Depois
de Constantino a Igreja Cristã jamais foi a mesma e somente no século XVI ela
sofrerá uma transformação tão profunda. Evidentemente que não é possível nem
historicamente correto colocar todos os problemas da Igreja na conta do
Imperador, todavia, com ele as deturpações e desvios que já em curso foram
efetivadas e outras, advindas da estatização foram agregados. Os benefícios, e
de fato houve vários, jamais compensaram os malefícios que se perpetuaram e se
expandiram dentro da Igreja Cristã, como tão bem se pode observar no desenvolvimento
da sua história e o historiador John Fletcher Hurst sintetiza em um paragrafo:
Essa relação estranha e antinatural era muito mais
perigosa, como os acontecimentos posteriores provaram tristemente, para a vida,
doutrina e política da Igreja do que até mesmo as perseguições sem coração de
Nero, Décio ou Diocleciano (1897, p. 410).
Rapidamente as lideranças eclesiásticas cristãs se
ajustam e se moldam confortavelmente nas entranhas políticas do Império. A
adoração e a evangelização que foram as meninas dos olhos da igreja vão sendo
paulatinamente substituídas pelos decretos e leis imperiais em favor do
cristianismo. A igreja que até então respirava uma atmosfera de fé e
consagração (vida moral ilibada), agora passa a respirar a atmosfera secular do
poder político – vai se enquadrando ao modelo da administração secular. Antes a
igreja dependia unicamente do Espírito Santo para seu crescimento e
desenvolvimento, mas agora passa a depender cada vez mais da força politica e bélica
do Imperador.
Houve poucos movimentos de resistência contra estas
mudanças, pois o que predominou foi a sensação de gratidão e segurança de que
agora sob a égide de um imperador romano a fé cristã deixaria de ser proscrita
e que ela teria acesso agora à generosidade do tesouro do governo (pouca coisa
mudou até então).
Uma mudança serve de exemplo da sutileza com que as
mudanças foram ocorrendo na convivência igreja-estado. Inicialmente o imperador
Constantino apenas confirmava a indicação dos oficiais da igreja (bispos), mas
logo o imperador passou a indicar pessoalmente as substituições e novas
lideranças eclesiásticas – ele agora é autoridade máxima da igreja que está
submetida ao Estado. A igreja é absorvida pelo Império:
se não houvesse absorção da Igreja pelo Estado, a
formulação da doutrina cristã e a evangelização das nações teriam sido a missão
natural e veloz da Igreja. O protestantismo nunca teria sido uma necessidade,
pois os próprios males que surgiram para corrigir não teriam existido (HURST,
1897, p. 412).
O poder delegado pelo Imperador aos Bispos cristãos
extrapola as fronteiras eclesiásticas e ingere na vida cotidiana da própria
sociedade, de maneira que esse poder passou a ser cobiçado e tornou as disputas
internas pelos cargos de bispos cada vez mais ferrenhos. Esse quadro realça a
deturpação e deterioração do exercício dos ofícios eclesiásticos na busca da
oportunidade de exercer o poder no interior de suas comunidades, por meio da
adulação do poder civil.
Como
resultado da ascensão da Igreja ao poder, não se vêem então, os ideais do
cristianismo transformando o mundo; o que se vê é o mundo dominando a Igreja. A
humildade e a santidade da igreja primitiva foram substituídas pela ambição,
pelo orgulho e pela arrogância de seus membros [...] a onda de mundanismo
avançou e venceu muitos que se diziam discípulos do humilde Senhor (HURLBUT,
2007, p. 93).
Em
sua obra maior “Leviatã” o filósofo humanista Thomas Hobbes olhando para esse
momento da história da igreja cristã e comparando com o Papado de seus dias declara:
“E se alguém atentar no original deste
grande domínio eclesiástico verá facilmente que o Papado nada mais é do que o
fantasma do defunto império romano, sentado de coroa na cabeça sobre o túmulo
deste, pois assim surgiu de repente o Papado das ruínas do poder pagão."
(Hobbes, Leviatã, p. 225 – Tradução de João Paulo Monteiro e Maria Beatriz
Nizza da Silva).
Na verdade apesar de Constantino ter inserido o
cristianismo nas diretrizes de suas políticas imperiais, pessoalmente ele nunca
se assumiu como cristão e somente às portas da morte solicitou o batismo
cristão. Ainda que orientasse publicamente as pessoas a abraçassem a religião
cristã, ao mesmo tempo, manteve o título e desempenhando os deveres do Pontifex
Maximus, Sumo Sacerdote, para a religião pagã oficial. Para o historiador Hurlbut
o imperador romano permaneceu amplamente tolerante às demais religiões pagãs. Pragmaticamente
ele elimina do culto ao Imperador a exigência de sacrifícios, de maneira que
agora os cristãos que desejam atrair as benesses do império podiam participar
destas cerimônias religiosas imperiais sem precisar renegar sua fé cristã
abrindo caminho para o sincretismo que será marca registrada da Igreja Romana e
do evangelicalismo brasileiro atualmente. O historiador Veyne resume o
comportamento ambíguo de Constantino:
Ele evita abolir espetáculos e, como ele seus sucessores,
através de leis expressas, permitirá que sobrevivam corridas do Circo, teatros,
strip-tease, caçadores na arena e até gladiadores, todas as coisas que
desagradavam aos bispos, rejeitadas e proibidas a suas ovelhas durante três
séculos precedentes, mas que representavam para a multidão a prosperidade, a
consensualidade, a civilização, o welfare State. Adivinha-se que os costumes
não se tomaram cristãos em quase nada; um único detalhe: no ano de 566, o
divórcio por consentimento mútuo será restabelecido (VEYNE, 2010, p. 61).
E o historiador protestante Dreher faz uma descrição
detalhada da relação de Constantino com a Igreja Cristã, onde sobressai sua
postura arrogante e totalitária e a bajulação vulgar dos líderes eclesiásticos
ávidos em manter seus novos status quo dentro das entranhas do poder imperial,
comportamento nefasto que será mantido perenemente até os dias atuais em todos os
segmentos do cristianismo quer seja católico romano ou protestante evangélico.
No
fundo, via-se como dono da Igreja, que tinha que obedecer às suas ordens. Como
vigário terrestre da ‘suprema divindade’, ele também não estava preso à ética
que valia para os súditos cristãos. Era ele mesmo que considerava válida ou não
uma decisão sua; era juiz de seus próprios atos. O que atrapalhava suas
intenções era sumariamente eliminado. Foi assim que mandou matar seu sogro,
Maximiano, e Licínio. Ao filho de Licínio, com cuja adoção concordara Milão,
fez escravo; quando este tentou fugir, mandou açoitá-lo e, posteriormente,
deportou-o para trabalhos forçados. Mandou matar seu filho Crispo, nascido de
sua ligação com uma concubina, anterior a seu casamento com Fausta, e a quem
devia a vitória sobre o exército de Licínio, aparentemente por haver cometido
adultério com sua madrasta. Pouco tempo mais tarde, sua esposa Fausta perdeu a
vida: foi estrangulada e afogada em uma banheira. Além disso, Constantino foi
responsável pelo assassinato de pessoas não tão conhecidas. Tudo isso aconteceu
numa época em que o imperador já era tido como cristão. Sua maldade não parava
nem mesmo ante as leis cristãs que ele mesmo promulgara. Os teólogos da corte,
porém, não viam suas mãos cheias de sangue. Viam, apenas, o imperador vestido
de púrpura, ouro e pedras preciosas, o qual comparavam a ‘um anjo do Senhor,
vindo do céu’ (2004, p. 61-62).
O historiador Justo L. Gonzales (2002) nomeia algumas
consequências internas da Igreja Cristã durante o governo de Constantino dos
quais cito apenas dois como exemplo:
Outros seguiram um caminho radicalmente oposto. Para eles
o fato de o imperador se declarar cristão, e que agora era mais fácil ser
cristão, não era uma bênção, mas o começo de uma grande apostasia. Algumas
pessoas que mantinham esta atitude, mas que não queriam deixar a comunhão da
igreja se retiraram para o deserto, onde se dedicavam à vida ascética. Como já
não era mais possível ser martirizado, estas pessoas pensavam que o verdadeiro
atleta de Jesus Cristo deveria continuar se exercitando pelo menos para a vida
monástica. De maneira que o século quarto viu um grande êxodo para os desertos do
Egito e da Síria (p. 36).
Alguns
dos que não viam com agrado a nova aproximação entre a igreja e o estado,
simplesmente romperam a comunhão com os demais cristãos. Estes são os
cismáticos, (p. 36).
Os Descendentes
de Constantino
O
Imperador Constantino faleceu com a idade de 63 anos em 22 de Maio de 337,
coincidentemente no dia de Pentecostes e sepultado em Constantinopla,[1]
a menina de seus olhos (BLAYNEY, 2005, p. 110). Um século depois a Igreja
Cristã terá estabelecido uma estrutura eclesiástica-política que se equiparará
ao do próprio Império.
Apesar
de terem recebido toda uma orientação cristã em suas formações, os descendentes
do Imperador, após sua morte, demonstraram que não haviam assimilado
absolutamente nada do cristianismo.
Os numerosos meios-irmãos e sobrinhos se digladiaram pelo
poder e grande parte deles foram mortos em tramas desenvolvidas nas entranhas
da política palaciana. Sobreviveram apenas os três filhos de Constantino: Constâncio
II, Constantino II e Constante. Após um encontro dos três sucessores ficou
assim dividido o grande Império: Constâncio
II reina no Oriente e adota a vertente cristã do Arianismo; Constantino II reina no Ocidente e
adota a vertente cristã vindicada no Concílio de Nicéia e também fica com a tutela
do irmão mais novo, Constante, que governa
a Panónia, região da Europa Central.
Mas
Constante acaba por se revoltar e derrotar o irmão apoderando-se da Itália. O
Império ficou, assim, dividido em dois: o do Oriente, com a capital em Constantinopla,
tendo Constâncio II como imperador, e o do Ocidente,
com a capital agora em Milão (Itália), e tendo Constante como imperador.
No
Ocidente o imperador mantém forte repressão aos donatistas na África e ele
baixa decreto proibindo qualquer tipo de sacrifício efetuado pelas demais religiões
não cristãs (346 e 347). Mas em 350, o imperador Constante (Ocidente), sofre um
golpe de Estado militar liderado por um oficial panónio, resquício de suas
ações contra o irmão mais novo. Mas Constâncio II reage rapidamente e impõe
contundente derrota ao usurpador (só irmãos podem usurpar o trono um do outro),
de maneira que se torna o único
imperador, do Ocidente e do Oriente.
Constâncio II era o que parecia melhor reproduzir as
qualidades positivas e negativas de seus seu pai. Apesar das limitações físicas
era um exímio estrategista militar; suportava pressões e a mesma sobriedade na
alimentação, muita disciplina, mas também de temperamento explosivo, e as
mesmas pretensões literárias e teológicas. Alguns escritores criticam forte a
influência de sua esposa Eusébia.
Diferentemente
de seu pai, mais sutil em sua politica religiosa que se equilibrava entre o
cristianismo e as demais expressões religiosas que conviviam dentro do Império,
o novo imperador impõe coercitivamente a “conversão”
dos adeptos de outras religiões. As ofertas dos templos pagãos e de seus sacerdotes
foram confiscadas e parte transferidas para os templos cristãos (aceitas
passivamente pelos líderes religiosos cristãos). Foram proibidos os sacrifícios
e os ritos de adoração das religiões não cristãs e passíveis de punição legal,
incluindo a pena de morte. Templos
não cristãos foram demolidos ou adaptados para cultos cristãos; torna-se
proibido falar contra o cristianismo e qualquer literatura contrária devia ser
queimada. Aqui inicia o período de
terror cristão que perdurara por dois séculos, onde milhares de pessoas foram
mortas das formas mais violentas possíveis. Os cristãos que foram
implacavelmente perseguidos se transformam em implacáveis perseguidores.
Mas
por outro lado, a opção radical de Constâncio II pela vertente do cristianismo
ariano atraiu a ira das demais expressões cristãs que defendiam as definições
do Concílio de Nicéia e, portanto, se opunham implacavelmente às teses
doutrinárias arianas. Desta forma os escritores cristãos o acusavam de ser um
perseguidor da fé de Nicéia, e não hesitava em chamá-lo de Acabe, Pilatos e Judas. Um
dos poucos a defendê-lo foi Atanásio em período posterior a 356.
Reação
do Paganismo com Juliano
Toda ação gera uma reação igual ou maior. A forma brutal
com que as demais religiões foram tratadas pelos governos dos filhos de
Constantino criou a oportunidade para que o governo de Juliano (361-363) [2]
fosse endossado pelos adversários do cristianismo, que nutriam nele a convicção
de que ele fora especialmente criado pelos deuses para restaurar novamente a
antiga religião de seus pais.
Juliano
ficou denominado na literatura cristã de “o apóstata”.[3] Apesar
de ter sido educado na religião cristã, nutria um antagonismo com a nova
religião e se empenhou em resgatar as antigas crenças pagãs greco-romanas. As
literaturas cristãs da época são implacáveis com o governo de Juliano: Gregório
Nazianzeno (329 – 390 d.C.); Ambrósio de Milão (340 – 397d.C.); Agostinho de
Hipona (354 – 430 d.C.); Sócrates Escolástico (final do século IV d.C.) e Sozômeno
(início do século V d.C), para não estendermos em demasia as referências de muitos
que o classificaram de um autêntico perseguidor da Igreja. A imagem negativa de
Juliano permanecerá na época medieval.[4]
Depois
de vencer Constâncio e assumir o poder imperial, ele assume sua religiosidade
pagã e gera uma pergunta perturbadora nos círculos cristãos: as perseguições
religiosas voltariam? Conhecedor da história o novo imperador sabia que os
perseguidos de hoje se tornam os mártires do amanhã, de maneira que sua tática
é diferente. Ele não usa medidas violentas para a subversão e derrubada do
cristianismo, nem pune a obstinação cristã com a morte, exceto onde lhe parecia
que sua autoridade imperial estava sendo contestada.
Sua
tática é mais sutil e desta forma asfixia as igrejas cristãs na questão
econômica. Proclama um edito de tolerância para todas as religiões e ordena a
restauração dos templos pagãos e todo sistema religioso deles, exigindo que os
templos que haviam sido convertidos em igrejas fossem restaurados para a adoração
pagã, aqueles destruídos deveriam ser restaurados à custa do erário da igreja e
o dinheiro público que tinha sido aplicado aos propósitos eclesiásticos
cristãos tinha que ser reembolsado [mexeu na menina dos olhos eclesiástico]; simultaneamente
faz adaptação de diversos ritos cristãos às demais religiões: pregação dinâmica,
músicas, orações, e exigência de ascetismo moral por parte dos oficiantes religiosos
e assistência social, de maneira que para o público em geral todas as religiões
se tornaram semelhantes. Ele mesmo sacrificou e pregou como Pontifex Maximus e
levou uma vida estritamente ascética de uma simplicidade extrema.
Ele
exclui os cristãos de todos os níveis superiores do governo, e depois de todos
os ofícios inferiores, civis e militares, a não ser que estes funcionários
abdicassem de sua fé cristã – desta forma ele realmente induziu muitos a
apostatar [ninguém quer perder a boquinha pública]. Apoiou os judeus
incentivando de todas as formas, incluindo financiamento financeiro, para que
retornassem a Jerusalém e reconstruíssem o tempo, pois desejava que esses
provassem a falsidade da identidade de Jesus Cristo, mas este objetivo não foi
alcançado.
Uma
de suas ações mais sutis e devastadoras foi o decreto proibindo os mestres cristãos
de lecionarem nas academias. A lei, inserida no Código Theodosiano esclarece o
seguinte:
É conveniente que os mestres e professores sobressaiam,
primeiramente, por seus costumes, depois por sua eloqüência. Mas, como eu não
posso estar em pessoa em cada cidade, ordeno que todo aquele que queira
ensinar, não se lance a este oficio de forma repentina, senão que aprovado pelo
Senado Municipal se faça crédulo desse decreto com a aprovação conjunta dos
melhores. Esse decreto deve chegar até a mim para ser estudado, de maneira que
nossos juízos estejam presentes nos ensinos das cidades. (CÓDIGO THEODOSIANO,
1970-1971. XIII 3.5).
Esta
lei que na pratica alienava os mestres cristãos das esferas acadêmicas foi a
forma que ele encontrou para quebrar uma das linhas vertebrais da política
religiosa e econômica constantiniana. Um dos mais contundentes oposicionistas
às ideias de Juliano e ao decreto acima citado foi Gregório de Nazianzo,
oriundo do Império Romano Oriental do século IV d.C. Seus discursos inflamados
e de forte conteúdo histórico-filosófico, dentre os quais um denominado “Contra
Juliano” (364-365) acabou por influenciar fortemente o antagonismo dos cristãos
contra o imperador.
Evidentemente
que por trás do discurso de Juliano de resgatar os padrões clássicos da cultura
greco-romana, inspiradas nas filosóficas de Platão e Aristóteles, estavam embutidas
suas fortes influências dos cultos orientais e místicas apreendidas de seu
maior mentor Jâmblico.
Quando
sua política anticristã estava chegando ao ponto máximo de ebulição e se
avistava como inevitável o reinicio de sangrentas perseguições, ele foi morto
em combate contra os persas (363 d.C.), após um reinado de apenas vinte meses. Uma
anedota recorrente quando Juliano ainda governava era que ao ser perguntado a
um cristão: “O que seu filho de carpinteiro [Jesus] está fazendo agora?”, a
resposta era: “Ele está fazendo um caixão para o seu imperador”.
Imperadores
Posteriores a Juliano
Depois
deste breve reinado de Juliano (361-363), todos os imperadores posteriores
favoreceram o cristianismo, seja no formato do Concílio de Niceia ou nos moldes
arianos, e suas políticas eram mais ou menos contrárias as religiões não
cristãs, ainda que estas podiam livremente se manifestarem.
Quem
ascende ao trono é Joviano que fez
um breve reinado (363-364). Suas diretrizes de governo foram cristãs, ainda que
ele optasse por não interferir nas questões eclesiásticas. Ele restituiu aos
cristãos tudo o que havia sido confiscado no tempo de Juliano e simultaneamente
revogou todos os privilégios às religiões não cristãs.
Foi
sucedido por Valentiniano I
(364-375). Alega que para uma defesa eficaz do Império, devido sua extensão, o
melhor seria dividir sua administração e desta forma ele restringe seu governo
ao Ocidente, e delega ao seu irmão Valente
(364-378) o governo da parte Oriental. Valentiniano segue a linha de seu
antecessor e sua ingerência nas questões eclesiásticas é mínima. Todavia,
Valente sofre a influência dos defensores arianos fortemente estabelecidos na
capital oriental Constantinopla. Foi responsável pelo quinto e último exílio
imposto ao então ancião bispo Atanásio, que vinha mantendo incansavelmente a
defesa dos dogmas estabelecidos no Concílio de Niceia.
Mas
o apoio dele ao arianismo não foi tão contundente quanto foi o de Constâncio. E
grandes mudanças estão por ocorrer após a morte de Atanásio (373), pois
entraram em cena os chamados três capadócios: Basílio de Cesaréia, Gregório de Nazianzo e Gregório de Nissa,
todos da região da Capadócia. Com as atuações deles e decadência paulatina do
poder político eclesiástico dos arianos, os dogmas de fé neonicena prevalecera e
se tornara a ortodoxia da igreja cristã em todo o Império.
Com
a morte de Valente (378) em batalha perdida para os exércitos dos godos ocidentais,
assume o trono seu sobrinho Graciano.
Prefere governar a parte Ocidental e nomeia como imperador da parte Oriental Teodósio, um general e administrador de
grande habilidade e se constituirá no último governante do Império.
Graciano,
filho de Valentiniano I, aconselhado por Ambrósio de Milão renuncia o título e insígnia
de Pontífice Máximo (376) das religiões não cristãs e promulga novas leis em
favor do cristianismo, o que suscitou forte oposição por parte das lideranças das
demais religiões; combate com forte repressão o movimento donatista na África;
em 379 (agosto) ele promulga um decreto que proíbe qualquer outra expressão
religiosa na parte ocidental do Império e confisca seus templos e demais locais
de culto.
Os
dois governantes Graciano e Teodósio assinam um edito em 380 em que determinam que em todo o império a fé cristã
seria somente aquela advinda do legado romano conforme definida pelos bispos
Dâmaso de Roma e Pedro de Alexandria, que veria a se constituir no marco da
política imperial e do desenvolvimento eclesiástico (leia-se Igreja Católica
Romana), pois a partir desse ponto haverá apenas uma religião no império – o cristianismo.
Utilização livre desde que
citando a fonte
Guedes, Ivan Pereira
Mestre em Ciências da
Religião.
Universidade Presbiteriana
Mackenzie
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[1] Em
330, Constantino fundou a cidade de Constantinopla a qual se tornaria a futura
capital do Império Bizantino, império que herdaria o legado cristão do Concílio
de Niceia, originando o Cisma do Oriente em 1054, o qual separou a Igreja
Católica, formando a Igreja Católica Romana e a Igreja Católica Ortodoxa.
[2] Tornou-se
soberano inconteste do Império a três de novembro de 361, morrendo a 26 de
junho de 363, com 33 anos; reinou, portanto, por apenas dezoito meses.
[3] Um
exemplo é a literatura de Gregório de Nazianzo (330-390), contemporâneo do
imperador Juliano, em que na coletânea de seus discursos, dois deles, são
denominados “Contra Juliano”, refletindo a reação política contra essa volta ao
helenismo, por parte do imperador romano.
[4]
Somente com o advento do Iluminismo no século XVIII a figura desse imperador
romano começa a ser enaltecido, evidentemente em decorrência das reações contra
a religião cristã liderada por personagens influentes do movimento iluminista.
Um deles, Voltaire (1769), insere um artigo no famoso Dictionnaire
Philosophique enaltecendo o imperador Juliano como sendo um filósofo perpiscaz
na luta contra as ideais do cristianismo. Mas nesse momento histórico qualquer
personagem que se opusesse ao cristianismo seria considerado um herói.
É importante ressaltar que as atitudes brutais e perseguições são características dos homens desse período e do pensamento do homem desse período, esses eram seres em formação a cultura europeia estava se formando o que quero dizer com isso, existe uma justificativa cientifica para tais atos e por toda intolerância por parte do cristianismo desse período que gerou o mesmo sentimento em adeptos do protestantismo em séculos a frente. Foram séculos e séculos de lutas na Europa uma vez que esses homens estavam se descobrindo e finalmente depois de séculos de lutas alcançaram a paz e o respeito, as religiões não brigam entre si e se aceitam historicamente, culturalmente e convivem pacificamente.
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