Translate

domingo, 27 de maio de 2018

Nicolau Durand de Villegaignon: Um Cavaleiro de Malta e a Primeira Experiência Protestante no Brasil (Parte 1)



O Brasil foi oficialmente inserido na rota comercial ultramarina e transformado em celeiro da Europa com a chegada dos portugueses em 1500, portanto, no mesmo período em que a Europa experimentava a maior e mais ampla Reforma Religiosa ocidental, conhecida também por Reforma Protestante, iniciada na Alemanha pelo monge Martinho Lutero (1483-1546) e rapidamente fomentada em diversos países entre os quais a Suíça, onde seu reformador João Calvino (1509-1564) tornar-se-á  relevante para o Brasil, pois será através da Igreja Reformada Suíça que o país terá seu primeiro contado com essa nova forma religiosa cristã.
Todavia, a presença desse primeiro grupo genebrino de confissão de fé reformada, também conhecidos por huguenotes na França e calvinistas no restante do mundo em decorrência do centro teológico desenvolvido por João Calvino em Genebra, não se derivou de um projeto missionário elaborado e organizado, mas fruto de uma solicitação pessoal do francês Nicolas Durand de Villegaignon (1510-1571), que havia se estabelecido no território brasileiro com a finalidade de colonizar e explorar seus recursos econômicos oficialmente, pois os corsários[1] franceses a muitas décadas já o faziam com amplo conhecimento das autoridades francesas que os incentivavam e até apoiavam e da coroa portuguesa que os combatiam a todo custo.[2]
Uma das figuras mais controversas da iniciante história do Brasil e da primeira tentativa de se estabelecer um núcleo protestante no país, Villegaignon foi vilanizado pelos calvinistas através de dois registros: Jean de Léry[3] em seu livro de registro ocular dos fatos “Viagem à Terra do Brasil”,[4] que se tornou best-seller na França com inúmeras reedições e o livro “História dos Mártires”[5] de autoria de Jean Crespin.[6] Uma crônica ocular deste momento, mais favorável a Villegagnon, foi produzida André Thévet (1504-1592)[7] “Les singularités de la France Antartique”,[8] que o acompanhara ao Brasil, mas por motivos de enfermidade permaneceu apenas três meses (10 de novembro de 1555 a 31 de janeiro de 1556). Mais recentemente (1991) um historiador francês, Leonce Peillard, elaborou uma biografia “Villegagnon, Vice-amiral de Bretagne et Vice-roi du Brásil”[9] onde com base em pesquisas recentes oferece uma defesa de Villegagnon diante de mais de quatro séculos de acusação feita pelos calvinistas. 
Informações Biográficas de Villegaignon
Nascido na França em 1510, nas proximidades de Paris, em uma grande casa austera e imponente, localizado na 18 rue Saint-Thibaud em Provins,[10] hoje conhecida pelos famosos queijos Brie. Descendente da pequena nobreza[11] francesa teve oportunidade de estudar nas universidades em Paris e Orleans.[12] Durante este período conviverá academicamente com Jean Calvin (João Calvino); apesar das divergências polemistas protestantes, os dois jovens se dão bem, o pode ser visto em suas correspondências e que lhe possibilitara solicitar ajuda quando de sua futura e previa estadia no Brasil.
De acordo com Lucien Provencal ele foi descrito como sendo robusto, bem afeiçoado, hábil em todos os exercícios, somando-se a uma mente perspicaz, uma inteligência aguçada, resultante de seu cultivo das letras.
Em 1531 e apesar de não ter os dois quartos de nobreza exigida, mas sob a proteção de Philippe Villiers de l'Isle Adam, do qual não tinha nenhum parentesco consanguíneo,  consegue entrar na Ordem de Malta (Ordem de São João de Jerusalém) recém instala,[13] uma das ordens cristãs mais rigorosas, tendo como atividade inicial a função de correio diplomático do rei Francisco I. Combateu na Itália e fez parte da esquadra do imperador Carlos V quando de seu ataque a Argel (1541).[14] Devido a uma grande tempestade a frota imperial de dispersou, proporcionando aos sarracenos contra-atacar de maneira que a batalha foi intensa e Villegaignon com seus companheiros de Malta se sobressaiu, não sem um grave ferimento no braço esquerdo feito por uma lança. O legado do Papa Paulo III, presente, sublinha a bravura de Villegagnon:
um cavaleiro francês chamado Durand de Villegagnon jogando com impetuosidade entre os infiéis, foi ferido no braço esquerda com uma lança empurrada por um cavaleiro mouro, mas este piloto tendo perdido seu tiro de espadas, como o mouro estava girando seu cavalo para dar-lhe um segundo tiro, o cavaleiro que estava alto e de uma força proporcional à sua grandeza, esfaqueou-o e jogou no chão.[15]
Esse ato de bravura lhe proporcionou a boa vontade do Imperador que a tudo havia presenciado, chegando até mesmo ao Papa seus feitos. Em seu retorna à França (1942), após a batalha, foi recebido pelo rei Francisco I com duas das mais cobiçadas honrarias, reservadas à nobreza, lhe é concedido o privilégio de fazer parte do cortejo real e retornar a cavalo ao som do tamborete.
Mas sua participação e liderança no rapto da menina rainha Maria Stuart da Escócia, então com apenas com cinco anos, escondida no Castelo de Dunberton, que o rei francês Henrique II desejava casar com seu filho mais jovem, posteriormente Francisco II, lhe trouxe grande prestigio diante da realeza francesa.[16] Para os ingleses, Henrique VIII, envolto então em um processo próprio de reforma religiosa, sob a influência dos calvinistas, foi um duro golpe em suas pretensões políticas, pois almejavam incorporarem a Escócia, então católica, aos seus domínios. Como bem interpretou Mariz (2008): “Se Villegaignon tivesse fracassado e a menina capturada pelos ingleses, a história da Europa no século XVI poderia ter sido bem diferente”.
Outro feito notável de Villegaignon foi sua defesa da sede de sua Ordem de Malta, da invasão turca.[17] Em grande desvantagem numérica soube fortificar as defesas da ilha e impedir que os inimigos a tomassem. Tal proeza lhe proporcionou o título de Vice-almirante da Bretanha,[18] concedido por Henrique II.
Foi colocado como responsável em fortalecer o porto de Brest contra os corsários ingleses e espanhóis. Aqui toma conhecimento, através dos relatos dos marinheiros, da rica via comercial estabelecida no Brasil e encontra-se com André Thevet[19] e Guilherme Le Testu[20] que haviam retornado de uma viagem ao Brasil (1552)[21] e confirmaram as enormes possibilidades financeiras dessa rota comercial. Entusiasmado empreende pessoalmente uma viagem ao Brasil, com anuência de Henrique II, aportando em Cabo Frio (1554), escala preferencial dos navios franceses, pois haviam estabelecido amizade com os índios Tamoios (Tupinambás), que combatiam os portugueses.[22] Apesar desta expedição não ter chegado à Baia da Guanabara,[23] mas fundamentado nas informações anteriores de André Thevet, que ali estivera em duas ocasiões, elabora um arrojado projeto de implantar naquela região uma base naval e militar.[24] Ao retornar consegue atrair o apoio e incentivo do Almirante Gaspar de Chatillon, o conde de Coligny,[25] influente ministro do rei que via assim a possibilidade de consolidar os domínios franceses ultramarinos e também resolver o problema religioso que dilacerava a França, entre católicos e protestante (huguenotes[26]). Assim, consegue autorização do rei Henrique II para uma missão “secreta”[27] e com este apoio extraoficial consegue junto aos armadores e cortesãos dois navios armados, e recursos financeiros para a empreitada 10.000 francos.
Recrutamento de voluntários é muito difícil; enquanto o cavaleiro de Malta procura atrair religiosos e trabalhadores, vai ter de se contentar com a população carcerária. A tripulação é formada com um total de 590 homens dos quais apenas 20 de confissão de fé protestante e sendo alguns anabatistas que haverão de criar sérios problemas para o Almirante Villegaignon; há também uma guarda pessoal compostas por soldados escoceses e apenas uma única mulher, casada com um interprete da língua indígena, mas que será canibalizado posteriormente pelos próprios índios.
Estes tripulantes irão viajar em dois navios de 200 toneladas e uma nave-mãe de 100 toneladas, sem qualquer tipo de comodidade. Assistido por seu sobrinho Bois le Comte, Villegaignon, depois de uma tentativa em Brest, em 12 de julho de 1555, impedidos por forte tempestade que lhe dará baixa de alguns tripulantes, "mare vidit, mare fugit", disse ele, conseguiu finalmente partir de Dieppe em 14 de agosto de 1955. A travessia é marcada por uma troca de tiros de canhão com os Espanhóis das Ilhas Canárias, por lhes recusar abastecimento de água.
Finalmente os navios aportam na Baia da Guanabara em 10 de novembro de 1555, com sua tripulação heterogênea, para empreender seu projeto militar-econômico sem quaisquer características de cunho religioso-missionário. Seu contato com os indígenas da região foi pacifico, visto que a muito os franceses[28] se abasteciam dos produtos naturais brasileiro: pau-brasil, acaju, animais silvestres (papagaios, araras e micos), bem como pimenta. Sua amizade com Cunhambebe, chefe indígena, possibilitou uma convivência pacifica e o animou até mesmo aprender a língua tupi, do qual elaborou um pequeno dicionário tupi-francês em conjunto com André Thevet.
Imediatamente à sua chegada Villegaignon inicia a construção do forte Coligny[29] no alto de uma ilha, hoje identificada por esse nome. Defronte da ilha, na praia do Flamengo, iniciou a construção da primeira vila (1556), que homenageando o rei patrono Henrique II, recebe o nome de Henriville.[30] Corria ao lado o rio Carioca, que abastecia tanto o forte Coligny quanto as centenas de habitantes da vila Henriville, composta dos franceses e indígenas, nesse pequeno mosaico que foi denominada França Antártica.[31] Os franceses permaneceram na Guanabara por mais de dez anos (1555-1567).
Apesar de um início muito promissor, não tardou que os problemas começassem a avolumar.

Utilização livre desde que citando a fonte
Guedes, Ivan Pereira
Mestre em Ciências da Religião.
Universidade Presbiteriana Mackenzie
me.ivanguedes@gmail.com
Outro Blog
Reflexão Bíblica
http://reflexaoipg.blogspot.com.br/


Artigos Relacionados
Primeiros Contatos - Invasões Francesa e Holandesa
As Primeiras Aberturas ao Protestantismo
A Transferência da Família Real Portuguesa
Independência e a Primeira Constituição Brasileira 
James Cool Fletcher: o primeiro missionário presbiteriano no Brasil
Os Primeiros Convertidos e as Primeiras Igrejas Protestantes Brasileiras
O Trabalho Desenvolvido por Ashbel Green Simonton e Seus Companheiros
Baía da Guanabara no RJ: O Brasil dos primeiros missionários protestantes
O Protestantismo na capital de São Paulo: A Igreja Presbiteriana Jardim das Oliveiras. Dissertação (Mestrado em Ciências da Religião).
Um Protestante e a Primeira História Geral do Brasil - Robert Southey. http://historiologiaprotestante.blogspot.com.br/2017/05/um-protestante-e-primeira-historia_4.html

Referências Bibliográficas
BRITTO, Eduardo Bittencourt Chermont de. Villegaignon - O Rei do Brasil. 2a ed, Rio de Janeiro: Livraria Francisco, Alves Editora S. A., 2002.
CRESPIN, Jean. História dos Mártires.
GAFFAREL, Paul. Histoire du Brésil Français au XVIéme siécle; Paris, 1878, apud HATON, Claude Mémoires, pág, 36.
JOHNSTON, Thomas P. The Evangelistic Zeal of Calvin’s Geneva as Exemplified in Crespin’s Martyrology. EUA: Midwestern Baptist Theological Seminary, 2007. Disponível em:
http://www.evangelismunlimited.com/documents/Crespin.pdf. Acesso em: 25/06/2017.
KIDDER, Daniel P. e FLETCHER, James C. Brasil e os brasileiros (esboço histórico e descritivo). São Paulo: Companhia Editora Nacional. 1941.
KNAUSS, Paulo. Os corsários franceses no Brasil. Revista IHGB, Rio de Janeiro, a.170 (444): 83-102, jul./set. 2009. Disponível em: https://drive.google.com/open?id=0BydR8nHYLc_KUi03MlBpVUxwUUE. Acesso em: 21/06/2017.
LÉONARD, Émile-G. O protestantismo brasileiro: estudo de eclesiologia e história social. 2ª ed. Rio de Janeiro e São Paulo: JERP/ASTE, 1981.
LÉRY, Jean. Viagem à Terra do Brasil. Tradução: Sérgio Millet. São Paulo: Livraria Martins, 1941.

MARIZ, Vasco. Villegaignon e França Antártica. Revista IHGB, Rio de Janeiro, a.170 (444): 25-37, jul./set. 2009. Disponível em: https://drive.google.com/open?id=0BydR8nHYLc_KX0tBSlFxZTJzQzg. Acesso em: 23/06/2017.

MENDONÇA, Antonio Gouvêia e VELASQUES FILHO, Prócoro. Introdução ao protestantismo no Brasil, 2ª ed. São Paulo: Loyola, 2002.

PEILLARD, Leonce. Villegaignon, Vice-Amiral de Bretagne, Vice-Roi du Brésil. Paris: Editions Perrin, 1991.
PROVENCAL, Lucien. Nicolas Durand de Villegaignon. Conférence dum ardi 24 février 2009. [Société Hyéroise d’Histoire et d’Archéologie]. Disponível em http://editions-Villegaignons.com/Villegaignon_SHHA.pdf. Acesso em 20/06/2017.
REILY, Duncan Alexander. História documental do protestantismo no Brasil. 2ª impr. rev. São Paulo; ASTE, 1984.
SALVADOR, José Gonçalves e BRUAND, Yves. Os franceses na Guanabara - correspondência da França Antártica.
http://revhistoria.usp.br/images/stories/revistas/057/A009N057.pdf
SOUTHEY, Robert. História do Brasil, 3ª ed. Tradução de Luiz Joaquim de Oliveira e Castro. São Paulo: Obelisco, 1965. [seis volumes].
THÉVET, André. Les singularités de la France Antartique.




[1] A pirataria sempre existiu, todavia, a partir do século XVI surge a figura dos corsários ou piratas modernos, em decorrência da exploração do Novo Mundo ou América. Havia uma tênue distinção entre corsário e pirata: enquanto o primeiro carregava consigo documentos legais emitidos por órgãos governamentais e/ou reais, o segundo realizava as mesmas atividades sem respaldo documental. No caso de Villegagnon ele vinha munidos de documentos emitidos pelo governo francês.
[2] Era tão intensa a presença francesa na costa brasileira, em decorrência do comércio do pau-brasil, que o Brasil poderia tanto ser dos Perós, como eram chamados os portugueses pelos índios, como poderia vir a ser dos Mair, assim identificado os franceses pelos indígenas. (Capistrano de Abreu). O documento de registro mais antigo de francês no Brasil é de 1504 sobre o capitão Binot Paulmier de Gonneville que desejando chegar às Índias acaba por chegar às praias da Bahia e Pernambuco ou ainda Cabo Frio. Todavia, essa informação é hoje muito debatida e questionada.
[3] Chegou ao Brasil em sete de março de 1557 e retornou em quatro de janeiro de 1558, integrante do grupo de quatorze calvinistas enviados pela Igreja Reformada de Genebra. Então com vinte e dois anos, torna-se testemunha ocular dos fatos que posteriormente registra e publica na França. Ao retornar torna-se pastor calvinista, mas não se tem conhecimento de qualquer outra obra por ele produzida.
[4]  É uma obra etnográfica, de história natural e civil, onde expõe os fatos da expedição no Brasil pelo prisma dos calvinistas. Sua narrativa teve diversas edições em francês sendo a primeira em 1578 “Histoire d’um Voyage  fait em la Terre du Brésil”  (Rochelle) e em português a melhor é a de Sérgio Millet “Viagem à Terra do Brasil” 1941. Edita e publica seu livro em desagravo, segundo ele, das informações equivocadas publicadas por Thévet em seu livro “Singularidades”, prol Villegaignon.
[5] Entre os diversos livros editados por Crespin “Histoire Des Martyrs” certamente tornou-se o mais popular entre os cristãos reformados, pois seu objetivo é registrar a memória daqueles que morreram por causa da fé protestante, alcançando em torno de 580 pessoas. Publicado pela primeira vez em 1554 teve ao longo dos anos diversas edições com mudanças substanciais.
[6] Frances de nascimento tornou-se cidadão de Genebra (Suíça) em decorrência de sua fé protestante. Advogado por formação torna-se editor (1550), publicando mais de 257 livros em 20 anos, incluídos 53 de João Calvino e sua obra maior da teologia reformada as Institutas da Religião Cristã (1560), morreu em 1572 em decorrência da peste. Seu catálogo ainda que carregado de literatura prol Reforma, também contém livros de gramática e dicionários, livros de direito civil romano e de poesia grega com uma edição da Ilíada.
[7] Era cosmógrafo e sacerdote franciscano de Angoulêne e esteve no Brasil pelo menos em três ocasiões. De respeitável cultura produziu também uma Cosmografia (Cosmographie du Levant, Lyon, 1554-1556).
[8] Com base em suas observações do Brasil produziu uma obra caracteristicamente etnográficas de grande valor para o conhecimento dos grupos indígenas brasileiro e seus costumes, bem como descrições preciosas da flora e fauna daquele Brasil primitivo. Evidentemente que suas informações históricas são favoráveis a Villegagnon em relação aos desentendimentos com os calvinistas, ainda que sejam relegados a fato secundários em sua narrativa A primeira edição de “Les singularités” foi em Paris em 1558, mas a melhor edição foi a terceira, preparada por P. Gaffarel (Paris-1878) onde é incluída uma introdução bibliográfica e notas. No Brasil uma primeira edição: “Singularidades da França Antártica” (São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1944) com notas e introdução de Estevão Pinto (Brasiliana, v. 219). Na França foi nomeado cosmógrafo e historiógrafo e desenvolveu outras obras nessas áreas.
[9] Alguns por causa de sua cidadania francesa lhe dão o titulo de Vice-Almitrante da França, titulo que não existe. Também lhe atribuem o titulo de Vice-rei do Brasil, que jamais lhe foi outorgado oficialmente, pois sua permanência no Brasil foi de curtíssima duração.
[10] A casa transformou-se no Holy Cross College e atualmente a Faculdade Sainte Croix, porque e ficou famosa no cinema porque o diretor Louis Malle filmou nele em 1991 “Au revoir les enfants” (Adeus crianças).
[11] Seu pai, Louis, faz parte do Conselho do rei, procurador do bailio de Meaux e sacristão da paróquia. A família Durand recebe um título de nobreza por Francisco I, em 1516, onde tomam o nome Villegagnon ou Villegaignon (optamos pela segunda grafia).
[12] Aprende os clássicos e o Latim, versado também no italiano, grego antigo e moderno e espanhol.
[13] Ordem Militar dos Cavaleiros de São João de Jerusalém, com sede em Malta, destinada à proteção dos lugares santos da Palestina, da qual Villegagnon se tornou grão-mestre. A ordem era extremamente rica e possuía uma frota naval de fazer inveja a todos os reis católicos da Europa.
[14]  O propósito primário era combater os infiéis da Argélia, na África, mas um propósito secundário, como enviado do rei francês Francisco I, era observar os atos do Imperador Carlos V, que sonhava em transformar o Mediterrâneo em um lago espanhol. Na época, Villegagnon escreveu um pequeno livro em latim, relatando a desastrosa expedição de Carlos V a Argel. (MARIZ, 2008).
[15] Le légat du Pape Paul III, présent, souligne la bravoure de Villegagnon "un chevalier français appelé Durand de Villegagnon se jetant avec impétuosité au milieu des Infidèles, fut blessé au bras gauche d’un coup de lance que lui porta un cavalier maure, mais ce cavalier ayant manqué son coup de pique, comme le maure tournait son cheval pour lui donner un second coup, le chevalier qui était de haute taille et d’une force proportionnée à sa grandeur, le poignarda et e jeta à terre" (http://editions-villegagnons.com/villegagnon_SHHA.pdf).
[16] Mais tarde Maria Stuart veio a se casar com Francisco II, filho de Henrique II e a poderosa Catarina de Médicis.
[17] Até hoje podemos visitar, na velha capital M'Dina, a Villegagnon Street, homenagem de agradecimento do povo maltês pela sua defesa da ilha 450 anos atrás (MARIZ, 2008).
[18] Uma das mais expressivas condecorações da França e que alguns confundem colocando “Vice-Almirante da França”, título que não existe. Ainda, qualquer outro título dado a Villegagnon é apenas gentileza de seus historiadores, tais como o título de vice-rei do Brasil.
[19] Ele emitiu diversas correspondências ao Almirante Gaspar de Coligny, um dos principais ministros do rei Henrique II e huguenote, com detalhes da viagem e possibilidades comerciais do Brasil.
[20] Era cartógrafo, capitão e piloto com muita experiência em navegação pelo Atlântico, pois o havia atravessado por diversas vezes.
[21] Nesse mesmo ano o rei francês Henrique II, que havia herdado de seu pai um país empobrecido e endividado, assina o Tratado de Chambord com os príncipes protestantes alemães, entrando em conflito armado com o Imperador Carlos V, católico, rompe relações com Portugal e autoriza navios franceses a saquearem navios portugueses que comercializassem na rota do Brasil.
[22] Mas toda moeda tem dois lados, nesse caso, outra etnia índia os Terminós (Maracajás) habitavam a mesma região e eram inimigos históricos dos Tamoios, e posteriormente apoiaram os portugueses quando da expulsão dos franceses da Guanabara.
[23] De acordo com a historiadora Armelle Enders a baía do Rio de Janeiro prestava-se a este projeto, pois ficava situada na rota do estuário do rio da Prata e, consequentemente, do Alto Peru e de Potosí, cujas minas eram exploradas pelos espanhóis desde 1545.
[24] Esta viagem de verificação consta em diversos autores que tratam sobre Villegagnon: BRITTO (2002, p. 115-126), incluindo André Thevet e Guilherme Le Testu como participantes; PEILLARD (1991, P 98-99) o biografo mais recente e defensor de Villegagnon, também faz referência a esta viagem; GAFFAREL (1878) não encontrou comprovações desta viagem antecedente. Esta viagem de reconhecimento também não é mencionada nem por Jean de Léry e nem por André Thevet, os primeiros a fazerem relatos das ações de Villegagnon.
[25] Coligny é a grande eminência parda dos esforços franceses em estabelecer uma “França” na América. Além da França Antártica com Villegagnon (1555-1560), na América do Sul, também tentou em duas ocasiões faze-lo na Florida, América do Norte, com os capitães huguenotes Jean Ribault (1562) e René Laudonnière (1564-1565), fracassando em cada uma destas tentativas. Coligny era um dos grandes líderes dos huguenotes, nome dado aos protestantes franceses, e seu grande sonho era estabelecer uma “República Cristã” (cf. H. Lancelot de La Popeliniere, apud DAHER, p. 35, nota 2) de cunho reformado, para onde os huguenotes, pudessem se estabelecerem e expressarem sua fé livremente. Para isso contava com o apoio de João Calvino, francês, então líder reformador de Genebra (Suíça), cuja teologia naquele momento influenciava milhares de cristãos na França. Como líder dos huguenotes, depois de uma tentativa frustrada de ser assassinado, teve sua casa invadida e lançado para fora foi decapitado, na esteira do maior massacre de huguenotes franceses conhecido como “Noite de São Bartolomeu” (24 de agosto de 1572) onde mais de cem mil huguenotes foram mortos, deflagrando a Quarta Guerra da Religião (1572-1573).
[26] Vestido com trajes negros e sóbrios, um huguenote (do alemão eidgenossen – companheiro unido por juramento) era um francês que havia se tornado um protestante, pela influência da teologia oriunda de Genebra (Suíça) desenvolvida pelo líder reformador João Calvino, de nacionalidade francesa. O próprio Coligny não apenas apoiou a Reforma como tornou-se protetor dos huguenotes franceses.
[27] Os reis se utilizavam de um artificio jurídico – segredo régio – para camuflar seus apoios aos corsários que viajavam pelos mares saqueando e trazendo espólios e muitas vezes, como nesse caso, invadindo territórios alheios. Os portadores de documentos legais se distinguiam dos piratas não oficiais, como Paulo Knauss (2009) procura demonstrar: “Nos seus primórdios medievais é muito difícil distinguir os limites jurídicos da pirataria, definida como ação ilícita (ou forma de banditismo), e do corso, definido como empresa militar a serviço do interesse de Estado. Ao longo da Época Moderna foi que se definiram as bases jurídicas da empresa corsária legalizada como recurso de afirmação do poder de Estado no quadro das rivalidades nacionais. Sua base legal sustentava-se na concessão da carta de marca à iniciativa náutica, emitida por diferentes instâncias estatais, de acordo com a época e o país, e que distinguia o corso com o caráter de oficialidade e lhe atribuía distinção simbólica a partir da honorabilidade resultante da proximidade com a monarquia. Desse modo, o corso se constituiu no antecessor das marinhas nacionais europeias” (2009).
[28] Os índios chamavam os franceses de “papagaios amarelos” devido ao fato de falarem muito e terem cabelos amarelos.
[29] Em homenagem ao Almirante Gaspar de Coligny, um dos principais ministros do rei Henrique II, que intermediou e ajudou a levantar recursos para a empreitada, e tinha muito apresso por Villegagnon.
[30] Henriville foi a primeira aglomeração urbana européia na baía da Guanabara, o que dá a Villegagnon a primazia na região. Entretanto, não se lhe pode atribuir a ele o título de fundador da cidade do Rio de Janeiro, pois Henriville durou apenas quatro anos, sendo arrasada por Mem de Sá, em março de 1560, por ocasião do ataque da grande esquadra portuguesa contra o forte Coligny. Henriville não teve continuidade como povoação e seu marco de fundação desapareceu. A 1º de março de 1565, Estácio de Sá fundou a cidade do Rio de Janeiro na Urca e, depois da expulsão definitiva dos franceses, em 1567, ela foi transferida para o morro do Castelo. (MARIZ, 2008).

Um comentário: