Período Inicial da Reforma
É facilmente perceptível na
história do protestantismo uma opção pela ruptura ou cisma como instrumento para tratar as
divergências quer sejam de ordem teológica ou eclesiástica. Boisset discorrendo sobre o que é o protestantismo,
declara que como Igreja vem ao longo dos séculos “procurando unificar-se, muito embora, isto dificilmente chegue a
concretizar-se em razão dos movimentos intestinos que a convulsionam”
(1971, p. 9).
O movimento protestante que surge com toda sua força no século XVI
e torna-se o fomento de
uma das maiores rupturas no seio da igreja cristã ocidental em todas as épocas,
é um tsunami produzido pelos contínuos abalos sísmicos que estiveram ocorrendo
em todo o processo histórico da igreja cristã ocidental como indica Fisher: “nunca existiu uma crise histórica cuja
preparação tem sido tão elaborada, e isto por meio de uma cadeia de causas
cujas relações se entendem aos mais remotos tempos” (1984, p. 43-44).
O movimento reformista do
século XVI, como afirma Fernandez-Armesto, não dividiu uma igreja monolítica:
“A
Reforma, portanto, não introduziu as inovações comumente atribuídas a ela: não
rachou uma Igreja monolítica; não introduziu heresias inéditas; não gerou as
primeiras igrejas nacionais. Em vez de ser um novo ponto de partida na história
da Igreja, derivou de tradições vindas de longa data, uma forma de diversidade
já antiga. A Igreja pós-reforma ficou mais diversificada do que antes, mas essa
diferença foi em grau, em vez de ser em espécie.” (1997, p. 21).
Portanto, deve-se falar não
de Reforma, mas de Reformas na Europa, como indica Fisher:
[A
Reforma] na verdade, era um movimento
muito complexo, diferenciado em si, com várias correntes [...]. Houve
correntes adeptas de uma Reforma mais radical ou de uma Reforma mais
espiritual. Na Inglaterra surgiu o Anglicanismo. [...] Em nossos dias há uma
tendência de prestar mais atenção à diferenciação do movimento da Reforma
protestante. Em vez de se falar da
Reforma, fala-se das Reformas na
Europa. (FISHER, 2006, p. 12 – [grifo do autor]).
Desta forma, como tão bem
expressa o Drº João Baptista B. Pereira "Protestante
é o nome genérico e historicamente enraizado, adotado por alguns autores para
dar rótulo a um arco de denominações..." (2005. p. 105). Ainda que MartinhoLutero e os demais reformadores contemporâneos não estivessem imbuídos deste
espírito fracionário, pois até então conheciam apenas uma igreja e se desejava
a continuidade dessa igreja, apesar das excomunhões, o resultado histórico
final foi a divisão eclesiástica. Ao
derredor dos grandes expoentes da reforma dá-se origem a igrejas distintas.[1]
Apesar de em diversos
momentos, tais lideranças expressem forte desejo de buscar uma unidade
teológica eclesiástica, e empenhem esforços consideráveis neste sentido,
historicamente isto não foi alcançado, como tão bem descreve Martin Dreher ao
afirmar que a Igreja “fragmentou-se em
Igrejas Territoriais, que em seu interior muitas vezes souberam manifestar
pouco da liberdade evangélica” (1996, p. 13), de maneira que o surgimento
desta pluralidade protestante continuou ao longo dos séculos fomentando outros
movimentos de rupturas até os dias atuais.[2]
Utilização livre desde que citando a fonte
Guedes, Ivan Pereira
Mestre em Ciências da Religião
Referência Bibliográfica
ARMESTO-FERNÁNDES, Felipe e WILSON, Derek. Reforma:
o cristianismo e o mundo 1500-2000. Trad. Celina
Cavalcante Falck. Rio de
Janeiro: Record, 1997.
Janeiro: Record, 1997.
AZEVEDO, Israel Belo de. A celebração do indivíduo: a formação do
pensamento batista brasileiro. Piracicaba; Editora
UNIMEP/Exodus, 1996, p.63).
BOISSET, J. História do protestantismo. São Paulo: Difusão Européia, 1971.
DANIEL-ROPS.
A igreja da renascença e da reforma I: a reforma protestante. São Paulo: Ed.
Quadrante, 1996, p. 435.
DREHER, MARTIN N. A crise e a renovação da igreja no período da Reforma. São
Leopoldo: Sinodal, 1996. (Coleção História da Igreja, v.3).
FISHER, Jorge P. Historia de la reforma Barcelona: Ed. CLIE, 1984.
FISHER, Joachim H. Reforma – renovação da igreja pelo evangelho. São Leopoldo: Ed. Sinodal e EST, 2006.
LATOURETTE,
Kenneth Scott. Uma história do
cristianismo - volume II: 1500 a 1975 a.D. São Paulo: Editora Hagnos, 2006.
LINDSAY, Tomas M. Historia de la Reforma, v.2, ed. La Aurora e Casa unida de
Publicaciones, 1959.
PEREIRA, João Baptista Borge. "Identidade protestante no Brasil
ontem e hoje". In BIANCO. Gloecir: NICOLINI. Marcos (orgs.). Religare:
identidade, sociedade e
espiritualidade. São Paulo: Ali Print Editora. 2005.
espiritualidade. São Paulo: Ali Print Editora. 2005.
POLLARD,
Albert Frederick. Thomas Cranmer and the and the english
reformation (1489-1556). London : G. P. Putnam’s Sons, 1906.
Zabriskie,
Alexander C. Anglican Evangelicalism. Philadelphia, 1999.
[1]
Infelizmente hoje as igrejas se formam ao redor de figuras medíocres.
[2]
A disparidade e a progressiva subdivisão das igrejas protestantes (luteranos, calvinistas, anglicanos etc.) decorreram
de seu próprio princípio original: a interpretação pessoal das Sagradas
Escrituras sob a luz do Espírito Santo. A ênfase dada por algumas
dessas igrejas aos Evangelhos como norma de vida e da experiência
pessoal da conversão acabou por provocar o aparecimento de duas tendências no seio do protestantismo: a liberal e a fundamentalista, autodenominada evangélica.
pessoal da conversão acabou por provocar o aparecimento de duas tendências no seio do protestantismo: a liberal e a fundamentalista, autodenominada evangélica.
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