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quinta-feira, 18 de outubro de 2018

História da Igreja Primitiva: Definições e Razões Para Estudar a História da Igreja



            O que vem a ser “História da Igreja” e por que se deve estudá-la? Essas duas questões elementares deve ser sempre o ponto de partida de qualquer pesquisa ou estudo sério. Particularmente no que se refere à história da Igreja Cristã é muito importante termos em mente o que significa e quais as razões pelas quais devemos investir o precioso tempo em estudar seu desenvolvimento histórico. Entre tantas outras coloco apenas três definições do que vem a ser História da Igreja, por entender que elas abrangem os aspectos relevantes; em seguida verificaremos algumas distinções entre os vários termos ou terminologias envolvidas nesse estudo.
Definições
O lado espiritual da história dos povos civilizados desde a vinda do nosso Mestre” 
(H. M. Gwatkin).
A história da comunidade cristã e sua relação com o resto do mundo ao longo dos tempos” (A. M. Renwick).
A História da Igreja, então, é o registro interpretado da origem, progresso e impacto do cristianismo sobre a sociedade humana, baseado em dados organizados coletados por métodos científicos de fontes arqueológicas, documentárias ou vivas. É a história interpretada e organizada da redenção do homem e da terra” 
(E. E Cairns).
Distinguindo os Termos
Ainda que uma distinção deva ser feita entre os termos cristandade, cristianismo e igreja é preciso, entretanto, manter em mente que são termos intercambiáveis e permanentemente se relacionam em qualquer estudo sobre história da igreja.
Cristandade: Refere-se à influência da mensagem cristã que permeia uma sociedade. Isso estaria relacionado à cultura, especialmente no mundo ocidental. Houve um tempo em que a Europa esteve debaixo da influência da igreja cristã o que não significa que todos os governos ou cidadãos europeus fossem de fato e de verdade compromissados com a mensagem cristã. Um exemplo é o próprio Brasil que sofreu e ainda sofre uma influência cristã cultural, primeiro pelo catolicismo romano e posteriormente pelo protestantismo evangélico, o que não significou ou significa atualmente que todos os brasileiros são de fato compromissados com as verdades bíblicas.
Cristianismo: Aqueles países ou etnias em que a maioria de seus cidadãos faz uma profissão de fé cristã e estão inseridos em igrejas (organizações eclesiásticas) organizadas visíveis.
Igreja: A Igreja verdadeira e invisível é composta de todos os redimidos de Deus, independentes de localizações geográficas ou temporais, começando no dia de Pentecostes. Nem todos os estudiosos concordam que a igreja começou no dia de Pentecostes, pois foi gestada desde a eternidade,  mas a maioria vê a festa de Pentecostes como o início (nascimento) do pleno desenvolvimento da igreja. Todos os estudos teológicos distinguem entre a igreja verdadeira e invisível como um organismo, e a igreja professa e visível como uma organização.
Razões Para o Estudo da História da Igreja
A Importância do Trabalho Missionário: Na medida em que estudamos a  história da Igreja podemos perceber como a mensagem evangélica sai dos recônditos da Palestina judaica e alcança o mundo romano inteiro e tem chegado até os confins  da terra nestes mais de dois mil anos de existência da igreja. No aspecto negativo são também identificáveis os períodos em que indivíduos, grupos e movimentos falharam em sua fidelidade à Grande Comissão. Há longos períodos em que o esforço missionário foi esquecido.
O Desenvolvimento Doutrinário: Sabemos que Jesus Cristo não deixou uma única linha escrita, portanto, todas as doutrinas cristãs foram elaboradas no decorrer dos tempos. A definição do próprio cânon do Segundo Testamento foi definida oficialmente no século IV; o conjunto das doutrinas denominadas de ortodoxas foi definido após longos e até sangrentos Concílios cristãos, no transcorrer de vários séculos e posteriormente redefinidos no período da Reforma Protestante no século XVI. Apreender este aspecto da História da Igreja nos capacita com maior dose de precisão uma análise dos diversos sistemas doutrinários que permeiam as diversas formatações do cristianismo ao redor do mundo. Um exemplo clássico é o cristianismo Oriental e Ocidental em que afluem inúmeras semelhanças, mas se mantém também muitas distinções doutrinárias e eclesiásticas. Esse estudo das doutrinas não deve objetivar a radicalização e intolerância, mas deve contribuir para um alargamento da pacificação e tolerância com aqueles que pensam diferentemente. Foi nesse espírito que surge o termo “denominação” onde cada igreja denominacional tem suas definições doutrinárias peculiares, mas compactuam daquele conjunto de doutrinas eminentemente bíblica.  
Identificando as Heresias: Heresia aqui são todas as formulações doutrinárias ou teológicas que proliferaram em desarmonia com as formulações ortodoxas. É a grande oportunidade para uma análise da consistência das doutrinas cristãs e a percepção de que as “novidades” doutrinárias do presente são apenas reelaborações ou meras repetições das velhas “heresias” forjadas na bigorna da história da igreja cristã. Na medida em que se estuda estes desvios da ortodoxia teológica cristã é também a oportunidade para ratificar este conjunto de elaborações doutrinárias que tem permanecido norteando a igreja cristã em todos esses séculos.
Desenvolvimento da Organização Eclesiástica: A igreja cristã nasce de forma simples dentro do espírito comunitário. No livro de Atos temos uma self da simplicidade eclesiástica: apóstolos, presbíteros, diáconos. Sua liturgia conforme Lucas era: pregação apostólica, orações, ceia (partir do pão) e comunhão. Mas no desenvolvimento da igreja cristã sua organização interna vai se tornando cada vez mais complexas. A pequena e singela comunidade cristã vem a tornar-se uma organização poderosa, principalmente após a era do imperador romano Constantino. Ao estudarmos esse aspecto da história da igreja tomamos conhecimento de como as forma eclesiástica católica romana, luterana, episcopal, congregacional, presbiteriana e outras se desenvolveram. Também ajuda a entender a história do denominacionalismo, especialmente na América, onde existem uma pluralidade de diferentes grupos de cristãos professos.
Os Grandes Personagens: A história da Igreja é um registro de grandes homens e mulheres de Fé - teólogos, pregadores, leigos, etc. Grande parte da história da igreja é um estudo destes personagens e suas contribuições para o desenvolvimento da igreja cristã. Toda a ortodoxia e eclesiologia atual foram elaboradas e sustentadas por pessoas que deram suas próprias vidas em defesa delas. O contato com esses personagens, com suas qualidades e defeitos, deve acender em nós a chama de um zelo e valorização desta herança que recebemos, mas que em muitos momentos trocamos por um prato insignificante de lentilhas (como fez Esaú com sua progenitura) ou simplesmente jogamos fora de forma dissoluta (como fez o pródigo com a parte da herança recebida do pai). A pergunta: vale a pena lutar por esse conjunto de doutrinas ortodoxas hoje? A resposta fica mais clara e contundente quando conhecemos a vida daquelas pessoas que se gastaram e se deixaram gastar, em vários casos até à morte, em defesa destas verdades cristãs.
As Diversificadas Perseguições: As perseguições sofridas pelos cristãos e posteriormente pela igreja cristã ao longo dos séculos são páginas regadas por muitas lágrimas e sangue. Mas estas perseguições foram externas, como por exemplo as infligidas pelos imperadores romanos (lembrando que nem todos eles), mas também perseguições internas como as produzidas pela Inquisição Católica Romana, mas igualmente pelos diversos movimentos reformados, tais como os anabatistas que foram afogados de forma cruel. Ainda que repudiemos todas e quaisquer perseguições somos lembrados das palavras proferidas pelo próprio Senhor Jesus Cristo quando afirmou que o mundo odiaria o cristão e que os cristãos sofreriam muito por sua fé, certamente essas palavras de Jesus sustentaram e confortaram o coração de milhares e/ou milhões de cristãos em todo lugar e tempo e que foram e continuam sendo perseguidos e mortos por causa de sua fé cristã (como estão acontecendo na Coreia do Norte e nos países mulçumanos).  
Movimentos: Uma dos aspectos mais interessantes e que me atrai particularmente é o surgimento e desenvolvimento dos diversificados movimentos cristãos que surgiram dentro e fora da igreja organizada. Alguns desses movimentos foram importantes para reavivar as igrejas organizadas que estavam vivendo de forma letárgica e moribunda. Ainda que tantos outros movimentos tornaram-se perigosos e nocivos à vida da igreja cristã, ainda assim eles tornam-se relevantes, pois fizeram com que a igreja cristã reagisse, reafirmasse e valorizasse sua ortodoxia. O exemplo clássico é o movimento produzido por Macião, ainda no segundo século, que impactou todo o cristianismo da época e que forçou a igreja cristã a iniciar seu processo de estabelecimento de ortodoxia a começar pela definição do cânon do Segundo Testamento e a elaboração de um Credo básico da fé cristã, sintetizado no que passou a ser denominado de “Credo Apostólico”, não porque foi escrito pelos apóstolos, mas porque preserva a essência da pregação e ensino apostólico.
Efeitos na História Geral: A história humana jamais foi a mesma desde a entrada da igreja cristã no mundo. Inumeráveis vidas, povos e nações foram impactados e transformados pela mensagem poderosa da cruz. A educação cristã e as agências filantrópicas manifestam na prática o amor de Cristo no meio da sociedade humana, elevando muitos indivíduos e sociedades a um novo patamar moral.
Deus, em todas as gerações, transformou as pessoas com as boas novas de Cristo e nunca se deixou sem uma testemunha.

Quero concluir esse artigo introdutório com as palavras oportunas de Cairns:
 A História da Igreja fornece uma síntese do passado, uma explicação do presente, um guia para corrigir a conduta e motivos inspiradores para ilustrações boas e práticas para os pregadores e é um estudo libertador”.

Utilização livre desde que citando a fonte
Guedes, Ivan Pereira
Mestre em Ciências da Religião.
me.ivanguedes@gmail.com
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Reflexão Bíblica


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Referências Bibliográficas
BILHMEYER, Karl; TUECHLE, Hermann. Storia della Chiesa: 1-l. Brescia: Morcelliana, 1989.
BROWN, Peter. A ascensão do cristianismo no ocidente. Lisboa: Presença, 1999.
CAIRNS, Earle E., Christianity Through the Centuries, Revised & Enlarged Edition. Grand Rapids: Academie Books, a division of Zondervan Publishing House, 1954, 1981.
DANIEL-ROPS, Henri. A Igreja dos Apóstolos e dos Mártires. Tradução Emérico da Gama. São Paulo: Quadrante, 1988.
DANIÉLOU, Jean. MARROU, Henri-Irenée. Nova História da Igreja Vol. I: dos Primórdios a São Gregório Magno. Petrópolis, RJ: Editora Vozes, 1966.
EUSÉBIO DE CESAREIA. História Eclesiástica. Tr. Monjas Beneditinas do Mosteiro Maria Mãe de Cristo. São Paulo: Paulus, 2000.
GWATKIN, Henry Melvill. Early Church history to A.D. 313. London: Macmillan and Co., Limited St. Martin’s Street, 1912. [v.1].
RENWICK, A. M. The story of the Church. B. Eerdmans Pub. Co., 1985.
RIBEIRO, Daniel Valle. Nero e o incêndio de Roma. Acessado em 05/10/2018 https://static1.squarespace.com/static/561937b1e4b0ae8c3b97a702/t/57274bb75559869e24624c7d/1462193082994/6_Ribeiro%2C+Daniel+Valle.pdf
SUETÔNIO. Os doze Césares. Tr. Gilson César Cardoso de Sousa. Guarulhos, SP: Germape, 2003.
TÁCITO. Anais. Rio de Janeiro: F.diouro, 1967 [Trad. de Leopoldo Pereira]. TERTULLIAN. Apologetic. Tr. Rev. S. Thelwall. In. SCHAFF, P. MENZIES, A. (Ed.) A select library of Nicene and Post-Nicene Fathers of the Christian Church. Tome I-3. Edinburgh: T&T Clark, 1887. pp. 19-79.
YANGUAS, Narciso Santos. Cristianismo e Imperio romano durante el siglo I. Madrid: Universidade de Ouviedo Servicio Publicaciones, 1994

quarta-feira, 17 de outubro de 2018

As Primeiras Escolas de Interpretação - Escola de Alexandria



Ao iniciarmos nossa visão panorâmica da história da interpretação, deve ficar evidente que estamos delimitando o assunto aos intérpretes cristãos, já que nosso objetivo principal é conhecer o desenvolvimento da interpretação cristã. Outra delimitação necessária é de ordem cronológica, pois vamos examinar a história a partir do terceiro século. Certamente existe uma prática hermenêutica intensa antes das escolas de Alexandria e Antioquia que elegemos como o marco de nosso estudo, mas, salvo outro entendimento, é a primeira vez na história que se pode usar o termo “escola”.
1 - A Escola de Alexandria
A famosa cidade egípcia era considerada uma das maiores da Antiguidade, especialmente, pelo seu famoso Farol (uma das sete maravilhas do mundo antigo) e sua biblioteca (a maior do mundo antigo). Ali floresceu uma importante comunidade judaica que nos legou uma grande obra: a Septuaginta (tradução do texto hebraico para o grego). Quanto o evangelho chegou àquela cidade houve ampla aceitação, resultando em rápido crescimento da comunidade cristã. Alexandria ficou famosa pelo método alegórico de interpretação. É verdade que os seguidores dessa escola não ignoravam o sentido literal dos textos.
O método de interpretação consagrado em Alexandria tem suas raízes na filosofia grega. Podemos com certa convicção afirmar que pelos menos três filósofos influenciaram, direta ou indiretamente, esta escola. O primeiro é Heráclito (540—475 a.C.), que, para lidar com as dificuldades de uma abordagem literal às obras de Homero (A Ilíada e Odisseia), concebeu um sentido mais profundo de interpretação, que recebeu o nome de hiponóia. Outro filósofo que dá a sua contribuição a Alexandria é Platão (427-347 AC). Segundo ele, nosso mundo é uma representação do mundo perfeito (mundo das ideias). Por isso, as coisas do mundo material são reflexos (alegorias) dos conceitos e verdades espirituais do mundo das ideias. A terceira influência à escola de Alexandria foi o filosofo judeu Filo (20 AC e 50 DC). Ele foi sempre fiel às tradições judaicas nas quais fora criado, demonstrando grande apreço às Escrituras. Filo também admirava os escritos do Platão, seu grande herói, ao lado de Moisés. Por isso, se esforçou para conciliar os ensinos de Moisés com as ideias do filosofo grego. Nesta tentativa, lançou mão da alegoria (dizer uma coisa em lugar de outra)[1].
1.1. Principais Representantes
Clemente de Alexandria (150-215 d.C.)
Considerado uns dos primeiros a lidar seriamente com as questões da interpretação bíblica. Clemente de Alexandria entendia que as Escrituras tinham um sentido oculto que somente era revelado ao verdadeiro discípulo. Por isso, lançou mão da alegoria para descobrir as verdades ocultas e para harmonizar os dois Testamentos. Estabeleceu uma teoria que atribuía cinco sentidos às Escrituras (histórico, doutrinai, profético, filosófico e místico). Apesar disso, ele sempre privilegiou o sentido alegórico.
Orígenes (185-253 d.C.)
O notável sucessor de Clemente é considerado o maior erudito de seu tempo. Como Filo, entendia que a perspectiva platônica era a melhor maneira de entender a Bíblia. Reconhecia que o sentido literal era valioso, especialmente para os principiantes, mas às vezes podia dificultar uma compreensão mais espiritual das Escrituras. Também sob a influência da filosofia grega, ele enxergava nas partes constitutivas do ser humano (segundo ele: corpo, alma e espírito) uma analogia às Escrituras que teriam assim três sentidos: o corpo, o sentido literal, para os principiantes; a alma, o sentido moral, para os que progrediram um pouco; o espirito, o sentido alegórico ou místico, para os espirituais.
Vejamos alguns exemplos da interpretação alegórica, oferecidos por Lopes (2004, p.133):
*Rebeca vem tirar água do poço e encontra o servo de Abraão (Gn 24.15-17) - significa que diariamente devemos vir aos poços da Escritura para ali nos encontrarmos com Cristo;
*Faraó mandando matar os meninos e preservando as meninas hebreias (Ex 1.15-16) - os meninos significam o espírito intelectual e sentidos racionais enquanto que as meninas significam paixões carnais;
*As seis talhas de pedra, que os judeus usavam para as purificações (Jo 2.6), significam os sentidos moral e literal das Escrituras e às vezes, o espiritual;
*O sentido verdadeiro (alegórico) da passagem sobre o divórcio (Mt 19.6) é a separação da alma do seu anjo da guarda.
Parece-nos que, neste momento do nosso estudo, é necessário fazer uma tentativa de conceituar ou definir alegoria, mesmo que seja de maneira simplificada e provisória. Nos exemplos que estamos observando, alegoria é uma figura de linguagem que consiste na espiritualização da passagem. Na alegoria bíblica os fatos históricos, eventos e personagens são vistos com um sentido espiritual. O intérprete entende que o texto está dizendo “A” enquanto na verdade significa "B". Segundo a Wikipédia:
Uma alegoria (do grego allos, “outro", e agoreuein, “falar em público") é uma figura de linguagem, mais especificamente de uso retórico, que produz a virtualização do significado, ou seja, sua expressão transmite um ou mais sentidos que o da simples compreensão ao literal.
1.2. Considerações
A grande crítica ao método alegórico de interpretação da Escola de Alexandria consiste no fato de que foram abertas portas para que o exegeta pudesse interpretar o texto segundo sua conveniência, pois não foi estabelecido nenhum princípio regulador que governasse a exegese alegórica. Mesmo assim, não podemos ser simplistas e reduzir Alexandria a alegorias bizarras. É preciso reconhecer que os seguidores desta escola, geralmente, nutriam motivos considerados nobres, além de que muitos se tomaram notáveis pela erudição. As suas principais contribuições são:
*Preocupação pastoral. Os intérpretes de Alexandria adotavam a alegoria como uma tentativa de tomar o texto bíblico, especialmente o Antigo Testamento, um documento cristão, logo, relevante à Igreja. As Escrituras não eram apenas descritivas, mas também normativas. Toda ela deveria ser tomada como regra de fé e prática;
*Preocupação doutrinária. Alexandria procurou dar uma resposta aos judeus e a alguns heréticos que procuravam deturpar as Escrituras. Enquanto os judeus defendiam a ideia de que o Antigo Testamento era exclusivo para eles, havia aqueles, como Marcião, que não podiam conceber o mesmo Deus para o Antigo e para o Novo Testamento e, assim, rejeitavam quase por completo o AT. Coube, então, aos intérpretes alexandrinos o enfrentamento do desafio de harmonizar os dois testamentos.

Manual de Hermenêutica Bíblica
Me. Israel Sifoleli
Mestre em Ciências da Religião
Docente da Faculdade Latino-americana
(FLAM)

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Referências Bibliográficas
SIFOLELI, Israel. Manual de hermenêutica bíblica. São Paulo: Fonte Editorial, 2016.
DOCKERY, S. David. Hermenêutica Contemporânea à luz da Igreja Primitiva. Tradução Álvaro Hattnher. São Paulo: Vida, 2005 (pp. 73-123).
LOPES, Augustus Nicodemus. A bíblia e seus interpretes. São Paulo: Cultura Cristã (pp. 129-139).
HALL, Christopher A. Lendo as escrituras com os Pais da Igreja. Tradução Rubens Castilho. Viçosa (MG): Ultimato, 2000 (pp. 126-165).



[1] Para um estudo mais detalhado sobre Filo, ver LOPES, A. N. A Bíblia e seus intérpretes. São Paulo: Cultura Cristã, 2004, p. 83-96.

quinta-feira, 11 de outubro de 2018

Protestantismo: Verdadeiro Cristianismo (Johann Arndt) [ampliado]




A conciliação entre elevado conhecimento teológico e profunda piedade é possível, embora historicamente rara. Em muitos contextos, essas dimensões da vida cristã são percebidas como opostas ou concorrentes. É comum que, à medida que alguns aprofundam-se na reflexão teológica, desenvolvam certa resistência às expressões emocionais da fé, interpretando-as como sinais de ingenuidade ou superficialidade. Por outro lado, há quem, ao valorizar intensamente a vivência devocional, acabe por negligenciar o rigor teológico, considerando-o excessivamente racional ou distante da experiência espiritual.

No entanto, como toda regra admite exceções, Johann Arndt (1555–1621) representa um exemplo notável de equilíbrio entre essas duas esferas. Sua trajetória teológica e espiritual revela que é possível unir, de maneira sensata e coerente, uma formação doutrinária sólida com uma vida cristã marcada pela piedade profunda. Arndt figura, assim, entre os poucos que conseguiram integrar saber teológico e devoção prática, oferecendo à tradição protestante um modelo de espiritualidade que transcende dicotomias e promove a maturidade da fé.

            Os tempos vividos por Johann Arndt guardam notáveis semelhanças com o contexto contemporâneo. Naquele período, a igreja alemã pós-Reforma havia alcançado um alto grau de sistematização teológica. Embora a organização doutrinária não represente, em si, um problema, observa-se que, com o passar do tempo, o conhecimento teológico tende a se distanciar da vivência prática da fé — aquilo que tradicionalmente se denomina vida cristã piedosa. Uma vez que os principais dogmas já estavam formulados, definidos e respaldados pelas Escrituras, instalou-se um certo relaxamento espiritual, no qual as práticas religiosas passaram a ser repetidas de forma mecânica e rotineira, esvaziadas de sua força transformadora.
            Na medida em que o tempo vai passando esta acomodação vai se transformando em um relaxamento e displicência para com a devocional e prática individual da vida cristã. O conhecimento teológico vai assumindo o controle na mesma proporção em que a vida devocional vai sendo minimizada e colocada no rodapé da vida religiosa.
Poucos são aqueles que conseguem perceber o movimento de dissociação entre teologia e espiritualidade, justamente por se tratar de um processo gradual e quase imperceptível — até que se cristalize em uma ortodoxia fria e inflexível. Johann Arndt, ao lado de alguns poucos contemporâneos, foi capaz de identificar essa desconexão entre uma teologia formalmente correta e uma prática cristã coerente e vivificante. Ele reconheceu que não basta uma pregação teológica, exegética, hermenêutica e homileticamente precisa, se não houver uma vida cristã que reflita, com igual intensidade, os valores e convicções que essa ortodoxia pretende sustentar.
         Os compêndios teológicos e as Confissões de Fé desempenham papel fundamental na preservação da integridade doutrinária, especialmente em contextos marcados pela pluralidade de ideias e pela presença de discursos que, por vezes, se afastam dos princípios bíblicos. Sua elaboração cuidadosa é indispensável para garantir que o ensino cristão permaneça sólido e coerente. No entanto, é igualmente necessário cultivar uma prática devocional viva, capaz de aquecer o coração e nutrir a alma, conduzindo o crente a uma vivência intensa e autêntica da fé no cotidiano. Essa espiritualidade encarnada não apenas fortalece a vida interior, mas também se torna instrumento de transformação, por meio de um testemunho cristão que inspira e alcança outras pessoas.
            Uma teologia e ortodoxia que confinam o cristão em estruturas rígidas e isoladas podem tornar-se não apenas limitadoras, mas contrárias ao espírito do Evangelho. Ao longo da história, observa-se que, quando a fé é vivida apenas no âmbito institucional, sem conexão com a realidade social, ela corre o risco de perder sua vitalidade e relevância. A teologia autêntica, por sua natureza, deve ser libertadora — capaz de mobilizar o crente a viver suas convicções cristãs de forma encarnada, atuando no tecido da sociedade como sal que preserva e impede a degradação moral e espiritual.
A ortodoxia sadia e abençoadora é aquela que provoca inquietações espirituais profundas, conduzindo o cristão para fora das zonas de conforto e das estruturas religiosas que, por vezes, o protegem do contato direto com os desafios do mundo. Trata-se de uma espiritualidade que não se contenta com o recolhimento, mas que impulsiona o crente a ser luz em meio às densas trevas da existência humana, testemunhando com coragem e sensibilidade o poder transformador do Evangelho. Uma teologia e ortodoxia coerentemente é aquela que prepara o crente para manter seu estandarte erguido e tremulante em meio a este mundo tenebroso, mesmo que isso lhe custe tudo (família, bens, prazer - hino Lutero).
            Diante de um cenário eclesiástico em que a ortodoxia havia se tornado estéril, desvinculada de uma prática espiritual vivificante, Johann Arndt — juntamente com alguns poucos contemporâneos — propôs o resgate das práticas devocionais cristãs. Essa proposta se insere no fluxo do movimento holandês conhecido como Precisionismo, que antecedeu e influenciou outros movimentos espirituais de maior alcance e repercussão geográfica, como o pietismo e o metodismo.
Sua obra, que será abordada ao longo desta série de artigos — Verdadeiro Cristianismo ou Os Quatro Livros do Verdadeiro Cristianismo — tornou-se leitura de referência para milhares de cristãos na Alemanha, na Holanda e em diversos países de tradição reformada. Notavelmente, sua influência ultrapassou fronteiras confessionais, sendo também acolhida em círculos católicos romanos, dada a profundidade espiritual e o apelo devocional de seus escritos.

A obra de Johann Arndt exerceu profunda influência sobre centenas — possivelmente milhares — de lideranças evangélicas, ultrapassando fronteiras geográficas e temporais. Seu legado tornou-se um dos principais motores do movimento interdenominacional que viria a ser conhecido como Pietismo na Alemanha e Holanda, e como Puritanismo na Inglaterra e, posteriormente, na América do Norte. As repercussões desses movimentos continuaram a se manifestar, ainda que com menor originalidade e intensidade, na implantação do protestantismo no Brasil, especialmente por meio das tradições presbiteriana, metodista e congregacional, influenciadas pelo viés norte-americano, mais do que por suas fontes europeias originais.

Um exemplo significativo é o jovem missionário presbiteriano estadunidense Ashbel Green Simonton, responsável por introduzir o protestantismo presbiteriano no Brasil. Ao longo de sua vida, Simonton manteve um diário pessoal — prática típica do pietismo — no qual registrava seus conflitos espirituais e demonstrava profundo zelo por uma vida devocional intensa e contínua.

Até as décadas de 1970 e 1980, era comum que os evangélicos brasileiros fossem incentivados à prática diária da devoção pessoal, bem como à realização de cultos domésticos. Contudo, essas práticas foram gradualmente abandonadas à medida que a chamada teologia da prosperidade passou a ocupar lugar central na vida eclesiástica e pessoal de grande parte dos evangélicos contemporâneos, promovendo uma espiritualidade mais voltada ao bem-estar material do que à formação interior.

Quem foi Johann Arndt?

Johann Arndt nasceu em 27 de dezembro de 1555, na aldeia de Edderitz, situada na região de Köthen, Anhalt (Alemanha). Filho do pastor Jakobus Arndt, cresceu em Ballenstedt, também em Anhalt. Faleceu em 1621, aos 63 anos, deixando um legado teológico e espiritual que influenciou profundamente o protestantismo europeu.

Reconhecido como um dos mais importantes teólogos luteranos de sua época, Arndt estudou em diversas universidades de prestígio, incluindo Helmstedt, Wittenberg, Basel e Strasbourg. Atuou como pastor em várias localidades, entre elas Ballenstedt, Bernburg, Badeborn, Quedlinburg e Brunswick.

Durante sua passagem por Wittenberg, em 1577, Arndt esteve envolvido na controvérsia cripto-calvinista, posicionando-se ao lado de Philipp Melanchthon e dos cripto-calvinistas, em defesa de uma teologia mais conciliadora. Posteriormente, aprofundou seus estudos em Strasbourg sob a orientação de Johannes Pappus, professor de hebraico e fervoroso luterano, cuja influência foi decisiva na formação teológica de Arndt.

Durante sua formação teológica em Basileia, Johann Arndt recebeu orientação de Simon Sulzer[6], teólogo comprometido com o desafio de promover a conciliação entre as igrejas das confissões Helvética e Wittenberg. Em 1581, Arndt retornou a Ballenstedt, mas em 1583 foi chamado para assumir o pastorado em Badeborn. Com o tempo, suas convicções luteranas despertaram tensões com as autoridades locais, vinculadas à Igreja Reformada, o que resultou em sua deposição em 1590.

Apesar desse episódio, Arndt encontrou acolhimento em Quedlinburg no mesmo ano, e posteriormente foi transferido, em 1599, para a igreja de St. Martin, em Brunswick. Sua notoriedade, no entanto, está fortemente associada à sua produção literária. Seus escritos, de caráter místico e devocional, foram influenciados por figuras como Bernardo de Claraval[7], Johannes Tauler[8] e Thomas à Kempis[9], e contribuíram significativamente para o desenvolvimento da espiritualidade protestante, especialmente no contexto do pietismo nascente.

Sua obra mais conhecida, Verdadeiro Cristianismo (Wahres Christentum, 1606–1609)[10], foi traduzida para a maioria das línguas europeias e serviu de base para diversos livros de devoção, tanto no âmbito protestante quanto católico[11]. Nesse trabalho, Johann Arndt aborda a união mística entre o crente e Cristo, buscando enfatizar a presença viva de Cristo no coração dos fiéis — em contraste com a abordagem predominantemente forense da teologia reformada de sua época, centrada na justificação legal.

Arndt era um clérigo popular, conhecido por utilizar uma linguagem acessível e por pregar a todos, sem distinção de classe. Costumava afirmar que o inferno não fazia distinção entre pobres e ricos, o que refletia seu compromisso com uma espiritualidade inclusiva e profundamente ética. Sua postura pastoral, aliada à ênfase na vida devocional prática, despertou resistência entre setores mais intelectualizados da igreja, que preferiam discursos teológicos mais abstratos e sistemáticos.

O conflito entre sua proposta espiritual e os interesses institucionais chegou ao ápice quando seus sermões — e até mesmo exemplares de sua obra Verdadeiro Cristianismo — foram queimados publicamente, em episódios que evocam práticas de censura religiosa semelhantes às da Inquisição Católica Romana. Ainda assim, sua influência permaneceu viva, atravessando fronteiras confessionais e inspirando movimentos de renovação espiritual por gerações.

Johann Arndt também publicou uma edição da obra Teologia Alemã (Theologia Deutsch), à qual acrescentou um prefácio no qual procurou esclarecer e reforçar sua proposta espiritual, alinhando-a à tradição mística cristã. Após Verdadeiro Cristianismo, sua obra mais conhecida é O Jardim do Paraíso de Todas as Virtudes Cristãs (Paradiesgartlein aller christlichen Tugenden), publicada em 1612, que reúne reflexões devocionais sobre a vida virtuosa. Além disso, diversos de seus sermões foram reunidos e publicados por R. Nesselmann, contribuindo para a preservação de seu legado pastoral.

Arndt é frequentemente referido como o “avô do pietismo”, título que reflete sua influência direta sobre Philipp Jakob Spener, considerado o “pai do pietismo”. Spener não apenas recomendava a leitura das obras de Arndt, como também o comparava a Platão, em reconhecimento à profundidade de seu pensamento espiritual.

Embora hoje Arndt seja relativamente desconhecido do grande público, aqueles que se dedicam ao estudo da espiritualidade protestante logo percebem que ele figura entre os mais influentes teólogos luteranos desde os tempos da Reforma, especialmente por sua capacidade de unir ortodoxia doutrinária e vivência devocional.

Um cristão, pelo menos por um dia,
deve se afastar de todas as coisas externas
e entrar no fundo do seu coração
(Do verdadeiro cristianismo)

Utilização livre desde que citando a fonte
Guedes, Ivan Pereira
Mestre em Ciências da Religião.
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Referências Bibliográficas
ARNDT, Johann. True christianity – on sincere repentance, true Faith, the holy walk of the true christianDisponível em https://archive.org/stream/truechristianity34736gut/34736-pdf. Acesso em: 20/12/2015.
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[1] Termo utilizado para se referir algum tipo de movimento evangélico que não distingue denominação; que não é exclusivo de uma igreja – é o caso dos movimentos como o Precisionismo holandês, pietismo alemão e o puritanismo inglês – que permearam todas as denominações evangélicas da época.
[2] Seu pai era originalmente de Köthen e se mudou com sua família em 1558 de Edderitz para Ballenstedt para assumir o pastorado. Ele morreu em 1565.
[3] Cripto-calvinismo é um termo pejorativo para se referir a um segmento de membros alemães da Igreja Luterana acusados de secretamente convencionarem a doutrina calvinista da Eucaristia nas décadas imediatamente após a morte de Martinho Lutero em 1546.
[4] Fhilipp Melanchthon (em português: Filipe Melâncton – 1497-1560) foi um reformador alemão e profícuo colaborador de Lutero, redigiu a “Confissão de Augsburgo” (1530) e converteu-se no principal líder do luteranismo após a morte de Lutero. Se esforçou ao extremo para conciliar as divergências eucarísticas entre os reformados, mas não alcançou sucesso.
[5] Chefe dos luteranos em Estrasburgo; 1568-1578 professor de língua hebraica a. História na Academia em Estrasburgo, 1570-78, Freiprediger em Estrasburgo, 1578-1610 Prof. Teologia na Academia e Pastor em Estrasburgo, 1582-1610 Presidente da Convenção da Igreja Luterana.
[6] Simon Sulzerus Bernensis (1508-1585) foi um teólogo, reformador e líder da Igreja de Basileia. Em 1536 faz sua preferência pela teologia de Lutero, que vem a conhecer em Wittenberg, em 1538, tendo a figura do reformador o impressionado muito. Ele se esforçou muito para conseguir a reconciliação entre as igrejas da Alemanha e da Suíça, embora mantivesse uma distância relativa entre as posições mantidas pelos seguidores de Zwingli e de Calvino.
[7] Bernard de Clairvaux (1090-1153) foi um abade francês e um importante líder na reforma do monaquismo beneditino que causou a formação da ordem cisterciense . Seus escritos influenciaram milhares de cristãos e movimentos posteriores.
[8] Johannes Tauler (1300 - 136), também conhecido como John Tauler, foi um sacerdote e místico alemão, nascido em Estrasburgo. Ele pertencia à ordem dominicana e era um pregador prolífico. Juntamente com seu amigo e contemporâneo Henry Suso, ele foi um dos triunviratos de pensadores pertencentes à escola Rhineland, também chamada de escola Rheno-Flamenga, da qual Meister Eckhart foi o fundador e proponente supremo. Ele não deixou nenhum livro escrito, porém seus sermões foram colecionados e editados se tornando extremamente populares e sendo considerados os mais nobres da língua alemã e eram intensamente práticos, tocando de todos os ângulos os problemas mais profundos da moral e da vida espiritual.
[9] Monge e escritor alemão, Tomás de Kempis nasceu em 1380, em Kempen, na Renânia do Norte (perto de Colónia), faleceu a 24 de julho de 1471, no Mosteiro de Santa Inês. Tomás de Kempis produziu cerca de quarenta obras que tranquilamente encontram ressonância na literatura devocional moderna. Destaca-se o seu livro mais célebre, Imitação de Cristo, composto por quatro volumes, no qual apela a uma vida seguida no exemplo de Cristo, valorizando a comunhão como forma de reforçar a fé.
[10] Após a morte de Arndt, um quinto e um sexto livro foram adicionados de seus escritos e cartas menores, de modo que o título agora se lê Seis Livros do Cristianismo Cristão. A cada edição ilustrações e orações foram agregadas que a extensão inicialmente pequena cresceu até o imponente tamanho de mil páginas e se tornou um livro da casa cristã, que ficava ao lado da Bíblia em suas estantes.
[11] Os primeiros emigrantes alemães para a América do Norte tinham o Verdadeiro Cristianismo em suas bagagens. Quando as cópias acabaram houve solicitações por uma nova condição. Com centenas de inscritos, Benjamin Franklin, originalmente um impressor, organizou uma nova edição na Filadélfia em 1751. O Cristianismo Verdadeiro de Arndt foi o primeiro trabalho impresso em alemão no novo mundo. Um tesouro bibliófilo é a tradução de Tantil do Verdadeiro Cristianismo na índia, escrita em folhas de palmeira.