Assume
a cadeira pontifical em momento crítico – pestes e disputas internas. Conhecido
por sua piedade e possuidor de raro tino político torna-se um dos papas mais bem-sucedido.
Advindo
de família abastada, exímio administrador, perito diplomata e pragmático.
Exerceu a função de prefeito de Roma, foi embaixador na corte imperial de
Constantinopla, representando os interesses do papa e dos romanos diante do
Imperador do Oriente e abade de um mosteiro por ele fundado, no qual foi logo
foi colocado como abade (líder do mosteiro) – portanto, qualidades para o
exercício do papado não lhe faltava.
O
período trazia toda sorte de dificuldades e conturbações, externas e internas.
O prestígio do bispo de Roma praticamente inexistia. Era preciso agir em várias
frentes simultaneamente.
Consegue
reorganizar o exército, inclusive arcando com os soldos que não estavam sendo
pagos, por fim estabeleceu as pazes com o rei dos lombardos. Justamente por ter
que politicamente intervir em diversas situações, quase sempre com tato e
habilidade diplomática, Gregório estendeu a esfera de influência do papado,
junto com a ajuda do monasticismo
Beneditino, que começava a disseminar-se na Europa Ocidental. Gregório
acabaria por considerar-se não apenas bispo de Roma, mas também patriarca
do Ocidente, intervindo em diversas regiões do antigo Império.
Internamente, resgatou a disciplina eclesiástica; organizou o rito
litúrgico e a música sacra. Enfrentou e saiu vitorioso da disputa com o
patriarca de Constantinopla que havia se intitulado “bispo universal”. Adotou para si o título de “servo dos servos de Deus”. Investiu fortemente no trabalho
missionário e diplomático, fazendo acordos vantajosos com os governos civis.
Foi ele que estabeleceu o arcebispado de Cantuária, na Inglaterra. Em seus dias
a influência da sé romana estendeu-se
sobre a França, Inglaterra, Espanha e África.
Fervoroso defensor das ordens monásticas, especialmente os beneditinos, que viria a se constituir em dois pilares do cristianismo medieval – o papado e os mosteiros.
Apesar de muitas
qualidades, Gregório não foi um grande teólogo quando comparado com nomes tais
como Agostinho, Ambrósio e João Crisóstomo. Tendo as obras desses teólogos em
mãos ele vai se preocupara com a forma prática religiosa, tais como: como o
cristão poderia oferecer a Deus uma satisfação pelos seus pecados cometidos e
para isso estabelece um processo: penitencia, arrependimento, confissão
oracular e pena ou castigo. Ele então desenvolve a absolvição sacerdotal, em
que confirma o perdão que Deus já
conferiu ao penitente; e aqueles cristãos que morrem na fé, mas não fizeram
penitencia suficiente vão para o purgatório.[1]
Gregório também foi um defensor do cânon da missa, que segundo ele Cristo
é imolado de novo. Mas na verdade todos esses conceitos não foram
criados por Gregório, mas proliferavam na prática religiosa em um ambiente de profunda
ignorância espiritual. O diferencial
está em que enquanto os anteriores se esforçaram para evitar que a doutrina cristã fosse contaminada com
superstições populares, Gregório simplesmente foi incorporando de forma sincrética
todas estas crenças, superstições e lendas da época como se fossem verdade evangélica,
e ele também chegou a colocar a tradição no mesmo “pé” de autoridade das Escrituras.
§ Desta forma, estabeleceu os fundamentos da teologia
medieval, para o bem e para o mal, e que continuam se constituindo nos pontos
basilares da dogmática católica romana até hoje.
§ Gregório I é, sem dúvida, um marco fundamental na transição
da igreja antiga para a medieval. Sendo necessário lembrar
que ele assumiu essa liderança em um período que a Igreja Cristã estava em
franca decadência e mergulhada no que ficou conhecido como “Era das Trevas”.
§ O grande expoente teológico desse período foi Isidoro de Sevilha (600-636), e ainda
que lhe faltasse a envergadura da originalidade dos grandes do passado, não lhe
faltava erudição. Duas obras suas tornam-se manuais da teologia ocidental em
todo o primeiro período da idade média: Sentenças,
seu livro contendo breves proposições doutrinárias e Origens ou Etimologias,
uma espécie de enciclopédia do
conhecimento daqueles dias, e se tornou uma das principais fontes de informação
sobre o pensamento da Antiguidade.
Utilização livre desde que citando a fonte
Guedes, Ivan Pereira
Mestre em Ciências da Religião.
Universidade Presbiteriana Mackenzie
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Reflexão Bíblica
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[1] O conceito de purgatório não surgiu
com Gregório, pois as primeiras referências se encontram nos escritos de Hermes
de Roma, posteriormente torna-se mais evidente com Cipriano, que fez uso da
referência bíblica de Mateus5.26. Todavia, Agostinho fundamentado em 1
Coríntios 3.11-15, procura deixar claro que essa era uma possibilidade
improvável, ainda que não tenha descartado totalmente. Gregório, todavia, o
toma como algo certo e declara: “Deve-se crer, que antes do julgamento, há um
fogo de purgatório para certos pecados menores”. A Igreja Oriental ensinava
que, entre a morte e o julgamento, há um estado intermediário, e que as almas
nesse estado podem ser auxiliadas mediante oração e sacrifício.
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