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terça-feira, 25 de março de 2025

História da Igreja: Desenvolvimento Crescente do Poder Papal

Desde o final do século II, a Igreja Romana foi adquirindo um status diferenciado, pois muitos conflitos eclesiásticos eram mediados por seus bispos. Diferentemente do que ocorria no Oriente, em Roma houve poucas divergências teológicas e, portanto, menos divisões eclesiásticas.

          Durante os chamados Concílios Ecumênicos, o bispo de Roma tinha o mesmo peso e relevância que os demais representantes da igreja cristã. No primeiro grande Concílio de Nicéia (325), o sexto cânon confere aos bispos de Roma, Constantinopla, Antioquia e Alexandria, localizadas nos grandes centros de poder do Império, autoridade igual e equivalente, sem qualquer primado sobre as igrejas nos domínios imperiais.

No Concílio de Sardes (345 ou 347), abre-se uma fresta que somente se ampliaria, ao delegar ao bispo de Roma a função de supervisor ou revisor de processos eclesiásticos que estivessem sob questionamentos. Aqui começa o conflito que produziria o primeiro grande Cisma entre Oriente e Ocidente.

No Segundo Concílio de Constantinopla (553), convocado pelo imperador Justiniano I, o então bispo de Roma, Virgílio, recusou-se a participar e apoiar as resoluções e, por esta razão, foi exilado. Posteriormente, para ratificar a infalibilidade papal, os decretos foram reconhecidos.

No Terceiro Concílio de Constantinopla (680), convocado pelo imperador Constantino Pogonato, que inclusive presidiu as sessões, o bispo de Roma, Honório, foi condenado e anatematizado como herege — pois havia dado sua aprovação a um documento imperial conhecido como Ectese, que apoiava o monotelismo, uma doutrina condenada que afirmava que Jesus não tinha duas vontades (humana e divina), mas apenas a vontade divina.

No Quarto Concílio de Constantinopla (692), convocado pelo imperador Justiniano II, foram reafirmados os mesmos privilégios para Constantinopla, dados também a Roma, Alexandria, Antioquia e Jerusalém.

Principais Ajustes

§  Apesar de, durante sete séculos, lhe ter sido negada uma primazia sobre as igrejas cristãs, os romanos não desistiram de seus propósitos. Alguns fatores históricos contribuíram para que os romanos alcançassem seu tão desejado primado, ainda que somente sobre o cristianismo no Ocidente.

§  O grande fator que alimentava esse desejo de supremacia de Roma sobre a totalidade do cristianismo era o fato de que havia apenas um imperador sobre todos. Perguntas eram formuladas em todos os lugares: os bispos governavam as igrejas, mas quem iria governar os bispos? O bispo da Igreja deveria exercer a autoridade que o imperador exercia no Império?

§  Inicialmente todos os líderes cristãos eram chamados de Patriarcas, em Roma passou a ser chamado de Papa (papai).

§  Roma reivindicou para si a autoridade apostólica com base na tradição de que Pedro foi o primeiro bispo de Roma e, como chefe dos apóstolos, teria possuído autoridade sobre toda a Igreja. Para isso, utilizavam dois textos dos Evangelhos: "Tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha igreja" e "Apascenta as minhas ovelhas." A interpretação era de que Pedro foi o primeiro cabeça da Igreja e que, em seguida, seus sucessores, os papas de Roma, deveriam continuar exercendo sua autoridade.

§  Entre os dois centros do cristianismo, Constantinopla e Roma, a segunda soube impor melhor sua autoridade sobre os demais. Manteve-se mais ortodoxa, enquanto o centro oriental enfrentou intermináveis embates doutrinários.

§  A Igreja de Roma implementou um cristianismo prático. Sempre deu muita atenção aos necessitados e, quando houve períodos de fome ou peste, abriu-se para atender a todos, mesmo os que não professavam a fé cristã. Auxiliava as igrejas mais carentes em outras províncias. Uma das cenas mais emblemáticas dessa postura é a de um oficial pagão em Roma que exigiu que a Igreja mostrasse seus tesouros. O então bispo romano mandou reunir seus membros pobres e disse: “Estes são nossos tesouros”.

§  O fato de Roma haver deixado de ser a capital do Império, em detrimento de Constantinopla, foi mais positivo do que negativo para as pretensões do clero romano. Enquanto na nova capital os imperadores mandavam e desmandavam nas pendências eclesiásticas, em Roma não havia a figura do imperador para ofuscar o poder papal, que estendia seu domínio por toda a região. As lideranças públicas europeias (Ocidente) sempre olharam para Roma com respeito. Com a distância da nova capital e de seu imperador, e com a proximidade do declínio do próprio Império, os "ratos" começaram a pular cada vez mais para o "navio" sob o comando do Pontífice Romano.


Utilização livre desde que citando a fonte
Guedes, Ivan Pereira
Mestre em Ciências da Religião.
me.ivanguedes@gmail.com
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Referências Bibliográficas

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