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sábado, 23 de novembro de 2019

Síntese da História da Igreja Cristã - 3º Século



O Confronto
Estamos entrando no terceiro século da história da Igreja. O evangelismo progride, a organização eclesiástica se torna mais eficiente e o cristianismo começa a brilhar intelectualmente. Mas o Império Romano está em franca decadência, guerras civis, pandemias, invasão estrangeira e um colapso na economia e desesperadamente tenta reestabelecer o culto imperial como ponto de convergência da população. O Confronto com o Cristianismo em crescimento por todo o Império será inevitável!
Lúcio Septímio Severo ou Septímio Severo – governou  193-211 DC (18 anos)
Fev. 197-198 – governou como único imperador
198-211 – governou junto com seu filho mais velho: Caracala
209-211 – governou junto com seus filhos: Caracala e Geta
Nome de nascimento: Lúcio Septímio Severo (Lucius Septimius Severus)
Nome de imperador: César Lúcio Septímio Severo Pertinax Augusto (Caesar Lucius Septimius Severus Pertinax Augustus)
Pai biológico: Públio Septímio Geta, que obteve a cidadania romana no século I
Mãe: Fúlvia Pia, descendente cidadãos italianos e habitantes do Norte da África
Esposa: Júlia Domna, uma mulher árabe da Síria
Filhos: Lúcio Septímio Bassiano (Caracala) e Públio Septímio Geta. Geta foi assassinado pelo seu irmão mais velho, pouco depois da morte do seu pai.
Orígenes, cognominado Orígenes de Alexandria ou Orígenes de Cesaréia ou ainda Orígenes, o Cristão. Ele tinha dezessete anos quando a perseguição do imperador Lúcio Sétimo (Septímio) Severo (193 a 211)[1] contra os cristãos eclodiu em 202. Este jovem promissor nasceu em Alexandria em uma família cristã. Ele escapou por pouco da perseguição, mas seu pai está entre as vítimas, e os bens da família foram confiscados. Ao completar dezessete anos ele se torna responsável por sua família. Para poder manter a mãe e seis irmãos menores, Orígenes abriu uma escola de gramática (literatura), e na ausência de quadros qualificados, pois os mestres que não foram mortos tiveram que fugir, convidado pelo bispo Demétrio de Alexandria, então com 18 anos de idade, assume a direção da escola de catecúmenos, que posteriormente se constituirá em uma das mais expressivas Escola de Hermenêutica da igreja cristã.  Ele está tão interessado na filosofia neoplatônica, como também nas matérias de lógica, dialética, ciências naturais, ética e exegese da Sagrada Escritura. Sua reputação acadêmica extrapola o contexto da comunidade cristã de Alexandria e pagãos e gnósticos passaram a frequentar a escola de catecúmenos para aprender diretamente do jovem mestre.
Incentivado e sustentado por Ambrósio, um homem rico de Alexandria que por causa da pregação de Orígenes, havia abandonado a heresia valentiniana convertendo-se à ortodoxia da Igreja, Orígenes viaja muito, visitando Roma, Cesaréia, Jordânia, chegando a ser levado com escolta militar a Antioquia, onde a mãe do imperador Alexandre Severo, Júlia Maméia, desejava conhecer melhor o cristianismo. Mesmo sem mídia jornalística e eletrônica Orígenes torna-se uma espécie de “celebridade mundial” da época, segundo relata Hans von Campenhausen (2005, p. 51): “o governador da Arábia solicitou ao seu colega egípcio e também escreveu ao bispo Demétrio uma carta amável pedindo que fosse permitido que Orígenes desse algumas palestras em sua presença”.
Tendo por base as informações de Eusébio de Cesaréia, em sua obra “História Eclesiástica”, Orígenes é o personagem da Igreja primitiva que mais escritos e dados biográficos deixou à posteridade. Eusébio dá conta de 2.000 escritos, enquanto Epifânio diz que Orígenes escreveu impressionantes 6.000 obras. Posteriormente outro grande historiador Jerônimo faz uma pergunta retórica: “alguém já leu tudo que foi escrito por Orígenes?”. Ao menos 800 desses escritos chegaram até nossos dias. Uma das obras mais extraordinária sem dúvida alguma é a Hexapla, que foi a primeira tentativa cristã de estabelecer o cânon da Escritura (Bíblia) de uma maneira minimamente acadêmica (dentro do que se podia considerar ciência à época). Infelizmente a maior parte dela se perdeu; consistia numa exposição paralela, em seis colunas, do texto hebraico do Antigo Testamento, da sua transliteração em letras gregas, e as quatro versões gregas que circulavam naquela época: a de Áquila, a de Símaco, a Septuaginta e a tradução de Teódoto. Em alguns trechos, como em alguns Salmos, diante de outras versões, Orígenes expandia a Hexapla para nove colunas. Certamente essa foi amenina dos olhos de Orígenes, que durante toda sua vida sempre acrescentava, corrigia ou revia algumas posições.  
Outra obra de Orígenes que se destaca é de cunho apologético “Contra Celsum”. Celso era um filósofo pagão, que havia escrito uma obra anti-cristã chamada “O Verdadeiro Verbo”, que tinha alcançado significativa repercussão, sobretudo por ter sido bem escrito e fundamentado. Por insistência de Ambrósio, que pediu a Orígenes que refutasse Celso, ele escreve está obra refutando um por um os argumentos de Celso, tornando-se um modelo de como foi travado o combate acadêmico-literário entre cristãos e pagãos no começo da Igreja. Orígenes foi conhecido, à sua época, pelo apelido de Adamâncio (“o homem de aço”), por sua coragem e fé, pois nunca temeu as perseguições imperiais e nunca se curvou diante do mal, ele morreu em 254 em Tiro.
Orígenes foi sem dúvida o maior teólogo dogmático do terceiro século. Tudo indica que recebeu sólida formação religiosa (sob Clemente) e também secular, completada na escola do filósofo Amônio Sacas, pai do neoplatonismo, o que lhe permitiu ter uma erudição filosófica incomparável entre os Pais da Igreja. Seu maior mérito foi saber utilizar a própria cultura greco-romana a serviço do pensamento e da exegese cristã, aos quais ele desenvolveu seu método. Ele veio a se constituir em um dos sólidos fundamentos da teologia ortodoxa cristã que estava sendo estabelecida. Orígenes ajudou a formular boa parte da doutrina ortodoxa cristã. Como destaca o historiador Justo Gonzales, Orígenes sempre fez questão de frisar que Deus não pode ser compreendido por qualquer inteligência humana, porque “Deus é invisível, não apenas no sentido físico, mas também no sentido intelectual, pois não há mente que seja capaz de contemplar a essência divina. Não importa quão perfeito seja nosso conhecimento sobre Deus, devemos constantemente nos lembrarmos que Deus é muito mais elevado do que qualquer coisa que nossa inteligência possa conceber (De principiis, 1.1.5)” (2004, p. 210-211).
Orígenes é de certa forma o emblema deste terceiro século, que vê o cristianismo cada vez mais se integrar à sociedade greco-romana, adota um tecido intelectual, vive em um ascetismo rigoroso, chegando ao extremo de voluntariamente castrar-se (interpretando ao pé da letra Mateus 19.12), e sofre perseguições pontuais, mas sérias. Na primeira metade deste terceiro século, o jovem Cristianismo está crescendo consideravelmente. Por volta de 250, há cristãos em todo o Império Romano. A organização das comunidades cristãs está progredindo.
O catecumenato (o ensino que precede a entrada na Igreja) chega a durar até três anos. O candidato é questionado sobre seus motivos, promete desistir de certas profissões, como serviço militar, e recebe instruções. O batismo é o assunto de um ritual complexo. A questão do perdão dos pecados é debatida: os rigoristas[2] acreditam que os pecados não são remissíveis e implica a exclusão definitiva da comunidade de cristãos, outros pregam em favor de um tempo de penitência mais ou menos longo.
Essa questão será debatida pelos grandes teólogos da época, entre eles, Tertuliano, um cartaginense[3] nascido por volta de 160 em uma família pagã e convertido ao cristianismo no final do segundo século. Ele é o criador do latim literário cristão e, assim, abre o caminho para uma teologia propriamente ocidental. Ele introduzirá um vocabulário jurídico nos textos teológicos - por exemplo, ele fala mais prontamente de "crime" do que "pecado" – influenciando toda a teologia ocidental. Suas obras foram escritas entre os últimos anos do século II e as duas primeiras décadas do século III. Suas frases tornaram-se refrãos na boca dos cristãos: ‘o sangue dos mártires é a semente da igreja’; ‘a unidade dos hereges é o cisma’, ‘creio porque é absurdo’ (JOHNSON, 2001, p. 63). Irreconciliável com quaisquer tentativas de amalgamar a doutrina cristã com quaisquer outras fontes combate com veemência as proposições de Marcião: “Quem sois vós? Desde quando existis? Quem vos deu o direito, ó Marcião, de serdes lenhador no meu bosque? Essa terra é minha, tenho os títulos autênticos, recebidos dos proprietários, a quem essa terra pertenceu: sou herdeiro dos apóstolos” (citado por Adalbert G. Hamman (1995, p. 72). O Dicionário Patrístico e de Antiguidades Cristãs (2002, págs. 1348/9) traz uma lista de suas principais obras, dividindo-as em três categorias - os escritos apologéticos, os doutrinais e os polêmicos - mas estabelecendo uma ordem cronológica. Hubertus R. Drobner  em sua obra afirma que “apesar de tudo Tertuliano foi lido até a Idade Média, sendo considerado tão importante que, segundo o relato de Jerônimo (“De viris illustribus 53”), Cipriano lia diariamente suas obras, e, quando queria tê-las à mão, bastava que dissesse a seu notarius: ‘Traze-me o mestre’’ ((2003, p. 161).
Tertuliano propõe uma visão de Deus como o supremo legislador. O cartaginense é o defensor de um cristianismo muito rígido, que exalta o martírio, a virgindade e rejeita o mundo pagão. Não é de admirar, então, que ele considere os pecados graves cometidos após o batismo como atos imperdoáveis ​​de traição e que acabe se juntando aos montanistas, conhecidos por seu grande rigor moral. Para os bispos, sua posição é insustentável. Os cristãos vivem ao lado de pagãos todos os dias, vivendo em um império onde o cristianismo é uma religião marginal, tolerada, mas não aceita. A gota d’água para Tertuliano ocorreu, segundo ele, quando um “grande bispo” (provavelmente Calixto de Roma) decidiu que a Igreja tinha o poder de conceder a remissão de pecados após o batismo, mesmo de pecados sérios como o adultério ou mesmo a apostasia.[4] Tertuliano reagiu de forma contundente, pois percebia a crescente hierarquização que se estava estabelecendo na eclesiologia cristã.
Perpassando a primeira metade do terceiro século, a vida cristã ainda é caracterizada por rigoroso ascetismo. O celibato se destaca como um modelo por uma busca de espiritualidade e desta forma mais desejável do que o casamento. As mulheres virgens têm posição de honra na Igreja e formam uma ordem à parte. É condenável o luxo excessivo e uma vida simples ainda é um ideário, o álcool deve ser consumido com moderação. A prática de esportes e banhos públicos é permitida, desde que não levem à promiscuidade, mas os shows são proibidos por causa das paixões idólatras que despertam.
O cristianismo, embora não tenha status oficial, paulatinamente vai penetrando as diversas camadas sociais. A ascensão social do cristianismo chama atenção do poder romano que pressente perigo interno, que somados a outras frentes belicosas ameaçam a estabilidade do império neste terceiro século: bárbaros nas fronteiras, decadência interna, crise econômica, etc. A população é chamada a fechar fileiras em torno do culto imperial, o principal fator de coesão. Mas os cristãos se negam a participam dos cultos imperiais. A era das perseguições gerais contra os cristãos está se antevendo. Destina-se à eliminação total, se não dos próprios cristãos, pelo menos da religião cristã.
O primeiro golpe vem do imperador Décio (Caio Méssio Quinto Trajano Décio), era um general muito tradicional e que acreditava no culto ao Império Romano assim como em suas tradições. No final de 249, dezembro ou no início de janeiro de 250, ele promulga um decreto que obriga todos os cidadãos a realizar um ato de culto em favor dos deuses oficiais, na presença de um oficial do governo. O imperador encontrou assim um meio infalível de identificar cristãos. A perspectiva clássica apoiada pela historiografia cristã é de que essa foi a primeira perseguição verdadeiramente geral e destinada ao extermínio do cristianismo, ainda que outro discordem dessa premissa.[5] Houve cristãos que compraram o certificado, sem que tivessem se apresentado às autoridades; outros que, após sacrificarem aos deuses, iam pedir perdão à Igreja; os mortos se multiplicam, mas também o numero dos que apostatam e que vai se constituir em problemas internos da Igreja posteriormente. A pressão diminui para desaparecer no transcorrer de 254.
Valeriano (Publius Licinius Valerianus – 253-260), que chegou ao poder em 253, desencadeou a segunda perseguição geral em 257 de agosto. Um primeiro edito proibia o culto cristão e as reuniões em cemitérios, e intimava bispos, padres e diáconos a sacrificarem a ídolos. Em 258, um segundo decreto reforça essas medidas e ordena a execução dos membros da hierarquia cristã que não adoraram os deuses e o confisco das propriedades dos cristãos de alta classe, ficando evidente que as motivações eram muito mais de cunho econômico do que religioso. O decreto é rigorosamente aplicado e o resultado é uma sangrenta perseguição. As vítimas são mais numerosas do que durante a perseguição promovida por Décio, especialmente no Egito, Cartago (martírio de Cipriano de Cartago) e Espanha (martírio do bispo de Tarragona), na capital Roma, eminentes figuras cristãs são executadas dentre os quais o Papa Sisto II, bispo de Roma e mais sete diáconos, incluindo Lourenço , mártir, queimado vivo em uma fornalha.
Felizmente Valeriano foi capturado humilhantemente pelos persas em 260 e seu filho Galiano (Publius Licinius Egnatius Gallienus) assume como único Imperador e imediatamente publica (260) um edito de tolerância que daria início a um período de relativa tranquilidade de quarenta anos, restaurando a legalidade do culto cristão e restituindo as propriedades confiscadas das igrejas, incluindo cemitérios. Esse período de paz chegará a um fim abrupto com as perseguições promovidas por Diocleciano e Galério.
No entanto, como já vimos, a questão da restauração aos que durante a perseguição apostataram produz um embate interno intenso nas comunidades e concílios cristãos. Na África, onde as perseguições foram mais violentas e mortais, Cipriano de Cartago defende uma política de reintegração em condições severas. Mas ainda é uma posição muito suave aos olhos de um grupo, liderados por Novaciano, que hoje seria chamado de fundamentalista, e que vai estabelecer uma Igreja cismática, que vai perdurar até o século VII. Eles retomam a prática antiga: negando a restauração de quaisquer culpados de “pecados para morte”, incluindo aqui os apóstatas durante as perseguições. Mas haverá de se normatizar a decisão dos concílios de Roma (251) e Cartago (252) em que se permitia a restauração em condições muito rígidas de penitência.
No final do século III, o Oriente está mais organizado, o Ocidente menos. As diferentes Igrejas locais não têm um líder supremo na cabeça, elas gozam de uma grande autonomia. Quando surge um problema doutrinário, eles se reúnem em conselhos provinciais ou interprovinciais para discuti-lo. As decisões são tomadas em perfeita colegialidade, sem proeminência ou subserviência entre os diversos bispos.
Enquanto as igrejas vão se estabelecendo em concílios cada vez mais organizados, o Império Romano continua seu processo de fragmentação. O imperador Diocleciano (Diocletianus) que chegou ao poder em 284, empreende uma restauração política e dá-lhe uma virada absolutista. Nesse contexto, o imperador se torna igual aos deuses. Uma vez resolvidos os problemas sócio-políticos, Diocleciano ataca o cristianismo. Num império que se tornou totalitário, uma Igreja autônoma que ri do culto imperial se torna inadmissível. Ele ordena um recenseamento religioso detalhado em todo Império e os dados confirma que os cristãos estão estabelecidos em todos os lugares e em crescimento. No período de Décio havia em torno de três milhões e agora somam mais de 10 milhões. Os cultos cristãos tornam-se públicos e realizados em templos formosos; muitas pessoas de classes sociais mais elevadas tornam-se cristãos, incluindo pessoas do circulo familiar do próprio imperador. Mas a luz de alerta acende de vez quando soldados e até oficiais negam-se a sacrificar aos deuses. É preciso dar um basta! Começa decretando que nenhum soldado ou funcionário público fosse cristão – não foi muito efetivo. Instigado por Galério, cuja mãe era devota dos deuses, e após consultar seus conselheiros baixa quatro decretos contra os cristãos: Primeiro Edito (20 fevereiro 303) - igrejas são destruídas, os livros sagrados são queimados, as reuniões (cultos) cristãs são proibidas, funcionários públicos são demitidos e os que resistem são presos; Segundo Edito (junho de 303) - os líderes das igrejas são presos juntamente com criminosos, visando desarticular a igreja; Terceiro Edito (setembro de 303) – libertar os que aceitassem oferecer sacrifícios aos deuses e torturar os que se recusassem, e conforme o historiador cristão Eusébio “houve muitas mortes, principalmente no norte da África”; ao que tudo indica no Ocidente este decreto não teve uma aplicação mais intensa. Até aqui o objetivo era quebrar a resistência dos cristãos e inibir o crescimento da igreja; Quarto Edito (abril de 304) – agora todos os cidadãos devem sacrificar aos deuses sob pena de morte – o resultado foi um banho de sangue principalmente nas jurisdições de Diocleciano (Ásia Menor, Síria, Palestina e Egito), nas de Galério (Trácia, Iliríco) e de Maximiano (Itália, Espanha e África), a exceção foi Constâncio Cloro.
Mas a dinâmica da História é implacável e em alguns anos, a situação mudará completamente: o cristianismo logo se tornará a religião do Estado, e será a vez dos cristãos mostrarem intolerância em relação aos pagãos e outros hereges.
Sucinta Cronologia do Terceiro Século da Igreja Cristã
202     Imperador Severo lança uma perseguição. Proibição do proselitismo judaico e cristão
226     Início da dinastia Sassânida na Pérsia (o último Império Persa pré-islâmico).
235     Perseguição promovida pelo Imperador Maximiliano.
242     Início da pregação de Mani, fundador do maniqueísmo (filosofia religiosa sincrética e dualística)
249 ou 250   Perseguição promovida pelo Imperador Décio.
257     Perseguição promovida por Valeriano.
270     Antônio (Antão), primeiro anacoreta no deserto.
277     Primeiras invasões bárbaras
284     Diocleciano no poder
297     Edito de perseguição contra os maniqueus (Mani, maniqueísmo)

Utilização livre desde que citando a fonte
Guedes, Ivan Pereira
Mestre em Ciências da Religião.
Universidade Presbiteriana Mackenzie
me.ivanguedes@gmail.com
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Referências Bibliográficas
Para ler outras obras de Tertuliano (em várias línguas), acesse:
Para ler outras obras de Orígenes (em várias línguas), acesse:
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ARMESTO-FERNÁNDES, Felipe e WILSON, Derek. Reforma: o cristianismo e o mundo 1500-2000. Trad. Celina Cavalcante Falck. Rio de Janeiro: Record, 1997.
AZEVEDO, Antonio Carlos do Amaral e GEIGER, Paulo. Dicionário histórico de religiões. Rio de Janeiro:  Nova Fronteira, 2002.
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BETTENSON, Henry. Documentos da Igreja Cristã. São Paulo: Aste, 2011.
BONNEAU, Guy. Profetismo e Instituição no Cristianismo Primitivo. São Paulo: Paulinas, 2003.
BROTTON, Jerry. Uma história do mundo em doze mapas. Tradutor: Pedro Maia Soares. Rio de Janeiro: Zahar, 2014.
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JOHNSON, Paul. História do Cristianismo. São Paulo: Imago, 2001.
TROCMÉ, Etienne. L’enfance du christianisme. Hachette littérature, coll. Pluriel, 1999.


[1]  Foi o primeiro cidadão oriundo de província, sem ascendentes romanos, a atingir o trono. Quando morreu foi proclamado Divus pelo senado. Dinastia Severa (193-235 DC): Septímio Severo, Públio Sétimo Geta, Lúcio Septímio Bassiano (Caracala), Marco Opélio Macrino, Marco Aurélio Antonino (Heliogábalo ou Elagábalo), Severo Alexandre.
[2] Rigoristas de Roma (século III) negavam readmissão aos que haviam apostatado em tempo de perseguição e aos impuros e assassinos.
[3] Os cartagineses, desde os tempos de Aníbal e das Guerras Púnicas, 3 séculos antes de Cristo, nutriam uma especial aversão a Roma, e o cristianismo, nos seus primórdios, foi um fator aglutinador também do sentimento anti-romano. É nesse contexto que nasceu e viveu Tertuliano.
[4] Lapsi (latim para "caídos") era o nome dado aos apóstatas ou cristãos que renegaram sua fé.
[5] Para M. M. Sage diz que as ações de Décio visavam destruir a estrutura e o poder da Igreja, em vez de exterminar fisicamente seus membros (1975, 187-190). Todavia, naquele momento o cristão não podia ser tão facilmente distinguidos da estrutura eclesiástica.

segunda-feira, 21 de outubro de 2019

Gregório I, o Grande e/ou Magno (590-604): transição da igreja Antiga para a Medieval.


Assume a cadeira pontifical em momento crítico – pestes e disputas internas. Conhecido por sua piedade e possuidor de raro tino político torna-se um dos papas mais bem-sucedido.
Advindo de família abastada, exímio administrador, perito diplomata e pragmático. Exerceu a função de prefeito de Roma, foi embaixador na corte imperial de Constantinopla, representando os interesses do papa e dos romanos diante do Imperador do Oriente e abade de um mosteiro por ele fundado, no qual foi logo foi colocado como abade (líder do mosteiro) – portanto, qualidades para o exercício do papado não lhe faltava.
O período trazia toda sorte de dificuldades e conturbações, externas e internas. O prestígio do bispo de Roma praticamente inexistia. Era preciso agir em várias frentes simultaneamente.
Consegue reorganizar o exército, inclusive arcando com os soldos que não estavam sendo pagos, por fim estabeleceu as pazes com o rei dos lombardos. Justamente por ter que politicamente intervir em diversas situações, quase sempre com tato e habilidade diplomática, Gregório estendeu a esfera de influência do papado, junto com a ajuda do monasticismo Beneditino, que começava a disseminar-se na Europa Ocidental. Gregório acabaria por considerar-se não apenas bispo de Roma, mas também patriarca do Ocidente, intervindo em diversas regiões do antigo Império.
Internamente, resgatou a disciplina eclesiástica; organizou o rito litúrgico e a música sacra. Enfrentou e saiu vitorioso da disputa com o patriarca de Constantinopla que havia se intitulado “bispo universal”. Adotou para si o título de “servo dos servos de Deus”. Investiu fortemente no trabalho missionário e diplomático, fazendo acordos vantajosos com os governos civis. Foi ele que estabeleceu o arcebispado de Cantuária, na Inglaterra. Em seus dias a influência da sé romana estendeu-se sobre a França, Inglaterra, Espanha e África. Fervoroso defensor das ordens monásticas, especialmente os beneditinos, que viria a se constituir em dois pilares do cristianismo medieval – o papado e os mosteiros.
Apesar de muitas qualidades, Gregório não foi um grande teólogo quando comparado com nomes tais como Agostinho, Ambrósio e João Crisóstomo. Tendo as obras desses teólogos em mãos ele vai se preocupara com a forma prática religiosa, tais como: como o cristão poderia oferecer a Deus uma satisfação pelos seus pecados cometidos e para isso estabelece um processo: penitencia, arrependimento, confissão oracular e pena ou castigo. Ele então desenvolve a absolvição sacerdotal, em que confirma o perdão que Deus já conferiu ao penitente; e aqueles cristãos que morrem na fé, mas não fizeram penitencia suficiente vão para o purgatório.[1] Gregório também foi um defensor do cânon da missa, que segundo ele Cristo é imolado de novo. Mas na verdade todos esses conceitos não foram criados por Gregório, mas proliferavam na prática religiosa em um ambiente de profunda ignorância espiritual. O diferencial está em que enquanto os anteriores se esforçaram para evitar que a doutrina cristã fosse contaminada com superstições populares, Gregório simplesmente foi incorporando de forma sincrética todas estas crenças, superstições e lendas da época como se fossem verdade evangélica, e ele também chegou a colocar a tradição no mesmo “” de autoridade das Escrituras.
§  Desta forma, estabeleceu os fundamentos da teologia medieval, para o bem e para o mal, e que continuam se constituindo nos pontos basilares da dogmática católica romana até hoje.
§  Gregório I é, sem dúvida, um marco fundamental na transição da igreja antiga para a medieval. Sendo necessário lembrar que ele assumiu essa liderança em um período que a Igreja Cristã estava em franca decadência e mergulhada no que ficou conhecido como “Era das Trevas”.
§  O grande expoente teológico desse período foi Isidoro de Sevilha (600-636), e ainda que lhe faltasse a envergadura da originalidade dos grandes do passado, não lhe faltava erudição. Duas obras suas tornam-se manuais da teologia ocidental em todo o primeiro período da idade média: Sentenças, seu livro contendo breves proposições doutrinárias e Origens ou Etimologias, uma espécie de enciclopédia do conhecimento daqueles dias, e se tornou uma das principais fontes de informação sobre o pensamento da Antiguidade.


Utilização livre desde que citando a fonte
Guedes, Ivan Pereira
Mestre em Ciências da Religião.
Universidade Presbiteriana Mackenzie
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Referências Bibliográficas
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BURNS, E. M. História da Civilização Ocidental. Vol. 1. 44. ed. São Paulo: Globo, 2005.
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[1] O conceito de purgatório não surgiu com Gregório, pois as primeiras referências se encontram nos escritos de Hermes de Roma, posteriormente torna-se mais evidente com Cipriano, que fez uso da referência bíblica de Mateus5.26. Todavia, Agostinho fundamentado em 1 Coríntios 3.11-15, procura deixar claro que essa era uma possibilidade improvável, ainda que não tenha descartado totalmente. Gregório, todavia, o toma como algo certo e declara: “Deve-se crer, que antes do julgamento, há um fogo de purgatório para certos pecados menores”. A Igreja Oriental ensinava que, entre a morte e o julgamento, há um estado intermediário, e que as almas nesse estado podem ser auxiliadas mediante oração e sacrifício.