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quarta-feira, 27 de março de 2019

Historia da Igreja: Ascensão do Poder da Igreja de Roma



Desde os finais do século segundo a igreja de Romana vai adquirindo um status diferenciado,[1] pois muitos conflitos eclesiásticos foram mediados por seus bispos. Diferentemente do que ocorria no Oriente, em Roma houve poucas divergências teológicas, portanto, menos divisões eclesiásticas.
Durante os chamados Concílios ecumênicos,[2] o bispo de Roma tinha o mesmo peso e relevância dos demais representantes da igreja cristã. No primeiro grande Concílio de Nicéia (325) em seu sexto cânon confere aos bispos de Roma, Constantinopla, Antioquia e Alexandria, localizadas nos grandes centros de poder do Império, igual e equivalente autoridade, sem qualquer primado, sobre as igrejas nos domínios imperiais.  No Concílio de Sardes (345 ou 347) abre-se uma fresta, que somente se ampliara, onde se delega ao bispo de Roma a função de supervisor ou revisor de processos eclesiásticos que estivessem sobre questionamentos. Aqui começa o conflito que produzira o grande Cisma do Oriente e Ocidente.[3] No Segundo Concílio de Constantinopla (553), convocado pelo imperador Justiniano I, o então bispo de Roma, Virgílio, recusou-se a participar e apoiar as resoluções, e por esta razão foi exilado. Posteriormente, para ratificar a infalibilidade papal, os decretos foram reconhecidos. No Terceiro Concílio de Constantinopla (680), convocado pelo imperador Constantino Pogonato, que inclusive presidiu as sessões, o bispo de Roma, Honório, foi condenado e anatematizado como herege – que havia dado sua aprovação a um documento imperial conhecido como Ectese, que apoiava o monotelismo, uma doutrina condenada, pois afirmava que Jesus não tinha duas vontades (humana e divina), mas apenas a vontade divina. No Quarto Concílio de Constantinopla (692), convocado pelo imperador Justiniano II, reafirma os mesmos privilégios para Constantinopla, daqueles que usufruíam Roma, Alexandria, Antioquia e Jerusalém, ou seja, isonomia total. Em um caso de tribunal eclesiástico que tratou de um caso disciplinar de um bispo, Cipriano de Cartago chega a declarar que o Bispo de Roma apenas tinha jurisdição na sua jurisdição, pois cada Bispo era autónomo na sua zona geográfica.
Nos três primeiros séculos a igreja romana teve um destaque insignificante no que tange a elaboração teológica, destacando-se apenas os escritos de Hipólito e Novatiano, sendo o primeiro um combatente contumaz dos próprios bispos romanos e o segundo foi posteriormente excomungado por heresias. Todavia, o que lhe faltou no campo teológico buscou no campo administrativo eclesiástico e no tabuleiro político. Soube como poucos ocupar o vácuo de poder imperial deixado após a mudança da Capital do Império para Constantinopla, que passou a ser chamada de nova Roma. Na ausência da figura máxima do Imperador o bispado romano foi expandido sua área de atuação e cativando, quando não comprando, o apoio crescente de autoridades eclesiásticas, imperiais e monárquicas tecendo uma rede cada vez maior de seu poder ascendente.
Apensar de durante sete séculos lhe ter sido negado uma primazia sobre as igrejas cristãs, os romanos não desistiram de seus propósitos. Alguns fatores históricos contribuíram para que os romanos alcançassem seu tão desejado primado, ainda que somente sobre o cristianismo no Ocidente.
§  O grande fator que alimentava esse desejo de supremacia de Roma sobre o a totalidade do cristianismo era o fato de que havia apenas um Imperador sobre todos. Perguntas eram formuladas em todos os lugares: os bispos governavam as igrejas, mas quem iria governar os bispos? O bispo da igreja deve exercer a autoridade que o imperador exercia no império?
§  Inicialmente todos os líderes cristãos eram chamados de Patriarcas, em Roma passou a ser chamado de Papa (papai).
§  Roma reivindicou para si a autoridade apostólica, com base em uma tradição de que o apóstolo Pedro foi o primeiro bispo de Roma e como o chefe dos apóstolos detinha autoridade sobre toda a igreja. Para fundamentarem esta pseudo tradição se utilizaram de dois textos dos Evangelhos "Tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha igreja[4] e a outra "Apascenta as minhas ovelhas". A aplicação foi que Pedro tendo sido o primeiro cabeça da igreja, outorgou a mesma primazia aos seus sucessores, os papas de Roma, que portanto devem serem investidos da mesma autoridade apostólica.
§  Entre os dois centros do cristianismo, Constantinopla e Roma, a segunda soube melhor impor sua autoridade sobre os demais. Manteve-se mais ortodoxa, enquanto o centro Oriental teve que enfrentar intermináveis embates doutrinários.
§  A Igreja de Roma desenvolveu uma agenda cristã prática. Sempre deu muita atenção aos necessitados, e quando houve período de fome ou peste abriu-se para atender a todos, mesmo os que não professavam a fé cristã. Auxiliava as igrejas mais carentes em outras províncias. Uma das cenas mais emblemática desta postura é a de um oficial pagão em Roma que exigiu que a Igreja mostrasse seus tesouros, o então bispo romano mandou que se reunissem seus membros pobres e disse. "Estes são nossos tesouros."
§  O fato de que Roma havia deixado de ser a capital do Império, em detrimento a Constantinopla, foi mais positivo do que negativo para as pretensões do clero romano. Enquanto na nova capital os imperadores mandavam e desmandavam nas pendências eclesiásticas, em Roma não havia a figura do imperador para ofuscar o poder papal, que estendia seu potentado por toda a região. As lideranças públicas europeias (Ocidente) sempre olharam para Roma com respeito. Com a distância da nova capital e seu Imperador, e com a proximidade do declínio do próprio império, os ratos começam a pular cada vez mais para o navio comandado pelo Pontífice Romano. Tudo está preparado para o ato final desta trágica ópera romana do cristianismo Ocidental.

Utilização livre desde que citando a fonte
Guedes, Ivan Pereira
Mestre em Ciências da Religião.
Universidade Presbiteriana Mackenzie
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Reflexão Bíblica

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[1] A ideia de que a Igreja Romana é a Ecclesia principalis, ou seja, a mais antiga, a primogênita, aparece já no final do século II. Em texto redigido por volta de 180, santo Irineu, bispo de Lyon, sustenta que todas as Igrejas devem por-se de acordo com a Igreja de Roma, em consequência da principalitas desta. A Igreja de Roma, diz ele, é a maior, a mais antiga, conhecida de todos. A ela devem ligar-se todos os fiéis, em virtude do seu principado mais poderoso — propter potentiorem principalitem.
[2] "Concílio Geral" ou "Ecumênico" é a reunião dos bispos do mundo inteiro sob a presidência do Papa ou de seus legados, tendo em vista definir ou esclarecer algum tema debatido. Ecumênico, no caso, quer dizer, "universal"; vem do grego oikoumene (a terra habitada, o mundo inteiro). Todos eles foram convocados pelos respectivos imperadores romanos do período.
[3] O primeiro Concílio de Constantinopla (381), ainda nos dias do imperador Teodósio havia declarado: “Que o bispo de Constantinopla tenha autoridade inferior somente à do de Roma, por ser Constantinopla a nova Roma” (Labbe e Cossart, 1671, p. 497).
[4] Estas palavras podem ser vista ainda hoje em letras gigantes escritas em latim em torno da cúpula da Igreja de São Pedro em Roma.

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