A cidade de Genebra, na Suíça,
foi um dos maiores polos irradiadores do movimento da Reforma do Século XVI. Um dos responsáveis por isso foi o teólogo-exegeta
João Calvino, que elaborou uma das primeiras obras teológicas reformada. Sua
aptidão e determinação fizeram de Genebra o centro acadêmico dos reformados e através
de sua Academia milhares de pessoas, refugiados de seus países por causa da
perseguição implacável das autoridades que se mantiveram católicas romanas, puderam
estudar e posteriormente repassarem esse conhecimento aos seus contemporâneos
na medida em que retornavam aos seus países de origem.
Uma das obras mais extraordinárias e perenes que foi
produzida em Genebra foi a tradução das Escrituras para o inglês denominada
popularmente como a “Bíblia de Genebra”. Esteve envolvido nesse projeto o
próprio Calvino, John Knox o reformador escocês, Myles Coverdale o primeiro a
imprimir uma bíblia completa em inglês, John Foxe o puritano editor e autor do “Livro
dos Mártires” e outros refugiados ingleses em Genebra... fugindo da perseguição
sanguinária da rainha católica romana Mary Stuart na Inglaterra, que não
tolerava a Bíblia protestante de Genebra, que ensinava explicitamente em suas
notas de comentários que o papa era o "anticristo". Porém, a maior parte do trabalho foi realizada
por William Whittingham, um dos pastores da Igreja de Genebra e um amigo
querido de João Calvino.
O Novo Testamento de Genebra foi editado em 1558 e
somente depois de dois anos, 1560, saiu a primeira impressão da Bíblia
completa, traduzida de acordo com o hebraico e o grego, e conferida com as
melhores traduções em diversas línguas. As traduções inglesas anteriores não tinham
alcançado os leitores de forma geral, mas a Bíblia de Genebra foi
instantaneamente popular. Entre 1560 e 1644, pelo menos 144 edições foram
produzidas. Também conhecida como a “Bíblia da Reforma Protestante” tornou-se
rapidamente a mais popular versão na língua inglesa, superando e sobrevivendo à
“Grande Bíblia” (1539) que foi a primeira edição autorizada da Bíblia em inglês e
permitida pelo rei Henrique VIII da Inglaterra a ser lida em voz alta nos
cultos da Igreja da Inglaterra e a “Bíblia dos Bispos” (1568), uma tradução em
inglês da Bíblia produzida sob a autoridade da Igreja da Inglaterra (Anglicana)
e cuja edição de 1602 foi prescrita como o texto base da Bíblia King James. Mesmo quarenta anos após a publicação da
Bíblia King James, versão oficial da Igreja Anglicana para neutralizar os
efeitos da versão de Genebra e, portanto a única lida nos cultos oficiais, a
Bíblia de Genebra continuou sendo a Bíblia do lar, da família e principalmente
dos grupos dissidentes: presbiterianos, congregacionais, metodistas e batistas.
E de fato há muitas razões para esse sucesso editorial
dela:
- Seu custo baixo, inferior a
um salario semanal, possibilitava a compra por um número maior de leitores. A
Bíblia original de Genebra de 1560 devolveu a Palavra de Deus ao povo.
- Sua tradução foi feita para o inglês popular e assim
alcançar com mais facilidade a população em geral, seguindo o padrão utilizado
por Martinho Lutero na Alemanha.
- Foi a primeira versão da
Bíblia para o inglês feita a partir dos textos em hebraico e grego diretamente,
mormente as traduções eram feitas a partir da versão oficial Vulgata Latina.
- Foi a primeira Bíblia a ser impressa na Escócia após
sua Reforma liderada por John Knox.
- Foi a Bíblia utilizada
pelos Puritanos e posteriormente levada pelos Peregrinos quando atravessaram o
mar e se estabeleceram na Nova América (Estados Unidos) em 1620. Foi a Bíblia
na qual a América foi fundada, uma vez que a maioria dos Peregrinos estava
fugindo da opressão religiosa da Igreja Anglicana (Igreja da Inglaterra) e não
queriam nada com sua Bíblia oficial “King James”.
- Foi a versão citada centenas de vezes por William
Shakespeare em suas peças.
- Editorialmente ela foi a
primeira versão a utilizar o tipo “Romano”, mais fácil de ler, do que o tipo de
“Estilo Gótico”, usado até aquele momento;
- Foi a primeira Bíblia em inglês a adicionar
versículos numerados a cada capítulo;
- Tornou-se a primeira
“Bíblia de Estudo”, com extensas notas de comentários nas margens, em torno de
6500; a fazer uma tradução literal de mais de 700 palavras difíceis do hebraico
e do grego; a fazer uma introdução de cada livro; a utilizar mapas e gráficos;
ilustrações como da arca Noé, do Tabernáculo, do templo de Salomão e da visão
de Ezequiel, das tribos de Israel e das jornadas do apóstolo Paulo.
Essa versão da Bíblia popularizou os conceitos teológicos
de Calvino e dos reformadores a partir de Genebra.
Utilização livre desde que citando a fonte
Guedes, Ivan Pereira
Mestre em Ciências da Religião.
me.ivanguedes@gmail.com
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Historiologia Protestante
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