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domingo, 20 de outubro de 2013

FICHÁRIO [Biografia] Marcião de Sínope

Marcião (85-160 d.C.)
http://historiologiaprotestante.blogspot.com.br/

MARCIÃO (usa-se também a grafia - Marcion – em grego: Μαρκίων) viveu entre os anos 85-160 d.C (75 anos) e nasceu na cidade do Ponto, naquele momento uma Província de Roma (atual Turquia) e segundo informações foi um armador [construtor e dono de navios] prospero. De família cristã, seu pai exercia a função de bispo, em 139 d.C. ele vai morar na cidade de Roma e por um curto período de tempo permanece como membro da Igreja Cristã ali estabelecida. Neste pouco tempo começa a ensinar princípios derivados de suas próprias interpretações do ensino cristão encontrando forte resistência por parte da liderança eclesiástica, de maneira que, não encontrando apoio em sua tentativa de reformar a Igreja, ele rompeu em cerca de 140 d.C., acabando por fundar uma nova igreja onde desenvolve grande atividade. Viajando, com certeza inspirado no Apóstolo Paulo e seu grande modelo de cristão e cristianismo, vai estabelecendo suas comunidades praticamente em todas as províncias do Império Romano. Certamente ele fez forte proselitismo dentro das comunidades cristãs que ainda estavam em formação estrutural eclesiástico-teológica, na transição do período pós-apostólico e, portanto, ainda facilmente atraídas às novas ideias propostas por de Marcião, bem como atraiu grande parcela dos gnósticos que viam muitas concepções semelhantes nas formulações teológicas marcionita. Suas comunidades manteve a estrutura eclesiástica das comunidades cristãs, o que tornava ainda mais difícil de distinguir as igrejas marcionitas das igrejas cristãs. Ele expandiu rapidamente seu conceito através de suas inúmeras viagens, provavelmente seguindo seu modelo preferido o Apóstolo Paulo, e as comunidades que levam o seu nome foram estabelecidas em todas as províncias do Império. Em cerca de 150 d.C. dizia-se que a mensagem marcionita havia de espalhado por todo o mundo (κατα παν γενος αθρωπων), e por volta do ano 155 d.C., os marcionitas  já eram numerosos em Roma. Até sua morte, no entanto, Marcião não desistiu do propósito de unificar toda a cristandade em torno de suas concepções teológicas. Sem dúvida alguma Marcião foi a liderança que mais ameaçou a expansão do cristianismo ainda em seus primórdios, produzindo o que poderia ser denominado a primeira grande ruptura na igreja cristã. Se as concepções teológicas marcionitas tivessem prevalecido certamente teríamos um cristianismo totalmente diferente deste que temos hoje. Ao estabelecer para ele e seus seguidores uma espécie de Cânon bíblico, onde eliminava todo o Primeiro Testamento (pois entendia que o Deus ali revelado com Sua justiça implacável era uma criação legalista dos judeus, que se contrapunha ao Deus da graça [revelado em Jesus] da mensagem evangélica) e por esta razão seleciona parte dos escritos que compõe hoje o Segundo Testamento (dos Evangelhos apenas o segundo Lucas e das epístolas somente as cartas paulinas), pois entendia que os demais escritos estavam
Marcião e seu Cânon
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contaminados pelo judaísmo; deste modo Marcião coloca pressão nas lideranças cristãs que se viram na necessidade de, colocando diferenças de lado, definir um Cânon cristão, pois alguns livros geravam discussões; outros estudiosos veem na elaboração do primeiro Credo cristão (Credo Apostólico) uma resposta às ideias ensinadas por ele e também a partir dele a Igreja cristã percebe a necessidade de estabelecer sua ortodoxia, definindo o que e como os cristãos devem crer.
Percebe-se nitidamente a importância deste movimento religioso divergente dentro do cristianismo iniciante, pelo fato de que os maiores pensadores e elaboradores da ortodoxia cristã combatem sistemática e violentamente toda e quaisquer ideia oriunda de Marcião, visto por estes líderes como uma grande ameaça à Igreja Cristã e sua mensagem. Entre estes líderes, denominados de Pais da Igreja, temos: Justino Mártir, Irineu, Epifânio e Tertuliano, tendo este último escrito cinco livros combatendo os posicionamentos de Marcião.
Dos primeiros movimentos internos do Cristianismo com certeza este protagonizado por Marcião foi um dos maiores em sua repercussão. Separou o Cristianismo de suas raízes históricas de modo radical. Ousou tocar em doutrinas fundamentais do Cristianismo, a encarnação real de Jesus; desautorizou o Primeiro Testamento, e teve a ousadia de colocar Deus (da bíblia hebraica) no banco dos réus.
         Tudo isto pode parecer inverossímil nestes nossos dias, mas em seu contexto histórico próprio havia muitas justificativas para protesto de tal sorte. A voz destoante de Marcião atendia na verdade a um anseio crescente contra toda espécie de legalismo, que estava agonizantemente tentando sobreviver incubado dentro do Cristianismo.
É muito cômodo “crucificarmos” Marcião, o difícil mesmo é termos a mesma ousadia que ele teve de ir contra a maioria e defender suas idéias. O Cristianismo com certeza não seria o que é e bem provavelmente não chegaria tão longe quanto chegou sem os “Marciãos” que exigem permanentemente uma auto-depuração da igreja cristã e sua ortodoxia. De forma mais positiva esta busca continua por uma integridade da mensagem bíblico-evangélica pode ser vista nas motivações e repercussões da Reforma Religiosa do século XVI, iniciada por Martinho Lutero e demais reformadores, que desejavam tão somente que a Igreja permanecesse dentro dos limites da mensagem bíblico-evangélica.


Utilização livre desde que citando a fonte
Guedes, Ivan Pereira - Mestre em Ciências da Religião
ivanpgds@gmail.com


Referências Bibliográficas
ALMEIDA, Joãozinho Thomaz de, As Marcas de Cristo na História dos Homens, edição do autor, Rio de Janeiro, 1989, pp.79-80.
BLACKMAN, E.C. Marcion and His Influence. London, Great Britain: S.P.C.K., 1948.
BOUTRUCHE, Robert e LAMERLE, Paul. Judaísmo e Cristianismo Antigo de Antíoco Epifânio a Constantino, ed. Pioneira, São Paulo, 1987.
BRUCE, F. F. The Canon of Scripture. Downers Grove, IL: Intervarsity Press, 1988.
DREHER, Martin N. Coleção História da Igreja, v.1, A Igreja no Império Romano, ed. Sinodal, São Leopoldo, 2002.
GUEDES, Ivan P. Marcião – uma voz discordante. [Pesquisa apresentada no curso de Pós-Graduação Latu Sensu - Formação de Docentes em História do Cristianismo–Universidade Metodista de Piracicaba - Prof. Eduardo Hoornaert]. http://reflexaobiblica.spaceblog.com.br/173582/MARCIAO-E-O-CANON-DO-NT/
HARNACK, Adolf von. Marcion, The Gospel of the Alien God. Durham, NC: The Labyrinth Press, 1924.

LATOURETTE, Kenneth Scott. The History of Christianity, v. 1. Peabody, MA: Prince Press Prince Press Edition, 2005. 

2 comentários:

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

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  2. Entendo que, difícil mesmo, é ter a ousadia que tiveram os pais da igreja, que lutaram contra as perigosas heresias. Admirável são aqueles que são instrumentos de Deus defendendo as verdades da fé cristã.

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