Dois
termos semelhantes, mas distintos: Patrologia:
Estudo biográfico, crítico e exegético dos líderes da Igreja Cristã após o
período apostólico (1º século); Patrística:
Estudo do conjunto de escritos primitivos da era cristã, registrando suas
experiências, seus ensinamentos, seus rituais e a vida eclesial. Portanto, a
nossa Galeria será composta por aqueles líderes que sucederam os apóstolos a
partir do final do primeiro século e mais especificamente a partir do segundo
século da era cristã.
O período apostólico encerra-se com a morte do apóstolo
João no final dos anos oitenta e inicio dos anos noventa do primeiro século,
provavelmente na cidade de Éfeso. Mas o Espírito Santo continuou capacitando
novas lideranças para cuidar de sua Igreja. Alguns desses novos líderes
começaram a ser denominados carinhosamente de “Pai” em deferência ao amor e
zelo que tinham pela igreja e muitos deles vieram a ser martirizados por causa
de sua fé cristã.
Não
há nenhum problema em se referir a alguém como nosso “pai”, se isso for feito
da maneira correta. Aliás, é exatamente isso que Paulo fez em 1Coríntios 4.15,
quando disse: “Porque ainda que tenhais dez mil instrutores em Cristo, não
teríeis, contudo, muitos pais. Pois pelo evangelho eu mesmo vos gerei em Cristo
Jesus”. Tanto Paulo quanto João se referiam com frequência a seus convertidos
como seus filhos (LITFIN, 2015, p. 21).
Foi colocada sobre os ombros dessa nova liderança a
responsabilidade de preservar e dar continuidade ao ensino deixado pelos
apóstolos (2Tm 2.2). Ainda nos dias de Paulo e seus companheiros houve diversas
tentativas de se deturpar o ensino evangélico e descaracterizar a igreja
cristã, o que podemos apreender da leitura e estudo das epístolas
neotestamentárias. Mas com a
expansão do cristianismo por todo o Império Romano e a multiplicação de
comunidades torna-se premente que se mantivesse a integridade do ensino
evangélico e da própria igreja cristã. Aqui esta a relevância da vida e obra
destes líderes que vivenciaram não apenas o desafio das perseguições externas,
por parte das autoridades romanas, mas principalmente os embates internos
provocados por toda sorte de pseudos ensinos que tentaram se estabelecer nas
comunidades cristãs a partir do segundo século.
Os
pais da igreja frequentemente são tratados como ancestrais amados no passado,
mas esquecidos em nossos dias. Seu mundo é somente uma vaga lembrança; temos
consciência da presença deles apenas de modo superficial. Sabemos que houve
cristãos famosos que viveram “lá no passado”, mas não conseguimos identificar
exatamente quem foram ou o que fizeram. Eles têm alguma relação com ser atirado
aos leões, os romanos e todas essas coisas, certo? Mas apesar de nossa
indiferença com o mundo deles, estamos inseparavelmente ligados aos pais da
igreja. Mal ou bem, são nossos antepassados espirituais. Como ocorre com a
árvore genealógica que herdamos, somos descendentes deles, quer gostemos, quer
não (LITFIN, 2015, p. 17).
Apenas como forma didática podemos nominar e classificar
a Patrística em quatro grandes períodos: Apostólico (ou subapostólico); Apologistas, Polemistas e Pós-Nicenos. O professor Johannes Quasten,
em sua exaustiva obra “Patrology” em quatro volumes estabelece uma cronologia
geral “como os autores cristãos desde a
época do NT até Isidoro de Sevilha (636 d.C.), no mundo latino, e João
Damasceno (749 d.C.), no mundo grego” (1950, v.1, p. 1).
O estudo e relevância da biblioteca produzida no período
patrístico foi redescoberto pelos Reformadores no século XVI que buscaram neles
a referência para corroboração de suas teses e exegeses bíblicas e
eclesiológicas. Depois somente a partir da década de quarenta do século XX
teremos novamente uma renovada busca pela vida e escritos do período
patrístico. Mas precisamos evitar o equivoco de que o objetivo deles foi
estabelecer uma espécie de teologia sistemática da fé cristã, longe disso, pois
cada um deles tinha como propósito propagar a mensagem evangélica de Cristo e através
dessa mensagem transformar a vida das pessoas, como tão bem coloca Robert
Wilken: “O esforço intelectual da igreja
primitiva estava a serviço de um objetivo muito mais nobre do que dar forma
conceitual à fé cristã. Sua missão era conquistar o coração e a mente de homens
e mulheres e transformar a vida deles” (2003, p. xiv).
A nossa Galeria não tem nem a pretensão de ser exaustiva
e nem abrangente no que tange à referência de todo material produzido por eles,
mas creio que possibilitara uma visão consistente da significância destes
homens e seus escritos, aos quais somos eternamente devedores.
Período
Pós Apostólico
Foram os mais antigos escritores cristãos. Eles tiveram
relação mais ou menos direta com os apóstolos e o material por eles produzido é
do final do primeiro e inicio do segundo século.
Aqueles eram tempos
de heroísmo, não de palavras; uma era, não de escritores, mas de
soldados; não de quem fala, mas de quem sofre.
Pelo
inicio da correspondência (1.1) é possível data-la durante o período final das
perseguições do imperador Domiciano ou imediato à morte deste imperador, em
torno do ano 95-96 ou 97-98 D.C. O objetivo da correspondência era minimizar as
divergências dentro da igreja de Corinto: “para
reconciliá-los em paz, renovar sua fé e anunciar-lhes a tradição que ela
recebeu recentemente de Apóstolos "(Adversus haereses, III, 3, 3).
Para isso Clemente retoma grande parte do ensino e orientações ministradas pelo
apostolo Paulo anteriormente. Uma vez mais temos que apelarmos para o
testemunho de Eusébio: “Nesta carta,
expõe muitas ideias (tiradas) da carta aos Hebreus e emprega com fórmulas
próprias que dela toma” (HE, III, 37-38,1). Portanto, Clemente não tem
nenhuma pretensão de originalidade, mas a dê pastoralmente trazer os cristãos
de Corinto ao genuíno e único Evangelho, anteriormente anunciado por Paulo e
demais apóstolos.
Por
causa dessa relação e afinidade com a carta aos Hebreus, que revela um
conhecimento amplo do Primeiro Testamento, conclui-se que Clemente seria de
origem judaica e muitos estudiosos advogam que seja ele o autor da epístola aos
Hebreus.
Estrutura
da Carta: pode ser dividida em quatro partes: apresentação, os males da inveja
e o bem da humildade, a necessidade de preservar a unidade, uma recapitulação.
Também
é atribuído a Clemente um segundo documento conhecido como “Segundo Clemente”,
mas que tudo indica não foi escrito por ele. Eusébio (Hist. Eccl., Iii. 38) faz
referência a ela, porém sem muito entusiasmo: “Devemos saber que também existe uma segunda Epístola de Clemente. Mas
não consideramos que seja igualmente notável como o primeiro, uma vez que não
conhecemos nenhum dos antigos que o fizeram”. Ela foi associada com
Clemente pelo fato de estar arrolada no catálogo de manuscritos alexandrino, é
encontrada em dois manuscritos gregos e no manuscrito siríaco da Primeira carta,
mas não está nas versões latina ou copta (LK).
O estilo, tom e pensamento estão em total contraste com a (autêntica) Primeira
e que somado à falta de evidências externas temos uma indicação clara de autores
distintos.
A
datação deste segundo documento estende-se até o inicio do século V, mas não é propriamente
uma carta e sim uma homilia (sermão), pois o escritor afirma distintamente (cf.
Cap. XIX) que está lendo em voz alta, e implica que o faz em uma reunião de
culto religioso, caracterizando o documento mais para uma homilia do que uma
carta.
Seus
temas principais são a ênfase na cristologia, na vida pura e na fé quanto à
ressurreição do corpo. Sua grande preocupação é alertar o leitor contra os falsos
mestres, especificamente aqueles que negam a realidade da humanidade de Cristo
(cf. 1 João 4: 1–3). Esses falsos mestres estavam levando muitos cristãos a se
desviarem, colocando em risco sua salvação; adverte sobre a perseguição e serve
como um lembrete para resistir à apostasia.
Utilização livre desde que citando a fonte
Guedes, Ivan Pereira
Mestre em Ciências da Religião.
Universidade Presbiteriana Mackenzie
me.ivanguedes@gmail.com
Outro Blog
Reflexão Bíblica
http://reflexaoipg.blogspot.com.br/
Primeira Carta de Clemente aos Coríntios
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Referencias Bibliográficas
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Oscar de, HARNACK, Adolfus and ZAHN, Theodorus. Patrum Apostolicorum Opera. Lipsiae: J.C. Hinrichs, 1877.
HALL, Christopher
A. Lendo as Escrituras com os pais da
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Ultimato, 2007.
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Greek Texts and English Translations. 3d rev. ed. Grand Rapids: Baker, 2007.
LITFIN, Bryan
M. Conhecendo os Pais da Igreja - uma
introdução evangélica. Tradução de Márcio Loureiro Redondo. São Paulo: Vida
Nova, 2015.
QUASTEN,
Johannes. Patrology. vol. 1. Westminster:
Newman, 1950.
RAMSEY, Boniface.
Beginning to read the fathers. Mahwah:
Paulist, 1985), p. 4-7
WILKEN, Robert
Louis. The spirit of early Christian
thought: seeking the face o f God. New Haven: Yale, 2003.
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