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segunda-feira, 1 de outubro de 2018

Precisionismo: Um Movimento de Espiritualidade Pós Reforma Protestante



            Após a Reforma Religiosa e/ou Reforma Protestante ocorrida no século XVI, o Cristianismo Ocidental jamais foi o mesmo. Na corredeira deste imenso movimento reformador originaram-se diversos segmentos religiosos tais como o calvinismo e o luteranismo.
            Todavia, com o passar do tempo o ardor religioso que originariamente impulsionou os movimentos reformados foram se esvaindo paulatinamente, sendo substituído por uma fé dogmática. A ortodoxia[1] protestante que em seus primórdios era profundamente religiosa, definindo com muito zelo os marcos fundamentais de uma fé genuinamente bíblica, nas gerações seguintes foi sendo cristalizada e tornou-se tão ou mais intransigente do que a ortodoxia católica que eles questionaram e se opuseram de forma tão contundente. Walker relaciona este dogmatismo extremado com o movimento racionalista que eclodiu nos séculos posteriores à Reforma:
“Em certo sentido, esse protestantismo escolástico foi mais estreito do que aquele do período medieval por ter sido inconscientemente influenciado pelo espírito racionalista contra a qual lutou, tanto que se tornou semelhante às novas correntes racionalistas tanto na têmpera como no método”. (1967, p. 190).
            Essa forma protestante friamente ortodoxa, privilegiando a formulação exata em decorrência de uma experiência vivencial produziu um tipo de protestante passivo e desinteressado em qualquer experiência pessoal com Deus.
            Todavia, começa a surgir movimentos que revelam uma insatisfação com este tipo de ser protestante. Inicialmente são manifestações pessoais e locais, mas na medida em que o tempo decorre formam-se pequenos grupos de homens e mulheres que desejam além de uma ortodoxia bíblica, desenvolver também uma vida cristã dinâmica de maneira a influenciar as demais pessoas e a própria sociedade. Por se tratar de iniciativa individuais e não coordenado, torna-se um movimento difícil de ser datado historicamente, como explica Gonzales:
“Trata-se de um sem número de correntes e de mestres cujas doutrinas e discípulos se entrelaçam e confundem-se entre si, de tal modo que nem sempre é possível distinguir entre uns e outros, ou determinar quem foi o primeiro proponente de uma ou outra ideia” (1984, p. 145).
            Falando sobre esses movimentos espiritualistas Costa afirma que eles sempre se manifestaram como contraponto ao intelectualismo e ao clericalismo, servindo como válvula de escape para uma expressão religiosa mais mística (Johann [Mestre] Eckhart,[2] Johannes Tauler,[3] Thomas à Kempis, Kaspar Schwenckfeld), e outros movimentos menos influentes, mas que trazem em comum “o elã vital de buscar a pureza e um contato mais direto com Deus, sem intermediações” (1999, p. 2).
            Deste modo, desde os finais do século XVI diversos fenômenos religiosos, sem ligação aparente, se manifestam em lugares diferentes. Esses movimentos são o que poderíamos chamar de renascimento da religião e que apesar de seus equívocos pontuais e em alguns casos graves, manifestam o desejo de um retorno à religião do coração (experimental), em oposição à religião dogmática (formulação confessional). Ainda que seus mentores heterogêneos constantemente recorressem aos místicos medievais, e até mesmo se apropriassem do vocabulário daqueles, mantinham firmes seus pressupostos teológicos conforme esboçados em suas confissões e catecismos. Mas para esses movimentos, o fim da teologia precisava ser a união do crente com Deus. Uma vida cristã genuína deveria produzir e manifestar uma comunhão pessoal com Deus, o prazer nas suas perfeições, a segurança de seu amor, a submissão à sua vontade e o regozijo em suas bênçãos.
            Mas uma característica distintiva do que ocorria na Idade Média e posteriormente do quietismo francês, representado por Madame Guyon, Fénelon e um pouco antes por Miguel de Molinos, esta busca por uma comunhão mais intensa e direta com Deus foi amalgamada à uma fé pratica. As orações e meditações não eram um fim em si mesmas e nem formas de se fugir da realidade, mas deveriam moldar a forma de se viver a vida cotidiana. Ações práticas de amor ao próximo, como o cuidado dos doentes, amparo aos pobres, educação dos jovens, eram buscadas incansavelmente. A genuína espiritualidade não era decorrente apenas de sistemas teológicos bem definidos ou elaborações especulativas, mas uma fé simples adquirida na caminhada com Deus.
Entre esses movimentos incipientes na busca de uma fé experimental está o chamado “Precisionismo” holandês, que não apenas precede o movimento Pietista Alemão e o Puritanismo inglês, mas se constituirá em um modelo ou protótipo para esses grandes movimentos espiritualista e/ou avivalista, que haverão de extrapolar todas as geografias nacionais e denominacionais, inclusive atravessando oceanos e continentes, impregnando o protestantismo da América do Norte e posteriormente desembarcando aqui no Brasil e América do Sul no final do século XIX através dos missionários e denominações estadunidenses que vieram para implantar e desenvolver seu protestantismo.
            O termo “precisionista” tem sua etimologia derivada do inglês, francês e latim, adquirindo em sua forma final o sentindo de algo “exato, bem definido, preciso” – “minuciosamente exata”. Desta forma os “precisionistas” eram aquelas pessoas que procuravam viver em conformidade estrita e minuciosa com um determinado padrão de fé. Esta forma pessoal de expressar a fé cristã vai fecundar os dois maiores movimentos internos do protestantismo nos séculos XVII e XVIII, o Pietismo na Alemanha e o Puritanismo na Inglaterra.
            O Precisionismo não é nem Pietismo e nem Puritanismo, mas o fator fecundante destes grandes movimentos espiritualista e/ou avivalista. Insatisfeitos com a ortodoxia fria e dogmática que tanto o “luteranismo”, quanto o “calvinismo”, já bastante distanciados do fervor espiritual do período iniciante, muitos cristãos começaram a buscar para si mesmos uma forma de manterem sua fé e sua prática dos princípios bíblicos, ou seja, manter o padrão da fé como duramente estabelecidos nos Credos e Catecismos, mas conciliando-os com uma vida cristã condizente com esse padrão doutrinário.
            Uma das formas encontrada foi através da autodisciplina, que ao mesmo tempo em que se dedicavam mais ao estudo da Bíblia, também auxiliava no exercício do domínio próprio, minimizando ao máximo as possibilidades de ações pecaminosas. Esta autodisciplina era feita através de exercícios devocionais rigorosos, com horários fixos, manutenção de um diário devocional pessoal, onde se registravam as batalhas espirituais que eram travadas em seu interior. Esta forma de expressar a fé e a vida cristã moldara e definira o padrão a ser seguido por milhões de cristãos protestantes em todos os continentes e denominações, incluindo o protestantismo implantado no Brasil no final do século XIX e que perdurou aqui até meados do século XX.[4]
            Esse esforço em manter a espiritualidade e essa busca pela prática de uma vida cristã autentica, nos arrebata aos diversos movimentos anteriores, dentro do próprio cristianismo, onde pessoas ou pequenos grupos se esforçavam e se motivavam para “encarnarem” os princípios evangélicos. A herança cristã-católica com seu peso cumulativo, bem como padrões medievais de pensamento e espiritualidade permearam a mente e o coração das figuras fundantes da Reforma e seus sucessores. Ainda que em graus e formas diferentes, continuaram a se refletir na forma de vivenciar os princípios bíblicos cristãos, principalmente no que concerne a fraqueza e corrupção moral. Como viver o Evangelho? Como manter uma vida de pureza? Essa é a questão prática ao qual os precisionistas holandeses se esforçam por encontrar uma resposta.
            Ao lado da grande produção de compêndios teológicos dogmáticos voltados para os centros acadêmicos para instrumentalização dos teólogos e pastores, prolifera cada vez mais um tipo de literatura cristã mais popular voltada para as práticas devocionais e vivenciais. Seus autores são homens sérios e teólogos renomados nos concílios protestantes, os quais citaremos apenas alguns exemplos, pois eles se constituirão nos precursores do movimento pietista
Jean de Taffin (1529-1602) nasceu em Tournay,[5] que veio a ser um dos principais centros da Reforma no sul da Holanda, pois manteve uma conexão efetiva com Genebra, a capital reformada calvinista.[6] Ele escreveu sua obra “As Marcas dos Filhos de Deus” [Merck-Teeckenen der Kinderen Gods], em que defende que todo cristão verdadeiro traz em si duas marcas distintivas – uma interna e outra externa. A marca externa se manifesta no desejo de ouvir a Pregação genuína do Evangelho e participar efetivamente dos Sacramentos (batismo e ceia) corretamente aplicados, em outras palavras, participar regularmente da igreja;[7] para ele as marcas internas consistiam no testemunho do Espírito Santo no coração do crente, a paz de consciência, o amor e obediência a Deus e amor ao próximo. Para ele as fórmulas confessionais tornavam-se secundárias em relação à piedade e experiência diária como evidência de uma fé genuína. Seu livro e suas propostas foram amplamente divulgadas e atraiu um número cada vez maior daqueles que estavam descontentes com um protestantismo cada vez mais acadêmico, dogmatizado e estéril. Em meio ao intenso debate entre Arminianos e Calvinistas, seus sermões eram carregados de ênfase nos exercícios piedosos e seu livro, acima citado, foi produzido logo apôs o assassinato de William de Orange, durante os dias escuros de guerras e destruição. A primeira edição em Londres (1590) traz um prefácio de Anne Frowse, a condessa de Warwick, em que ela afirma que o livro foi traduzido para admoestar, despertar e consolar os que precisam. E um segundo prefácio, do próprio autor, ele afirma que sua motivação em escrever foi para que seus leitores também pudessem participar do conforto indizível que Deus coloca à disposição de seus filhos através da Sua Palavra. (STOEFFLER, 1965, pp. 121-125).
Um contemporâneo mais jovem de Taffin, foi Gottfried Cornelius Udemans[8] (1580-1649?). Se Taffin coloca ênfase na interioridade, Udemans vai introduzir uma nova diretriz, que vai ser nominada de “Precisionismo” que consiste na obediência exata da lei de Deus conforme revelada nas Escrituras. Para Udemans a genuína fé tinha que ser manifestada nos exercícios espirituais e nas boas obras. Em seu pequeno livro “Meditações Cristãs”, publicado em 1608, em que propõe meditações diárias, acompanhadas de orações apropriadas, bem como a prescrição de deveres para diversas categorias de leitores, foi recebido com entusiasmo.[9] Motivado por essa calorosa recepção ele elabora um segundo volume “Escada de Jacó”, onde propõe o desenvolvimento da vida cristã em três estágios (degraus): a verdadeira fé em Deus através de Cristo; a verdadeira confissão de fé; e uma vida piedosa (abençoada) – paciência cristã, a alegria espiritual e a perseverança dos santos. Ele vai adaptar de forma engenhosa o conteúdo dos fundamentos básicos da fé cristã conforme estabelecidas e definidas no Credo Apostólico, na Oração do Pai Nosso e nos Dez Mandamentos (STOEFFLER, 1965, pp. 125-126)
Um dos nomes mais influentes e apontado pelos próprios pietistas como sendo o grande precursor do movimento foi Johann Arndt (1555-1621). Estava em Wittenberg no auge da controvérsia entre os luteranos e os chamados “Cryptocalvinistas”[10] sob a influência de Melanchthon, que tentava conciliar a teologia luterana e a calvinista – Arndt ficou do lado de Melanchthon e posteriormente ele tornou-se calvinista em 1596.
Sua grande influência foi através de sua literatura do tipo mística devocional, com forte influência de Bernard, Johannes Tauler e Thomas Kempis. Seu livro “Verdadeiro Cristianismo” (1606-1610) tornou-se um clássico da espiritualidade ocidental, sendo traduzido para a maioria dos idiomas europeus e serviu como fonte de muitos livros de devoção, tanto Protestante quanto Católico Romano. Aqui ele expressa as preocupações fundamentais para uma vida cristã autentica, que se constituirá no slogan do movimento Pietista. É uma obra reativa, pois se contrapõe a um tipo de cristianismo que privilegia as grandes doutrinas e minimiza a prática cristã (oração, arrependimento, moralidade, as boas obras). É composto por quatro livros ou grandes capítulos: no primeiro ele centra-se na questão do pecado original e seus efeitos na raça humana, de maneira que o cristão deve vigiar de forma extenuante para mortificar sua “natureza adâmica” que o faz pecar e assim o impede de uma plena comunhão com Deus; nos demais capítulos ele esforça-se por fazer proposições mais positivas sobre as virtudes cristãs que cada crente genuíno deve manifestar, todavia, as formulações continuam sendo negativistas: os “não pode” se multiplicam, enquanto, o que o cristão “pode” se restringe cada vez mais.[11] Mas o autor expressa com beleza muitas das regras de uma vida cristã saudável, que trazem aos leitores conforto e refrigério d’alma. Para ele o cristão é uma criança que deve ser treinada pelo Espírito Santo, dia-a-dia, para ser cada vez mais semelhante a Jesus Cristo. E como é feito esse treinamento: diariamente se arrepender de seus pecados (chorar), pedir (orar), bater e buscar, de maneira que a ação do Espírito Santo vai diariamente renovando a imagem de Deus e extinguindo a influência de Satanás na vida desse crente. Para Arndt a verdadeira vida cristã se constitui em uma contínua mortificação da carne. Ele alerta que o caminho da genuína vida cristã não está no caminho dos Doctos (crente que aprende através da academia teológica), mas no caminho dos Sanctos (crente que aprende através da oração e do amor).[12] Este livro se tornara leitura de cabeceira de todos os principais expoentes do movimento Pietista alemão, e continuará permeando os mais diversos segmentos protestantes no mundo até meados do século XX, o que pode ser constatado em todas as denominações protestantes implantadas no Brasil, quer sejam as chamadas históricas (Presbiteriana, Batista, Metodista, Congregacional), quer sejam as pentecostais (Assembleia de Deus; Deus é Amor, O Brasil Para Cristo).
            Um dos primeiros teólogos reformado a propor uma interpretação menos dogmática e mais vivencial das Escrituras foi William Ames (1576-1633)[13]. Assim como alguns outros companheiros ele via a teologia não apenas como um conjunto de afirmações sobre Deus, mas como um instrumento para orientar o cristão de como viver de acordo com a vontade de Deus. Para ele a fé era não um conceito teológico, mas a relação pessoal de confiança entre o cristão e Cristo e a Sua Palavra. Para ele o cristão genuíno era aquele que buscava uma completa obediência ao Evangelho.
Outro grande expoente da teologia reformada e identificado fortemente com o movimento do Precisionismo, foi Gisbertus Voetius (1589-1676)[14], que defendia que era possível se obedecer ao Decálogo (Dez Mandamentos) por meio da fé. Defendia também que a vontade de Deus estava claramente expressa nas formulas confessionais da igreja (luterana/reformada) e defendia que a obediência a estas fórmulas confessionais manteria a pureza do corpo eclesiástico. Para Voetius a piedade deveria ser tanto ascética quanto militante, sendo intolerante com tudo o que pudesse inibir ou minimizar uma vida piedosa. Sua interpretação das perguntas 94[15], 113[16] e 115[17] do Catecismo de Heidelberg pode ser considerado o primeiro manifesto do Precisionismo.
            Como já afirmado anteriormente, o Precisionismo não chegou a ser um movimento organizado e não se constituiu em nenhum tipo de denominação protestante. Foram sempre iniciativas pessoais e quando muito em pequenos grupos que municiados e motivados por essas diversas literaturas e sermões, estimulavam-se mutuamente para vivenciarem sua fé e manterem o padrão de suas vidas cristãs.  
Todavia, diante destes pobres extratos aqui mencionados, é possível perceber claramente que o movimento do Precisionismo Holandês (Alemão) disponibilizou toda a fundamentação bíblico-teológica para dar sustentação ao maior e mais abrangente, esse sim, movimento conhecido por Pietismo, que haverá de sistematizar e moldar todas essas iniciativas dos precisionistas e do qual se dará origem a algumas denominações protestantes, sendo a mais conhecida no Brasil, os metodistas.

Utilização livre desde que citando a fonte
Guedes, Ivan Pereira
Mestre em Ciências da Religião.
Universidade Presbiteriana Mackenzie
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Reflexão Bíblica

           
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Referências Bibliográficas
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[1] "Ortodoxia" é uma transliteração de uma palavra composta grega - “orthos” que significa “reto, certo, direito” (At 14.10; Hb 12.13) e “doxa” que significa "opinião, doutrina". O período entre a Reforma e o Iluminismo ou, mais precisamente, o século XVII, é conhecido na história da teologia protestante como "Escolasticismo Protestante", "Ortodoxia Protestante" ou "Período Confessionalista." (COSTA, 1998, p. 01).
[2] Ele pode ser considerado o fundador e divulgador de uma nova configuração da mística especulativa alemã ou mística renana, que influenciou profundamente toda mística alemã, holandesa e francesa do século XV, bem como os grandes místicos espanhóis do século XVI (cf. ZILLES, 1989, p. 78). Foi um dos primeiros a romper os protocolos eclesiásticos ao pregar seus sermões dominicais não em latim, mas em alemão comum, língua acessível ao público que o ouvia. Na tradição ocidental, ele foi o único teólogo medieval acusado pela Inquisição, mas morreu antes da sentença papal. A herança eckhartianas perpassa em místicos como Ruysbroeck (1293-1381), Teresa d’Avila (1515- 1582) e João da Cruz (1542-1591); cativou Nicolau de Cusa (1401-1464), colecionador de suas obras; atraiu Angelus Silesius (1627-1677), dos quais se constituem fonte para os Precisionistas e posteriormente dos próprios Pietistas alemães.
[3] A grafia de seu nome é mutável [Johann Tauler, Juan Taulero ou João Tauler]; foi um escritor germânico, Teólogo Místico; Neo-Platonista e Frade Dominicano. Seus escritos foram amplamente lidos nos séculos posteriores tanto por Católicos como por Protestantes, estruturando o pensamento Místico-Cristão Ocidental. Contribuiu em essência nas estruturas Pré-Reforma, cativando Reformadores como Martinho Lutero. A forte valorização do trabalho diário, especialmente o emprego comum, não apenas o religioso, é visto como uma parte integrante da espiritualidade em Tauler. O reformador João Calvino haverá de enfatizar esse aspecto em sua teologia. A coleção de seus sermões se transformaram em livros devocionais dos mais populares nos séculos seguintes, especialmente em círculos pietistas: Johann Arndt, em sua obra “Quatro livros do Verdadeiro Cristianismo” faz muitos excertos dos sermões de Tauler; Philip Spener (pai do pietismo alemão) e Ahasverus Fritsch, que escreveu um artigo intitulado “Pietas Tauleriana” (1676) em que faz uma compilação de provérbios e máximas de Tauler.
[4] O Diário mantido por A.G. Simonton, jovem missionário estadunidense que estabelece o protestantismo presbiteriano no Brasil já no final do século XIX, é um exemplo de como tais influências perduraram por um longo tempo.
[5] Originalmente era uma cidade francesa, mas foi conquista por Carlos V e incorporada à província de Ontário pela Holanda.
[6] Nessa cidade a influência de Lutero e Zwinglio foi mínima, o que prevalece é o ensino teológico de Calvino. O reformador de Genebra escreve ao menos dois livros combatendo a seita dos libertinos que se autodenominavam “espirituais”, que estavam proliferando nessa cidade no sul da Holana.
[7] No caso do protestantismo no Brasil, até pouco tempo, a guarda ou observância do domingo, com suas atividades religiosas, era a marca distintiva de um crente genuíno.
[8] Participou ativamente do Sínodo de Dort, o apogeu dos debates entre arminianos e calvinistas.
[9] Até hoje diversos segmentos protestantes elaboram livros devocionais para seus membros. A IPB produz a muitos anos o livreto “Cada Dia”, onde o leitor tem meditações e orações diárias, bem como aplicações práticas para sua vida cristã.
[10] Cryptocalvinismo (cripto - do grego: κρύπτω que significa "ocultar, esconder, para ser escondida") denominação dada aos luteranos com influências calvinista, ou seja, as doutrinas de João Calvino, mais especificamente na questão da doutrina Eucaristia e/ou Ceia. Segundo G. F. Bente, “teológica e eticamente, Melanchthon deve ser considerado o pai espiritual dos criptocalvinistas”. ( apud, SCHULER, 2002, p. 305).
[11] No protestantismo implantado no Brasil o crente era conhecido pelo que não podia fazer e não pelo que podia e deveria fazer. Essa ênfase negativista tornou-se um inibidor da presença positiva do protestante na sociedade brasileira. Nos tornamos “sujeitos ocultos” na cidadania brasileira.
[12] Nas origens das denominações pentecostais no Brasil essa questão dos dois caminhos dos Doctos e dos Sactos eram fundamentais, sintetizada na expressão bíblica descontextualizada de que “a letra mata [estudo teológico] e o espírito vivifica [oração, jejum, contrição]”.
[13] Também conhecido como Amesius, clérigo inglês, professor de teologia em Cambridge e em Franeker, Frísia, também participante do Sínodo de Dort (1618-19), onde se estabeleceu definitivamente a ortodoxia calvinista em resposta à teologia proposta por Armínio (arminianismo). Contribui muito para o desenvolvimento da “teologia federalista” puritana do século XVII. Viveu na Holanda e morreu em Roterdã, mas morou na Nova Inglaterra, as colônias da América e é considerado o “pai da teologia americana”. (GONZALES, 2005, p. 43)
[14] Pastor e teólogo da Igreja Reformada na Holanda. Líder no Sínodo de Dortrecht (Dort) e também conhecido como “campeão da doutrina reformada“, produziu diversos textos onde confrontava a “falsa religião” e a “verdadeira” no seio do protestantismo (GONZALES, 2005, p. 657).
[15] P.94. Que exige o SENHOR no primeiro mandamento? R. Que, por amor a minha salvação, devo evitar e fugir de toda idolatria,1 feitiçaria, superstição2 e invocação a santos ou a outras criaturas.3 E que devo reconhecer corretamente ao único e verdadeiro Deus,4 confiar somente nEle,5 submeter-me a Ele em toda humil- dade6 e paciência,7 só dEle esperar todo o bem,8 e que devo O amar,9 temer10 e honrar11 com todo o meu coração. Em resumo: é preferível repudiar a todas as criaturas a fazer qualquer coisa, mínima que seja, contra a Sua vontade.12 1. 1Co 6.9, 10; 10.5-14; 1Jo 5.21. 2. Lv 19.31; Dt 18.9-12. 3. Mt 4.10; Ap 19.10; 22.8, 9. 4. Jo 17.3. 5. Jr 17.5, 7. 6. 1Pe 5.5, 6. 7. Rm 5.3, 4; 1Co 10.10; Fp 2.14; Cl 1.11; Hb 10.36. 8. Sl 104.27, 28; Is 45.7; Tg 1.17. 9. Dt 6.5; (Mt 22.37). 10. Dt 6.2; Sl 111.10; Pv 1.7; 9.10; Mt 10.28; 1Pe 1.17. 11. Dt 6.13; (Mt 4.10); Dt 10.20. 12. Mt 5.29, 30; 10.37-39; At 5.29.
[16] P.113. O que exige de nós o décimo mandamento? R. Que nem o mais leve pensamento ou desejo contrário a quais-quer mandamentos de Deus jamais deveriam se levantar em nosso coração. Antes, devemos sempre detestar de todo coração a todo o pecado e, nos deleitar em toda a justiça.1 1. Sl 19.7-14; 139.23, 24; Rm 7.7, 8.
[17] P.115. Se nessa vida ninguém consegue obedecer perfeitamente os Dez Mandamentos, por que Deus manda que sejam pregados com tanto rigor? R. Primeiro, para que ao longo das nossas vidas possamos cada vez mais estar conscientes da nossa natureza pecaminosa, e assim buscarmos com mais fervor o perdão dos pecados e a justiça de Cristo.1 Segundo, para que, ao orarmos a Deus pela graça do Espírito Santo, jamais deixemos de batalhar para sermos cada vez mais renovados à imagem de Deus, até que após esta vida alcancemos o alvo da perfeição.2 1. Sl 32.5; Rm 3.19-26; 7.7, 24, 25; 1Jo 1.9. 2. 1Co 9.24; Fp 3.12-14; 1Jo 3.1-3.

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