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terça-feira, 3 de setembro de 2019

VERBETE - Amilenismo

A questão escatológica tem sido abordada de forma multifocal desde os primórdios do cristianismo. O próprio apóstolo Paulo precisou corrigir uma interpretação equivocada quanto à questão da Parousia (segunda vinda de Cristo) e com esse objetivo escreve uma segunda epístola aos crentes em Tessalônica. Com o passar dos séculos algumas escolas teológicas foram definindo suas concepções escatológicas sendo atualmente aceitas pela maioria das igrejas cristãs ao menos quatro principais: amilenismo, pré milenismo, pós milenismo e dispensacionalismo (uma variação do pré milenismo).
Desde o início Reforma, uma grande parcela das igrejas protestantes adotaram e ensinaram alguma versão do amilenismo, uma visão espiritualizada das promessas relacionadas ao Reino de Deus.
O amilenismo foi inicialmente articulado por Agostinho (354-430) no século V. Sua abordagem quanto às promessas relativas ao Reino de Deus foi espiritualizada. Para ele o Reino foi inaugurado pelo ministério terreno de Cristo, sua morte e ressurreição é o marco zero da contagem regressiva do estabelecimento pleno do Reino de Deus. Assim, o Reino esta continuamente sendo estabelecido sobre a terra na medida em que o Evangelho vai sendo pregado e crido, e simultaneamente vai enfrentando a oposição do reino mundano representado pela Babilônia que personifica o mal e a depravação do ser humano decaído.
Está situação permanecera até o retorno de Cristo em poder e glória, quando todo o mal será extirpado da terra e a Igreja começará a desfrutar da plenitude da vida eterna. Dois expoentes da Reforma Protestante (sec. XVI) Martinho Lutero, um ex-frade agostiniano, e João Calvino adotaram essa concepção escatológica e as estabeleceram em suas obras teológicas e comentários bíblicos.
O amilenismo foi aceito nos círculos protestantes até o século XVII quando surge uma interpretação denominada Pós Milenismo, impulsionada pela concepção filosófica do positivismo, de que a História humana caminhava para uma era de paz e fraternidade e que haveria uma cristianização mundial. Ainda no século XIX ressurgem outra interpretação chamada Pré Milenismo que ensina que Deus fará uma intervenção nos eventos humanos e estabelecerá Seu reino sobre a terra.
Todavia, o pensamento amilenista continua sendo aceito por uma grande parcela do protestantismo mundial, quer sejam liberais ou conservadores. Depois das duas grandes Guerras Mundiais o pós milenismo entrou em colapso, pois a visão otimista de uma humanidade fraterna foi substituída por uma visão pessimista e racionalista.
O amilenismo mantém a aceitação do. Por sua vez a demora no cumprimento e as diversas previsões frustradas dos acontecimentos mundiais acabaram por minimizar a força da interpretação pré milenista. Muitos concluíram que o tempo gasto prevendo os acontecimentos futuros, decifrando passagens bíblicas, muitas vezes miniminiza as responsabilidades de se viver o evangelho no mundo real.
A partir do século vinte houve um redescobrimento da interpretação amilenista com ênfase de que a mensagem do Reino de Deus é tanto para o presente quanto para o futuro, distinta de qualquer consideração de um milênio literal, quer antes ou depois da Parousia.
O termo milênio, em relação a expressão reino de Deus, é mencionado apenas uma vez na Bíblia, em Apocalipse 20.1–6. O amilenismo por não incentivar muitas especulações detalhistas leva frequentemente a um desinteresse em profecias e tópicos relacionados, de maneira que, acaba por produzir um numero menor de literatura do que as demais linhas interpretativas.

Utilização livre desde que citando a fonte
Guedes, Ivan Pereira
Mestre em Ciências da Religião.
me.ivanguedes@gmail.com
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Referências Bibliográficas
CLOUSE, Robert G. Milênio-significado e interpretações. Trad. Glauber Meyer Pinto Ribeiro. Campinas: Luz Para o Caminho, s/ano.
ERICKSON. Millard J. Opções contemporâneas na escatologia-um estudo do milênio. Trad. Gordon Chown. São Paulo: Vida Nova, 2012.
HENDRIKSEN, William. A Vida Futura segundo a Bíblia. 3ª ed. Tradução Marcus Ferreira. São Paulo: Cultura Cristã, 2019.
LLOYD-JONES, Martyn. A igreja e as últimas coisas. São Paulo: PES,  [Grandes Doutrinas Bíblicas, v.3]



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