológica

Proêmio

            Quando se fala de Calvino a maioria o minimiza como autor da obra teológica as “Institutas da Religião Cristã” ou simplesmente as “Institutas”, como o Dr. Luhesius Smits que declara: “Calvino foi homem de apenas um livro”.[1] Infelizmente esta miopia literária não é isolada, mas permeia grande parte dos estudiosos. No caso brasileiro ainda é mais grave, pois noventa por cento dos que se autodenominam “Calvinistas” jamais leram ao menos uma obra dele na integra; os membros das igrejas que adotam o pensamento teológico elaborado por Calvino desconhecem sua história e suas obras. Hoje muitos, porque ouviram alguns sermões ou leram meia dúzia de artigos na internet, têm adotado a “teologia Calvinista e/ou reformada”, mas não tem a mínima ideia do que isso significa.

            Como as Institutas são bastante conhecidas creio ser oportuno redescobrirmos os preciosos e fundamentais comentários bíblicos elaborados pelo reformador de Genebra e que cobrem quase por completo todos os livros do cânon bíblico e que perfazem a totalidade do pensamento de Calvino – para entender as Institutas é necessário conhecer os comentários e para compreender a exegese bíblica de Calvino é preciso conhecer suas Institutas – porque foi desta forma que ele arquitetou sua biblioteca bíblico-teológica.

            A razão pela qual empreendo essa série de artigos está no fato de que os comentários de Calvino influenciaram profundamente as igrejas da tradição reformada e uma redescoberta destas obras nos dias atuais creio ser de grande valia e uma contribuição não apenas para uma melhor compreensão de Calvino, mas também para uma compreensão mais profunda das Escrituras nesta época de tanta superficialidade exegética.[2] Calvino foi um comentarista único e extremamente esclarecedor: sua educação como humanista, seu extenso conhecimento do trabalho de outros intérpretes da Bíblia, tanto da literatura Patrística quanto da literatura contemporânea de sua época, sua erudição clássica (latim, grego e hebraico), suas ideias como reformador e pastor da igreja, e sua competência exegética e compreensão da mentalidade bíblica - tudo isso fez dele um intérprete permanentemente novo e esclarecedor.

            Ainda a guisa de informação é preciso lembrar sempre que essa biblioteca de comentários foi produzida em meio a todas as desventuras pelas quais Calvino passou: intenso trabalho pastoral, enormes responsabilidades cívicas em relação à administração pública de Genebra, sua delicada condição física em decorrência de varias enfermidades e dores, o falecimento da esposa e do único filho, além das revisões periódicas das Institutas, formulação de catecismos, elaboração de inúmeros opúsculos e tratados,[3] mais de mil cartas,[4] algumas com mais de dez laudas, pregações[5] e aulas durante todos os dias da semana. Poucos entenderam o valor da palavra escrita, como promotora do Evangelho e edificação da igreja, como Calvino: “Além do cargo comum de pastor, tenho outros deveres que dificilmente me permitem relaxar. No entanto, não considerarei meu tempo livre melhor gasto de nenhuma outra maneira [do que escrevendo comentários]”.

            Uma última observação técnica para melhor compreensão da tabela abaixo é que os trabalhos exegéticos que Calvino pessoalmente escreve e organiza e edita levam o título de "Comentário" e aqueles os quais ele não teve tempo para organizar e aprofundar, mas que apenas fez a revisão é denominado de “Preleção” (material de sala de aula). A maioria dos Comentários do Antigo Testamento foi ministrada como palestras em sala de aula na Academia de Genebra que atraia estudantes de teologia às centenas da França, Inglaterra, Escócia, Holanda e outros lugares[6]. Ele falava pausadamente e com voz firme, para que as palavras pudessem ser registradas com bastante precisão, tanto pelos alunos que o faziam em formato de tópicos, como por seus “secretários” voluntários que anotavam cada palavra. Quando em sua casa, examinava tudo o que fora anotado, e somente depois de fazer as devidas correções autorizava para que fosse publicada com dedicatória pessoal a amigos e pessoas influentes, principalmente os governantes da França, Inglaterra, Escócia, Holanda e em outros lugares.

Neste árduo trabalho de “secretário” destaca-se o trabalho incansável de Jean Budé [Bude], filho do grande humanista Guillaume Budé [Bude] e seu cunhado Charles de Jonvillers, que devido à terrível perseguição dos huguenotes (protestantes franceses) foram atraídos para Genebra e foram morar na rua em que Calvino residia. Eles foram incansáveis na preparação dos Comentários sobre Jeremias e Lamentações, sobre Ezequiel, Daniel e os Doze Profetas Menores, que ocupam dezessete volumes na tradução para o inglês. Posteriormente foi contratado o serviço de Denis Raguenier para transcrever o seus sermões.

            Os comentários produzidos por Calvino totalizaram 45 volumes: trinta do Antigo Testamento exceto: Juízes, Rute, Samuel, Reis, Ester, Neemias, Esdras, Provérbios, Eclesiastes e Cantares; quinze do Novo Testamento: exceto II e III João e Apocalipse; sendo que ele inicia pelos livros do Segundo Testamento [NT] e posteriormente os do Primeiro Testamento [AT]. É preciso ressaltar que, na maioria das vezes, a cronologia das edições não corresponde à das publicações, por diversos motivos, como por exemplo, a epístola aos Romanos cuja redação foi concluída em outubro de 1539, mas sua impressão somente ficou pronta em março de 1540, pois os editores aguardavam a primeira feira literária em Frankfurt para lançarem esse primeiro trabalho exegético de Calvino, visto que ele ainda não era conhecido no mercado literário. Havia também as interrupções, como o longo intervalo entre 1540-1546 em que ele estava totalmente focado na reorganização da Igreja, pois como ele mesmo declarava sua vocação como restaurador da Igreja de Genebra vinha em primeiro lugar.

Abaixo coloco uma pequena tabela cronológica das edições dos comentários bíblicos elaborados por João Calvino, tendo por base as informações da “Senebier's Literary History of Genevae prefácios dos comentários referidos, bem como algumas observações que nos permitem visualizar o imenso trabalho que ele empreendeu. Posteriormente haverei de abordar cada comentário em artigos separados.

Livro

Data Edição

Observações

Romanos

1540

Impresso em Estrasburgo em março de 1540; o conteúdo é provavelmente um resumo revisado das palestras/aulas que ele deu em Genebra de 1536 a 1538. A escolha de Calvino é muito bem pensada, visto que esta carta paulina enfatiza as doutrinas fundamentais do protestantismo e se opõe diretamente às tendências pelagianas da Igreja Católica. No prefácio de seu comentário, Calvino diz que a Carta aos Romanos, entendida corretamente, é uma chave que dá acesso a todos os tesouros escondidos das Escrituras.

1 e 2 Coríntios

1546

O comentário da Primeira aos Coríntios chegou a Estrasburgo em novembro de 1545 e sua impressão é anunciada para a feira da primavera em 1546, o que de fato ocorreu. A Segunda Epístola aos Coríntios foi publicada por ele apenas alguns meses depois de seu Comentário sobre a Primeira Epístola, sua dedicatória da Segunda Epístola, data de 1º de agosto de 1546, enquanto a dedicatória da Primeira Epístola data de 24 de janeiro de 1546. Nesse período Calvino enfrentava muitas lutas e dificuldades, teve que lidar com o desanimo dos genebrinos, por causa das ameaças do Imperador Carlos V, a reação negativa às pregações e direcionamentos dados por ele e as falsas acusações sobre seu ensino doutrinário. Mas, ele encontrou nestas duas epístolas paulinas o consolo e animo para continuar seu ministério pastoral.

Ao enviar o trabalho de Segunda Coríntio para ser impresso em Estrasburgo e devido a longa espera de confirmação que o documento havia chegado, ele resolveu que sempre haveria de fazer uma cópia antes de envia-los. Mas devido a guerra entre o imperador Carlos V e os príncipes alemães (1546-1547) esta e as demais acabaram sendo impressas em Genebra.

 

1548

Há um consenso, não unanime, de que os comentários de Calvino das epístolas paulinas se constituem em seu melhor desempenho como exegeta e interprete, onde seu pensamento se amalgama com textos destas epístolas. Provavelmente porque elas tratavam de contextos muito semelhantes ao que Calvino estava vivenciando na própria pele. Seus comentários sobre essas quatro epístolas de Paulo foram escritos em 1548, um ano de conflito mais hostil com os inimigos da verdade. Mas em suas correspondências deste ano emana uma atmosfera de convicção de que Deus haveria de sustenta-lo, bem como ao seu ministério.

Gálatas

Winer, ao falar do Comentário sobre os Gálatas, "sua perspicácia em perceber e sua clareza em expor a mente do apóstolo são igualmente maravilhosas".

Efésios

Poucos comentaristas alcançaram as profundezas das “insondáveis riquezas de Cristo” como João Calvino. Todos os comentaristas reformado e uma quantidade grande de outros círculos cristãos são devedores ao comentário elaborado pelo reformador genebrino. Certamente essas obras e constitui em um modelo a ser seguido por todos que intentarem comentar essa epístola ou qualquer outro livro bíblico.

Filipenses

Na medida em que se toma conhecimento da pessoa que Calvino realmente era é inevitável fazer uma identificação direta entre ele e esta preciosa epístola paulina. Assim como Paulo se encontrava em uma situação crítica quando a escreveu, igualmente Calvino encontrava-se em um momento igualmente crítico de seu ministério quando a comentou. Com certeza Calvino encontrou profundo consolo nesta epístola.

Colossenses

Semelhantemente Calvino vai encontrar ressonância na epístola aos Colossenses, onde Paulo faz repetidas alusões à circunstância de "laços" que lhe são colocados para prendê-lo e impedir seu ministério por causa de Cristo.

1 e 2 Timóteo

1548

Poucos se preocuparam tanto com a preparação de pastores e líderes da igreja quanto Calvino. Nesse comentário das epístolas pastorais é possível sentir o batimento cardíaco de um coração apaixonado pelo ministério e seu zelo pela igreja. Calvino faz uma dedicatória a Edward Seymour, duque de Somerset, que de 1547 a 1549 serviu como guardião do jovem rei Eduardo VI e com o apoio de Thomas Cranmer introduziu a Reforma na Inglaterra, mas a morte precoce do jovem rei foi um duro golpe.  

Hebreus

1549

No fim de 1548 e inicio de 1549 Calvino pregou expositivamente em Hebreus; o comentário foi publicado após 23 de maio daquele ano. No prefácio ele dedica o comentário ao rei Sigismundo da Polônia, realçando o fato de que a epístola trata sobre a divindade e exaltação de Cristo e, portanto torna-se um tesouro sem igual. Aproveita para apelar ao rei que promova a Reforma na Polônia.

Tito

1550

Aproveitando que Tito havia sido um amigo leal e cooperador com Paulo no ministério, Calvino aproveita o prefácio para realçar as figuras de Guillaume Farel e Pierre Viret, a quem ele chama de “verdadeiros servos de Jesus Cristo, amados irmãos e colaboradores na obra de nosso Senhor Jesus Cristo”.

1 e 2 Tessalonicenses e Filemom

1550

Em 17 de fevereiro de 1550, Calvino prefaciou tanto 1 Tessalonicenses, quanto 2 Tessalonicenses, todavia os comentários foram impressos somente 1551, quando se imprimiu uma edição completa das Epístolas paulinas, juntamente com Hebreus.

Nesta edição de 1551, com prefácio de Theodore Beza, também foi incluída os comentários de Calvino sobre a Epístola a Filemom, que não havia sido ainda publicado.

Tiago, 1 e 2 Pedro, 1 João e Judas

1551

Após fazer a exposição de Hebreus Calvino inicia as exposições das epístolas gerais (católicas) de 1549 a 1550; a publicação deste livro foi em 1551.

O comentário de Tiago foi impresso solitariamente em 1550 fruto das reuniões ministeriais que eram realizadas todas as sextas-feiras, mas no início de 1551 foi acoplada em um volume que continham também a exposição de 1 e 2 Pedro, 1 João. e Judas.

Quando ele escreveu o comentário sobre Judas, no título, Calvino aludiu à publicação anterior de 1542, e que continha provavelmente palestras em sala de aula que ele havia dado, esclarecendo que esta nova edição era "revisada e mais detalhada". O fato de omitir a Segunda e Terceira carta de João, implica em sua dificuldade em inclui-las nesse conjunto canônico.

Ele faz uma dedicação ao jovem rei inglês Eduardo VI e o compara ao jovem rei Josias, pois ambos tinham sobre sua responsabilidade restaurar a genuína fé e culto (igreja).

Atos

1552

Ele deve ter começado esse comentário no início de 1550, pois havia completado uma parte substancial, um terço, mas o surgimento de outras questões o fez interromper. O comentário se tornou tão grande que Calvino publicou os primeiros treze capítulos por conta própria em 1552 e somente em 1554 foi publicada a segunda parte (Atos 14-28). O primeiro volume ele havia dedicado ao rei Cristiano III da Dinamarca, que adotara o luteranismo e o segundo volume ao filho dele, Frederico, agora constituído corregente. Ele espera que a leitura de Atos anime ambos monarcas a zelarem pela pureza da igreja conforme as propostas emanadas pela Reforma Protestante.

João

1553

De 1550 a 1553 ele prega no Quarto Evangelho; o comentário foi publicado em 1553. Ele faz uma dedicação ao Conselho de Genebra onde se refere a Genebra como um centro de refugiados para os cristãos que haviam sido expulsos de outros lugares e que em razão desse acolhimento Deus haveria de abençoar a cidade e seus moradores. Calvino haverá de citar com frequência quando da elaboração do comentário dos evangelhos sinóticos.

Mateus, Marcos e Lucas (Harmonia).

1555

Três volumes (inglês) merecem menção especial como surpreendentes trabalhos de organização, tanto de narrativa quanto de tópicos; evidências convincentes da compreensão de Calvino das Escrituras como um todo e em detalhes. Sempre que necessário ele se refere ao comentário de João, anteriormente editado.

Ele segue os arranjos de Mateus ao qual vai introduzindo as narrativas dos demais evangelistas Marcos e Lucas, organização semelhante à proposta de seu amigo Martin Bucer cuja obra havia sido editada em 1527. Ambos defendem que não é possível examinar apenas um dos sinóticos, pois não se contrapõem e sim se completam.

No transcorrer desse comentário Calvino combate o ensino dos anabatistas de que o Antigo Testamento se tornou desnecessário com a vinda de Jesus. Calvino se contrapõe, pois entende que uma genuína compreensão dos Evangelhos somente é possível quando se percebe neles o cumprimento daquilo que a Lei e os Profetas anteriormente proclamaram. Para se conhecer o Novo Testamento é fundamental que se conheça o Antigo Testamento.

Isaías

1551

(1559)

Foi o primeiro comentário em que Calvino se engajou na interpretação do Antigo Testamento. Nicolas des Gallars (Gallasius) assistiu às palestras de Calvino sobre Isaías, tomou notas e as desenvolveu, deixando para Calvino uma revisão final e possíveis correções. Calvino dedicou o comentário ao jovem rei Eduardo VI da Inglaterra, na esperança de que o rei, de acordo com Isaías 49.23, coopere no processo de implantação da Reforma na igreja inglesa, após um período muito difícil (conturbado rei Henrique VIII), mas o jovem rei morre precocemente (1553) e em seu lugar reina a católica Maria Stuart. Em 1559 sai uma nova edição revista e ampliada por Calvino, que havia aumentado em um terço em relação à edição de 1551. Ele faz uma dedicatória para nova rainha inglesa Elisabete I, que rejeita por causa de suas diferenças com o reformador escocês John Knox.

Na introdução do comentário, Calvino trata o ofício dos profetas, a quem ele vê como intérpretes da lei.

Gênesis

1554

Ele já havia ministrado a exegese de Gênesis em 1550 para seus alunos, mas colocar esse material na forma de livro não flui tão rapidamente devido o acumulo de trabalho com outros deveres.

Faz uma dedicatória aos três filhos Johann Friedrich, eleitor da Saxônia, que havia morrido lembrando-lhes que a minoria protestante deveria manter-se unida, apesar de algumas diferenças teológicas.

Salmos

1557

Foi impresso em Genebra e seguido por uma edição em francês, que foi refeita, pois ficou aquém do original latino (Calvino), e publicada em 1561.

Todo carinho de Calvino pelos Salmos fica explicitado no fato de que os lecionou na Escola, os expos nos estudos bíblicos semanais (liderança) e escolhia um Salmo para pregar nos cultos dominicais da tarde.

Oséias (Preleções)

1557

Em 1556, e talvez até mais cedo, Calvino iniciou suas lições expositoras de Oséias. Todas as palestras sobre Oséias foram publicadas em Genebra em 1557, tanto em latim quanto em francês e foram as primeiras palestras que Jean Bude e Charles Jonvillers transcreveram literalmente, pois Calvino não tinha tempo de elaborar o material para uma edição mais ampla. Mesmo a contragosto, como expressa em seu prefácio, ele permite esta primeira experiência de reproduzir seu material de palestras. Mas o experimento provou ser bem-sucedido e todas as suas palestras subsequentes foram publicadas em latim e em francês.

Profetas Menores (Preleções)

1559-1560

Em setembro de 1558 ele ainda não havido concluído suas preleções de Malaquias, pois estava muito adoentado de maneira que foi necessário fazer as últimas palestras em sua casa, para todos quantos puderam comparecer, para que pudessem serem enviadas para impressão, o que vai ocorrer em 1559 (latim) e em 1560 (francês).

Uma vez mais ele esclarece no prefácio de que não está plenamente satisfeito com a impressão das preleções, mas admite que lhe falta tempo para se ocupar com a preparação melhor destes comentários e tem esperança que elas possam ser úteis aos leitores em geral.

Daniel (Preleções)

1561-1562

As preleções em Daniel foram concluídas em agosto de 1561, as quais ele dedica aos huguenotes e outros sinceros servos de Deus que lutam em favor da reforma da igreja na França. O livro de Daniel é oportuno como modelo de um cristão em meio a um governo ímpio. A edição em latim das palestras sobre Daniel foram impressas em 1561, e a tradução em francês ocorre um ano depois em 1962.

Êxodo a Deuteronômio (Harmonia)

1563

Como já havia comentado Gênesis em separado, agora ele empreende uma Harmonia dos outros quatro livros do Pentateuco. Ao fazer um arranjo diferente tem como proposito facilitar o entendimento por parte de seus leitores desses relatos registrados por Moisés.

Neste arranjo literário ele faz uma distinção entre narrativa histórica e instrução, onde primeiro organiza uma série de passagens da Bíblia relacionadas à história do período, seguida da instrução, tendo como ponto convergente os Dez Mandamentos.

O próprio Calvino faz uma tradução francesa do comentário para corrigir os erros da edição latina anterior. Esta tradução foi publicada em 1564.

Josué

1564

Em meio à sua tradução para o francês de Gênesis e da Harmonia de Êxodo-Deuteronômio e a deterioração de sua saúde, Calvino ainda conseguiu terminar seu comentário sobre Josué, mas a impressão saiu somente após sua morte, em francês, para que os leitores pudessem ler o prefácio de Theodore Beza que faz uma pequena biografia de Calvino. Posteriormente foi editado o comentário em latim.

Jeremias e Lamentações (Preleções)

1563-1565

Suas palestras sobre Jeremias e Lamentações foram lançadas em Genebra (latim) em 1563 e a tradução em francês em 1565. Ele alerta sobre o apóstata François Baudouin, que havia traído a confiança de Calvino e se apropriado indevidamente de correspondências pessoais dele para difama-lo diante de autoridades católicas.

Ezequiel 1-20 (Preleções)

1565

A última obra de Calvino ficou inacabada, no sentido de edição, devido ao seu falecimento. Muito enfraquecido pela enfermidade, precisou deitar-se no sofá, mas não pode prosseguir na explicação de Ezequiel, que foi interrompida no final do vigésimo capítulo, o que se reveste de um valor simbólico ainda maior. De novembro de 1552, a fevereiro de 1554, Calvino pregou todo o livro do profeta Ezequiel durante seus dias de semana, o que fazia em semanas alternadas, o que se estendeu por exatamente um ano e meio. A série de sermões foi organizada em três volumes: V.1 – 55 sermões; V.2 – 51 sermões e V.3 – 69 sermões.

Ele se encontrava na metade de sua segunda década em Genebra desde sua instalação como "professor das Sagradas Escrituras" e, portanto, no auge de sua maturidade como mestre e pregador. Como Calvino não fez a exposição do livro do Apocalipse, seus sermões em Ezequiel é o grande parâmetro de suas hermenêuticas-exegéticas de textos profético-apocalípticos.

 

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Utilização livre desde que citando a fonte

Guedes, Ivan Pereira

Mestre em Ciências da Religião.

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Referências Bibliográficas

CALVINO, JOÃO. Institución de Ia Religión Cristiana. Países Bajos: FELiRé, 1986.

ELLIS, Mark A. (Ed.). The Arminian Confession of 1621. Eugene, Oregon: Pickwick Publications A division of Wipf and Stock Publishers.

ELWELL, Walter A. (org). Enciclopédia Histórico-teológica da Igreja Cristã. São Paulo, Vida Nova, 1990.

FELD, Helmut (Ed) loannis Calvinoi Opera Omnia. 12 vols. Geneva: Droz, 1992. Este projeto esta atualizando a Calvinoi Opera do século XIX [1863-1877]. Estudiosos reconhecidos acrescentam novas notas e informações bibliográficas para cada um dos escritos de Calvino.

GREEF, Wulfert. The Writings of John Calvino: An Introductory Guide. Trans. L. D. Bierma. Grand Rapids: Baker, 1989.

HAROUTUNIAN, Joseph (Ed). Calvino: Commentaries. London: Westminster John Knox Press, 1958.  [The Library of Christian Classics].

McKIM, Donald K. (Ed). The Cambridge Companion to John Calvino. Cambridge University Press, 2004.

PARKER, Thomas Hnry Louis. Calvino's Old Testament Commentaries. Westminster John Knox Press, 1993.

________________________. Calvino's New Testament Commentaries. Westminster John Knox Press, 1993.



[1] Mesmo que fosse verdade essa obra por si só revela a grandeza e profundidade do pensamento bíblico-teológico de Calvino. Ele produziu ao todo oito edições de sua obra magna em latim e cinco traduções para o francês. A 1ª edição (1536) tinha apenas seis capítulos e a última (1559) totalizou oitenta.

[2] João Calvino foi um escritor e pregador prolífico, como pode ser verificada na Bibliotheca Calvinoiana (3 vols.) - Editada por Rodolphe Peter e Jean-Francois Gilmont, Genebra: Droz, 1991-2000; eles identificam 329 edições de títulos publicados entre 1532 e 1564. A disponibilidade de muitas das obras de Calvino em várias edições e idiomas do século XVI até o presente é único entre os reformadores.

[3] Calvino escreveu muitas obras de natureza apologética ao polemizar com católicos, anabatistas, libertinos e outros grupos;  outros escritos seus tratam de temas como a Ceia do Senhor, a doutrina da trindade, a predestinação e o livre arbítrio

[4] As mais de 1.200 cartas existentes de Calvino são úteis para entendê-lo como indivíduo, pastor e conselheiro ao lidar com questões pessoais, analisar eventos ao seu redor e aconselhar colegas e líderes em questões espirituais. As cartas são janelas que nos permitem ver Calvino como pessoa.

[5] Em suas pregações, Calvino fazia a exposição sistemática dos livros da Bíblia. Ele costumava pregar sobre o Novo Testamento aos domingos e sobre o Antigo Testamento durante a semana.

[6] Alguns dos maiores teólogos protestantes da época foram alunos nesta Academia. Mas a maioria dos que assistiram a suas palestras retornavam a seus países para trabalhar, e frequentemente sofrer e morrer, pelo estabelecimento e pelo progresso da fé reformada.