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sexta-feira, 6 de março de 2020

Calvino Singularidades: O Motivo Primário Para Escrever as Institutas Cristãs



            Todos os estudiosos do movimento da Reforma Protestante, ocorrido no século XVI, concordam de que a obra teológica produzida por João Calvino (Institutas da Religião Cristã)[1] se constitui em um dos pilares deste movimento que transformou o Cristianismo a partir daquele momento histórico.
            Mas o que levou João Calvino a empreender tamanho esforço na elaboração das Institutas? Quais suas motivações e objetivos? Ficaremos apenas com a resposta para o primeiro e sem dúvida maior de seus objetivos, enquanto construía capítulo a capítulo seu precioso trabalho teológico magno.
            No seu prefácio da edição francesa de 1545, Calvino se preocupa em esclarecer aos seus leitores a razão que o levou a elaborar as Institutas. No terceiro parágrafo ele faz uma colocação primorosa e fundamental para uma compreensão correta desta sua obra:
 Vendo, então, quão necessário era dessa maneira ajudar aqueles que desejam ser instruído na doutrina da salvação, eu me esforcei, de acordo com a capacidade que Deus me deu de empregar-me ao fazê-lo, e com essa visão compôs o presente livro.
            Aqui está a grande razão pela qual Calvino investiu tanto de seu tempo e de sua vida nesta obra – instruir as pessoas, de forma geral, no que concerne a salvação. Mas o calvinismo não conseguiu entender esta proposta simples do reformador e transformou sua obra em uma enciclopédia acadêmica pesada e inacessível para os leitores “meros mortais”. A própria figura de Calvino tornou-se tão grande e intimidadora que afastou o povo dele e de suas obras.
            Mas seu objetivo primário era simplesmente tornar conhecida pelos cristãos a grande e maravilhosa doutrina da salvação:
E primeiro eu escrevi em latim, para que possa ser útil a todas as pessoas estudiosas, de que nação seja qual for; depois, desejando comunicar qualquer fruto que possa estar presente aos meus compatriotas franceses, traduzi-o para a nossa própria língua.
            O Latim naquele momento era como o inglês nos dias atuais, de maneira que uma obra escrita ou traduzida para o Latim alcançava grande parte do mundo e por esta razão abençoou tantas nações. Mas ele não se contentou com isso e seguindo a linha de Lutero e dos humanistas cristãos, reproduz sua obra na língua vernácula francesa tornando-a completamente acessível aos seus contemporâneos em geral. Isso fala muito de sua paixão pela propagação do evangelho e da mensagem de salvação nele contido.
Não ouso prestar um testemunho muito forte a seu favor e declaro quão lucrativa será sua leitura, para que eu não pareça valorizar muito meu próprio trabalho.
            A humildade de Calvino transparece nessa frase prefacial, ainda que quando da última edição muitos anos depois, ele tenha tido uma noção do quanto seu trabalhou significou para tantas pessoas e nacionalidades em todo o mundo. O orgulho e a arrogância são inimigos perniciosos que perseguem todo líder, mas sem dúvida alguma, àqueles que devem conduzir o rebanho do Senhor Jesus. Mas continua ele:
Contudo, posso prometer isso, que será uma espécie de chave que abrirá a todos os filhos de Deus um acesso correto e pronto à compreensão do volume sagrado.
            Quem dera todo escritor cristão tivesse essa mesma motivação; conduzir o povo de Deus para compreender cada vez melhor e corretamente a Bíblia. E Calvino concluiu suas palavras iniciais aos leitores:
Portanto, se nosso Senhor me der doravante os meios e a oportunidade de compor alguns Comentários, usarei a maior brevidade possível, pois não haverá ocasião para fazer longas digressões, visto que deduzi de maneira extensiva todos os artigos que pertencem ao cristianismo.
Deus atendeu o desejo de Calvino e ele escreveu comentários sobre quase todos os livros da Bíblia. Mas segundo ele próprio, a chave para compreender corretamente seus comentários bíblicos é a leitura antecipada das Institutas. E aqui está a grande questão daqueles que desejam serem “calvinistas”, mas que não utilizam a chave mestra para compreender suas obras e pensamentos.
            Portanto, falar de João Calvino sem conhecer, de fato, sua obra magna é no mínimo incoerência. Infelizmente os brasileiros que advogam serem “calvinistas” em sua maioria nunca se querem leu ao menos um dos quatro volumes[2] desta obra preciosa do querido reformador genebrino – o que nos torna contraditórios, pois somos “calvinistas” que não leem a obra magna de Calvino. Indico apenas duas razões para essa lamentável deficiência:
- O protestantismo presbiteriano (calvinista) desembarcou no Brasil no final dos Oitocentos (160 anos) e para vergonha nossa essa obra escrita há quatro séculos somente foi traduzida para o português em sua inteireza a pouco menos de vinte anos, graças ao esforço do Rev. Waldir Luz de Carvalho, que o fez como trabalho acadêmico para seu curso de doutorado na UNICAMP, que é uma Instituição de matriz católica. O vexame não foi maior porque a Editora Presbiteriana encampou o trabalho do erudito presbiteriano e fez a primeira edição em 2006.
- O preço e a tradução gramatical utilizada pelo Rev. Waldir Luz, visto que era um trabalho acadêmico, foram dois fatores negativos, de modo que os leitores leigos não foram alcançados e na verdade, nunca houve essa disposição por parte das denominações calvinistas estabelecidas no país. Essa atitude elitista acadêmica tornou a obra de Calvino algo totalmente desconhecido por 90% dos cristãos calvinistas brasileiros. O que foge em muito da proposta original de Calvino, conforme exposto acima.
Utilização livre desde que citando a fonte
Guedes, Ivan Pereira
Mestre em Ciências da Religião.
me.ivanguedes@gmail.com
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[1] Segundo os estudiosos o termo “Instituição” ou “Instituta” tem o significado de “instrução” ou “manual”. Segundo o Dr. David Calhoun, um estudioso das Institutas, poderíamos traduzir o título em latim como: “Manual de Instrução na Religião Cristã”, ou simplesmente “Instrução Básica na Fé Cristã”.
[2] A primeira edição continha 6 capítulos, editado em formato de livro com 10 por 15 centímetros com 520 páginas. Ao todo foram oito edições em latim e cinco traduções para o francês. A última edição feita por Calvino (1559) se destaca mesmo pela sua nova estrutura e organização, onde o material foi dividido no formato atual de 4 volumes, e os capítulos se tornaram mais concisos, transformando-se agora em 80 capítulos subdivididos em parágrafos, tudo para facilitar a leitura.

2 comentários:

  1. Procure apresentar-se a Deus aprovado, como obreiro que não tem do que se envergonhar, que maneja corretamente a palavra da verdade. II Timóteo 2:15

    Esse versículo pode ser divido em três seções distintas. Aprovado, que não tem de que se envergonhar e que maneja a bem a palavra da verdade. A palavra grega para “aprovado” é “dokimon” e significa aquele que passa no teste, por exemplo, no teste de uma moeda, para saber se ela era verdadeira ou falsa. Era assim que um leitor no contexto cultural que foi escrito a passagem de Timóteo entendia. “Dokimon” era um termo usado para aquele que se tornava verdadeiro depois de passar pelos testes de aptidão. Tal teste é por sua vez elevado, não é para todos, mesmo que alguns tenham algum conhecimento, não significa que sejam vocacionados. O obreiro aprovado é aquele que passa pelo crivo de um teste rigoroso. Portanto aqui está o padrão de um obreiro aprovado. Esse é o padrão exigido por Deus.
    Para ser aprovado, em primeiro lugar deve estar submetido aos critérios das escrituras, apto para sofrer, que tenha um caráter de peso, irrepreensível na sua postura. Quero lembrar que irrepreensível não é ser infalível, mas simplesmente deve ser um homem que esteja inteiramente voltado para o progresso espiritual e para o crescimento constante através de um aperfeiçoamento, em segundo lugar deve estar pronto a moldar-se aos padrões divinos de um obreiro. Sofredor, humilde, submisso e lutador.

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