A história da igreja cristã pode ser tudo menos monótona.
Ao longo de praticamente dois milênios de história haveremos de encontrar
inúmeros personagens que demarcaram essa história da cristandade. Mas o
personagem histórico não precisa ser necessariamente uma pessoa, pode ser
também um lugar e/ou região. A Boêmia
certamente é um dos personagens mais extraordinários no processo histórico que
culminara na chamada Reforma Protestante do século XVI. É nesta região que
proliferara ininterruptamente centelhas reformistas que paulatinamente se espalham
para muito além de suas fronteiras geográficas.
Atualmente,
a Boêmia corresponde, junto com a Morávia, ao que é, geograficamente, a
República Tcheca. Por sua vez os tchecos se originam dos povos eslavos que
migraram para essa região entre o século V e o século VII da Era Cristã, tendo
sido cristianizados no século X.
O
Reino da Boemia foi estabelecido no século XIII e era formado pela Boemia e
Moravia e pertencia ao Sacro Império Romano germânico. Sua relevância está no
fato de que no apogeu do reinado de Carlos V (1345-1378) ele foi eleito
imperador do Sacro Império.[1] Posteriormente seu filho Wenceslau
IV (1378-1419) também foi eleito imperador; no entanto, seu reinado foi
assolado por revoltas e uma grande crise política, terminando quando os
príncipes eleitorais o forçaram a renunciar ao seu título de imperador em 1400.[2] Uma sucessão de epidemias
também abalou o reino. A peste negra, a “grande peste” de 1380, registrada na
história, aniquilou quase 10% da população. O pânico era tal que as pessoas
achavam que o fim do mundo estava chegando.
Desde 862 a igreja cristã havia se estabelecido na Boêmia
através da Igreja Ortodoxa e/ou Igreja do Oriente. Dois missionários gregos,
Cirilo e Metódio, vieram de Constantinopla (Istambul) no ano de 863 para a
Boêmia e fizeram dessa terra seu campo de trabalho. Mas com o Grande Cisma
em 1054, o rei Wenceslau adotou o cristianismo na forma do catolicismo romano.
Evidentemente que esses fatos históricos não ocorreram sem grandes e nefastas guerras
e revoltas. A Boêmia viveu na própria pele toda essa violência eclesiástica
produzida pelos mais diversos interesses de seus líderes e mandatários de
plantão.
No
século XIV, a Boêmia havia se constituído em um dos centros comerciais e
culturais da Europa mais importantes. Por muito tempo, a prata produzida na
região forneceu a base da moeda corrente do continente. A Boêmia sempre girou
na órbita política e econômica do Sacro Império Romano-Germano. Ainda que a
maioria da população fosse eslava, havia também uma minoria de origem checa,
mas os verdadeiros mandatários do poder eram os germânicos, que exerciam o controle
das principais fronteiras ao Norte.[3]
A
Igreja, agora católica romana, tornou-se uma das instituições mais ricas e
poderosas, mas também uma das mais corruptas em toda Boêmia e Europa. As ordens
religiosas detinham poder sobre mais da metade das terras produtivas, de
maneira que seus bispos e abades extravasavam toda luxúria que este poder lhes possibilitava.
Na organização eclesiástica manifestava-se a dicotomia social do país, onde os
bispos e abades e demais lideranças do chamado alto clero eram alemães e os
padres e demais denominados do baixo clero eram de origem eslava. A total falta
de sintonia entre as lideranças e os liderados começavam pela diferença
linguística, perpassava pela total desprezo da cúpula pela situação caótica da
população, culminando com a depravação generalizada do alto clero.
Por sua importância estratégica econômica a Boêmia se
constituía em uma das bases do Império e por esta razão torna-se pivô das intrigas
entre o imperador e o papa de plantão. Em decorrência dessas disputas entre os
poderes o rei Wenceslau IV foi deposto. Ele era filho do imperador Carlos IV e
mantiveram por muitos anos uma politica de liberdade religiosa e com fortes
tons antipapas na região da Boêmia. A terrível e temida Inquisição católica
romana que fazia estremecer todos e quaisquer esforços de reformas religiosas
na Europa, foi mantida fora do país, de maneira que a Boêmia veio a se
constituir em um oásis para refugiados cristãos dissidentes no meio do deserto
do catolicismo romano.
O rei Wenceslau IV estabeleceu uma igreja (capela) na
cidade de Praga,[4]
sustentada unicamente por ele, portanto independente de qualquer autoridade
eclesiástica. Logo se tornou popular para onde afluíam pequenas multidões para
ouvirem os mais diversos pregadores, incluindo reformista, que pregavam em
checo e em latim. Grande parte destes sermões se tornavam protestos e
vindicações de denúncias da situação deplorável da Igreja Católica Romana, seus
papas, nepotismo, simonia e luxúria do clero em geral.
Paulatinamente a Boêmia vai se tornando um grande refugio
para todos aqueles que rejeitam o estado lastimável com que se encontra a
Igreja Católica Romana. Para ali se dirigem, por exemplo, um grande número de
seguidores do pároco e professor John Wycliffe[5] (1330-1384), que havia
iniciado um movimento reformista na Inglaterra, a partir da sua Universidade,
mas que tinha sido “amordaçado” pelo poder político eclesiástico romano.
Todavia seus adeptos, conhecidos como Lolardos, armados com a tradução do Novo
Testamento coordenada por Wycliffe, se espalham por toda Europa disseminando os
princípios evangélicos por ele elaborados e que confrontam implacavelmente as
distorções produzidas pela Igreja Romana, que tem na figura papal seu expoente
máximo[6]
Apesar da grande projeção de John Huss podemos destacar
ao menos três personagens que se destacam como precursores de manifestações
reformistas na Boêmia, mas que são raramente citados. Eram na
maioria sacerdotes que haviam levantado suas vozes contra a apostasia em sua
igreja. Eles sentiram que a Igreja Católica não fazia nada para resgatar a
moralidade do povo e menos ainda para ajudá-los espiritualmente.
O
primeiro deles, Conrad von Waldhausen,
era de origem austríaca (alemã) morreu em 1369. Exerceu a função de cônego e
cuidou pastoralmente de uma paróquia nas cercanias da cidade. Ele se manteve
sempre dentro dos parâmetros da ortodoxia teológica de seus dias. Sua
indignação era dirigida contra as corrupções praticadas pelo alto e baixo
clero; o caráter mecânico das devoções habituais; os abusos das indulgências e
relíquias.
Combateu
sistematicamente toda sorte de simonia, assim como o bom uso do dinheiro, que
deveria ser utilizado para minimizar a pobreza e miséria da população
empobrecida (os evangélicos brasileiros até hoje não entenderam essa verdade).
Por outro lado ele critica duramente os frades mendicantes e seu sistema,
chegando a oferecer uma quantia em dinheiro (sessenta grumos) a quem lhe
provasse no Evangelho um único texto em que Jesus sancionava a vida mendicante.
Outras
práticas ao qual se opôs com veemência era a de dedicar jovens ao claustro - às
vezes ainda sendo gerados - sem lhes permitir o poder de escolha. Em relação
aos que cobravam juros extorsivos ele exigia que devolvessem os juros cobrados
a mais, enquanto os frades simplesmente ensinavam que o dinheiro extorquido
poderia ser “santificado” com doações
para a igreja (qualquer semelhança com o evangelicalismo brasileiro não é mera
coincidência). Ainda que ele fosse implacável com as corrupções produzidas no
monaquismo (monastério), reconhecia o valor de uma vida monástica espontânea.
Sua
oratória e entusiasmo, aliada ao seu conhecimento bíblico-teológico, tornava-o
um pregador extraordinário. Muitas vezes tinha que pregar em espaços públicos,
como o mercado da cidade, pois nenhuma igreja era suficiente para conter as
multidões que desejavam ouvi-lo. Contando com o favorecimento do imperador
Carlos IV, mesmo exercendo o bispado de Praga, ele não foi proibido e nem
perseguido até sua morte em 1369. Sua influência extrapolou as fronteiras da
Boêmia e influenciou profundamente muitos alemães, visto sua origem austríaca.
Um
segundo personagem e contemporâneo foi John
Militz von Kremsier (1374), um nativo
da Morávia. Militz tinha atingido a dignidade do Arquidiácono[7]
de Praga, e, além de outros benefícios, possuía algumas propriedades
fundiárias; tinha uma boa relação e consideração do imperador Carlos IV, pois tinha
um caráter irrepreensível. Mas o desejo crescente de uma vida religiosa mais
profunda o levou a renunciar, em dezembro de 1363, a todas as suas nomeações e
a todos os seus bens e retirou-se para a obscuridade da vida de um pároco em
uma pequena vila[8].
Retorna a
cidade de Praga e além da língua alemã, pregava aos eruditos em latim (uma
novidade na época) e à população na língua vernácula do povo comum. Suas
pregações assumiram tamanha proporção que precisava pregar quatro ou cinco
vezes em um mesmo dia, para poder atender todos os seus entusiastas ouvintes e
como seu contemporâneo tinha que pregar em espaços públicos. Ele é considerado
por alguns como o fundador da reforma boêmia.
Suas
pregações exerciam forte poder sobre seus ouvintes a ponto de muitos agiotas
abandonarem sua ganância; as mulheres espontaneamente renunciarem às suas
vaidades (coisa impensável no meio evangélico brasileiro). Em um bairro ele
adquire cerca de vinte e nove imóveis afamado por seu meretrício, conhecido
como Pequena Veneza, após suas pregações evangélicas passou a ser chamada de
Pequena Jerusalém. Semelhantemente ao seu contemporâneo ele também atacou o
sistema mendicante.
Um
ansioso estudante da Bíblia, ele estava especialmente interessado nos livros de
Daniel e Apocalipse. A vinda do Anticristo tornou-se o fardo de seus
sermões, e ele não poupou os sacerdotes, bispos e outros nas intermináveis
hierarquias eclesiásticas. No transcorrer de seus estudos apocalípticos ele
conclui que o anticristo já havia chegado e era nada menos do que a própria
igreja medieval corrompida, de maneira que o juízo de Deus era eminente sobre
ela. Assim, elabora uma reforma religiosa para que a igreja se preparasse para
o segundo advento de Cristo, que segundo seus cálculos ocorreria entre 1365 e
1367.
A vinda
do Anticristo tornou-se o centro de seus sermões, e ele não poupou os
sacerdotes, bispos e outras autoridades. Ele compartilha isso com o próprio
imperador Carlos IV e se sente compelido a expor suas conclusões para o papa
Urbano V, que estava prestes a se retirar para Roma. Ele chegou lá antes do
papa e afixou no portão de São Pedro um cartaz anunciando seu sermão sobre o
Anticristo, mas antes que ele pudesse pregá-lo foi aprisionado por ordem dos
Cardeais e Bispos da cidade. Enquanto na prisão ele escreveu um livreto sobre o
assunto, e mais tarde, os cardeais e bispos permitiram que ele apresentasse
seus pontos de vista, mas apenas ao clero. Os historiadores afirmam que
"as portas da igreja foram fechadas durante o sermão". Após
ouvi-lo o papa Urbano V, que havia chegado de Avinhão e sendo Militz protegido
do imperador Carlos IV, ordenou a sua libertação, após o que ele retornou a
Praga, e de 1369 a 1372 pregou diariamente na Igreja Týn.
Ao
retornar deixa de lado suas concepções apocalípticas e retoma incansavelmente
suas atividades pastorais. Ele estabelece uma escola para pregadores leigos, na
qual 200 ou 300 estudantes foram treinados sob o mesmo teto, mas sem qualquer
voto ou regra monástica. Ele copiou os livros que estudariam e deu-lhes livros
devocionais para serem copiados e assim multiplicá-los (lembrando que não havia
ainda a imprensa).
Posteriormente
(1374) o clero da arquidiocese local elaborou doze acusações contra ele
apresentadas perante Gregório XI, dentre as quais que ele depreciou o clero do
papa para baixo; que denunciou a riqueza da igreja; que ele negou a força da
excomunhão; e que ele insistiu na comunhão diária (ceia). Para se defender de
tais acusações, Militz foi para Avinhão (Avignon), mas enquanto seu caso estava
pendente, ele morreu lá em 1374, não muito tempo depois de ser declarado
inocente das acusações que lhe foram feitas.
Um
terceiro boêmio proeminente foi Matthias
von Janow († 30 de novembro de 1393), que havia sido um dos alunos de
Militz, e que veio a ser um sacerdote, escritor, filósofo e reformador. Ele
não era um excelente orador, como os dois contemporâneos anteriores, mas
sobrepujou a ambos como escritor prolífico de muitos livros e panfletos. Após
seis anos estudando em Paris passou a ser chamado de “Magister Parisiensis”. Em
1381 torna-se cônego de Praga e confessor nada menos do que o próprio Imperador
Carlos IV.
Como os
dois antecessores Janow combate os frades mendicantes e escreve um tratado “sobre a proliferação da desolação”
denunciando seus erros e excessos, obra que às vezes é referido como sendo de
John Huss e outras vezes até mesmo a Wycliffe. Mas sua obra mais importante foi
“Das Regras do Antigo e do Novo
Testamento”, onde faz uma profunda investigação sobre o verdadeiro e falso
cristianismo. Ele retrata a corrupção total da Igreja em todas as suas partes e
se esforça em explica as causas dela. Resgatando o veio da pregação de Wycliffe,
ele demonstra que nem as tradições da igreja e nem os decretos papais podem
igualar ou suplantar a autoridade suprema da Palavra divina (Bíblia).
Utilizando como filtro somente a literatura bíblica Janow denuncia
contundentemente a corrupção e depravação dos bispos e sacerdotes.
Ele
ensina que o anticristo já chegou e que não é uma pessoa de fora ou perseguidor
dos cristãos, mas de dentro da própria Igreja. É alguém que se opõem à verdade
cristã; e que assume a mais alta posição eclesiástica e astuta o suficiente
para atrair os ricos e sábios para seus próprios fins; esse anticristo se
apropriara do bem maior da igreja, as Escrituras, bem como os sacramentos e
tudo que concerne à fé cristã, subvertendo e pervertendo todas as coisas
espirituais com o único propósito de desviar os verdadeiros cristãos da verdade
e da submissão a Cristo (se ele viesse ao Brasil hoje ficaria horrorizado pelo
numero de anticristo que encontraria dentro do evangelicalismo nacional).
Ele
avança um pouco além de uma reforma moral e doutrinária proposta pelos seus
contemporâneos Waldhausen e Militz, pois ele entende que todo o sistema latino
(romano) precisa ser reestruturado. Ele defende que os sacerdotes e leigos são
iguais perante Deus, de maneira que ambos devem participar igualmente do pão e
do cálice da comunhão (sacerdócio universal de todos os crentes); que não
somente o papa, mas todos os bispos deveriam governar a Igreja. Essas e muitas
outras propostas de reforma fizeram de Janow o “Wycliffe” da Boêmia. Alguns
afirmam que ele foi além das reformas propostas pelo próprio John Huss que viria
subsequentemente e que acabou por ficar mais em evidência na História da Igreja
Cristã e sendo, mormente associado a Wycliffe reformador na Inglaterra.
Evidente
que nos dias de Janow o poder papal e da hierarquia da igreja ainda eram
poderosos o suficiente para silenciá-lo. Apesar de não ter sido condenado por
heresia ele foi obrigado a deixar a cidade de Praga. Alguns afirmam que ele se retratou
antes do Sínodo de Praga, que o denunciou e condenou seus escritos e suas
opiniões. Todavia, não há qualquer documento que possa abalizar essa afirmação,
entretanto, o contrário parece ser o mais provável, pois uma de suas últimas
declarações antes de morrer (1410) foi “Tudo
o que resta para nós é desejar um reforma pela derrubada do próprio anticristo
para levantar nossas cabeças e ver nossa redenção próxima”. Dezesseis anos
após sua morte, seus escritos, foram lançados às chamas, junto com os escritos
de Wycliffe e ambos foram considerados hereges pela Igreja Católica Romana.
Ainda
que nos compêndios históricos a figura de John Huss se sobressai, esses três pregadores
e escritores boêmios que o antecederam pavimentaram em certo sentido o caminho
para sua atividade reformadora. O que não é demérito algum e nem minimiza o
papel relevante de Huss como um dos maiores afluentes do grande rio que vai se
tornar a reforma religiosa do século XVI. Esse quarteto compôs as mais belas e
extraordinárias peças critico-teológico que serão inseridas na grande partitura
entoada pela Reforma Protestante doséculo XVI, juntamente com as demais
composições de Lutero, Zwinglio, Calvino e tantos outros que ao preço da
própria vida, como Huss, produziram a maior e mais abrangente reforma da igreja
cristã em todo o Ocidente e que ainda hoje podem ser ouvidas suas melodias e
cantadas suas letras.
John Huss nasceu em 1373, na parte sul da Boêmia (atual
Checoslováquia) na aldeia de Husinec, por isso seu sobrenome “Hus”.[9] Uma
distinção dele com os contemporâneos acima mencionados é que Huss vem de uma
família de camponeses pobre e, portanto ele sofre na carne toda opressão
advinda tanto dos senhores e príncipes, quanto da própria elite eclesiástica
que sugavam tudo do povo através da Igreja. Também é importante realçar que John
Huss viveu, durante 37 anos de sua vida, todas as consequências do cisma do
cristianismo Ocidental e, portanto ele é fruto desse mesmo cisma. Mas acima de
tudo Huss é um filho da Boêmia, apaixonado por seu país e por seu povo. Sua
posterior tradução da oração ensinada por Jesus como modelo o “Pai-Nosso” para
a língua tcheca é uma prova contundente de seu esforço em fixar a ortografia e
reformar a língua literária tcheca[10] (assim
como Lutero o fará com a tradução NT para o alemão).
Qual alternativa havia para um garoto pobre da Boemia –
mergulhar na miséria e sua consequente depravação ou estudar – seus pais
fizeram todo o esforço para que Huss pudesse estudar. Qual a carreira que um
garoto pobre poderia aspirar? A carreira eclesiástica era uma da poucas
alternativas ao seu alcance (hoje no Brasil é ainda mais fácil, pois não
precisa nem mesmo estudar, basta alugar um salão e colocar uma placa – está
montada uma igreja e a pessoa se autodenomina pastor, missionário, bispo,
apóstolo). Embora Huss tenha se tornado uma pessoa altamente instruída, sua
origem camponesa permaneceu com ele a vida toda, e seus inimigos faziam questão
de realçar esse fato para o insultarem e depreciar seu trabalho e sua pregação.
Sem que houvesse planejado ele foi nomeado reitor da
Universidade de Praga[11] e
pregador na Capela dos Santos Infantes de Belém, ali na cidade. Eram duas
das posições mais estratégicas de toda Boêmia. A cidade de Praga era um fogo
reformista incontido e alimentado por pregadores notáveis, como os acima
mencionados, dos quais Huss se tornou herdeiro e a qual honrou com sua própria
vida. O coração nevrálgico da cidade era a Universidade de Praga, local de
fermentação, à medida que novas ideias e programas para a igreja eram
constantemente discutidos, bem como uma espécie de caixa de ressonância de toda
sorte de críticas eclesiásticas. A própria capela a qual Huss foi nomeado
havia sido construída em 1391 por um comerciante rico como centro de pregação
reformista.
Ainda que houvesse
escolhido a carreira eclesiástica para fugir da pobreza, no transcorrer de seus
estudos e principalmente quando iniciou suas pregações Huss experimenta uma
conversão, o qual pouco se sabe. Tomado agora por uma consciência da grande responsabilidade de pregar o evangelho de Cristo,
ele se coloca como instrumento de Deus para salvação de seus ouvintes.
Os acontecimentos continuam
impulsionando John Huss para seu protagonismo nas reformas que haveriam de vir
não apenas na Boêmia, mas em todo Ocidente. O casamento do rei Ricardo II com a
irmã do rei da Boêmia, Ana da Boêmia, abriu um importante intercambio cultural
entre as duas nações. Um eminente acadêmico, Jerônimo de Praga, vai conhecer e
conviver na Universidade de Oxford, onde leciona nada menos do que John
Wycliffe, que esta dedicando todos seus esforços para uma reforma na igreja
inglesa, defendendo até mesmo uma independência de Roma.[12] Ao
retornar para seu país Jerônimo de Praga está totalmente contaminado pelos
ensinamentos de Wycliffe e começa a divulgar seus escritos e princípios a
partir da Universidade e por toda a cidade.
Como vozes que clamaram no deserto
por anos a fio, os antecessores boêmios de John Huss haviam preparado o coração
do povo para o desejo de mudanças que precisavam acontecer na Igreja. Agora com
a disseminação do material produzido pelo reformista inglês, estabelece-se uma
base ainda mais solida.
John Huss se familiariza com o pensamento de Wycliffe e, convicto
de que as suas argumentações eram biblicamente verdadeiras, passou a ensiná-las
na Universidade de Praga e pregá-las nos púlpitos da cidade. Enquanto as
críticas centravam-se nas questões morais até mesmo partes dos clérigos romanos
incentivavam, mas quando as mensagens de Huss começaram a se aproximar do
centro nevrálgico do poder eclesiástico, a fúria romana se acendeu
violentamente contra o portador dessas mensagens.
Logo começaram a catalogar todos os
ensinos e frases pronunciadas e escritas por Huss com o fim de leva-lo a
julgamento por heresia. Huss começa a perder o apoio dos clérigos, políticos e
dos que tinham autoridade, restando-lhe apenas seus alunos e o povo comum que
amavam suas pregações e endossavam suas críticas à situação caótica da Igreja e
da própria sociedade.
Tem inicio o movimento para calar a
boca de Huss. Seus ensinos, catalogados, foram condenados e ele ficou proibido
de pregar em todas as capelas. Como continuou a pregar foi excomungado pelo
arcebispo responsável pela região de Praga. O passo seguinte foi sua convocação
para ser julgado em Roma (Bolonha), que ele recusou sabendo que de lá não
sairia vivo, de maneira que foi excomungado pelo próprio papa. O rei Wenceslau
IV declarou: “Se alguém quiser acusar Huss de qualquer acusação, faça-o aqui em nosso
reino. Não parece certo desistir desse pregador útil para a satisfação de
seus inimigos”.[13]
Mas a pressão continua e toda a cidade de Praga é coloca sob
o interdito de maneira que nenhum serviço religioso (casar, enterrar, abençoar,
pregar, administrar a comunhão) podia ser realizado em qualquer ponto da
cidade. Diante da penalização da população Huss decide sair da cidade e retornar
à sua cidade natal na zona rural, em uma espécie de autoexílio em 15 de outubro
de 1412, e por dois anos ele trabalhou nas aldeias do sul da Boêmia. Ali
acercado de pessoas que o amava e o respeitava teve um mínimo de tranquilidade
para poder sistematizar seus ensinos e alinhavar seus princípios e teses,
pregando ininterruptamente em celeiros, campos, cidades e florestas. Em
pouco tempo sua residência transforma-se em centro irradiador de seus ensinos e
pregações, é a partir desta zona rural que suas ideias extrapolaram as
fronteiras e se espalham como fogo na palha seca por toda a Boêmia e
adjacências.
A popularização dos ensinos de Huss
não podia mais ser tolerada, pois a Igreja subdivida em três devido ao cisma
papal no Ocidente, naquele momento havia três papas postulantes ao cargo maior
da cristandade, de maneira que a Igreja estava dia-a-dia perdendo o controle
sobre as nações que davam sustentação a um dos três papas “legítimos”.
Um Concílio geral convocado pelo
papa João XXIII (o 16º Concílio Ecumênico de Constância, 1414-1418)[14] tem na
pauta resolver a questão do cisma papal e tratar das questões de heresias e
Huss foi convocado para resolver suas questões com a Igreja. Com a promessa do
imperador Sigismundo (1411-1437), meio irmão do Wenceslau IV, de um
salvo-conduto para que ele comparecesse em Constança e que lhe garantia seu
retorno independentemente do resultado de seu processo ele toma a decisão de
comparecer ao Concílio. Permanecendo em sua cidade natal estaria seguro, mas
entre a segurança pessoal e a possibilidade de ser uma fiel testemunha do
Senhor Jesus, opta com toda convicção pela segunda. Se naquele momento para
muitos era loucura a decisão de Huss, imagina hoje no meio deste
evangelicalismo abrasileirado corrupto e hedonista. O que importa ganhar o
mundo inteiro e perder a sua alma?
Ele partiu para Constança no dia 11
de outubro (1414), chegando ao seu destino no dia 3 de novembro. Quando diante
de seus acusadores que tentavam intimida-lo ele declara que estava ali por
livre e espontânea vontade e de que nem um rei de perto (Wenzel) ou de longe
(Sigismundo) seria capaz de força-lo a comparecer ali, pois eram grandes e
poderosos os nobres boêmios que o amavam e em cujos castelos ele poderia permanecer
escondido.
Por curto período Huss pôde circular
livremente pela cidade e se alojou na casa de uma viúva que ele apelidou de
“viúva de Sarepta”. Estava otimista e fazendo um trocadilho com seu próprio
nome escreve a um de seus amigos: “o ganso ainda não está cozido e não tem medo
de ser cozido”. Mas logo falsas acusações foram forjadas nas bigornas da
vaidade e da corrupção e ele foi preso sob a acusação de que tentara fugir à
noite da cidade.
Permanecesse preso por três meses em
um convento dominicano em uma cela escura e úmida ao lado das latrinas, com um
fedor horrível, de maneira que sua saúde debilitou precipitadamente. Dali foi
transferido para um castelo em Gottelieven (24 de março de 1414). Durante o dia
podia andar acorrentado, mas à noite era algemado e acorrentado a uma
parede. Após 73 dias uma vez mais foi
transferido, agora para um convento franciscano, onde ocorreriam suas
audiências.
Toda sorte de crueldade lhe fora imposta com o objetivo de
quebra-lo e fazê-lo retrata-se. Em nenhum momento lhe foi permitido ter acesso
a quaisquer livros seus ou de outrem e nem mesma a bíblia. Sofreu fome,
hemorragia, dores de cabeça, vômitos e desmaios. Diante do tribunal que o condenaria, não lhe
foi permitido abrir a boca, de maneira que seu único testemunho foi o martírio.
Uma última vez ele foi chamado para se retratar, mas Huss apenas repetiu seus
protestos anteriores de inocência quanto a suas acusações de heresias, apelou
para a promessa de um salvo-conduto o que fez Sigismundo estremecer e corar e,
ajoelhando-se, orou a Deus por seus inimigos e juízes injustos.
Todo o processo, assim como o fora o de Jesus seu mestre, foi
a mais pura e desavergonhada violação das normas canônicas e legais. E como o
próprio Jesus, o pregador boêmio foi durante todo o julgamento humilhado,
escarnecido e tratado das formas mais cruéis possíveis e finalmente foi despido
totalmente de suas vestes clericais e publicamente expulso – uma clara reedição
das narrativas evangélicas da paixão de Jesus Cristo. E podemos ouvir o ecoar
das palavras do Mestre “E se perseguiram
a mim, igualmente perseguireis a vós também” e não tenham ilusões, “pois se mataram a mim também haverão de
matar vocês”.
No
último julgamento, em 8 de junho de 1415, leram-lhe trinta e nove sentenças,
vinte e seis das quais haviam sido extraídas de seu livro sobre a Igreja, sete
de seu tratado contra Palecz e seis do tratado contra Stanislaus (dois de seus
mais ferrenhos adversários). Quase todos os seus artigos podiam ser rastreados
até Wycliffe. Após o julgamento em 8 de junho, várias outras tentativas foram
feitas para induzi-lo a se retratar, mas ele resistiu a todos elas.
Finalmente a sua sentença foi promulgada – morte pelo fogo –
destinada a todos os hereges. Falou ao seu amigo Jan de Chlum que preferia ser
queimado publicamente em vez de silenciado em particular "a fim de que toda a cristandade pudesse
saber o que eu disse no final".
A condenação ocorreu em 6 de julho de 1415, na presença da Assembléia
solene do conselho na catedral. Após a realização de alta missa e liturgia, Huss
foi levado para a igreja. Um prelado italiano pronunciou a sentença de
condenação contra Huss e seus escritos. Novamente ele protestou em voz alta,
dizendo que, mesmo naquela hora, ele não desejava nada além de ser convencido pela
Sagrada Escritura. Ele caiu de joelhos e pediu a Deus em voz baixa que
perdoasse todos os seus inimigos. Mas os
“santos clérigos” acovardados pela possível reação popular, entregou para as
autoridades civis da cidade o papel de carrasco. Huss foi coroado com uma mitra
de papel sobre a qual estava o desenho de três demônios e a inscrição: tu
és um Heresiarca. Assim, Huss foi levado para a fogueira sob uma forte guarda
de homens armados. Acompanhado por uma multidão, Huss foi empurrado pelas ruas
de Constança até o local da morte e ali ele se ajoelhou, estendeu as mãos e orou
em voz alta.
Os carrascos despiram-no e amarraram-lhes as mãos atrás das
costas com cordas, e o pescoço, com uma corrente, numa estaca em torno da qual
havia empilhado madeira e palha, que o cobriam até o pescoço. Uma última vez
lhe foi dado oportunidade de retratar-se, mas Huss declarou: “Deus é minha testemunha de que a principal
intenção de minha pregação e de todos os meus outros atos ou escritos era
unicamente para que eu pudesse afastar os homens do pecado. E nessa
verdade do Evangelho que escrevi, ensinei e preguei de acordo com as
declarações e exposições dos santos doutores, eu estou disposto a morrer de bom
grado hoje”. Para acender o fogo foi utilizado alguns manuscritos de John
Wycliffe, que também havia sido condenado como herege. Em meio ao fogo e fumaça
a multidão pode ouvi-lo cantar por três vezes “Jesus, filho do Deus vivo, tem piedade de mim”. Suas derradeiras
palavras foram uma profecia: “Em cem
anos, Deus levantará um homem cujos pedidos de reforma não poderão ser
suprimidos”. O ganso finalmente estava cozido. Suas cinzas
foram reunidas e lançadas no rio Reno, nas proximidades.
E a história é testemunha de que por fim, vence a verdade, e
aproximadamente quase cem anos depois (1517), um jovem monge alemão, de forma
singela e até certo ponto despretensiosa afixa nos portais da Igreja de Wittenberg
(Alemanha), suas 95 teses contra os desvios e erros produzidos pela Igreja
Romana e a partir desta ação simbólica um movimento se desenvolve de tal
maneira que abalaram os alicerces da até então toda poderosa igreja medieval –
Martinho Lutero era o nome desse jovem professor de bíblia e monge agostiniano.
A profecia de John Huss se tornou
realidade!
Mas tais atrocidades e escarnio de todos os princípios
cristãos e legais não ficaram sem uma resposta contundente do povo da Boêmia. E
se por algum momento a Igreja Romana achou que a questão se resolveria com a
morte de Huss, o tiro saiu pela culatra. Os boêmios se uniram de tal maneira
contra a Igreja Romana, que nem mesmo quatro guerras (cruzadas) puderam
demovê-los de suas reinvindicações. Contra um exército de mais de 200.000
homens, 20.000 hussitas lutaram e saíram vitoriosos. Mas o papa cada vez mais
debilitado politicamente acaba desistindo de quebrar o zelo dos boêmios.
É o próprio Martinho Lutero, bem como os demais reformadores
do século XVI, que dará testemunho sobre a importância dos reformadores boêmios
– somos todos hussitas (alunos de John Huss), somos todos
boêmios.
Utilização livre desde que citando a fonte
Guedes, Ivan Pereira
Mestre em Ciências da Religião.
Universidade Presbiteriana Mackenzie
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[1] O Império, naquela época medieval,
não era um Estado material, mas correspondia sim à ideia de um Império formado
por uma confederação de Estados. O imperador era o senhor de um dos Estados que
o compunham, sendo eleito pelos seus pares. O Reino da Boêmia era um dos
eleitores do imperador.
[2] Além de ser eletivo, o cargo de
imperador não implicava necessariamente muito poder, sendo relativo à força do
próprio imperador eleito. Os Estados do Império agiam, de fato, como reinos independentes. Na maior parte do tempo, os príncipes alemães criavam intrigas
e disputas em tomo do título de imperador e de seu reconhecimento pelo Papa.
Eleições eram impugnadas, compradas, anuladas.
[3] Os conflitos e as disputas entre
esses dois grupos étnicos foram uma constante em toda a história, tendo-se
concentrado principalmente em Praga.
[4] Praga, capital da Boêmia, às margens
do rio Vltava, pouco acima de sua confluência com o Elba, nascera do interesse
dos mercadores pela sua localização. Carlos IV, rei da Boêmia e imperador do
Sacro Império Romano Germano no século XIII, tem sua memória particularmente
reverenciada em Praga. Quando eleito, fez de Praga sua capital. Deste período
datam a nova ponte, a universidade, o castelo real e, sobretudo as igrejas.
[5] Wycliffe foi contemporâneo dos
embates teológicos e filosóficos nominalistas, que influenciariam grandemente o
pensamento moderno, inclusive o teológico/reformista.
[6] Há duas linhas interpretativas do
papel desempenhado por Wycliffe no pensamento dos reformadores da Boêmia.
Alguns defendem uma total dependência do pensamento wycliffiano e outros
entendem que os reformistas boêmios tiveram suas autenticidades e preposições
próprias. Essa discussão pode ser vista de forma interessante no artigo de Vilém
Herold (How Wyclifite Was the Bohemian Reformation?).
[7] Um Arcediago ou Arquidiácono é um
vigário-geral encarregado, pelo bispo, da administração de uma parte da diocese.
Na hierarquia da Igreja, o arcediago está acima dos clérigos e abaixo do bispo.
O termo é geralmente referido a um dignitário de um cabido. http://pt.wikipedia.org/wiki/Arquidiácono
[8] Assumiu o estilo de pobre de Waldo um
pregador do arrependimento, cujos discípulos haviam procurado refúgio na Boêmia
e marcaram presença no sul da Boêmia, até que foram implacavelmente perseguidos
em 1335 pelo inquisidor Gallus.
[9] O nome Huss significa
"ganso", e que ele com seu senso de humor costumava usar para se
referir a si mesmo. Em uma de suas cartas enquanto preso em Constance, ele
escreveu a seus amigos na Boêmia que esperava que o ganso fosse libertado da
prisão e que, "se você ama o ganso", tente assegurar a ajuda do rei
para libertá-lo da prisão.
[10] Huss escreveu uma gramática tcheca e
depois revisou a Bíblia de acordo com essa nova gramática.
[11] A Universidade de Praga, fundada por
Carlos IV, foi a primeira universidade de língua alemã e que durante o grande
cisma da igreja passou a receber os estudantes que fugiam da França. A
dicotomia irreconciliável entre alemães e tchecos se acentua dentro da
instituição universitária.
[12] Paralelamente e até mesmo, como nesse
caso particular de Wycliffe, de forma amalgamada há um desejo de reforma da
igreja cristã e de valorização da nacionalidade própria, no caso aqui a
Inglaterra.
[13] Esse apoio do rei era artificial e
politicamente conveniente e só duraria na medida em que Huss permanecesse
politicamente útil.
[14] Foi o mais numeroso conselho já
realizado. Mais de 18.000 sacerdotes e um grande número de príncipes, condes e
cavaleiros, com imensos seguidores; ao todos cerca de 100.000 estranhos,
incluindo milhares de prostitutas de todos os países e hordas de comerciantes,
artesãos, showmen e jogadores de todo tipo.
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