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domingo, 1 de março de 2020

VERBETE - A Bíblia de Genebra


            A cidade de Genebra, na Suíça, foi um dos maiores polos irradiadores do movimento da Reforma do Século XVI.  Um dos responsáveis por isso foi o teólogo-exegeta João Calvino, que elaborou uma das primeiras obras teológicas reformada. Sua aptidão e determinação fizeram de Genebra o centro acadêmico dos reformados e através de sua Academia milhares de pessoas, refugiados de seus países por causa da perseguição implacável das autoridades que se mantiveram católicas romanas, puderam estudar e posteriormente repassarem esse conhecimento aos seus contemporâneos na medida em que retornavam aos seus países de origem.
            Uma das obras mais extraordinárias e perenes que foi produzida em Genebra foi a tradução das Escrituras para o inglês denominada popularmente como a “Bíblia de Genebra”. Esteve envolvido nesse projeto o próprio Calvino, John Knox o reformador escocês, Myles Coverdale o primeiro a imprimir uma bíblia completa em inglês, John Foxe o puritano editor e autor do “Livro dos Mártires” e outros refugiados ingleses em Genebra... fugindo da perseguição sanguinária da rainha católica romana Mary Stuart na Inglaterra, que não tolerava a Bíblia protestante de Genebra, que ensinava explicitamente em suas notas de comentários que o papa era o "anticristo".  Porém, a maior parte do trabalho foi realizada por William Whittingham, um dos pastores da Igreja de Genebra e um amigo querido de João Calvino.
            O Novo Testamento de Genebra foi editado em 1558 e somente depois de dois anos, 1560, saiu a primeira impressão da Bíblia completa, traduzida de acordo com o hebraico e o grego, e conferida com as melhores traduções em diversas línguas. As traduções inglesas anteriores não tinham alcançado os leitores de forma geral, mas a Bíblia de Genebra foi instantaneamente popular. Entre 1560 e 1644, pelo menos 144 edições foram produzidas. Também conhecida como a “Bíblia da Reforma Protestante” tornou-se rapidamente a mais popular versão na língua inglesa, superando e sobrevivendo à “Grande Bíblia” (1539) que foi a primeira edição autorizada da Bíblia em inglês e permitida pelo rei Henrique VIII da Inglaterra a ser lida em voz alta nos cultos da Igreja da Inglaterra e a “Bíblia dos Bispos” (1568), uma tradução em inglês da Bíblia produzida sob a autoridade da Igreja da Inglaterra (Anglicana) e cuja edição de 1602 foi prescrita como o texto base da Bíblia King James.  Mesmo quarenta anos após a publicação da Bíblia King James, versão oficial da Igreja Anglicana para neutralizar os efeitos da versão de Genebra e, portanto a única lida nos cultos oficiais, a Bíblia de Genebra continuou sendo a Bíblia do lar, da família e principalmente dos grupos dissidentes: presbiterianos, congregacionais, metodistas e batistas.
            E de fato há muitas razões para esse sucesso editorial dela:
- Seu custo baixo, inferior a um salario semanal, possibilitava a compra por um número maior de leitores. A Bíblia original de Genebra de 1560 devolveu a Palavra de Deus ao povo.
- Sua tradução foi feita para o inglês popular e assim alcançar com mais facilidade a população em geral, seguindo o padrão utilizado por Martinho Lutero na Alemanha.
- Foi a primeira versão da Bíblia para o inglês feita a partir dos textos em hebraico e grego diretamente, mormente as traduções eram feitas a partir da versão oficial Vulgata Latina.
- Foi a primeira Bíblia a ser impressa na Escócia após sua Reforma liderada por John Knox.
- Foi a Bíblia utilizada pelos Puritanos e posteriormente levada pelos Peregrinos quando atravessaram o mar e se estabeleceram na Nova América (Estados Unidos) em 1620. Foi a Bíblia na qual a América foi fundada, uma vez que a maioria dos Peregrinos estava fugindo da opressão religiosa da Igreja Anglicana (Igreja da Inglaterra) e não queriam nada com sua Bíblia oficial “King James”.
- Foi a versão citada centenas de vezes por William Shakespeare em suas peças.
- Editorialmente ela foi a primeira versão a utilizar o tipo “Romano”, mais fácil de ler, do que o tipo de “Estilo Gótico”, usado até aquele momento;
- Foi a primeira Bíblia em inglês a adicionar versículos numerados a cada capítulo;
- Tornou-se a primeira “Bíblia de Estudo”, com extensas notas de comentários nas margens, em torno de 6500; a fazer uma tradução literal de mais de 700 palavras difíceis do hebraico e do grego; a fazer uma introdução de cada livro; a utilizar mapas e gráficos; ilustrações como da arca Noé, do Tabernáculo, do templo de Salomão e da visão de Ezequiel, das tribos de Israel e das jornadas do apóstolo Paulo.  
            Essa versão da Bíblia popularizou os conceitos teológicos de Calvino e dos reformadores a partir de Genebra.

Utilização livre desde que citando a fonte
Guedes, Ivan Pereira
Mestre em Ciências da Religião.
me.ivanguedes@gmail.com
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