Após a
Reforma Religiosa e/ou Reforma Protestante ocorrida no século XVI, o
Cristianismo Ocidental jamais foi o mesmo. Na corredeira deste imenso movimento
reformador originaram-se diversos segmentos religiosos tais como o calvinismo e
o luteranismo.
Todavia,
com o passar do tempo o ardor religioso que originariamente impulsionou os
movimentos reformados foram se esvaindo paulatinamente, sendo substituído por
uma fé dogmática. A ortodoxia[1] protestante
que em seus primórdios era profundamente religiosa, definindo com muito zelo os
marcos fundamentais de uma fé genuinamente bíblica, nas gerações seguintes foi
sendo cristalizada e tornou-se tão ou mais intransigente do que a ortodoxia
católica que eles questionaram e se opuseram de forma tão contundente. Walker
relaciona este dogmatismo extremado com o movimento racionalista que eclodiu
nos séculos posteriores à Reforma:
“Em certo sentido, esse protestantismo
escolástico foi mais estreito do que aquele do período medieval por ter sido
inconscientemente influenciado pelo espírito racionalista contra a qual lutou,
tanto que se tornou semelhante às novas correntes racionalistas tanto na
têmpera como no método”. (1967, p. 190).
Essa
forma protestante friamente ortodoxa, privilegiando a formulação exata em
decorrência de uma experiência vivencial produziu um tipo de protestante
passivo e desinteressado em qualquer experiência pessoal com Deus.
Todavia,
começa a surgir movimentos que revelam uma insatisfação com este tipo de ser
protestante. Inicialmente são manifestações pessoais e locais, mas na medida em
que o tempo decorre formam-se pequenos grupos de homens e mulheres que desejam
além de uma ortodoxia bíblica, desenvolver também uma vida cristã dinâmica de
maneira a influenciar as demais pessoas e a própria sociedade. Por se tratar de
iniciativa individuais e não coordenado, torna-se um movimento difícil de ser
datado historicamente, como explica Gonzales:
“Trata-se de um sem número de correntes e de
mestres cujas doutrinas e discípulos se entrelaçam e confundem-se entre si, de
tal modo que nem sempre é possível distinguir entre uns e outros, ou determinar
quem foi o primeiro proponente de uma ou outra ideia” (1984, p. 145).
Falando sobre esses movimentos espiritualistas Costa
afirma que eles sempre se manifestaram como contraponto ao intelectualismo e ao
clericalismo, servindo como válvula de escape para uma expressão religiosa mais
mística (Johann [Mestre] Eckhart,[2]
Johannes Tauler,[3]
Thomas à Kempis, Kaspar Schwenckfeld), e outros movimentos menos influentes,
mas que trazem em comum “o elã vital de
buscar a pureza e um contato mais direto com Deus, sem intermediações” (1999,
p. 2).
Deste
modo, desde os finais do século XVI diversos fenômenos religiosos, sem ligação
aparente, se manifestam em lugares diferentes. Esses movimentos são o que
poderíamos chamar de renascimento da religião e que apesar de seus equívocos
pontuais e em alguns casos graves, manifestam o desejo de um retorno à religião
do coração (experimental), em oposição à religião dogmática (formulação confessional).
Ainda que seus mentores heterogêneos constantemente recorressem aos místicos
medievais, e até mesmo se apropriassem do vocabulário daqueles, mantinham
firmes seus pressupostos teológicos conforme esboçados em suas confissões e
catecismos. Mas para esses movimentos, o fim da teologia precisava ser a união
do crente com Deus. Uma vida cristã genuína deveria produzir e manifestar uma
comunhão pessoal com Deus, o prazer nas suas perfeições, a segurança de seu
amor, a submissão à sua vontade e o regozijo em suas bênçãos.
Mas
uma característica distintiva do que ocorria na Idade Média e posteriormente do
quietismo francês, representado por Madame Guyon, Fénelon e um pouco antes por
Miguel de Molinos, esta busca por uma comunhão mais intensa e direta com Deus
foi amalgamada à uma fé pratica. As orações e meditações não eram um fim em si
mesmas e nem formas de se fugir da realidade, mas deveriam moldar a forma de se
viver a vida cotidiana. Ações práticas de amor ao próximo, como o cuidado dos
doentes, amparo aos pobres, educação dos jovens, eram buscadas incansavelmente.
A genuína espiritualidade não era decorrente apenas de sistemas teológicos bem
definidos ou elaborações especulativas, mas uma fé simples adquirida na
caminhada com Deus.
Entre esses movimentos incipientes na busca
de uma fé experimental está o chamado “Precisionismo”
holandês, que não apenas precede o movimento Pietista Alemão e o Puritanismo inglês,
mas se constituirá em um modelo ou protótipo para esses grandes movimentos
espiritualista e/ou avivalista, que haverão de extrapolar todas as geografias
nacionais e denominacionais, inclusive atravessando oceanos e continentes,
impregnando o protestantismo da América do Norte e posteriormente desembarcando
aqui no Brasil e América do Sul no final do século XIX através dos missionários
e denominações estadunidenses que vieram para implantar e desenvolver seu
protestantismo.
O termo
“precisionista” tem sua etimologia
derivada do inglês, francês e latim, adquirindo em sua forma final o sentindo
de algo “exato, bem definido, preciso”
– “minuciosamente exata”. Desta forma
os “precisionistas” eram aquelas pessoas que procuravam viver em conformidade
estrita e minuciosa com um determinado padrão de fé. Esta forma pessoal de
expressar a fé cristã vai fecundar os dois maiores movimentos internos do
protestantismo nos séculos XVII e XVIII, o Pietismo na Alemanha e o Puritanismo
na Inglaterra.
O
Precisionismo não é nem Pietismo e nem Puritanismo, mas o fator fecundante
destes grandes movimentos espiritualista e/ou avivalista. Insatisfeitos com a
ortodoxia fria e dogmática que tanto o “luteranismo”, quanto o “calvinismo”, já
bastante distanciados do fervor espiritual do período iniciante, muitos
cristãos começaram a buscar para si mesmos uma forma de manterem sua fé e sua prática
dos princípios bíblicos, ou seja, manter o padrão da fé como duramente
estabelecidos nos Credos e Catecismos, mas conciliando-os com uma vida cristã
condizente com esse padrão doutrinário.
Uma das
formas encontrada foi através da autodisciplina, que ao mesmo tempo em que se
dedicavam mais ao estudo da Bíblia, também auxiliava no exercício do domínio
próprio, minimizando ao máximo as possibilidades de ações pecaminosas. Esta
autodisciplina era feita através de exercícios devocionais rigorosos, com
horários fixos, manutenção de um diário devocional pessoal, onde se registravam
as batalhas espirituais que eram travadas em seu interior. Esta forma de
expressar a fé e a vida cristã moldara e definira o padrão a ser seguido por
milhões de cristãos protestantes em todos os continentes e denominações,
incluindo o protestantismo implantado no Brasil no final do século XIX e que
perdurou aqui até meados do século XX.[4]
Esse
esforço em manter a espiritualidade e essa busca pela prática de uma vida
cristã autentica, nos arrebata aos diversos movimentos anteriores, dentro do
próprio cristianismo, onde pessoas ou pequenos grupos se esforçavam e se
motivavam para “encarnarem” os princípios evangélicos. A herança
cristã-católica com seu peso cumulativo, bem como padrões medievais de
pensamento e espiritualidade permearam a mente e o coração das figuras
fundantes da Reforma e seus sucessores. Ainda que em graus e formas diferentes,
continuaram a se refletir na forma de vivenciar os princípios bíblicos
cristãos, principalmente no que concerne a fraqueza e corrupção moral. Como
viver o Evangelho? Como manter uma vida de pureza? Essa é a questão prática ao
qual os precisionistas holandeses se esforçam por encontrar uma resposta.
Ao lado
da grande produção de compêndios teológicos dogmáticos voltados para os centros
acadêmicos para instrumentalização dos teólogos e pastores, prolifera cada vez
mais um tipo de literatura cristã mais popular voltada para as práticas
devocionais e vivenciais. Seus autores são homens sérios e teólogos renomados
nos concílios protestantes, os quais citaremos apenas alguns exemplos, pois
eles se constituirão nos precursores do movimento pietista
Jean de Taffin (1529-1602) nasceu em Tournay,[5]
que veio a ser um dos principais centros da Reforma no sul da Holanda, pois
manteve uma conexão efetiva com Genebra, a capital reformada calvinista.[6]
Ele escreveu sua obra “As Marcas dos Filhos
de Deus” [Merck-Teeckenen der Kinderen Gods], em que defende que todo
cristão verdadeiro traz em si duas marcas distintivas – uma interna e outra
externa. A marca externa se manifesta no desejo de ouvir a Pregação genuína do
Evangelho e participar efetivamente dos Sacramentos (batismo e ceia)
corretamente aplicados, em outras palavras, participar regularmente da igreja;[7]
para ele as marcas internas consistiam no testemunho do Espírito Santo no
coração do crente, a paz de consciência, o amor e obediência a Deus e amor ao
próximo. Para ele as fórmulas confessionais tornavam-se secundárias em relação
à piedade e experiência diária como evidência de uma fé genuína. Seu livro e suas propostas foram
amplamente divulgadas e atraiu um número cada vez maior daqueles que estavam
descontentes com um protestantismo cada vez mais acadêmico, dogmatizado e
estéril. Em meio ao intenso debate entre Arminianos e Calvinistas, seus sermões
eram carregados de ênfase nos exercícios piedosos e seu livro, acima citado,
foi produzido logo apôs o assassinato de William de Orange, durante os dias
escuros de guerras e destruição. A primeira edição em Londres (1590) traz um
prefácio de Anne Frowse, a condessa de Warwick, em que ela afirma que o livro
foi traduzido para admoestar, despertar e consolar os que precisam. E um
segundo prefácio, do próprio autor, ele afirma que sua motivação em escrever
foi para que seus leitores também pudessem participar do conforto indizível que
Deus coloca à disposição de seus filhos através da Sua Palavra. (STOEFFLER, 1965,
pp. 121-125).
Um contemporâneo mais jovem de Taffin, foi Gottfried
Cornelius Udemans[8] (1580-1649?). Se Taffin
coloca ênfase na interioridade, Udemans vai introduzir uma nova diretriz, que
vai ser nominada de “Precisionismo” que consiste na obediência exata da lei de
Deus conforme revelada nas Escrituras. Para Udemans a genuína fé tinha que ser
manifestada nos exercícios espirituais e nas boas obras. Em seu pequeno livro “Meditações Cristãs”, publicado em 1608,
em que propõe meditações diárias, acompanhadas de orações apropriadas, bem como
a prescrição de deveres para diversas categorias de leitores, foi recebido com
entusiasmo.[9] Motivado por essa calorosa
recepção ele elabora um segundo volume “Escada
de Jacó”, onde propõe o desenvolvimento da vida cristã em três estágios
(degraus): a verdadeira fé em Deus através de Cristo; a verdadeira confissão de
fé; e uma vida piedosa (abençoada) – paciência cristã, a alegria espiritual e a
perseverança dos santos. Ele vai adaptar de forma engenhosa o conteúdo dos
fundamentos básicos da fé cristã conforme estabelecidas e definidas no Credo
Apostólico, na Oração do Pai Nosso e nos Dez Mandamentos (STOEFFLER, 1965, pp. 125-126)
Um dos nomes mais influentes e apontado pelos
próprios pietistas como sendo o grande precursor do movimento foi Johann Arndt
(1555-1621). Estava em Wittenberg no auge da controvérsia entre os luteranos e
os chamados “Cryptocalvinistas”[10] sob
a influência de Melanchthon, que tentava conciliar a teologia luterana e a calvinista
– Arndt ficou do lado de Melanchthon e posteriormente ele tornou-se calvinista
em 1596.
Sua grande influência foi através de sua
literatura do tipo mística devocional, com forte influência de Bernard, Johannes
Tauler e Thomas Kempis. Seu livro “Verdadeiro
Cristianismo” (1606-1610) tornou-se um clássico da espiritualidade
ocidental, sendo traduzido para a maioria dos idiomas europeus e serviu como fonte
de muitos livros de devoção, tanto Protestante quanto Católico Romano. Aqui ele
expressa as preocupações fundamentais para uma vida cristã autentica, que se
constituirá no slogan do movimento Pietista. É uma obra reativa, pois se
contrapõe a um tipo de cristianismo que privilegia as grandes doutrinas e
minimiza a prática cristã (oração, arrependimento, moralidade, as boas obras).
É composto por quatro livros ou grandes capítulos: no primeiro ele centra-se na
questão do pecado original e seus efeitos na raça humana, de maneira que o
cristão deve vigiar de forma extenuante para mortificar sua “natureza adâmica”
que o faz pecar e assim o impede de uma plena comunhão com Deus; nos demais
capítulos ele esforça-se por fazer proposições mais positivas sobre as virtudes
cristãs que cada crente genuíno deve manifestar, todavia, as formulações
continuam sendo negativistas: os “não pode” se multiplicam, enquanto, o que o
cristão “pode” se restringe cada vez mais.[11]
Mas o autor expressa com beleza muitas das regras de uma vida cristã saudável,
que trazem aos leitores conforto e refrigério d’alma. Para ele o cristão é uma
criança que deve ser treinada pelo Espírito Santo, dia-a-dia, para ser cada vez
mais semelhante a Jesus Cristo. E como é feito esse treinamento: diariamente se
arrepender de seus pecados (chorar), pedir (orar), bater e buscar, de maneira
que a ação do Espírito Santo vai diariamente renovando a imagem de Deus e
extinguindo a influência de Satanás na vida desse crente. Para Arndt a
verdadeira vida cristã se constitui em uma contínua mortificação da carne. Ele
alerta que o caminho da genuína vida cristã não está no caminho dos Doctos (crente que aprende através da academia
teológica), mas no caminho dos Sanctos
(crente que aprende através da oração e do amor).[12] Este
livro se tornara leitura de cabeceira de todos os principais expoentes do
movimento Pietista alemão, e continuará permeando os mais diversos segmentos
protestantes no mundo até meados do século XX, o que pode ser constatado em
todas as denominações protestantes implantadas no Brasil, quer sejam as
chamadas históricas (Presbiteriana, Batista, Metodista, Congregacional), quer
sejam as pentecostais (Assembleia de Deus; Deus é Amor, O Brasil Para Cristo).
Um dos
primeiros teólogos reformado a propor uma interpretação menos dogmática e mais
vivencial das Escrituras foi William Ames (1576-1633)[13].
Assim como alguns outros companheiros ele via a teologia não apenas como um
conjunto de afirmações sobre Deus, mas como um instrumento para orientar o
cristão de como viver de acordo com a vontade de Deus. Para ele a fé era não um
conceito teológico, mas a relação pessoal de confiança entre o cristão e Cristo
e a Sua Palavra. Para ele o cristão genuíno era aquele que buscava uma completa
obediência ao Evangelho.
Outro grande expoente da teologia reformada e
identificado fortemente com o movimento do Precisionismo, foi Gisbertus Voetius
(1589-1676)[14], que defendia que era
possível se obedecer ao Decálogo (Dez Mandamentos) por meio da fé. Defendia
também que a vontade de Deus estava claramente expressa nas formulas
confessionais da igreja (luterana/reformada) e defendia que a obediência a
estas fórmulas confessionais manteria a pureza do corpo eclesiástico. Para
Voetius a piedade deveria ser tanto ascética quanto militante, sendo
intolerante com tudo o que pudesse inibir ou minimizar uma vida piedosa. Sua
interpretação das perguntas 94[15],
113[16] e
115[17]
do Catecismo de Heidelberg pode ser considerado o primeiro manifesto do
Precisionismo.
Como já
afirmado anteriormente, o Precisionismo não chegou a ser um movimento
organizado e não se constituiu em nenhum tipo de denominação protestante. Foram
sempre iniciativas pessoais e quando muito em pequenos grupos que municiados e
motivados por essas diversas literaturas e sermões, estimulavam-se mutuamente
para vivenciarem sua fé e manterem o padrão de suas vidas cristãs.
Todavia, diante destes pobres extratos aqui
mencionados, é possível perceber claramente que o movimento do Precisionismo
Holandês (Alemão) disponibilizou toda a fundamentação bíblico-teológica para
dar sustentação ao maior e mais abrangente, esse sim, movimento conhecido por
Pietismo, que haverá de sistematizar e moldar todas essas iniciativas dos
precisionistas e do qual se dará origem a algumas denominações protestantes,
sendo a mais conhecida no Brasil, os metodistas.
Utilização livre desde que
citando a fonte
Guedes, Ivan Pereira
Mestre em Ciências da
Religião.
Universidade Presbiteriana
Mackenzie
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Reflexão Bíblica
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true Faith, the holy walk of the true christian. Disponível em
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Urbano. O problema do conhecimento de
Deus. Porto Alegre: EDIPUCRS, 1989. 2ª ed. [Coleção Filosofia; 61].
[1] "Ortodoxia" é uma
transliteração de uma palavra composta grega - “orthos” que significa “reto, certo, direito” (At 14.10; Hb 12.13) e
“doxa” que significa "opinião, doutrina".
O período entre a Reforma e o Iluminismo ou, mais precisamente, o século XVII,
é conhecido na história da teologia protestante como "Escolasticismo
Protestante", "Ortodoxia Protestante" ou "Período
Confessionalista." (COSTA, 1998, p. 01).
[2] Ele pode ser considerado o fundador e
divulgador de uma nova configuração da mística especulativa alemã ou mística
renana, que influenciou profundamente toda mística alemã, holandesa e francesa
do século XV, bem como os grandes místicos espanhóis do século XVI (cf. ZILLES,
1989, p. 78). Foi um dos primeiros a romper os protocolos eclesiásticos ao
pregar seus sermões dominicais não em latim, mas em alemão comum, língua
acessível ao público que o ouvia. Na tradição ocidental, ele foi o único
teólogo medieval acusado pela Inquisição, mas morreu antes da sentença papal. A
herança eckhartianas perpassa em místicos como Ruysbroeck (1293-1381), Teresa
d’Avila (1515- 1582) e João da Cruz (1542-1591); cativou Nicolau de Cusa
(1401-1464), colecionador de suas obras; atraiu Angelus Silesius (1627-1677),
dos quais se constituem fonte para os Precisionistas e posteriormente dos
próprios Pietistas alemães.
[3] A grafia de seu nome é mutável [Johann
Tauler, Juan Taulero ou João Tauler]; foi um escritor germânico, Teólogo
Místico; Neo-Platonista e Frade Dominicano. Seus escritos foram amplamente
lidos nos séculos posteriores tanto por Católicos como por Protestantes,
estruturando o pensamento Místico-Cristão Ocidental. Contribuiu em essência nas
estruturas Pré-Reforma, cativando Reformadores como Martinho Lutero. A forte
valorização do trabalho diário, especialmente o emprego comum, não apenas o
religioso, é visto como uma parte integrante da espiritualidade em Tauler. O
reformador João Calvino haverá de enfatizar esse aspecto em sua teologia. A
coleção de seus sermões se transformaram em livros devocionais dos mais
populares nos séculos seguintes, especialmente em círculos pietistas: Johann
Arndt, em sua obra “Quatro livros do Verdadeiro Cristianismo” faz muitos
excertos dos sermões de Tauler; Philip Spener (pai do pietismo alemão) e
Ahasverus Fritsch, que escreveu um artigo intitulado “Pietas Tauleriana” (1676)
em que faz uma compilação de provérbios e máximas de Tauler.
[4] O Diário mantido por A.G. Simonton, jovem
missionário estadunidense que estabelece o protestantismo presbiteriano no
Brasil já no final do século XIX, é um exemplo de como tais influências
perduraram por um longo tempo.
[5] Originalmente era uma cidade
francesa, mas foi conquista por Carlos V e incorporada à província de Ontário pela
Holanda.
[6] Nessa cidade a influência de Lutero e
Zwinglio foi mínima, o que prevalece é o ensino teológico de Calvino. O
reformador de Genebra escreve ao menos dois livros combatendo a seita dos
libertinos que se autodenominavam “espirituais”, que estavam proliferando nessa
cidade no sul da Holana.
[7] No caso do protestantismo no Brasil,
até pouco tempo, a guarda ou observância do domingo, com suas atividades
religiosas, era a marca distintiva de um crente genuíno.
[8] Participou ativamente do Sínodo de
Dort, o apogeu dos debates entre arminianos e calvinistas.
[9] Até hoje diversos segmentos
protestantes elaboram livros devocionais para seus membros. A IPB produz a
muitos anos o livreto “Cada Dia”, onde o leitor tem meditações e orações
diárias, bem como aplicações práticas para sua vida cristã.
[10] Cryptocalvinismo (cripto - do grego:
κρύπτω que significa "ocultar, esconder, para ser escondida")
denominação dada aos luteranos com influências calvinista, ou seja, as
doutrinas de João Calvino, mais especificamente na questão da doutrina
Eucaristia e/ou Ceia. Segundo G. F. Bente, “teológica e eticamente, Melanchthon
deve ser considerado o pai espiritual dos criptocalvinistas”. ( apud, SCHULER,
2002, p. 305).
[11] No protestantismo implantado no
Brasil o crente era conhecido pelo que não podia fazer e não pelo que podia e
deveria fazer. Essa ênfase negativista tornou-se um inibidor da presença
positiva do protestante na sociedade brasileira. Nos tornamos “sujeitos
ocultos” na cidadania brasileira.
[12] Nas origens das denominações
pentecostais no Brasil essa questão dos dois caminhos dos Doctos e dos Sactos
eram fundamentais, sintetizada na expressão bíblica descontextualizada de que
“a letra mata [estudo teológico] e o espírito vivifica [oração, jejum,
contrição]”.
[13] Também conhecido como Amesius,
clérigo inglês, professor de teologia em Cambridge e em Franeker, Frísia,
também participante do Sínodo de Dort (1618-19), onde se estabeleceu
definitivamente a ortodoxia calvinista em resposta à teologia proposta por
Armínio (arminianismo). Contribui muito para o desenvolvimento da “teologia
federalista” puritana do século XVII. Viveu na Holanda e morreu em Roterdã, mas
morou na Nova Inglaterra, as colônias da América e é considerado o “pai da
teologia americana”. (GONZALES, 2005, p. 43)
[14] Pastor e teólogo da Igreja Reformada
na Holanda. Líder no Sínodo de Dortrecht (Dort) e também conhecido como
“campeão da doutrina reformada“, produziu diversos textos onde confrontava a
“falsa religião” e a “verdadeira” no seio do protestantismo (GONZALES, 2005, p.
657).
[15] P.94.
Que exige o SENHOR no primeiro mandamento? R.
Que, por amor a minha salvação, devo evitar e fugir de toda idolatria,1
feitiçaria, superstição2 e invocação a santos ou a outras criaturas.3 E que
devo reconhecer corretamente ao único e verdadeiro Deus,4 confiar somente
nEle,5 submeter-me a Ele em toda humil- dade6 e paciência,7 só dEle esperar
todo o bem,8 e que devo O amar,9 temer10 e honrar11 com todo o meu coração. Em
resumo: é preferível repudiar a todas as criaturas a fazer qualquer coisa,
mínima que seja, contra a Sua vontade.12 1. 1Co 6.9, 10;
10.5-14; 1Jo 5.21. 2. Lv 19.31; Dt 18.9-12. 3. Mt 4.10; Ap 19.10; 22.8, 9. 4.
Jo 17.3. 5. Jr 17.5, 7. 6. 1Pe 5.5, 6. 7. Rm 5.3, 4; 1Co 10.10; Fp 2.14; Cl
1.11; Hb 10.36. 8. Sl 104.27, 28; Is 45.7; Tg 1.17. 9. Dt 6.5; (Mt 22.37). 10.
Dt 6.2; Sl 111.10; Pv 1.7; 9.10; Mt 10.28; 1Pe 1.17. 11. Dt 6.13; (Mt 4.10); Dt 10.20. 12.
Mt 5.29, 30; 10.37-39; At 5.29.
[16] P.113.
O que exige de nós o décimo mandamento? R.
Que nem o mais leve pensamento ou desejo contrário a quais-quer mandamentos de
Deus jamais deveriam se levantar em nosso coração. Antes, devemos sempre
detestar de todo coração a todo o pecado e, nos deleitar em toda a justiça.1 1.
Sl 19.7-14; 139.23, 24; Rm 7.7, 8.
[17] P.115.
Se nessa vida ninguém consegue obedecer perfeitamente os Dez Mandamentos,
por que Deus manda que sejam pregados com tanto rigor? R. Primeiro, para que ao longo das nossas vidas possamos cada vez
mais estar conscientes da nossa natureza pecaminosa, e assim buscarmos com mais
fervor o perdão dos pecados e a justiça de Cristo.1 Segundo, para que, ao
orarmos a Deus pela graça do Espírito Santo, jamais deixemos de batalhar para
sermos cada vez mais renovados à imagem de Deus, até que após esta vida
alcancemos o alvo da perfeição.2 1. Sl 32.5; Rm 3.19-26; 7.7, 24, 25; 1Jo 1.9.
2. 1Co 9.24; Fp 3.12-14; 1Jo 3.1-3.
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