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quarta-feira, 23 de outubro de 2013

FICHÁRIO (Livro) A CONFERÊNCIA DO NORDESTE (Cristo e o processo revolucionário brasileiro)


Nasci em 1961, portanto, faço parte de uma geração que ficou totalmente alienada dos fatos mais importantes e relevantes que ocorreram na história mais recente do protestantismo brasileiro, no meu caso particular, do presbiterianismo nacional.
Em uma daquelas raríssimas oportunidades em que o protestantismo brasileiro teve de assumir a proeminência dos fatos histórico da nação ele optou novamente, como o fez em outros infrequentes momentos, por permanecer circunscrito aos seus limites de gueto religioso-eclesiástico.
Desde a década de trinta e quarenta, mas acentuadamente na década de cinquenta, o protestantismo brasileiro ascendeu a um nível de influência inédito no contexto social-religioso do país. Alavancado por uma juventude engajada em todas as esferas acadêmicas e sociais os evangélicos assumiram um papel proeminente nos grandes movimentos que estavam ocorrendo dentro do Brasil. Municiados por diversos organismos eclesiásticos interdenominacionais e com viés ecumênico, tais como UCEB (União Cristã de Estudantes do Brasil), ASTE (Associação de Seminários Teológicos Evangélicos) e CEB (Confederação Evangélica do Brasil), esta última com seu Setor de Responsabilidade Social da Igreja (SRSI) totalmente inserida na agenda do Conselho Mundial de Igrejas (CMI), forjaram uma liderança evangélica protestante com percepção, sensibilidade e engajamento religioso-social, mas que infelizmente foi completamente alijada de suas denominações evangélicas por meio de suas lideranças eclesiásticas que optaram por um alinhamento com o governo militar que dominou o país após o Golpe de 1964.
Entre as lideranças evangélico-protestantes que estavam completamente inseridas neste momento histórico, sem qualquer pretensão de exaurir uma longa lista, podemos citar: Waldo César, Cirene Louro, Paulina Steffen, Homero Silva, Esdras Borges Costa, Lysâneas Maciel, Elter Maciel, Rubem Alves, Júlio de Santa Ana, Zwinglio Dias e Rubem César Fernandes. A grande figura catalizadora desta juventude foi o missionário americano Rev. Richard Shaull com seus conceitos teológicos, sociais, ecumênicos, sua dialética sutil e seu discurso eloquente fascinou-os e produziu um impacto profundo na mente, na fé e na vida deles; se estes jovens tinham um ideal – o Evangelho, Shaull lhes dá uma bandeira, uma meta, um objetivo, um propósito: e toda esta geração de jovens presbiterianos em particular e protestantes de forma geral jamais puderam pensar no Evangelho da mesma forma, depois de Shaull.
O ápice culminante deste momento diferenciado e único do protestantismo brasileiro vai ser a chamada CONFERÊNCIA DO NORDESTE, a quarta e infelizmente a última das Consultas promovidas pelo Setor de Responsabilidade Social da CEB. Recebe esta nomenclatura porque foi realizada em Recife, que naquele momento era um triste modelo de toda sorte de miséria e abandono das políticas públicas, que se multiplicava em toda geografia brasileira. Foi realizada em 1962, portanto imediatamente após a industrialização promovida por JK e às portas do golpe militar que ocorreria em 1964, e esta Conferência trazia um tema explosivo naquele momento histórico, “Cristo e o Processo Revolucionário Brasileiro”.
Esta última consulta proporcionou uma visibilidade para os protestantes brasileiros que em nenhum outro momento haviam experimentado antes. O governador do estado de Pernambuco participou de algumas reuniões e o presidente João Goulart enviou um representante a Recife. Diversos jornais de Recife e de São Paulo noticiaram o evento, alguns com manchetes em primeira página. Também atraiu a presença de figuras eminentes na esfera intelectual nacional como Gilberto Freyre, Paul Singer, Juarez Brandão Lopez e Celso Furtado entre os seus palestrantes; contou com 167 delegados de 17 Estados, representando 14 denominações protestantes, e delegados de 5 igrejas de outros países Estados Unidos, México e Uruguai.
Por tudo isso e muito mais, torna-se indispensável a todos os evangélicos brasileiros, que como eu foram privados do conhecimento destes fatos, tomarem ciência de que em algum momento tivemos a oportunidade de fazermos a diferença nos destinos desta nação. Ao lermos a Crônica da Conferência do Nordeste poderemos ter aquela sensação e quem sabe o alento de que é possível harmonizar uma fé genuinamente bíblica com uma atuação contundente nas mais diversas esferas da sociedade brasileira.
“Quem não pôde comparecer a Recife nos últimos dias de julho de 1962 terá aqui um roteiro caprichosamente/elaborado que lhe dará o itinerário percorrido e, de certo modo, as perspectivas para novas caminhadas”. (Prefácio – Rev. Amantino Adorno Vassão).

Utilização livre desde que citando a fonte
Guedes, Ivan Pereira - Mestre em Ciências da Religião
ivanpgds@gmail.com


A CONFERÊNCIA DO NORDESTE (Cristo e o processo revolucionário brasileiro)
Crônica da Conferência do Nordeste promovida pelo Setor de Responsabilidade Social da Igreja do Departamento de Estudos da Confederação Evangélica do Brasil
Recife, de 22 a 29 de julho de 1962.

http://www.4shared.com/office/gDSksNJ4/MOCIDADE_-_A_CONFERNCIA-DO-NOR.html

Um comentário:

  1. O Reverendo João Dias foi um dos palestrantes cujo o tema foi: "A revolução do Reino de Deus". Esse Conferência foi um marco na História do Protestantismo brasileiro.

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