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quinta-feira, 5 de março de 2020

Ecos da Reforma: Matinho Lutero e a Importância do Primeiro Testamento



A desvalorização ou subutilização dos escritos contidos no Primeiro Testamento não é decorrente dos dias atuais ou da geração pós-moderna. Nos dias dos Reformadores uma das preocupações era a revalorização das Escrituras em sua totalidade. Para eles a primeira parte das Escrituras é tão fundamental quanto os escritos contidos na segunda parte – para eles não poderia haver qualquer distinção entre os escritos bíblicos, pois cada um deles torna-se parte integrante da Revelação da vontade de Deus para seu povo. O Segundo Testamento é fundamentado no Primeiro, sem esse fundamento ele certamente não permaneceria.
Quando Martinho Lutero empreendeu fazer e publicar sua tradução alemã do Pentateuco, os cinco primeiros livros da Bíblia, no ano de 1523, ele entendeu ser necessário escrever um prefácio esclarecendo para seus leitores alemães a significância e a relevância dos escritos da primeira parte da Bíblia.
Esta preocupação do reformador alemão indica claramente que em seus dias, como hoje, existia a tendência por parte dos cristãos e de suas próprias lideranças em minimizar e até mesmo desprezar as escrituras do Primeiro Testamento. Uma das alegações era de que bastavam os ensinos do Segundo Testamento e até mesmo de que o conteúdo do Segundo era mais pura e espiritual do que o conteúdo do Primeiro Testamento. Para corrigir esse pensamento errôneo Lutero escreveu:
Há quem tenha pouca consideração pelo Antigo Testamento. Eles pensam dele como um livro que foi dado apenas ao povo judeu e agora está fora de data, contendo apenas histórias de épocas passadas. . . . Mas Cristo diz em João 5, “Conheçam as Escrituras, pois são elas que testificam de mim.” . . . [As] Escrituras do Antigo Testamento não devem ser desprezadas, mas lidas diligentemente. . . . Portanto, descarte suas próprias opiniões e sentimentos e pense nas Escrituras como a mais alta e nobre das coisas sagradas, como a mais rica das minas que nunca pode ser suficientemente explorada, a fim de que você possa encontrar a sabedoria divina que Deus aqui coloca diante de você de forma tão simples que extingue todo orgulho. Aqui você encontrará o panos e manjedoura na qual Cristo jaz. . . . Simples e humildes são esses panos, mas querido é o tesouro, Cristo, que reside neles (LUTHER, 1960, p. 235–36).
No Brasil por muitas décadas, em prol da evangelização, se publicou e distribuiu apenas o “Novo Testamento”, pois era mais “fácil” para as pessoas entenderem. O resultado negativo é que se criou uma ou mais gerações inteiras de cristãos analfabetos e até mesmo avessos à leitura e estudo do Primeiro Testamento e recuperá-los é uma tarefa árdua e com poucos resultados. Não se ouve nos púlpitos as pregações fundamentadas nas literaturas contidas na primeira parte da Bíblia, a não serem alguns poucos textos selecionados. Se perguntarmos aos evangélicos quais são os livros do Primeiro Testamento, alguns dirão cinco ou seis livros e se interrogarmos quantos deles já leram o Primeiro Testamento inteiro um pequeno e inexpressivo numero de evangélicos se pronunciara positivamente.
Assim como nos dias de Lutero e dos reformadores temos a responsabilidade de resgatarmos o valor inspirativo e autoritativa das Escrituras em sua totalidade; torna-se premente que os atuais evangélicos retornem às fontes primárias das Escrituras e que suas lideranças pastorais possam dizer como o apóstolo Paulo: “nunca deixei de lhes ensinar toda a Escritura”.   
Utilização livre desde que citando a fonte
Guedes, Ivan Pereira
Mestre em Ciências da Religião.
Universidade Presbiteriana Mackenzie
me.ivanguedes@gmail.com
Outro Blog
Reflexão Bíblica
http://reflexaoipg.blogspot.com.br/


Referência Bibliográfica
LUTHER, Martin. Preface to the Old Testament. Philadelphia: Muhlenberg, 1960. [ed. E. Theodore ; V. 35 of Luther’s Works]

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