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sábado, 5 de outubro de 2013

RUPTURA: Uma Marca Distintiva do Protestantismo (1)


INTRODUÇÃO
            Inicio com este texto uma pequena série relacionada a uma das questões mais delicadas no meio do protestantismo mundial e nacional – a questão da ruptura eclesiástica.
Quando falamos de protestantismo [1] imediatamente somos arremetidos para a Reforma Protestante ocorrido no século XVI, cuja uma de suas máximas foi “Ecclesia Reformata semper est reformando” (a igreja reformada sempre está se reformando),[2] que soa romanticamente aos ouvidos como uma proposta de humilde disposição em permanentemente reexaminar posições e opções e de forma conciliar e harmoniosa buscar se adequar aos novos tempos e novas perspectivas.
            Entretanto, quer seja nos primórdios da Reforma, como nos séculos posteriores ou ainda neste momento histórico, este lema forjado na bigorna reformada, nunca deixou de ser uma utopia, pois em qualquer época em que por alguma razão ou motivo se propôs qualquer que seja as mudanças nas esferas eclesiástica ou teológica, sempre se encontrou no meio protestante uma atitude de intransigência e intolerância, culminando sempre em um processo de ruptura, desprezando quase completamente toda e qualquer possibilidade de uma conciliação de novas ideias e mudanças.
Torna-se relevante estes artigos, ainda que seja tão somente uma análise introdutória sobre o tema, pois oferece uma revisão histórica desta síndrome cismática do protestantismo que permeia também seus ramos transplantados no Brasil, nos possibilitando uma avaliação e autocrítica da nossa própria herança e, por conseguinte, a um enriquecimento profundo da vivência da fé evangélico-protestante.
            Como cientista da religião a análise critica com que estes textos foram elaborados não trás em si qualquer ressentimento ou desejo de depreciar o legado protestante brasileiro, ao contrário, o esforço é fazer um retrospecto histórico que permite aos protestantes brasileiros compreenderem, discernirem e acolherem com maior firmeza por novos ângulos sua própria experiência cristã atual.
No primeiro momento procuro fazer uma retrospectiva histórica do movimento reformado e suas primeiras cismas. Darei uma maior atenção na Reforma ocorrida na Inglaterra, visto ser ela a célula mater das representações reformadas que haverão de se instalar em nosso país.[3]
            Saindo da Inglaterra temos que passar, ainda que rapidamente, pelo hemisfério norte, pois com seu desenvolvimento do conceito denominacional haverá de cristalizar definitivamente a ruptura como a via mais fácil para todo e qualquer impasse eclesiástico/teológico.
            Quando nos transportamos para o Brasil haveremos, com facilidade, de identificar desde seus primórdios, diversos ramos protestantes se empenhando simultaneamente, mas não conjuntamente, para se instalarem no país.[4] Sendo um destes ramos o presbiterianismo e que ainda em sua formação primitiva produz e reproduz em seu seio uma sequência de rupturas motivadas por divergências eclesiásticas e teológicas.
Acredito que esta série de artigos trará uma singela contribuição para o grande esforço que se faz no Brasil desde a década de 70 do século XX, por meio de seus centros acadêmicos, de se fazer uma abordagem despida de apologética e eufemismo, no que concerne ao campo religioso brasileiro, reforçando importância dos estudos sobre religião e a sua relação com a cultura e sociedade contemporânea.
Entretanto, ainda que muitos estudiosos acabem por se tornarem um tanto céticos quanto às mudanças que possam vir a ser efetuadas na pratica da instituição ou mesmo no “modus vivendi” de suas lideranças, compartilho da expectativa romântica de nosso querido pesquisador da religião, Antônio G. Mendonça, que ao escrever sua tese sobre a questão cúltica evangélica trouxe uma contribuição inegável para expansão das fronteiras do estudo do protestantismo brasileiro, ele declara que desejava “contribuir para a crítica – e se possível para a renovação – do culto protestante no Brasil” (1990, p. 146). Minha modesta contribuição com estes textos esta também gestada desta romântica esperança, que nos permite olhar o futuro com um pouco menos de pessimismo.


Utilização livre desde que citando a fonte
Guedes, Ivan Pereira
Mestre em Ciências da Religião
ivanpgds@gmail.com



Referência Bibliográfica

MENDONÇA, Antonio Gouvêia. O celeste porvir - a inserção do protestantismo no Brasil. São Paulo: Ed. Paulinas, 1990.

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[1] O termo "protestante" tem origem no protesto de seis príncipes luteranos e 14 cidades alemãs em 19 de abril de 1529. quando a segunda dieta de Speyer. convocada pelo imperador Carlos V, revogou uma autorização concedida três anos antes para que cada príncipe determinasse a religião de seu próprio território. O termo foi logo adotado, de início pelos católicos e logo a seguir pelos próprios partidários da Reforma, pois seu protesto, entendido como uma rejeição à autoridade de Roma, constituiu um claro sinal às diversas igrejas que se declaravam reformadas. 
[2]Esta expressão (em latim) quer significar que a Igreja deve estar em contínuo processo de atualização e contextualização da mensagem cristã para enfrentar os desafios do mundo contemporâneo e os dilemas do ser humano moderno. Sua autoria é atribuída a um teólogo holandês chamado Gisbertus Voetius (1589-1676), e foi elaborada no contexto das ardentes discussões do Sínodo de Dort (1618-1619), realizado pela Igreja Reformada Holandesa (na cidade de Dordrecht), evento demarcante da grande cisão teológica vigente até hoje entre calvinistas e arminianos.
[3] A processo de Reforma na Inglaterra dará origem à Igreja Anglicana comandada pelo rei. Esta foi a primeira igreja protestante autorizada pelo então rei Dom João VI, no período em que a Corte Portuguesa se instalou no Brasil fugindo de Napoleão e seus exércitos,  a praticarem livremente sua forma de culto e também coube a eles a construção do primeiro templo protestante no país.
[4] As primeiras denominações protestantes a se estabelecerem de fato no Brasil foram: Episcopais, Congregacionais, Metodistas, Presbiterianos, Batistas, chamadas também de igrejas históricas, para se diferenciar das demais denominações que foram implantadas ou surgiram em um período posterior. Nos primeiros cinquenta anos o presbiterianismo expandiu fortemente no país, porém, na pratica antropofágica em consequência das rupturas internas, perdeu sua pujança e dinamismo.

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