Anabaptistas
ou anabatistas ("re-batizadores",
do grego ανα (novamente) + βαπτιζω (baptizar); em alemão:
Wiedertäufer) foi um dos grupos dissidentes que surgiram na esteira do
movimento da Reforma Protestante que tem sua origem na Alemanha com Martinho
Lutero. Eles foram nominados como “ala
radical” da Reforma, devido suas ações independentes e combativas. Em
decorrência deste espírito independente o movimento experimentou cismas e
acabaram tendo menos preponderância do que os luteranos, anglicanos e
calvinistas. Heinrich Bullinger (1504-75) reformador suíço calculou que em
menos de uma década os anabatistas haviam se dividido em nada menos que treze
movimentos diferentes e com lideranças distintas e até mesmo antagônicas.
Os
anabatistas defendiam de forma intransigente que a igreja deveria arrolar como
membros tão somente aquelas pessoas que tivessem idade suficiente para
discernir e comprometer-se conscientemente com os ensinos bíblicos cristãos e
desta forma não admitiam o batismo infantil, conforme praticado pela Igreja
Romana e continuada em diversos segmentos protestante como os luteranos e
calvinistas. Eles rejeitavam ferrenhamente qualquer aliança da igreja com o
governo secular o que acabou produzindo inúmeros embates e perseguições por
parte das autoridades civis.
Suas
ideias e conceitos foram fortemente combatidos pelos expoentes reformadores
como Lutero, Calvino e Zwínglio sendo este último a contestar com mais ardor,
visto que o movimento se tornará forte na Suíça. Zwínglio utilizando um termo cunhado por Gregório de Nazianzo no século IV, os nominava
por “catabatista” (contra-batismo ou anti-batismo), mas também o termo era
usado pejorativamente com o sentido de submersos ou afogados.
O
movimento cedo se tornou um refúgio para toda sorte de opiniões divergentes das
lideranças reformadas. Uma figura provocativa foi a de Thomas Munzer que ainda
cedo se tornou opositor de Lutero e liderou diversas rebeliões de camponeses
contra os senhores feudais e príncipes. O resultado final das ações de Munzer foi
desastroso e milhares de camponeses morreram na batalha final com os exércitos
feudais em maio de 1525 na região de Frankenhausen e ele foi capturado e
posteriormente decapitado. Suas ações e pregações acabaram sendo associadas ao
movimento anabatista. Posteriormente o movimento anabatista tornou-se avesso a
quaisquer atividades violentas e tornou-se um movimento pacifista. Com o Estado
definindo o papel do magistrado como detentor da ordem social os anabatistas
reafirmaram sua convicção nos princípios centrais da fé cristã. A ala do
Anabatismo que recebe o nome de “Os Irmãos
Suíços” foi a menos radical de todas e rejeitavam especialmente os excessos
violentos.
Muitos
líderes anabatistas da primeira geração tornaram-se mártires; a maioria dos
crentes deixou suas casas para buscar refúgios na Holanda e alguns tolerantes
Estados alemães. No final da década de 1530, Menno Simons deixou o sacerdócio
católico e associa-se ao movimento anabatista, mas rejeita todas e quaisquer
violências defendidas pelo movimento Munster, pois entendia que essas ações
eram contrárias ao ensino evangélico. Com sua pregação, seus escritos e suas
viagens contínuas, ele conseguiu unificar os diversos grupos anabatistas e
dar-lhes um tom mais moderado, bem como expurgar as ideias errôneas sobre o
divorcio e a poligamia. Sua teologia estava focada na separação deste mundo, e
o batismo pelo arrependimento simbolizava isso. Menno tornou-se um líder dentro
do movimento anabatista e em 1544 o termo menonita passou a ser uma referência
aos anabatistas holandeses. Os pontos principais da teologia anabatista são: eles
não administram o batismo em crianças em idade pré-escolar, mas apenas em
adultos capazes de dar conta de sua fé; quanto a Ceia adotaram a doutrina dos
calvinistas; em relação às doutrinas da graça e predestinação não seguiram o posicionamento
de Calvino, mas as de Melanchton e Armínio, que adotaram o pelagianismo; eles
se abstêm de prestarem juramento, mas não se negam a fazerem depoimentos diante
dos magistrados; eles consideram a guerra e a utilização de armas ilegais; eles
contribuem com seus bens para a defesa da pátria; eles reconhecem e acatam as
decisões judiciais, todavia se abstém de exercer tais funções. Diante de todas
as perseguições que sofreram tornaram-se grandes defensores da tolerância
religiosa.
Nas
referências bibliográficas temos uma das raras declarações de fé produzidas pelo
movimento anabatista conhecida por “A Confissão
de Fé Schleitheim” (Schleitheim, no Cantão de Schaffhausen – Suíça)
reconhecida por uma Conferência dos Irmãos, na Suíça em 24 de fevereiro de 1527,
sem contestação e mais tarde impresso sob o título “Bruderliche
Vereinigung etlicher Kinder Gottes” (Acordo fraterno
de alguns filhos de Deus). O provável autor do documento foi Michael Sattler,
um dos primeiros mártires anabatistas (21
de maio de 1527),
após a morte de Conrad Grebel (1526) e alguns meses depois de Felix Manz (1527).
A confissão foi considerada importante o suficiente para ser refutada tanto por
Zwínglio quanto por Calvino em obras separadas. Na Inglaterra, os primeiros
batistas em Londres elaboraram uma confissão de fé de maneira que ficasse claro
de que não eram anabatistas. Os Anabatistas se distinguem dos Batistas em
diversos aspectos inclusive o fato de que eles não adotam necessariamente o
batismo por imersão, tão caro aos batistas.
Utilização livre desde que citando a fonte
Guedes, Ivan Pereira
Mestre em Ciências da Religião.
Universidade Presbiteriana Mackenzie
me.ivanguedes@gmail.com
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