Todos os estudiosos do movimento da Reforma Protestante,
ocorrido no século XVI, concordam de que a obra teológica produzida por João
Calvino (Institutas da Religião Cristã)[1] se
constitui em um dos pilares deste movimento que transformou o Cristianismo a partir
daquele momento histórico.
Mas o que levou João Calvino a empreender tamanho esforço
na elaboração das Institutas? Quais suas motivações e objetivos? Ficaremos
apenas com a resposta para o primeiro e sem dúvida maior de seus objetivos,
enquanto construía capítulo a capítulo seu precioso trabalho teológico magno.
No seu prefácio da edição francesa de 1545, Calvino se
preocupa em esclarecer aos seus leitores a razão que o levou a elaborar as
Institutas. No terceiro parágrafo ele faz uma colocação primorosa e fundamental
para uma compreensão correta desta sua obra:
Vendo,
então, quão necessário era dessa maneira ajudar aqueles que desejam ser instruído na doutrina da salvação, eu me
esforcei, de acordo com a capacidade que Deus me deu de empregar-me ao fazê-lo,
e com essa visão compôs o presente livro.
Aqui está a grande razão pela qual Calvino investiu tanto
de seu tempo e de sua vida nesta obra – instruir as pessoas, de forma geral, no
que concerne a salvação. Mas o calvinismo não conseguiu entender esta proposta
simples do reformador e transformou sua obra em uma enciclopédia acadêmica
pesada e inacessível para os leitores “meros mortais”. A própria figura de
Calvino tornou-se tão grande e intimidadora que afastou o povo dele e de suas
obras.
Mas seu objetivo primário era simplesmente tornar
conhecida pelos cristãos a grande e maravilhosa doutrina da salvação:
E
primeiro eu escrevi em latim, para que possa ser útil a todas as pessoas
estudiosas, de que nação seja qual for; depois, desejando comunicar
qualquer fruto que possa estar presente aos meus compatriotas franceses,
traduzi-o para a nossa própria língua.
O Latim naquele momento era como o inglês nos dias
atuais, de maneira que uma obra escrita ou traduzida para o Latim alcançava grande
parte do mundo e por esta razão abençoou tantas nações. Mas ele não se
contentou com isso e seguindo a linha de Lutero e dos humanistas cristãos, reproduz
sua obra na língua vernácula francesa tornando-a completamente acessível aos
seus contemporâneos em geral. Isso fala muito de sua paixão pela propagação do
evangelho e da mensagem de salvação nele contido.
Não
ouso prestar um testemunho muito forte a seu favor e declaro quão lucrativa
será sua leitura, para que eu não pareça valorizar muito meu próprio trabalho.
A humildade de Calvino transparece nessa frase prefacial,
ainda que quando da última edição muitos anos depois, ele tenha tido uma noção
do quanto seu trabalhou significou para tantas pessoas e nacionalidades em todo
o mundo. O orgulho e a arrogância são inimigos perniciosos que perseguem todo
líder, mas sem dúvida alguma, àqueles que devem conduzir o rebanho do Senhor
Jesus. Mas continua ele:
Contudo,
posso prometer isso, que será uma espécie de chave que abrirá a todos os filhos
de Deus um acesso correto e pronto à compreensão do volume sagrado.
Quem dera todo escritor cristão tivesse essa mesma
motivação; conduzir o povo de Deus para compreender cada vez melhor e
corretamente a Bíblia. E Calvino concluiu suas palavras iniciais aos leitores:
Portanto,
se nosso Senhor me der doravante os meios e a oportunidade de compor alguns
Comentários, usarei a maior brevidade possível, pois não haverá ocasião para
fazer longas digressões, visto que deduzi de maneira extensiva todos os artigos
que pertencem ao cristianismo.
Deus
atendeu o desejo de Calvino e ele escreveu comentários sobre quase todos os
livros da Bíblia. Mas segundo ele próprio, a chave para compreender
corretamente seus comentários bíblicos é a leitura antecipada das Institutas. E
aqui está a grande questão daqueles que desejam serem “calvinistas”, mas que
não utilizam a chave mestra para compreender suas obras e pensamentos.
Portanto, falar de João Calvino sem conhecer, de fato, sua
obra magna é no mínimo incoerência. Infelizmente os brasileiros que advogam
serem “calvinistas” em sua maioria nunca se querem leu ao menos um dos quatro
volumes[2]
desta obra preciosa do querido reformador genebrino – o que nos torna
contraditórios, pois somos “calvinistas” que não leem a obra magna de Calvino. Indico
apenas duas razões para essa lamentável deficiência:
- O
protestantismo presbiteriano (calvinista) desembarcou no Brasil no final dos
Oitocentos (160 anos) e para vergonha nossa essa obra escrita há quatro séculos
somente foi traduzida para o português em sua inteireza a pouco menos de vinte
anos, graças ao esforço do Rev. Waldir Luz de Carvalho, que o fez como trabalho
acadêmico para seu curso de doutorado na UNICAMP, que é uma Instituição de
matriz católica. O vexame não foi maior porque a Editora Presbiteriana encampou
o trabalho do erudito presbiteriano e fez a primeira edição em 2006.
-
O preço e a tradução gramatical utilizada pelo Rev. Waldir Luz, visto que era
um trabalho acadêmico, foram dois fatores negativos, de modo que os leitores
leigos não foram alcançados e na verdade, nunca houve essa disposição por parte
das denominações calvinistas estabelecidas no país. Essa atitude elitista
acadêmica tornou a obra de Calvino algo totalmente desconhecido por 90% dos
cristãos calvinistas brasileiros. O que foge em muito da proposta original de
Calvino, conforme exposto acima.
Utilização livre desde que citando a fonte
Guedes, Ivan Pereira
Mestre em Ciências da Religião.
me.ivanguedes@gmail.com
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[1] Segundo
os estudiosos o termo “Instituição” ou “Instituta” tem o significado de
“instrução” ou “manual”. Segundo o Dr. David Calhoun, um estudioso das
Institutas, poderíamos traduzir o título em latim como: “Manual de Instrução na
Religião Cristã”, ou simplesmente “Instrução Básica na Fé Cristã”.
[2] A
primeira edição continha 6 capítulos, editado em formato de livro com 10 por 15
centímetros com 520 páginas. Ao todo foram oito edições em latim e cinco
traduções para o francês. A última edição feita por Calvino (1559) se destaca
mesmo pela sua nova estrutura e organização, onde o material foi dividido no
formato atual de 4 volumes, e os capítulos se tornaram mais concisos,
transformando-se agora em 80 capítulos subdivididos em parágrafos, tudo para
facilitar a leitura.
Procure apresentar-se a Deus aprovado, como obreiro que não tem do que se envergonhar, que maneja corretamente a palavra da verdade. II Timóteo 2:15
ResponderExcluirEsse versículo pode ser divido em três seções distintas. Aprovado, que não tem de que se envergonhar e que maneja a bem a palavra da verdade. A palavra grega para “aprovado” é “dokimon” e significa aquele que passa no teste, por exemplo, no teste de uma moeda, para saber se ela era verdadeira ou falsa. Era assim que um leitor no contexto cultural que foi escrito a passagem de Timóteo entendia. “Dokimon” era um termo usado para aquele que se tornava verdadeiro depois de passar pelos testes de aptidão. Tal teste é por sua vez elevado, não é para todos, mesmo que alguns tenham algum conhecimento, não significa que sejam vocacionados. O obreiro aprovado é aquele que passa pelo crivo de um teste rigoroso. Portanto aqui está o padrão de um obreiro aprovado. Esse é o padrão exigido por Deus.
Para ser aprovado, em primeiro lugar deve estar submetido aos critérios das escrituras, apto para sofrer, que tenha um caráter de peso, irrepreensível na sua postura. Quero lembrar que irrepreensível não é ser infalível, mas simplesmente deve ser um homem que esteja inteiramente voltado para o progresso espiritual e para o crescimento constante através de um aperfeiçoamento, em segundo lugar deve estar pronto a moldar-se aos padrões divinos de um obreiro. Sofredor, humilde, submisso e lutador.
Deus quer nos usar! Vamos nos colocar à sua disposição para que Ele nos use nesses dias! Estamos dispostos a servir ao Senhor na sua obra?
Deixe-nos preparar-lhe para se sobressair na mente e no espírito. Vamos prepará-lo para aplicar conhecimento e fé juntos, para que você possa liderar o caminho.
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