Os anseios por uma Igreja Cristã que refletisse os
ensinos bíblicos e fosse libertada dos grilhões da corrupção teológica e da
depravação eclesiástica são percebidos em séculos antecedentes ao nascimento de
João Wycliffe. Milhares de cristãos, homens e mulheres, foram mortos por
simplesmente desejarem e defenderem uma Igreja coerente com os princípios
bíblicos.
John Wycliffe nasceu em Hipswell, perto de Yorkshire, na
Inglaterra, provavelmente no ano de 1328. Em 1346 foi estudar Teologia,
Filosofia e Legislação Canônica em Oxford (Balliol College) e aqui nessa cidade
ele permaneceu o resto de sua vida. Com 26 anos tornou-se mestre do Colégio em
que estudara. Com 1361 foi ordenado pela Igreja católica, passando a exercer a
função de vigário em Fillingham. Voltou para Oxford, onde conclui o bacharelado
em Teologia, em 1365 e o doutorado em 1372.
O rei Ricardo II (1377-99) foi quem percebendo suas
qualificações acadêmicas e eruditas o nomeou capelão e posteriormente reitor em
Lutterworth. Nos anos subsequentes (1360 a 1370) Wycliffe adquiriu uma
crescente reputação como pregador popular e com fortes tons de crítica ao
sistema papal de governo da Igreja Cristã Romana. A resposta imediata do clero
romano vem através do Papa Gregório XI que em 1377 condena o teor de suas
pregações antipapas e exige que se apresente ao bispo de Londres. Todavia,
contava com apoio tanto da Universidade em Oxford quanto da corte do rei e por
esta razão não foi preso.
Mesmo
debaixo de fortes pressões eclesiásticas Wycliffe continuou sistematicamente pregando
contra os desmandos eclesiásticos e desvios teológicos da Igreja Romana e seu
moto era de que somente na Bíblia encontra-se a única fonte de autoridade e
verdade e não em quaisquer outros documentos eclesiásticos. Como Martinho
Lutero 150 anos depois suas teses concluíam enfaticamente de que nem Papas e
nem Concílios eram infalíveis, e que quaisquer decretos papais ou conciliares
derivam sua autoridade e poder somente quando estando em perfeita consonância
com as Escrituras em sua totalidade. Além da questão papal, que ocupou grande
espaço em suas pregações e escrita, Wycliffe também questionou as doutrinas
católicas da transubstanciação e do purgatório.
Outro vespeiro cutucado pelo reformador de Oxford é que
os líderes eclesiásticos deveriam ser servos do povo e não se servir deles para
seus propósitos pessoais. Dentro dessa perspectiva a partir de 1380 ele
organizou grupos de “pregadores leigos”, pois não faziam votos nem recebiam
consagração formal, que posteriormente ficaram conhecidos como Lolardos, e que
despojados de tudo à semelhança dos discípulos enviados por Jesus em duas
ocasiões de Seu ministério terreno, a partir de Oxford viajaram por toda a
Inglaterra pregando a mensagem evangélica.
Essa atitude de Wycliffe, literalmente, colocou mais
madeira na fogueira e a resposta de Roma veio imediata – o bispo de Londres o
proíbe de pregar e em 1382 o arcebispo de Canterbury emite uma bula de sua
condenação eclesiástica. Todavia, o professor e clérigo reformador permanece
refugiado na Universidade de Oxford. Durante esse período de reclusão ele
completou uma de suas maiores obras – uma tradução da Bíblia para a língua
vernácula inglesa e também empreendeu um resumo de suas ideias principais em um
livro cujo título é “Trialogus”, onde discute o poder e conhecimento de Deus,
criação, virtudes e vícios, a encarnação, a redenção e os sacramentos. Wycliffe
escreveu para familiarizar padres e leigos com as complexas questões
subjacentes à doutrina cristã, e começa com a teologia filosófica formal, que
se move para a teologia moral, concluindo com uma crítica abrasadora do status
quo eclesiástico do século XIV.
Depois que Wycliffe morreu em 1384 as autoridades da
igreja romana suprimiu seus escritos o máximo possível, todavia, uma geração
depois, suas ideias ainda continuavam vivas e sendo pregadas pelos Lolardos. Em
1415, quando então outro reformador popular John Huss foi igualmente condenado
à morte em fogueira, o Conselho de Constança ordenou que o corpo (ossos) de
Wycliffe fosse exumado e queimado junto com seus livros. A ordem foi cumprida
somente em 1428.
Quando no século XVI a Inglaterra experimenta uma Reforma
Religiosa, promovida inicialmente pelo rei Henrique VIII, mas efetivamente
concluída apenas no governo de sua filha Elizabete I, o grande doutor de Oxford
João Wycliffe passou a ser considerado como uma das poderosas vozes que
promoveram a Reforma no Velho Continente. Seu Novo Testamento em inglês foi
finalmente publicado, em uma edição limitada, no século XVIII, e sua Bíblia em
meados do século XIX.
Utilização
livre desde que citando a fonte
Guedes,
Ivan Pereira
Mestre
em Ciências da Religião.
Universidade
Presbiteriana Mackenzie
me.ivanguedes@gmail.com
Outro
Blog
Reflexão
Bíblica
http://reflexaoipg.blogspot.com.br/
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Ocorreu no Século XVI
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Referências Bibliográficas
AZEVEDO, Leandro Villela
de. As Obras Inglesas de John Wycliffe inseridas no contexto religioso
de sua época: Da Suma Teológica de Aquino ao Concilio de Constança, Dos
espirituais franciscanos a Guilherme de Ockham. (Tese Doutorado). São
Paulo: Universidade de São Paulo, 2010. [Orientador: Prof. Dr. Nachman Falbel].
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