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segunda-feira, 17 de julho de 2023

João Calvino – As Institutas da Religião Cristã e Seus Temas Principais


LIVRO 1 – (18 capítulos)

DO CONHECIMENTO DE DEUS O CRIADOR.

1. Conexão entre o Conhecimento de Deus e o Conhecimento de Nós Mesmos. Natureza da conexão.

2. O que é conhecer a Deus. Tendência deste Conhecimento.

3. A Mente Humana naturalmente imbuída do Conhecimento de Deus.

4. Este Conhecimento sufocado ou corrompido, ignorantemente ou maliciosamente.

5. O Conhecimento de Deus manifestado na estrutura e no Governo constante do Universo.

6. A necessidade das Escrituras como Guia e Mestre para chegar a Deus como Criador.

7. O Testemunho do Espírito é necessário para dar plena autoridade às Escrituras. A impiedade de fingir que a credibilidade da Escritura depende do julgamento da Igreja.

8. A Credibilidade da Escritura suficientemente provada, tanto quanto a Razão Natural admitem.

9. Todos os princípios de piedade subvertidos por fanáticos que substituem as Escrituras por revelações.

10. Nas Escrituras, o verdadeiro Deus se opôs, exclusivamente, a todos os deuses dos pagãos.

11. Impiedade de atribuir uma forma visível a Deus. A criação de ídolos uma revolta contra o verdadeiro Deus.

12. Deus se distingue dos ídolos, para que Ele seja o objeto exclusivo de Adoração.

13. A Unidade da Essência Divina em Três Pessoas ensinada nas Escrituras, desde a fundação do Mundo.

14. Na Criação do Mundo, e todas as coisas nele, o Verdadeiro Deus distinguiu por certas marcas de deuses fictícios.

15. Estado em que o homem foi criado. As Faculdades da Alma—A Imagem de Deus—Livre Arbítrio—Retidão Original.

16. O Mundo, criado por Deus, ainda querido e protegido por Ele. Cada uma e todas as suas partes governadas por Sua Providência.

17. Faça uso desta Doutrina.

18. A instrumentalidade dos ímpios empregada por Deus, enquanto Ele continua livre de toda mancha.

LIVRO 2 – (17 capítulos)

DO CONHECIMENTO DE DEUS REDENTOR, EM CRISTO, COMO PRIMEIRAMENTE. MANIFESTADO AOS PAIS SOB A LEI, E DEPOIS A NÓS SOB O EVANGELHO.

1. Através da queda e revolta de Adão, toda a raça humana tornou-se amaldiçoada e degenerada. Do Pecado Original.

2. O homem agora privado de liberdade de vontade e miseravelmente escravizado.

3. Tudo o que procede da natureza corrupta do homem é condenável.

4. Como Deus trabalha no coração dos homens.

5. Os argumentos geralmente alegados em apoio ao Livre Arbítrio refutados.

6. A redenção do homem perdido deve ser buscada em Cristo.

7. A Lei dada, não para reter um povo para si, mas para manter viva a Esperança da Salvação em Cristo até o seu Advento.

8. Exposição da Lei Moral.

9. Cristo, embora conhecido pelos judeus sob a Lei, mas apenas manifestado sob o Evangelho.

10. A semelhança entre o Antigo Testamento e o Novo.

11. A diferença entre os dois Testamentos.

12. Cristo, para desempenhar o ofício de Mediador, precisou tornar-se homem.

13. Cristo vestido com a verdadeira substância da Natureza Humana.

14. Como duas naturezas constituem a Pessoa do Mediador.

15. Três coisas devem ser consideradas principalmente em Cristo - viz. seus ofícios de Profeta, Rei e Sacerdote.

16. Como Cristo desempenhou o ofício de Redentor ao obter nossa salvação. A Morte, Ressurreição e Ascensão de Cristo.

17. Cristo disse correta e apropriadamente ter merecido graça e salvação por nós.

LIVRO TERCEIRO (25 capítulos)

O MODO DE OBTER A GRAÇA DE CRISTO.
OS BENEFÍCIOS QUE CONFERE E OS EFEITOS RESULTANTES DELE.

1. Os Benefícios de Cristo disponibilizados a nós pela Operação Secreta do Espírito.

2. De fé. A Definição disso. Suas propriedades peculiares.

3. Regeneração pela fé. De Arrependimento.

4. A penitência, explicada no jargão sofístico dos Escolásticos, é muito diferente da pureza exigida pelo Evangelho. De Confissões e Satisfações.

5. Dos modos de Suplementar Satisfação - viz. Indulgências e Purgatório.

6. A vida de um homem cristão. Argumentos bíblicos exortando a isso.

7. Um resumo da vida cristã. Da auto-negação.

8. Sobre carregar a cruz - um ramo da abnegação.

9. De Meditar na Vida Futura.

10. Como usar a Vida Presente e os confortos dela.

11. Da justificação pela fé. Tanto o nome como a realidade definida.

12. Necessidade de contemplar o Tribunal de Deus, para se convencer seriamente da Doutrina da Justificação Gratuita.

13. Duas coisas devem ser observadas na Justificação Gratuita.

14. O início da justificação. Em que sentido progressivo.

15. O alardeado mérito das Obras subversiva tanto da Glória de Deus, ao conferir Justiça, como da certeza da Salvação.

16. Refutação das calúnias pelas quais se tenta lançar o ódio sobre esta doutrina.

17. As Promessas da Lei e do Evangelho reconciliadas.

18. A Retidão das Obras inferidas indevidamente das Recompensas.

19. Da liberdade cristã.

20. De oração - um exercício perpétuo de fé. Os benefícios diários derivados dele.

21. Da Eleição Eterna, pela qual Deus predestinou alguns para a Salvação e outros para a Destruição.

22. Esta Doutrina confirmada por Provas da Escritura.

23. Refutação das Calúnias pelas quais esta Doutrina é sempre injustamente atacada.

24. Eleição confirmada pelo Chamado de Deus. O Reprovado trazem sobre si mesmos a justa destruição a que estão condenados.

25. Da Última Ressurreição.

LIVRO QUARTO (20 capítulos)

DOS MEIOS EXTERNOS OU AJUDAS PELAS QUAIS DEUS NOS ATRAI PARA A COMUNHÃO COM CRISTO E NOS MANTEM NELA.

1. Da Igreja Verdadeira. Dever de cultivar a Unidade com ela, como a mãe de todos os piedosos.

2. Comparação entre a Igreja Falsa e a Verdadeira.

3. Dos Mestres e Ministros da Igreja. Sua eleição e cargo.

4. Do Estado da Igreja Primitiva e do Modo de Governo em uso antes do Papado.

5. A Antiga Forma de Governo totalmente corrompida pela tirania do Papado.

6. Da Primazia da Sé Romana.

7. Do Começo e Ascensão do Papado Romano, até atingir uma altura pela qual a Liberdade da Igreja foi destruída, e toda verdadeira Regra derrubada.

8. Do Poder da Igreja nos Artigos de Fé. A licença desenfreada da Igreja Papal em destruir a Pureza da Doutrina.

9. Dos Conselhos e sua Autoridade.  

10. Do poder de fazer leis. A crueldade do Papa e seus seguidores, a esse respeito, em oprimir e destruir tiranicamente as Almas.

11. Da Jurisdição da Igreja e dos Abusos dela, como exemplificado no Papado.

12. Da Disciplina da Igreja e seu principal uso em Censuras e Excomunhão.

13. Dos votos. Os embaraços miseráveis ​​causados ​​por jurar precipitadamente.

14. Dos Sacramentos.

15. Do Batismo.

16. Pedobatismo. Está de acordo com a Instituição de Cristo e a natureza do sinal.

17. Da Ceia do Senhor e os benefícios conferidos por ela.

18. Da Missa Papista. Como ela não apenas profana, mas aniquila a Ceia do Senhor.

19. Dos Cinco Sacramentos, assim chamados falsamente. Sua espúria foi provada e seu verdadeiro caráter explicado.

20. Do Governo Civil.

 

Utilização livre desde que citando a fonte
Guedes, Ivan Pereira
Mestre em Ciências da Religião
me.ivanguedes@gmail.com
Outro Blog
Reflexão Bíblica

 

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sábado, 15 de julho de 2023

Historia do Protestantismo - James A. Wylie (1808-1890AD)


          Um dos mais extraordinários e profícuo escritor da História do Protestantismo.  Suas obras precisam serem urgentemente resgatadas do limbo da historiologia protestante a que foi lançado (como tantos outros). É um daqueles nomes que são citados intermitentemente nas notas de rodapé e referências bibliográficas dos historiadores e pesquisadores acadêmicos, mas do qual pouco se fala a respeito dele e de suas monumentais obras.

Na minha pesquisa não encontrei nenhum estudo específico sobre ele e seu imenso trabalho literário historiográfico.  Dentro do limitado espaço deste blog meu esforço será de suprir, ainda que minimamente, este vácuo.

Quem foi James A. Wylie?

          Um escocês por nascimento (9 de agosto de 1808 - 1 de maio de 1890) na cidade de Kirriemuir e um pastor protestante de viés presbiteriano. Wylie foi educado no Marischal College, Universidade de Aberdeen, onde estudou por três anos antes de se transferir para a Universidade de St Andrews para estudar com o Rev. Dr. Thomas Chalmers. Não encontrei nenhum relato de sua conversão, porém, seguindo os passos de seu pai, entrou no Original Secession Divinity Hall, Edimburgo (Escócia), em 1827, a terra do grande reformador escocês John Knox, sendo posteriormente ordenado ao ministério em 1831, na Igreja Secessionista em Dollar, Clackmannanshire.   

Os grandes embates teológico-eclesiástico ainda girava em torno do catolicismo romano. Wylie se constituirá em uma das maiores referências apologéticas contra o Catolicismo romano em todo o mundo de língua inglesa na última parte do século 19.

Duas Obras Relevantes

Sua obra "O Papado: sua História, Dogmas, Genialidade e Perspectivas" em que expõe de forma contundente, sem ser arrogante ou prepotente, as entranhas heréticas destes símbolo máximo da eclesiologia nos moldes católico romano, o fez ganhador de um prêmio literário de grande destaque, promovido pela Aliança Evangélica, bem como um valor monetário de 100 guinés. A bancada julgadora tinha eminentes Doutores, Ralph Wardlaw (pastor e escritor presbiteriano escocês), Rev. Cunningham (Doutorado (DD) honorário pela Universidade de Edimburgo), Rev. John Eadie (professor de literatura bíblica e hermenêutica). Este trabalho também lhe rendeu grande reputação e o projetou como grande apologeta do catolicismo romano além de suas fronteiras nacionais expandindo-se por todo o Continente europeu.

 Mas sua obra magna é sem dúvida "História do Protestantismo", constituída em três volumes, subdividido em vinte e quatro capítulos e que se estende ao longo de quase 2.000 páginas, abrangendo desde os primórdios do cristianismo até a Revolução Gloriosa na Grã-Bretanha em 1688, tendo sua primeira edição em 1878 (cf. mencionado ao fim do artigo).

A leitura destas duas obras aqui referidas proporcionara ao leitor uma ampla visão dos dois lados da moeda – o Catolicismo Romano e os movimentos de Reforma Protestante, espalhada por diversos países e com ampla apresentação de fontes documentais primárias e bibliográficas raramente encontradas em obras produzidas posteriormente até os dias atuais.

A linguagem utilizada pelo autor revela seriedade acadêmica e zelo pela autenticidade dos fatos históricos, com ampla fundamentação de suas fontes de pesquisa. Pelo conjunto de suas obras ele recebeu da Universidade de Aberdeen o título de Legum Doctor LL.D. (Doutor das Leis), referente ao grau acadêmico de nível de doutorado honorário. O duplo “L” na abreviatura se refere à capacitação para ensinar nas cátedras do direito canônico e civil.

Ele tinha plena consciência de sua vocação literária que pode ser evidenciada em suas palavras: "Minha língua é a pena de um pronto escritor", registrada na edição da revista “Testemunha” em 1846.

Em 1846 deixa o ministério pastoral e muda-se para Edimburgo, para se tornar subeditor do jornal religioso The Witness (Testemunho ou Testemunha), sob o comando de Hugh Miller, onde ele escrevera cerca de 800 artigos no transcorrer de muitos anos.

Em 1846 ele deixou a igreja Em 1852, depois de se juntar à Igreja Livre da Escócia, deixa o The Witness e passa a editar o jornal denominacional Free Church Record, um papel que ele continuou até 1860.

          Em 1860, principalmente através da instrumentalidade de Dr. James Begg, o Instituto Protestante foi estabelecido, e Dr. Wylie foi convidado para ser um de seus docentes, o qual exerceu a nomeação pelos próximos anos. Durante esse longo período de docência, mais de 2.000 alunos foram ensinados por ele. Os escritos e ensinamentos do Dr. Wylie contra o Papado tiveram um longo alcance influência em toda a cristandade.

Só quem não tinha convicções fortes, exceto para desprezar queles que o fizeram, falou dele como um "fanático". Mas se suas declarações sobre o Papado sempre foram fortes, por outro lado sempre foram escrupulosamente pesquisados e verdadeiros e escrito em linguagem acessível à população em geral, bem como de forma agradável e cativante.

Seu amplo e veemente repúdio ao sistema católico romano sempre foi contrabalançado por sua preocupação intercessora por todos os católicos. Ele realmente se preocupava que eles pudessem ler seus escritos para descobrirem por si mesmos as razões pelas quais a Reforma Protestante fora e continuava sendo necessária, e o que verdadeiramente representava o protestantismo [quanta falta faz isso nestes dias em que se ensinam coisas completamente absurdas].

Ele viveu como um cristão deveria viver. As palavras do Rev. C. A. Salmond (1890) logo após sua morte é uma síntese de sua vida:

"James Wylie foi um dos homens mais bem informados, mais geniais e simpáticos, e Sua humildade profunda e inabalável era um de seus maiores encantos. Bem dizia-se que não se podia ficar muito tempo com ele sem perceber o seu amor apaixonado por Cristo e para com as pessoas de bem, e sua piedade não ostensiva deu um sabor inconfundível para toda a sua vida".

          Nestes dias cinzas onde a verdade bíblica é eclipsada por sombras projetada pela aberração da construção de uma enorme Torre de Babel ideológica ecumênica de abrangência mundial, onde a verdade bíblica é suprimida em nome de uma “nova verdade”, que de nova não tem absolutamente nada, pois desde sempre está bem ilustrada nas páginas iniciais do livro de Gênesis, a leitura das obras de James A. Wylie torna-se indispensável e urgente.

A História do Protestantismo (James Aitken Wylie): Um olhar exaustivo sobre a história da Igreja Protestante desde o século I até 1800.

Volume 1

Book 1 — Progress From the First to the Fourteenth Century

Book 2 — Wicliffe and His Times, or Advent of Protestantism

Book 3 — John Huss and the Hussite Wars

Book 4 — Christendom at the Opening of the Sixteenth Century

Book 5 — History of Protestantism in Germany to the Leipsic Disputation, 1519

Book 6 — From the Leipsic Disputation to the Diet at Worms, 1521

Book 7 — Protestantism in England, From the Times of Wicliffe to Those of Henry VIII

Book 8 — History of Protestantism in Switzerland From A.D. 1516 to Its Establishment at Zurich, 1525

Book 9 — History of Protestantism From the Diet of Worms, 1521, to the Augsburg Confession, 1530

 

Volume 2

Book 10 — Rise and Establishment of Protestantism in Sweden and Denmark

Book 11 — Protestantism in Switzerland From Its Establishment in Zurich (1525) to the Death of Zwingli (1531)

12 — Protestantism in Germany From the Augsburg Confession to the Peace of Passau

Book 13 — From Rise of Protestantism in France (1510) to Publication of the Institutes (1536)

Book 14 — Rise and Establishment of Protestantism at Geneva

Book 15 — The Jesuits

Book 16 — Protestantism in the Waldensian Valleys

Book 17 — Protestantism in France From Death of Francis I (1547) to Edict of Nantes (1598)

 

Volume 3

Book 18 — History of Protestantism in the Netherlands

Book 19 — Protestantism in Poland and Bohemia

Book 20 — Protestantism in Hungary and Transylvania

Book 21 — The Thirty Years' War

Book 22 — Protestantism in France From Death of Henry IV (1610) to the Revolution (1789)

Book 23 — Protestantism in England From the Times of Henry VIII

Book 24 — Protestantism in Scotland

 

Utilização livre desde que citando a fonte

Guedes, Ivan Pereira

Mestre em Ciências da Religião

me.ivanguedes@gmail.com

Outro Blog

Reflexão Bíblica

http://reflexaobiblica.spaceblog.com.br/

 

 

Referência Bibliográfica

WYLIE, James A. The History of Protestantism. (3 volumes). Cassell & Company, Limited: London, Paris & New York.1878.

 

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segunda-feira, 3 de julho de 2023

MULHERES DA REFORMA PROTESTANTE – Anna Reinhard


          Quando se fala de Reforma Protestante nossa mente é tomada por uma série de nomes masculinos, mas poucos são capazes de se lembrar de pelo menos alguns nomes de mulheres que participaram ativamente deste movimento reformador ocorrido no hoje longínquo século XVI, mas que ainda hoje no século XXI exerce forte influência em muitos países, incluindo o Brasil.

          Ao começarmos a pesquisar sobre a vida destas mulheres descobrimos um manancial de fé, amor, força e desprendimento que não apenas nos encantam, mas acima de tudo nos desafiam. Se para os homens do medievo aderir ao movimento da Reforma era um desafio e exigia o máximo de cada um, para as mulheres os desafios eram ainda maiores e mais custosos – elas (como ainda hoje) tinham que equilibrar sua própria vida, de seu marido e seus filhos. Elas podiam, assim como apostolo Paulo, declararem que pesava sobre elas essa tremenda responsabilidade de levar o Evangelho puro a todos os ouvidos entupidos por toda sorte de desvios doutrinários e heresias idolatras.

          O meu convite é que você possa, assim como eu, descobrir cada uma destas mulheres e não apenas aprender com elas, mas se deixar ser desafiado por elas em fé e coragem. Que possamos com elas permanecermos firmes e inabaláveis em meios às maiores adversidades, bem como sermos pacientes nas tribulações. Cada uma delas figura na Galeria da Fé Reformada e parafraseando o escritor bíblico de Hebreus – o mundo não foi digno delas.

Anna Reinhard

          Propositalmente retiro o sobrenome de seu marido (Zwínglio) para que a nossa atenção possa ser centrada na figura dela, pois ela possui valor intrínseco, pois sua vida e história fala por si mesma.

          Não há registro oficial da data de seu nascimento, todavia os historiadores propõem o ano de 1484. Muito cedo um jovem amigo, de origem nobre chamado John Meyer von Knonau se encantou por sua beleza e personalidade, mas seu pai se opôs, então o rapaz tomou a decisão de fugirem e se casarem secretamente. Porém, este ato de rebeldia lhe custou muito caro. Foi deserdado, sendo que a herança do pai foi deixada para a madrasta.

O marido de Anna foi agora lançado aos seus próprios recursos. Tentou a carreira política sendo eleito vereador em 1511, mas os recursos eram escassos e a saída encontrada foi tornar-se alferes no exército suíço, indo com eles para a Itália nas guerras contra a França. Depois de várias campanhas ele retorna com a saúde bastante debilitada e morreu em 1517, deixando Anna viúva com dois filhos, uma menina e um menino. Ela havia tido uma segunda filha, mas ela faleceu ainda bebê.

O filho Gerald Meyer será o instrumento da providência divina para a jovem viúva. Era um menino que chamava a atenção e certo dia, com três anos, sendo levado ao mercado seu avô paterno o viu e se encantou pelo menino e depois de tomar conhecido que se tratava de seu próprio neto, esquecendo a frustração com o filho assume os cuidados do neto.  Aos nove anos o avô faleceu e ele continuou sendo cuidado pela avó (madrasta do seu pai), de maneira que somente aos onze anos, com o falecimento da avó-madrasta o menino retorna aos cuidados de Anna.  

A providência divina em ação. Anna estava travando sua luta para sustentar e educar seus filhos, embora estivesse limitada pelos seus poucos recursos. Neste interim o reformador suíço Ulrico Zwínglio veio para Zurique, sua pregação e sua personalidade atraia muitas pessoas, dentre as quais estava Anna, pois sua residência ficava na área atendida por esta paróquia.

No exercício de seu ofício paroquial Zwínglio tinha que dar assistência às famílias, foi quando passou a ter contato com a viúva e seus filhos. Logo percebe as necessidades da família, mas foi o agora jovem Gerald que lhe chama mais atenção. O reformador percebe os talentos da criança e oferece aulas particulares de grego e latim, que eram obrigatórios para entrar em qualquer colégio ou academia na época. Desta forma ao chegar aos onze anos o menino foi então enviado para estudar em Basileia, então um dos mais importantes centros literários da Suíça, fazendo de Zwínglio um tutor não oficial do rapaz. O menino se destacou tanto nos estudos acadêmicos que seu professor escreve a Zwínglio que se tivesse outros com semelhante aptidão podia ser-lhe enviados que os receberia como pai.

A relação do reformador com o filho de Anna manteve-se forte e quando o rapaz foi (1523) enviado de férias aos balneários em Baden, em vez de lhe dar o presente habitual, Zwínglio deu-lhe algo que era melhor. Escreveu um livro, intitulado "Como se deve educar e instruir a juventude nas boas maneiras e disciplina cristã” e dedicou-o a ele.[1] Esses detalhes são relevantes pois Gerald será o link entre sua mãe e o reformador.

Percalços e Entraves para o Casamento

Todo cenário estava preparado para que Zwínglio e Anna se casassem, todavia, naquele momento histórico de ruptura isso se constituiu em enorme problema, pois ainda um ranço muito forte de que ministro, mesmo que reformado, não deveria se casar. Enfrentando todas as oposições eles se casaram (1522), primeiramente em segredo, mas posteriormente assumiram publicamente (1524) apenas um ano antes do casamento de Martinho Lutero com a ex-freira Katharina von Bora, o que causou forte comoção, ainda que tenha repercutido mais em sua cidade natal do que propriamente em Zurique. Os romanistas e anabatistas (grupo radical dos reformados), chegaram a o injuriarem espalhando de que Zwínglio havia se casado interessado no dinheiro e na beleza dela. Ele se defendeu publicamente declarando que a renda da esposa alcançava pouco mais de 400 florins (1.053,44 reais) anuais.

Anna e suas Múltiplas Atividades

          Como tantas outras mulheres Anna não se acomodou com o simples papel de dona de casa. Ela tinha consciência de que olhos furtivos estariam sobre ela, até mais do que no marido. Sem que fosse pedido ou sugerido pelo marido, ela voluntariamente abriu mão de utilizar suas joias. Além de extremamente cuidadosa com as coisas da casa, filhos e marido, ela voltou-se para o campo da ação social trabalhando incansavelmente em favor dos desfalecidos e párias sociais, bem como dos enfermos dentro do campo pastoral de Zwínglio. Começou a ser chamada carinhosamente de a “Dorcas da Reforma”, referência à personagem descrita em no livro de Atos (Atos 9.36-43). Seu cuidado para com o esposo era ainda maior. Ela participava efetivamente de todos os momentos do reformador, fossem nas alegrias ou tristezas do ministério.

          Quando o esposo iniciou o trabalho precioso da tradução da Bíblia (1525), juntamente com outros reformadores de Zurique e que foi concluído depois de quatro anos (1529)[2] de árduo e exaustivo esforço (ele não tinha nenhum dos confortos mínimos de hoje, como por exemplo, luz elétrica).

          Anna era a primeira ouvinte dos textos traduzidos por Zwínglio pouco antes de irem dormir e era testemunha da satisfação de ouvir os evangelhos em sua própria língua suíça, na medida em que os textos eram produzidos. Quando saiu a primeira edição desta tradução completa ela recebeu de presente do esposo um exemplar. Imediatamente ela começa um projeto de financiar esta bíblia traduzida para cada família da igreja, pois o custo dos livros era muito grande no medievo.

          Ela está sempre atenta para a exaustão do esposo que muitas vezes se deixava absorver integralmente em suas múltiplas atividades pastorais. Era costume dele levantar-se muito cedo para aproveitar cada lampejo da claridade e acabava indo dormir muito tarde. Desta forma ela o fazia descansar um pouco mais.

Em suas relações interpessoais era bastante prudente evitando quaisquer conversas frívolas e se atentando para as conversas que edificavam. Anna tinha plena satisfação de conversas que podiam trazer novos subsídios para o seu entendimento bíblico e devocional. Amava ouvir as pregações de Zwínglio, mesmo antes de se casarem, trazendo novas percepções da pessoa e ensino de Cristo. Lembrando que ela cresceu em pleno romanismo em seu estágio mais deplorável - missas, peregrinações, relíquias, veneração de santos e a paisagem urbana dela era moldada pelo catolicismo (sete mosteiros e quatro igrejas).

          Por sua vez Zwínglio tinha o maior respeito pelo caráter e fé de Anna e em todas as oportunidades ele expressa esse reconhecimento. Em uma de suas poucas correspondências que foram preservadas ele se refere a Anna como uma amálgama entre Marta e Maria. Era a realidade dessa mulher, que soube como poucas equilibrar a família com uma vida cristã intensamente ativa.

Pela relevância que Zwínglio alcançava, sua residência estava sempre recebendo toda sorte de pessoas, dos amigos, aos irmãos da fé, bem como os refugiados que estavam sendo perseguidos e mortos pelas autoridades à serviço do romanismo.

Na ausência do marido era Anna que assumia o papel de anfitriã e conduzia as conversas e discussões sobre os temas cotidianos. Há várias referências de ilustres personagens históricos daqueles dias que ratificam o testemunho do caráter e do discernimento que Anna possuía a respeito das temáticas bíblicas, políticas e sociais.

Nem tudo eram flores, pois viviam em dias tremendamente difíceis. Zwínglio e demais expoentes da Reforma viviam em permanente risco de morte e Anna sabia muito bem disso. Cuidava em tempo integral da segurança do esposo, sempre atenta aos rumores e sempre precavida em relação à segurança dele.

Sabia que o marido não deveria sair sozinho à noite, pois poderia ser raptado e levado para algum cantão católico, assim como acontecera com John Huss que foi preso, julgado e condenado, por isso ela sempre arrumava alguém para viajar junto com ele. Tinha que ficar atento ao que ele comia pois havia o risco constante de ser envenenado. Sempre vigilante, Anna, mantinha sempre pessoas que poderiam socorrê-lo em uma emergência. Mesmo na cidade, não o deixava ir ou retornar de suas atividades pastorais sozinho, principalmente depois de escurecer.

Ela era a fiel guardiã e graças a essas ações muitas tentativas contra a vida de Zwínglio, embora próximas do cumprimento, foram frustradas. Em 28 de agosto de 1525, a casa deles foi apedrejada por dois cidadãos à noite, por exemplo, um susto sem efeitos colaterais maiores. Por todo esse zelo Zwínglio chamava Anna de “esposa anjo”, reconhecendo publicamente seu respeito e gratidão por ela.

Nuvens Escuras se Formam

          Apesar de toda tensão que Anna e Zwínglio viviam dias mais difíceis estavam por chegar. No dia 09 de outubro de 1531 é anunciado que o exército dos cantões católicos marcha contra a cidade de Zurique. Imediatamente foram convocados os soldados da cidade para enfrentar os inimigos. Zwínglio é convocado como Capelão desse exército.  Anna revê um filme que havia assistido com o primeiro esposo. Os soldados se reúnem na Praça da Cidade e ela ali se faz presente juntamente com os filhos. As lágrimas ficam incontidas, principalmente quando Zwínglio lhe fala: “Chegou a hora que nos separar”. Enquanto a esposa lhe dá um abraço de despedida, mesmo tomada pelo medo ela ainda consegue dizer-lhe: “Vamos nos ver novamente se o Senhor assim quiser”, e pergunta-lhe: “O que você trará quando retornar?”. E ele reponde: “Bênção após a noite escura”. Esse foi o último diálogo deles e as palavras do marido a confortou para as notícias que chegariam, pois ela cria que a bênção viria depois da noite escura da terra, tinha a forte convicção da luz bendita da pátria celestial.

          Retornando rapidamente para casa com os filhos, derrama-se diante do Senhor e ora as palavras de Jesus no Getsêmani: "Pai, não a minha vontade, mas a Tua seja feita”. Resoluta, aguarda as notícias advindas do campo de batalha. Chegam então as terríveis notícias, com a notícia da morte do marido vieram relatos sobre as mortes de seu filho Gerald, seu irmão, genros, seu

cunhado, seu primo e muitos amigos que também caído. Ela foi dominada pela dor e chorou amargamente com seus filhos (Grob 1883:192). A cidade foi tomada por sonoros gritos de lamentação e lágrimas, mas seu choro sobressaia-se e sua dor dilacerava seu coração.

A morte lhe cercou por todos os lados e então lhe chegou os detalhes horrendos de que o corpo de Zwínglio fora esquartejado e queimado e suas cinzas espalhadas por vários lugares – para que não ficasse vestígio algum dele. Poucos experimentaram tamanha dor e sofrimento. Um profeta experimentou tamanha dor e sofrimento, o profeta Jeremias: “Atendei, e vede, se há dor como a minha dor, que veio sobre mim,” (Lamentações 1.12).

 O consolo reconfortante veio de todos os lugares, desde os moradores da cidade, como das autoridades civis e religiosas. Muitos ministros reformados de outras cidades, como Bucer da cidade de Strasbourg, lhes escreveram cartas que muito a confortaram.

O jovem Henry Bullinger, o sucessor de seu marido lhe disse: “Nada te faltará, querida mãe” e de fato ele passou a cuidar dela e seus filhos, uma vez que Zwínglio quase nada havia deixado, pois tudo investia na obra.

Assim como o apostolo João se responsabilizou por Maria, Henry levou Anna com os filhos para sua casa, junto à sua família. Assumiu plenamente os cuidados paternais para com as crianças, supervisionando sua educação e quando o jovem Ulric alcançou idade foi enviado para Basileia custeado por Henry.

          Anna passou seus últimos anos vivendo para os filhos Regula, Ana, Guilherme, e Huldrych, de Zwínglio. Ainda que com menos intensidade continuou a atuar em seus esforços de atividades sociais junto à igreja e aos necessitados. Sua filha mais velha Regula herdou a beleza da mãe e a piedade dos pais. Casou-se com o jovem Rudolph Gualther, que se tornou o chefe da igreja em Zurique. Durante a terrível perseguição contra os reformados no reinado de Maria (a sanguinária) na Inglaterra, muitos refugiados procuram asilo na Suíça e vários encontraram abrigo na residência deste casal, entre tantos Grindal, que posteriormente foi constituído arcebispo de Canterbury. Após a morte de Regula o esposo escreveu: “ela soube afastar a tristeza e todo cuidado atormentador”, o que tão bem poderia ser dito de sua mãe Anna. A saúde de Anna foi se debilitando, mas enquanto teve forças jamais esmoreceu. Veio a falecer em 06 de dezembro de 1538.

O testemunho de Bullinger nos dá uma ideia do que foi a vida de Anna Reinhard Zwínglio:Não desejo um final de vida mais feliz. Ela faleceu tranquilamente, como uma luz suave, e foi para casa de seu Senhor, adorando e recomendando a todos nós a Deus”. Sua morte foi como sua vida - doce, tranquila, linda. A cena mais marcante de sua vida, e a mais dolorosa foi as mortes do marido e filho.

 

Utilização livre desde que citando a fonte
Guedes, Ivan Pereira
Mestre em Ciências da Religião
me.ivanguedes@gmail.com
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Reflexão Bíblica
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 Referências Bibliográficas

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[1] Esta se constitui em uma das primeiras, senão a primeira, obra no âmbito educacional, produzida por um reformador. A qual irei disponibilizar, em breve, no blog com a transcrição da dedicatória. Este trabalho foi selecionado por estudiosos como sendo culturalmente importante e faz parte da base de conhecimento da civilização como a conhecemos.

[2] Lembrando que o igualmente esforço extraordinário de Lutero em traduzir a Bíblia para a língua alemã, foi lançada somente em 1534.