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quarta-feira, 22 de agosto de 2018

A Igreja Absorvida pelo Império: Período Pós Constantino



            Depois de Constantino a Igreja Cristã jamais foi a mesma e somente no século XVI ela sofrerá uma transformação tão profunda. Evidentemente que não é possível nem historicamente correto colocar todos os problemas da Igreja na conta do Imperador, todavia, com ele as deturpações e desvios que já em curso foram efetivadas e outras, advindas da estatização foram agregados. Os benefícios, e de fato houve vários, jamais compensaram os malefícios que se perpetuaram e se expandiram dentro da Igreja Cristã, como tão bem se pode observar no desenvolvimento da sua história e o historiador John Fletcher Hurst sintetiza em um paragrafo:
Essa relação estranha e antinatural era muito mais perigosa, como os acontecimentos posteriores provaram tristemente, para a vida, doutrina e política da Igreja do que até mesmo as perseguições sem coração de Nero, Décio ou Diocleciano (1897, p. 410).
            Rapidamente as lideranças eclesiásticas cristãs se ajustam e se moldam confortavelmente nas entranhas políticas do Império. A adoração e a evangelização que foram as meninas dos olhos da igreja vão sendo paulatinamente substituídas pelos decretos e leis imperiais em favor do cristianismo. A igreja que até então respirava uma atmosfera de fé e consagração (vida moral ilibada), agora passa a respirar a atmosfera secular do poder político – vai se enquadrando ao modelo da administração secular. Antes a igreja dependia unicamente do Espírito Santo para seu crescimento e desenvolvimento, mas agora passa a depender cada vez mais da força politica e bélica do Imperador.
            Houve poucos movimentos de resistência contra estas mudanças, pois o que predominou foi a sensação de gratidão e segurança de que agora sob a égide de um imperador romano a fé cristã deixaria de ser proscrita e que ela teria acesso agora à generosidade do tesouro do governo (pouca coisa mudou até então).
            Uma mudança serve de exemplo da sutileza com que as mudanças foram ocorrendo na convivência igreja-estado. Inicialmente o imperador Constantino apenas confirmava a indicação dos oficiais da igreja (bispos), mas logo o imperador passou a indicar pessoalmente as substituições e novas lideranças eclesiásticas – ele agora é autoridade máxima da igreja que está submetida ao Estado. A igreja é absorvida pelo Império:
se não houvesse absorção da Igreja pelo Estado, a formulação da doutrina cristã e a evangelização das nações teriam sido a missão natural e veloz da Igreja. O protestantismo nunca teria sido uma necessidade, pois os próprios males que surgiram para corrigir não teriam existido (HURST, 1897, p. 412).
            O poder delegado pelo Imperador aos Bispos cristãos extrapola as fronteiras eclesiásticas e ingere na vida cotidiana da própria sociedade, de maneira que esse poder passou a ser cobiçado e tornou as disputas internas pelos cargos de bispos cada vez mais ferrenhos. Esse quadro realça a deturpação e deterioração do exercício dos ofícios eclesiásticos na busca da oportunidade de exercer o poder no interior de suas comunidades, por meio da adulação do poder civil.
Como resultado da ascensão da Igreja ao poder, não se vêem então, os ideais do cristianismo transformando o mundo; o que se vê é o mundo dominando a Igreja. A humildade e a santidade da igreja primitiva foram substituídas pela ambição, pelo orgulho e pela arrogância de seus membros [...] a onda de mundanismo avançou e venceu muitos que se diziam discípulos do humilde Senhor (HURLBUT, 2007, p. 93).
Em sua obra maior “Leviatã” o filósofo humanista Thomas Hobbes olhando para esse momento da história da igreja cristã e comparando com o Papado de seus dias declara: “E se alguém atentar no original deste grande domínio eclesiástico verá facilmente que o Papado nada mais é do que o fantasma do defunto império romano, sentado de coroa na cabeça sobre o túmulo deste, pois assim surgiu de repente o Papado das ruínas do poder pagão." (Hobbes, Leviatã, p. 225 – Tradução de João Paulo Monteiro e Maria Beatriz Nizza da Silva).
            Na verdade apesar de Constantino ter inserido o cristianismo nas diretrizes de suas políticas imperiais, pessoalmente ele nunca se assumiu como cristão e somente às portas da morte solicitou o batismo cristão. Ainda que orientasse publicamente as pessoas a abraçassem a religião cristã, ao mesmo tempo, manteve o título e desempenhando os deveres do Pontifex Maximus, Sumo Sacerdote, para a religião pagã oficial. Para o historiador Hurlbut o imperador romano permaneceu amplamente tolerante às demais religiões pagãs. Pragmaticamente ele elimina do culto ao Imperador a exigência de sacrifícios, de maneira que agora os cristãos que desejam atrair as benesses do império podiam participar destas cerimônias religiosas imperiais sem precisar renegar sua fé cristã abrindo caminho para o sincretismo que será marca registrada da Igreja Romana e do evangelicalismo brasileiro atualmente. O historiador Veyne resume o comportamento ambíguo de Constantino:
Ele evita abolir espetáculos e, como ele seus sucessores, através de leis expressas, permitirá que sobrevivam corridas do Circo, teatros, strip-tease, caçadores na arena e até gladiadores, todas as coisas que desagradavam aos bispos, rejeitadas e proibidas a suas ovelhas durante três séculos precedentes, mas que representavam para a multidão a prosperidade, a consensualidade, a civilização, o welfare State. Adivinha-se que os costumes não se tomaram cristãos em quase nada; um único detalhe: no ano de 566, o divórcio por consentimento mútuo será restabelecido (VEYNE, 2010, p. 61).
            E o historiador protestante Dreher faz uma descrição detalhada da relação de Constantino com a Igreja Cristã, onde sobressai sua postura arrogante e totalitária e a bajulação vulgar dos líderes eclesiásticos ávidos em manter seus novos status quo dentro das entranhas do poder imperial, comportamento nefasto que será mantido perenemente até os dias atuais em todos os segmentos do cristianismo quer seja católico romano ou protestante evangélico.
No fundo, via-se como dono da Igreja, que tinha que obedecer às suas ordens. Como vigário terrestre da ‘suprema divindade’, ele também não estava preso à ética que valia para os súditos cristãos. Era ele mesmo que considerava válida ou não uma decisão sua; era juiz de seus próprios atos. O que atrapalhava suas intenções era sumariamente eliminado. Foi assim que mandou matar seu sogro, Maximiano, e Licínio. Ao filho de Licínio, com cuja adoção concordara Milão, fez escravo; quando este tentou fugir, mandou açoitá-lo e, posteriormente, deportou-o para trabalhos forçados. Mandou matar seu filho Crispo, nascido de sua ligação com uma concubina, anterior a seu casamento com Fausta, e a quem devia a vitória sobre o exército de Licínio, aparentemente por haver cometido adultério com sua madrasta. Pouco tempo mais tarde, sua esposa Fausta perdeu a vida: foi estrangulada e afogada em uma banheira. Além disso, Constantino foi responsável pelo assassinato de pessoas não tão conhecidas. Tudo isso aconteceu numa época em que o imperador já era tido como cristão. Sua maldade não parava nem mesmo ante as leis cristãs que ele mesmo promulgara. Os teólogos da corte, porém, não viam suas mãos cheias de sangue. Viam, apenas, o imperador vestido de púrpura, ouro e pedras preciosas, o qual comparavam a ‘um anjo do Senhor, vindo do céu’ (2004, p. 61-62).
            O historiador Justo L. Gonzales (2002) nomeia algumas consequências internas da Igreja Cristã durante o governo de Constantino dos quais cito apenas dois como exemplo:
Outros seguiram um caminho radicalmente oposto. Para eles o fato de o imperador se declarar cristão, e que agora era mais fácil ser cristão, não era uma bênção, mas o começo de uma grande apostasia. Algumas pessoas que mantinham esta atitude, mas que não queriam deixar a comunhão da igreja se retiraram para o deserto, onde se dedicavam à vida ascética. Como já não era mais possível ser martirizado, estas pessoas pensavam que o verdadeiro atleta de Jesus Cristo deveria continuar se exercitando pelo menos para a vida monástica. De maneira que o século quarto viu um grande êxodo para os desertos do Egito e da Síria (p. 36).
Alguns dos que não viam com agrado a nova aproximação entre a igreja e o estado, simplesmente romperam a comunhão com os demais cristãos. Estes são os cismáticos, (p. 36).
Os Descendentes de Constantino
O Imperador Constantino faleceu com a idade de 63 anos em 22 de Maio de 337, coincidentemente no dia de Pentecostes e sepultado em Constantinopla,[1] a menina de seus olhos (BLAYNEY, 2005, p. 110). Um século depois a Igreja Cristã terá estabelecido uma estrutura eclesiástica-política que se equiparará ao do próprio Império.
Apesar de terem recebido toda uma orientação cristã em suas formações, os descendentes do Imperador, após sua morte, demonstraram que não haviam assimilado absolutamente nada do cristianismo.
            Os numerosos meios-irmãos e sobrinhos se digladiaram pelo poder e grande parte deles foram mortos em tramas desenvolvidas nas entranhas da política palaciana. Sobreviveram apenas os três filhos de Constantino: Constâncio II, Constantino II e Constante. Após um encontro dos três sucessores ficou assim dividido o grande Império: Constâncio II reina no Oriente e adota a vertente cristã do Arianismo; Constantino II reina no Ocidente e adota a vertente cristã vindicada no Concílio de Nicéia e também fica com a tutela do irmão mais novo, Constante, que governa a Panónia, região da Europa Central.
Mas Constante acaba por se revoltar e derrotar o irmão apoderando-se da Itália. O Império ficou, assim, dividido em dois: o do Oriente, com a capital em Constantinopla, tendo Constâncio II como imperador, e o do Ocidente, com a capital agora em Milão (Itália), e tendo Constante como imperador.
No Ocidente o imperador mantém forte repressão aos donatistas na África e ele baixa decreto proibindo qualquer tipo de sacrifício efetuado pelas demais religiões não cristãs (346 e 347). Mas em 350, o imperador Constante (Ocidente), sofre um golpe de Estado militar liderado por um oficial panónio, resquício de suas ações contra o irmão mais novo. Mas Constâncio II reage rapidamente e impõe contundente derrota ao usurpador (só irmãos podem usurpar o trono um do outro), de maneira que se torna o único imperador, do Ocidente e do Oriente.
            Constâncio II era o que parecia melhor reproduzir as qualidades positivas e negativas de seus seu pai. Apesar das limitações físicas era um exímio estrategista militar; suportava pressões e a mesma sobriedade na alimentação, muita disciplina, mas também de temperamento explosivo, e as mesmas pretensões literárias e teológicas. Alguns escritores criticam forte a influência de sua esposa Eusébia. 
Diferentemente de seu pai, mais sutil em sua politica religiosa que se equilibrava entre o cristianismo e as demais expressões religiosas que conviviam dentro do Império, o novo imperador impõe coercitivamente a “conversão” dos adeptos de outras religiões. As ofertas dos templos pagãos e de seus sacerdotes foram confiscadas e parte transferidas para os templos cristãos (aceitas passivamente pelos líderes religiosos cristãos). Foram proibidos os sacrifícios e os ritos de adoração das religiões não cristãs e passíveis de punição legal, incluindo a pena de morte. Templos não cristãos foram demolidos ou adaptados para cultos cristãos; torna-se proibido falar contra o cristianismo e qualquer literatura contrária devia ser queimada. Aqui inicia o período de terror cristão que perdurara por dois séculos, onde milhares de pessoas foram mortas das formas mais violentas possíveis. Os cristãos que foram implacavelmente perseguidos se transformam em implacáveis perseguidores.
Mas por outro lado, a opção radical de Constâncio II pela vertente do cristianismo ariano atraiu a ira das demais expressões cristãs que defendiam as definições do Concílio de Nicéia e, portanto, se opunham implacavelmente às teses doutrinárias arianas. Desta forma os escritores cristãos o acusavam de ser um perseguidor da fé de Nicéia, e não hesitava em chamá-lo de Acabe, Pilatos e Judas. Um dos poucos a defendê-lo foi Atanásio em período posterior a 356.
Reação do Paganismo com Juliano
            Toda ação gera uma reação igual ou maior. A forma brutal com que as demais religiões foram tratadas pelos governos dos filhos de Constantino criou a oportunidade para que o governo de Juliano (361-363) [2] fosse endossado pelos adversários do cristianismo, que nutriam nele a convicção de que ele fora especialmente criado pelos deuses para restaurar novamente a antiga religião de seus pais.
Juliano ficou denominado na literatura cristã de “o apóstata”.[3] Apesar de ter sido educado na religião cristã, nutria um antagonismo com a nova religião e se empenhou em resgatar as antigas crenças pagãs greco-romanas. As literaturas cristãs da época são implacáveis com o governo de Juliano: Gregório Nazianzeno (329 – 390 d.C.); Ambrósio de Milão (340 – 397d.C.); Agostinho de Hipona (354 – 430 d.C.); Sócrates Escolástico (final do século IV d.C.) e Sozômeno (início do século V d.C), para não estendermos em demasia as referências de muitos que o classificaram de um autêntico perseguidor da Igreja. A imagem negativa de Juliano permanecerá na época medieval.[4]
Depois de vencer Constâncio e assumir o poder imperial, ele assume sua religiosidade pagã e gera uma pergunta perturbadora nos círculos cristãos: as perseguições religiosas voltariam? Conhecedor da história o novo imperador sabia que os perseguidos de hoje se tornam os mártires do amanhã, de maneira que sua tática é diferente. Ele não usa medidas violentas para a subversão e derrubada do cristianismo, nem pune a obstinação cristã com a morte, exceto onde lhe parecia que sua autoridade imperial estava sendo contestada.
Sua tática é mais sutil e desta forma asfixia as igrejas cristãs na questão econômica. Proclama um edito de tolerância para todas as religiões e ordena a restauração dos templos pagãos e todo sistema religioso deles, exigindo que os templos que haviam sido convertidos em igrejas fossem restaurados para a adoração pagã, aqueles destruídos deveriam ser restaurados à custa do erário da igreja e o dinheiro público que tinha sido aplicado aos propósitos eclesiásticos cristãos tinha que ser reembolsado [mexeu na menina dos olhos eclesiástico]; simultaneamente faz adaptação de diversos ritos cristãos às demais religiões: pregação dinâmica, músicas, orações, e exigência de ascetismo moral por parte dos oficiantes religiosos e assistência social, de maneira que para o público em geral todas as religiões se tornaram semelhantes. Ele mesmo sacrificou e pregou como Pontifex Maximus e levou uma vida estritamente ascética de uma simplicidade extrema.
Ele exclui os cristãos de todos os níveis superiores do governo, e depois de todos os ofícios inferiores, civis e militares, a não ser que estes funcionários abdicassem de sua fé cristã – desta forma ele realmente induziu muitos a apostatar [ninguém quer perder a boquinha pública]. Apoiou os judeus incentivando de todas as formas, incluindo financiamento financeiro, para que retornassem a Jerusalém e reconstruíssem o tempo, pois desejava que esses provassem a falsidade da identidade de Jesus Cristo, mas este objetivo não foi alcançado.
Uma de suas ações mais sutis e devastadoras foi o decreto proibindo os mestres cristãos de lecionarem nas academias. A lei, inserida no Código Theodosiano esclarece o seguinte:
É conveniente que os mestres e professores sobressaiam, primeiramente, por seus costumes, depois por sua eloqüência. Mas, como eu não posso estar em pessoa em cada cidade, ordeno que todo aquele que queira ensinar, não se lance a este oficio de forma repentina, senão que aprovado pelo Senado Municipal se faça crédulo desse decreto com a aprovação conjunta dos melhores. Esse decreto deve chegar até a mim para ser estudado, de maneira que nossos juízos estejam presentes nos ensinos das cidades. (CÓDIGO THEODOSIANO, 1970-1971. XIII 3.5).
Esta lei que na pratica alienava os mestres cristãos das esferas acadêmicas foi a forma que ele encontrou para quebrar uma das linhas vertebrais da política religiosa e econômica constantiniana. Um dos mais contundentes oposicionistas às ideias de Juliano e ao decreto acima citado foi Gregório de Nazianzo, oriundo do Império Romano Oriental do século IV d.C. Seus discursos inflamados e de forte conteúdo histórico-filosófico, dentre os quais um denominado “Contra Juliano” (364-365) acabou por influenciar fortemente o antagonismo dos cristãos contra o imperador.
Evidentemente que por trás do discurso de Juliano de resgatar os padrões clássicos da cultura greco-romana, inspiradas nas filosóficas de Platão e Aristóteles, estavam embutidas suas fortes influências dos cultos orientais e místicas apreendidas de seu maior mentor Jâmblico.
Quando sua política anticristã estava chegando ao ponto máximo de ebulição e se avistava como inevitável o reinicio de sangrentas perseguições, ele foi morto em combate contra os persas (363 d.C.), após um reinado de apenas vinte meses. Uma anedota recorrente quando Juliano ainda governava era que ao ser perguntado a um cristão: “O que seu filho de carpinteiro [Jesus] está fazendo agora?”, a resposta era: “Ele está fazendo um caixão para o seu imperador”.  
Imperadores Posteriores a Juliano
Depois deste breve reinado de Juliano (361-363), todos os imperadores posteriores favoreceram o cristianismo, seja no formato do Concílio de Niceia ou nos moldes arianos, e suas políticas eram mais ou menos contrárias as religiões não cristãs, ainda que estas podiam livremente se manifestarem.
Quem ascende ao trono é Joviano que fez um breve reinado (363-364). Suas diretrizes de governo foram cristãs, ainda que ele optasse por não interferir nas questões eclesiásticas. Ele restituiu aos cristãos tudo o que havia sido confiscado no tempo de Juliano e simultaneamente revogou todos os privilégios às religiões não cristãs.
Foi sucedido por Valentiniano I (364-375). Alega que para uma defesa eficaz do Império, devido sua extensão, o melhor seria dividir sua administração e desta forma ele restringe seu governo ao Ocidente, e delega ao seu irmão Valente (364-378) o governo da parte Oriental. Valentiniano segue a linha de seu antecessor e sua ingerência nas questões eclesiásticas é mínima. Todavia, Valente sofre a influência dos defensores arianos fortemente estabelecidos na capital oriental Constantinopla. Foi responsável pelo quinto e último exílio imposto ao então ancião bispo Atanásio, que vinha mantendo incansavelmente a defesa dos dogmas estabelecidos no Concílio de Niceia.
Mas o apoio dele ao arianismo não foi tão contundente quanto foi o de Constâncio. E grandes mudanças estão por ocorrer após a morte de Atanásio (373), pois entraram em cena os chamados três capadócios: Basílio de Cesaréia, Gregório de Nazianzo e Gregório de Nissa, todos da região da Capadócia. Com as atuações deles e decadência paulatina do poder político eclesiástico dos arianos, os dogmas de fé neonicena prevalecera e se tornara a ortodoxia da igreja cristã em todo o Império.
Com a morte de Valente (378) em batalha perdida para os exércitos dos godos ocidentais, assume o trono seu sobrinho Graciano. Prefere governar a parte Ocidental e nomeia como imperador da parte Oriental Teodósio, um general e administrador de grande habilidade e se constituirá no último governante do Império.
Graciano, filho de Valentiniano I, aconselhado por Ambrósio de Milão renuncia o título e insígnia de Pontífice Máximo (376) das religiões não cristãs e promulga novas leis em favor do cristianismo, o que suscitou forte oposição por parte das lideranças das demais religiões; combate com forte repressão o movimento donatista na África; em 379 (agosto) ele promulga um decreto que proíbe qualquer outra expressão religiosa na parte ocidental do Império e confisca seus templos e demais locais de culto.
Os dois governantes Graciano e Teodósio assinam um edito em 380 em que determinam que em todo o império a fé cristã seria somente aquela advinda do legado romano conforme definida pelos bispos Dâmaso de Roma e Pedro de Alexandria, que veria a se constituir no marco da política imperial e do desenvolvimento eclesiástico (leia-se Igreja Católica Romana), pois a partir desse ponto haverá apenas uma religião no império – o cristianismo.

Utilização livre desde que citando a fonte
Guedes, Ivan Pereira
Mestre em Ciências da Religião.
Universidade Presbiteriana Mackenzie
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[1] Em 330, Constantino fundou a cidade de Constantinopla a qual se tornaria a futura capital do Império Bizantino, império que herdaria o legado cristão do Concílio de Niceia, originando o Cisma do Oriente em 1054, o qual separou a Igreja Católica, formando a Igreja Católica Romana e a Igreja Católica Ortodoxa.
[2] Tornou-se soberano inconteste do Império a três de novembro de 361, morrendo a 26 de junho de 363, com 33 anos; reinou, portanto, por apenas dezoito meses.
[3] Um exemplo é a literatura de Gregório de Nazianzo (330-390), contemporâneo do imperador Juliano, em que na coletânea de seus discursos, dois deles, são denominados “Contra Juliano”, refletindo a reação política contra essa volta ao helenismo, por parte do imperador romano.
[4] Somente com o advento do Iluminismo no século XVIII a figura desse imperador romano começa a ser enaltecido, evidentemente em decorrência das reações contra a religião cristã liderada por personagens influentes do movimento iluminista. Um deles, Voltaire (1769), insere um artigo no famoso Dictionnaire Philosophique enaltecendo o imperador Juliano como sendo um filósofo perpiscaz na luta contra as ideais do cristianismo. Mas nesse momento histórico qualquer personagem que se opusesse ao cristianismo seria considerado um herói.

2 comentários:

  1. É importante ressaltar que as atitudes brutais e perseguições são características dos homens desse período e do pensamento do homem desse período, esses eram seres em formação a cultura europeia estava se formando o que quero dizer com isso, existe uma justificativa cientifica para tais atos e por toda intolerância por parte do cristianismo desse período que gerou o mesmo sentimento em adeptos do protestantismo em séculos a frente. Foram séculos e séculos de lutas na Europa uma vez que esses homens estavam se descobrindo e finalmente depois de séculos de lutas alcançaram a paz e o respeito, as religiões não brigam entre si e se aceitam historicamente, culturalmente e convivem pacificamente.

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