Nasci em 1961, portanto, faço parte
de uma geração que ficou totalmente alienada dos fatos mais importantes e
relevantes que ocorreram na história mais recente do protestantismo brasileiro,
no meu caso particular, do presbiterianismo nacional.
Em uma daquelas raríssimas oportunidades
em que o protestantismo brasileiro teve de assumir a proeminência dos fatos
histórico da nação ele optou novamente, como o fez em outros infrequentes
momentos, por permanecer circunscrito aos seus limites de gueto religioso-eclesiástico.
Desde a década de trinta e
quarenta, mas acentuadamente na década de cinquenta, o protestantismo
brasileiro ascendeu a um nível de influência inédito no contexto
social-religioso do país. Alavancado por uma juventude engajada em todas as
esferas acadêmicas e sociais os evangélicos assumiram um papel proeminente nos
grandes movimentos que estavam ocorrendo dentro do Brasil. Municiados por
diversos organismos eclesiásticos interdenominacionais e com viés ecumênico,
tais como UCEB (União Cristã de
Estudantes do Brasil), ASTE (Associação
de Seminários Teológicos Evangélicos) e CEB
(Confederação Evangélica do Brasil), esta última com seu Setor de
Responsabilidade Social da Igreja (SRSI)
totalmente inserida na agenda do Conselho Mundial de Igrejas (CMI), forjaram uma liderança evangélica
protestante com percepção, sensibilidade e engajamento religioso-social, mas
que infelizmente foi completamente alijada de suas denominações evangélicas por
meio de suas lideranças eclesiásticas que optaram por um alinhamento com o
governo militar que dominou o país após o Golpe de 1964.
Entre as lideranças
evangélico-protestantes que estavam completamente inseridas neste momento
histórico, sem qualquer pretensão de exaurir uma longa lista, podemos citar: Waldo
César, Cirene Louro, Paulina Steffen, Homero Silva, Esdras Borges Costa,
Lysâneas Maciel, Elter Maciel, Rubem Alves, Júlio de Santa Ana, Zwinglio Dias e
Rubem César Fernandes. A grande figura catalizadora desta juventude foi o
missionário americano Rev. Richard Shaull com seus conceitos teológicos,
sociais, ecumênicos, sua dialética sutil e seu discurso eloquente fascinou-os e
produziu um impacto profundo na mente, na fé e na vida deles; se estes jovens
tinham um ideal – o Evangelho, Shaull
lhes dá uma bandeira, uma meta, um
objetivo, um propósito: e toda esta
geração de jovens presbiterianos em particular e protestantes de forma geral jamais
puderam pensar no Evangelho da mesma forma, depois de Shaull.
O ápice culminante deste momento
diferenciado e único do protestantismo brasileiro vai ser a chamada CONFERÊNCIA
DO NORDESTE, a quarta e infelizmente a última das Consultas promovidas pelo
Setor de Responsabilidade Social da CEB. Recebe esta nomenclatura porque foi
realizada em Recife, que naquele momento era um triste modelo de toda sorte de miséria
e abandono das políticas públicas, que se multiplicava em toda geografia
brasileira. Foi realizada em 1962, portanto imediatamente após a industrialização promovida por JK e às portas do golpe militar que
ocorreria em 1964, e esta Conferência trazia um tema explosivo naquele momento
histórico, “Cristo e o Processo
Revolucionário Brasileiro”.
Esta última consulta proporcionou
uma visibilidade para os protestantes brasileiros que em nenhum outro momento
haviam experimentado antes. O governador do estado de Pernambuco participou de
algumas reuniões e o presidente João Goulart enviou um representante a Recife.
Diversos jornais de Recife e de São Paulo noticiaram o evento, alguns com
manchetes em primeira página. Também atraiu a presença de figuras eminentes na
esfera intelectual nacional como Gilberto Freyre, Paul Singer, Juarez Brandão
Lopez e Celso Furtado entre os seus palestrantes; contou com 167 delegados de
17 Estados, representando 14 denominações
protestantes, e delegados de 5 igrejas de outros países Estados Unidos,
México e Uruguai.
Por tudo isso e muito mais,
torna-se indispensável a todos os evangélicos brasileiros, que como eu foram
privados do conhecimento destes fatos, tomarem ciência de que em algum
momento tivemos a oportunidade de fazermos a diferença nos destinos desta
nação. Ao lermos a Crônica da Conferência do Nordeste poderemos ter aquela
sensação e quem sabe o alento de que é possível harmonizar uma fé genuinamente bíblica
com uma atuação contundente nas mais diversas esferas da sociedade brasileira.
“Quem não
pôde comparecer a Recife nos últimos dias de julho de 1962 terá aqui um roteiro
caprichosamente/elaborado que lhe dará o itinerário percorrido e, de certo
modo, as perspectivas para novas caminhadas”.
(Prefácio – Rev. Amantino Adorno Vassão).
Utilização livre desde que citando a fonte
Guedes, Ivan Pereira - Mestre em Ciências da Religião
ivanpgds@gmail.com
Guedes, Ivan Pereira - Mestre em Ciências da Religião
ivanpgds@gmail.com
A CONFERÊNCIA DO NORDESTE (Cristo e o
processo revolucionário brasileiro)
Crônica da Conferência do
Nordeste promovida pelo Setor de Responsabilidade Social da Igreja do Departamento
de Estudos da Confederação Evangélica do Brasil
Recife, de 22 a 29 de julho
de 1962.
http://www.4shared.com/office/gDSksNJ4/MOCIDADE_-_A_CONFERNCIA-DO-NOR.html
O Reverendo João Dias foi um dos palestrantes cujo o tema foi: "A revolução do Reino de Deus". Esse Conferência foi um marco na História do Protestantismo brasileiro.
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