A
desvalorização ou subutilização dos escritos contidos no Primeiro Testamento
não é decorrente dos dias atuais ou da geração pós-moderna. Nos dias dos
Reformadores uma das preocupações era a revalorização das Escrituras em sua
totalidade. Para eles a primeira parte das Escrituras é tão fundamental quanto
os escritos contidos na segunda parte – para eles não poderia haver qualquer
distinção entre os escritos bíblicos, pois cada um deles torna-se parte
integrante da Revelação da vontade de Deus para seu povo. O Segundo Testamento
é fundamentado no Primeiro, sem esse fundamento ele certamente não
permaneceria.
Quando
Martinho Lutero empreendeu fazer e publicar sua tradução alemã do Pentateuco,
os cinco primeiros livros da Bíblia, no ano de 1523, ele entendeu ser
necessário escrever um prefácio esclarecendo para seus leitores alemães a significância
e a relevância dos escritos da primeira parte da Bíblia.
Esta
preocupação do reformador alemão indica claramente que em seus dias, como hoje,
existia a tendência por parte dos cristãos e de suas próprias lideranças em
minimizar e até mesmo desprezar as escrituras do Primeiro Testamento. Uma das
alegações era de que bastavam os ensinos do Segundo Testamento e até mesmo de
que o conteúdo do Segundo era mais pura e espiritual do que o conteúdo do
Primeiro Testamento. Para corrigir esse pensamento errôneo Lutero escreveu:
Há
quem tenha pouca consideração pelo Antigo Testamento. Eles pensam dele como um
livro que foi dado apenas ao povo judeu e agora está fora de data, contendo
apenas histórias de épocas passadas. . . . Mas Cristo diz em João 5, “Conheçam
as Escrituras, pois são elas que testificam de mim.” . . . [As] Escrituras do
Antigo Testamento não devem ser desprezadas, mas lidas diligentemente. . . .
Portanto, descarte suas próprias opiniões e sentimentos e pense nas Escrituras
como a mais alta e nobre das coisas sagradas, como a mais rica das minas que
nunca pode ser suficientemente explorada, a fim de que você possa encontrar a
sabedoria divina que Deus aqui coloca diante de você de forma tão simples que
extingue todo orgulho. Aqui você encontrará o panos e manjedoura na qual Cristo
jaz. . . . Simples e humildes são esses panos, mas querido é o tesouro, Cristo,
que reside neles (LUTHER, 1960, p. 235–36).
No
Brasil por muitas décadas, em prol da evangelização, se publicou e distribuiu
apenas o “Novo Testamento”, pois era mais “fácil” para as pessoas entenderem. O
resultado negativo é que se criou uma ou mais gerações inteiras de cristãos
analfabetos e até mesmo avessos à leitura e estudo do Primeiro Testamento e
recuperá-los é uma tarefa árdua e com poucos resultados. Não se ouve nos púlpitos
as pregações fundamentadas nas literaturas contidas na primeira parte da
Bíblia, a não serem alguns poucos textos selecionados. Se perguntarmos aos
evangélicos quais são os livros do Primeiro Testamento, alguns dirão cinco ou
seis livros e se interrogarmos quantos deles já leram o Primeiro Testamento
inteiro um pequeno e inexpressivo numero de evangélicos se pronunciara
positivamente.
Assim
como nos dias de Lutero e dos reformadores temos a responsabilidade de
resgatarmos o valor inspirativo e autoritativa das Escrituras em sua totalidade;
torna-se premente que os atuais evangélicos retornem às fontes primárias das
Escrituras e que suas lideranças pastorais possam dizer como o apóstolo Paulo: “nunca deixei de lhes ensinar toda a
Escritura”.
Utilização livre desde que citando a fonte
Guedes, Ivan Pereira
Mestre em Ciências da Religião.
Universidade Presbiteriana Mackenzie
me.ivanguedes@gmail.com
Outro Blog
Reflexão Bíblica
http://reflexaoipg.blogspot.com.br/
Referência
Bibliográfica
LUTHER, Martin. Preface to the Old Testament.
Philadelphia: Muhlenberg, 1960. [ed. E. Theodore ; V. 35 of Luther’s Works]
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