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segunda-feira, 7 de outubro de 2013

PROTESTANTISMO: Ruptura Uma Marca Distintiva do Protestantismo (2)


Período Inicial da Reforma

É facilmente perceptível na história do protestantismo uma opção pela ruptura ou cisma como instrumento para tratar as divergências quer sejam de ordem teológica ou eclesiástica. Boisset discorrendo sobre o que é o protestantismo, declara que como Igreja vem ao longo dos séculos “procurando unificar-se, muito embora, isto dificilmente chegue a concretizar-se em razão dos movimentos intestinos que a convulsionam” (1971, p. 9).
O movimento protestante que surge com toda sua força no século XVI e torna-se o fomento de uma das maiores rupturas no seio da igreja cristã ocidental em todas as épocas, é um tsunami produzido pelos contínuos abalos sísmicos que estiveram ocorrendo em todo o processo histórico da igreja cristã ocidental como indica Fisher: “nunca existiu uma crise histórica cuja preparação tem sido tão elaborada, e isto por meio de uma cadeia de causas cujas relações se entendem aos mais remotos tempos” (1984, p. 43-44).
O movimento reformista do século XVI, como afirma Fernandez-Armesto, não dividiu uma igreja monolítica:
“A Reforma, portanto, não introduziu as inovações comumente atribuídas a ela: não rachou uma Igreja monolítica; não introduziu heresias inéditas; não gerou as primeiras igrejas nacionais. Em vez de ser um novo ponto de partida na história da Igreja, derivou de tradições vindas de longa data, uma forma de diversidade já antiga. A Igreja pós-reforma ficou mais diversificada do que antes, mas essa diferença foi em grau, em vez de ser em espécie.” (1997, p. 21).
Portanto, deve-se falar não de Reforma, mas de Reformas na Europa, como indica Fisher:
[A Reforma] na verdade, era um movimento muito complexo, diferenciado em si, com várias correntes [...]. Houve correntes adeptas de uma Reforma mais radical ou de uma Reforma mais espiritual. Na Inglaterra surgiu o Anglicanismo. [...] Em nossos dias há uma tendência de prestar mais atenção à diferenciação do movimento da Reforma protestante. Em vez de se falar da Reforma, fala-se das Reformas na Europa. (FISHER, 2006, p. 12 – [grifo do autor]).

Desta forma, como tão bem expressa o Drº João Baptista B. Pereira "Protestante é o nome genérico e historicamente enraizado, adotado por alguns autores para dar rótulo a um arco de denominações..." (2005. p. 105). Ainda que MartinhoLutero e os demais reformadores contemporâneos não estivessem imbuídos deste espírito fracionário, pois até então conheciam apenas uma igreja e se desejava a continuidade dessa igreja, apesar das excomunhões, o resultado histórico final foi a divisão eclesiástica. Ao derredor dos grandes expoentes da reforma dá-se origem a igrejas distintas.[1]
Apesar de em diversos momentos, tais lideranças expressem forte desejo de buscar uma unidade teológica eclesiástica, e empenhem esforços consideráveis neste sentido, historicamente isto não foi alcançado, como tão bem descreve Martin Dreher ao afirmar que a Igreja “fragmentou-se em Igrejas Territoriais, que em seu interior muitas vezes souberam manifestar pouco da liberdade evangélica” (1996, p. 13), de maneira que o surgimento desta pluralidade protestante continuou ao longo dos séculos fomentando outros movimentos de rupturas até os dias atuais.[2]



Utilização livre desde que citando a fonte
Guedes, Ivan Pereira
Mestre em Ciências da Religião


Referência Bibliográfica
ARMESTO-FERNÁNDES, Felipe e WILSON, Derek. Reforma: o cristianismo e o mundo 1500-2000. Trad. Celina Cavalcante Falck. Rio de
Janeiro: Record, 1997.
AZEVEDO, Israel Belo de. A celebração do indivíduo: a formação do pensamento batista brasileiro. Piracicaba; Editora UNIMEP/Exodus, 1996, p.63).
BOISSET, J. História do protestantismo. São Paulo: Difusão Européia, 1971.
 DANIEL-ROPS. A igreja da renascença e da reforma I: a reforma protestante. São Paulo: Ed. Quadrante, 1996, p. 435.
DREHER, MARTIN N. A crise e a renovação da igreja no período da Reforma. São Leopoldo: Sinodal, 1996. (Coleção História da Igreja, v.3).
FISHER, Jorge P. Historia de la reforma Barcelona: Ed. CLIE, 1984.
FISHER, Joachim H. Reforma – renovação da igreja pelo evangelho. São Leopoldo: Ed. Sinodal e EST, 2006.
LATOURETTE, Kenneth Scott. Uma história do cristianismo - volume II: 1500 a 1975 a.D. São Paulo: Editora Hagnos, 2006.
LINDSAY, Tomas M. Historia de la Reforma, v.2, ed. La Aurora e Casa unida de Publicaciones, 1959.
PEREIRA, João Baptista Borge. "Identidade protestante no Brasil ontem e hoje". In BIANCO. Gloecir: NICOLINI. Marcos (orgs.). Religare: identidade, sociedade e
espiritualidade. São Paulo: Ali Print Editora. 2005.
POLLARD, Albert Frederick. Thomas Cranmer and the and the english reformation (1489-1556). London : G. P. Putnam’s Sons, 1906.
Zabriskie, Alexander C. Anglican Evangelicalism. Philadelphia, 1999.





[1] Infelizmente hoje as igrejas se formam ao redor de figuras medíocres.
[2] A disparidade e a progressiva subdivisão das igrejas protestantes (luteranos, calvinistas, anglicanos etc.) decorreram de seu próprio princípio original: a interpretação pessoal das Sagradas Escrituras sob a luz do Espírito Santo. A ênfase dada por algumas dessas igrejas aos Evangelhos como norma de vida e da experiência
pessoal da conversão acabou por provocar o aparecimento de duas tendências no seio do protestantismo: a liberal e a fundamentalista, autodenominada evangélica.

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