Introdução
O
protestantismo se inseriu no Brasil a mais de cento e cinquenta anos, mas
infelizmente valorizam muito pouco sua própria história e por esta razão encontramos
tão pouca informação sobre a participação efetiva dos protestantes no país.
O
livro produzido por James Cooley Fletcher, o primeiro missionário presbiteriano
a percorrer todo o território brasileiro, dando continuidade à obra escrita por
seu companheiro de atividade missionária no Brasil, o metodista Daniel Parish
Kidder, que estivera viajando pelo Brasil antes dele, é extremamente relevante
tanto do ponto de vista missionário quanto do ponto de vista histórico, pois
nos permite ver pela ótica de um protestante as potencialidades deste país
Continental, que impactava e impressionava todos aqueles que por ele caminhava.
Como um protestante via o
Brasil? Qual a perspectiva dele em relação ao futuro desta nação? De que
maneira sua proposta evangélica-protestante poderia contribuir para o
desenvolvimento do país?
Enquanto as mais ecléticas editoras reeditam a literatura dos viajantes,
revalorizando seu conteúdo e assim resgatando os primórdios da nação
brasileira, a literatura produzida por testemunhas oculares de viés protestante
continua esquecida no limbo editorial.
As editoras de cunho
protestante-evangélicas ignoram por completo esse tipo de literatura, pois sabe
que o retorno financeiro será nulo, visto ser um tipo de literatura que atrai interesse
quase que somente de pesquisadores acadêmicos, o que apenas comprova a visão
míope monetarista destas empresas editoriais.
Esta miopia financista editorial tem contribuído em muito para que o
protestantismo continue sendo um desconhecido no país o qual já se faz presente
a mais de um século e meio. É destas editoras de viés protestante histórico,
que se poderia esperar uma compreensão melhor da importância de se resgatar a
presença protestante na história brasileira, todavia, mantiveram a mesma opção
de seus primórdios, produzindo literatura prioritariamente teológico-doutrinária,
voltada especificamente para si mesmo, sem preocupação mínima de se conectar ao
que estava e está acontecendo no país.
O fato de que cada segmento protestante
evangélico veio a se constituir em um mercado autossuficiente, apenas agravou
ainda mais a situação descrita. Tudo que essas editoras produzem já tem um
público alvo especifico e consumidor, portanto, não há motivação alguma em se
aventurar por um tipo de literatura singular e de pouco interesse de seus
leitores, em geral pouco acostumados às leituras históricas. De maneira que, se
não fazemos parte integrante da História do Brasil, o que estamos fazendo
então? Qual proposta religiosa pode impactar uma sociedade da qual não se
estabelece qualquer vínculo histórico? Como se fazer presente na Sociedade
brasileira quando se opta pela invisibilidade histórica?
Portanto, resgatar do limbo o tipo de literatura produzida por James C.
Fletcher é um passo significativo para uma inserção do protestantismo nas
entranhas da histórica brasileira, resgatando toda potencialidade que essa
nação tinha aos olhos dos viajantes que por aqui passavam e mais
particularmente dos protestantes que tinham plena consciência de que era
fundamental para a expansão de sua mensagem evangélica no continente americano
que aqui se estabelecesse suas denominações.
Quem
foi James Cooley Fletcher?
Foi um pastor presbiteriano,
nascido em Indianapolis, no Estado de Indiana, em 1823. O jovem James Cooley
Fletcher[1] fez sua graduação em Brown
University em 1846, estudando teologia por dois anos no Seminário Teológico de
Princeton,[2] seguindo para a Europa
onde completou seus estudos teológicos e aperfeiçoou-se na língua francesa,
pois deseja exercer seu ministério missionário no Haiti. Ainda na Europa, na
Suíça, casa-se com Elizabeth M. Fletcher (1845-1903), filha do pastor e teólogo
César Malan.[3]
Mas quando de seu retorno aos
Estados Unidos muda de ideia quanto ao campo missionário e resolve vir ao
Brasil desembarcando no Rio de Janeiro[4] em 14 de Fevereiro de 1852
(JAMES, 1952, p. 23) então com 29 anos, e permaneceu atuando até meados de 1869,
com alguns intervalos. Chega como missionário e Capelão da Sociedade Americana
de Amigos dos Marítimos (American Seamen’s Friend Society) que tinha o
propósito de suprir as necessidades espirituais e sociais dos marinheiros
americanos em todo o mundo e naqueles dias o porto do Rio de Janeiro recebia em
média 10.000 marinheiros americanos, cujos navios aportavam para reparos e
abastecimento. Ele também veio vinculado à outra missão americana denominada de
União Cristã América e Estrangeira (American and Foreign Christian Union) que
tinha como objetivo assistir aos americanos que residiam no Brasil. Portanto,
ele não vem especificamente para alcançar brasileiros, mas no transcorrer de
suas atividades foi sendo tomado por uma paixão forte que o impulsiona cada vez
mais a ser envolver com os brasileiros e sua grande nação.
Em 1854 ele retorna aos
Estados Unidos, devido à enfermidade da esposa Elizabeth M. Fletcher logo após
o nascimento de seu segundo filho. Neste período encontra-se com o missionário
metodista Daniel P. Kidder, que estivera no Brasil em momento anterior, e
recebe deste a proposta para atualizar seu livro “Sketches of Residence and
Travels in Brazil”[5]
(editado em 1845). Com novo fôlego retorna ao Brasil, agora coligado a União
Americana de Escola Dominical (American Sunday School Union) e no biênio 1855'6 viaja mais de 5.000 quilômetros no país
distribuindo e organizando depósitos de Bíblias como agente da Sociedade
Bíblica Americana.[6]
Em 1862 ele navegou mais de 3.000 quilômetros pelo rio Amazonas
ocasião em que colheu amostras e matéria para estudo de ciências naturais que
enviou ao Prof. Louis Agassiz,[7] cientista renomado da Universidade
de Harvard, e de que este se serviu para seus estudos ictiológicos e
posteriores observações na mesma região.
Sua atuação no Brasil foi
muito além de um missionário protestante ou de um viajante observador. Em quase
uma década ele se embrenha em os mais diversificados espaços sociais
brasileiros:
Ø Capelão
dos Marinheiros americanos
Ø Colportor
da Sociedade Americana
Ø Prestou
assistência aos imigrantes ingleses, irlandeses e escoceses (RJ), em sua
maioria eram operários trazidos pelas empresas inglesas no iniciante processo
de modernização do país; alemães e suíços (MG, PR, SC), que formaram colônias
agrícolas, principalmente nas fronteiras.
Ø Apoia
os movimentos antiescravagistas no Brasil, municiando-os com literaturas e
informações sobre as lutas travadas nos Estados Unidos e na Europa.
Ø Fomenta
a incipiente indústria nacional, bem como promove a primeira feira industrial
Brasil/Estados Unidos.
Ø Promove
a imigração sulista americana, após a derrota na guerra da Secessão.
Ø Envolve-se
no amplo debate politico sobre a plena liberdade religiosa no Brasil.
Torna-se um dos mais
ardorosos defensores do Brasil e seus interesses na mídia americana e de outros
países:
Ø Defende
o país em relação á guerra contra o Paraguai, inclusive junto às Universidades americanas
em que pode dar palestras.
Ø Escreve
diversos artigos em jornais no país e no exterior, sempre em defesa do Brasil, textos
que se reproduziram até mesmo em Calcutá, na Índia.
Ø Escreve
e edita o livro “O Brasil e os Brasileiros”,
fazendo sucessivas reedições atualizadas. Esse livro torna-se leitura
obrigatória para os missionários posteriores.
Ø Sua
atuação em defesa do país e boa aceitação e crítica positiva do livro mereceu o
convite honroso para ser membro Correspondente do Instituto
Histórico e Geográfico do Brasil, então a instituição acadêmica mais
relevante no país.
A última atuação de Fletcher
em seu esforço missionário no Brasil ocorre também no biênio de 1868/69 agora
como agente da Sociedade Americana de Folhetos (American Tract Society – ATS).[8] Em 1869 Fletcher vai para
Portugal para exercer a função de cônsul na cidade do Porto (1869/73). Ainda
exerce atividade missionária em Nápoles (1873/77), retornando finalmente para
os Estados Unidos em sua residência em Indianápolis.
Ele foi um colaborador
constante da imprensa periódica, entre os quais American Register, o New York
Advertiser, correspondente do New York Daily Times e o Evangelist. Mas sem
dúvida alguma seu livro a partir da obra inicial de D. P. Kidder,[9] intitulado “O Brasil e os Brasileiros” [The Brazil
and The Brazilians – Portrayed in Historical and Descriptive Sketches] é o
seu maior legado ao país e se tornou uma importante e conceituada obra não
apenas sobre o Brasil, mas também sobre a América do Sul tornando-se referencial para todos os que desejavam
conhecer e trabalhar no país, bem como leitura de
cabeceira para quaisquer missionários que desejassem atuar no Brasil, como
os pioneiros Dr. Robert Reid Kalley, que formou a primeira igreja protestante
em e para brasileiros (Congregacional) e A. G. Simonton que implanta a Igreja
Presbiteriana no país.
No dia 24
de abril de 1901, na cidade de Los Angeles o Dr. James Cooley Fletcher,
um homem notável, morre às 10 horas da manhã em sua casa, na rua Bonnie Brae
Street, No. 173, em decorrência de um derrame cerebral que havia sofrido na
quarta-feira antecedente, desde então, ele estava confinado em sua cama e
desfalecendo gradualmente até sua morte nesta manhã. Por tudo quanto James C. Fletcher
realizou, deve figurar como um dos pioneiros do protestantismo brasileiro do
século XIX.
Além da paupérrima
historiografia, acrescentam-se os expurgos de personagens e acontecimentos que
foram efetivamente praticados pelos raros historiadores protestantes. Entre
outros, sem dúvida alguma se encontra a figura de James Cooley Fletcher que
apesar de ter sido um pioneiro das atividades missionárias protestante no país,
ficou completamente ignorado e invisível até recentemente, como conclui Vieira,
um dos raros historiadores protestante a citá-lo com acuidade: “Fletcher é um autor muitas vezes citado,
ainda que pouco compreendido” (VIEIRA, 1980, p. 62).[10] Mas outras vozes, fora do
protestantismo, atestam a presença relevante da pessoa e das ações empreendidas
por Fletcher na sociedade brasileira: Gilberto Freyre, um dos mais conceituados
historiadores brasileiro testemunha de que o missionário estadunidense foi um
observador fiel de muitos aspectos da sociedade brasileira do século XIX
(FREYRE, 1986, p. 325) e despido dos olhares preconceituosos e arrogantes de
outros estrangeiros que escreveram sobre o país. David James o inclui com
destaque no rol dos chamados “amigos da
Nova Inglaterra” de d. Pedro II (JAMES, 1952, p. 2), mantendo contatos mais
do que casuais com o imperador. Dando uma dimensão maior para essa relação do
entusiasta missionário protestante com o monarca brasileiro acrescenta que ele
foi o cupido do “caso de amor [de d.
Pedro II] com os Estados Unidos” (CARVALHO, 2007, p. 157-159). Atualmente
muitos pesquisadores do protestantismo têm seguido esta trilha histórica
paralela e resgatado em certo grau a pessoa e atividades deste pioneiro
protestante entre os brasileiros.
O
livro: “O Brasil e os Brasileiros”
A
obra coproduzida por Fletcher, que seus críticos insistem em minimizar quanto a
sua participação e originalidade, não se constitui em uma mera reedição
ampliada da obra de seu companheiro e colega de trabalho missionário Daniel P. Kidder,
publicada em 1845, pela simples razão de que esteve no país por um período
muito mais longo, quase uma década e de que ele se envolve intensamente nos
acontecimentos ocorridos no país durante esse período, enquanto seu colega
esteve apenas por um curto espaço de tempo, quase três anos, e praticamente se
ateve a ser um observador dos acontecimentos. Ainda que ambos igualmente percorressem
o vasto território brasileiro e testemunharam os fatos por eles registrados.
Sua
efetiva contribuição para a ampliação da obra anterior e agora tornada
independente com sua nova titulação – O Brasil e os
Brasileiros[11] – foi
decorrente não apenas de suas observações pessoais, derivadas de suas viagens
longas pelo país, mas efetivada na utilização das mais diversas fontes
primárias de informações: arquivos e bibliotecas no Brasil; leitura de outros
autores como Padre Antonio Vieira e Luis de Camões, o poeta norte-americano
Henry Wadsworth Longfellow, citações provindas de viajantes como Spix e
Martius, Alexander Von Humboldt, Auguste de Saint-Hilaire e Thomas Ewbank, e
ainda, documentações oficiais de Estado como Falas do Trono e relatório do
Ministério do Império (Débora Villela de Oliveira, 2011).
Desde
sua primeira edição (1857) pela editora Childs & Patterson, da Filadélfia,
a obra dos missionários foi bem recebida pelos críticos e leitores. Um dos mais
conceituados jornais da época, o Harper´s Magazine em sua edição de Novembro,
trouxe uma positiva avaliação crítica do livro.[12] Suas informações foram
consideradas precisas, proporcionando aos leitores uma percepção clara sobre as
características básicas da geografia do país e da sua população, bem como de
seu governo, literatura, arte e religião. O formoto gráfico com suas belas ilustrações
também foi apreciado (Literary Notes, In: Atlantic Monthly, n. 1, v. 1,
Boston, Nov. de 1857).
Uma
característica peculiar é que Fletcher não deixa de tecer no transcorrer de sua
narrativa as críticas que entende serem oportunas e necessárias, mas o faz de
tal forma que não produz irritação ou repúdio dos leitores brasileiros, como
posteriormente será destacado inclusive pela nota crítica emitida pelo próprio
Instituto Histórico e Geográfico do Brasil:
Se alguma vez o seu Autor [referindo-se especificamente a
Fletcher] se permite alguma facécia a respeito de nossos costumes, não é,
todavia com o intento de expor-nos ao ridículo, como têm feito outros viajantes
e escritores. Aponta muito de nossos defeitos, que se não podem negar; mas, em
geral, ameniza com a sua benevolência as críticas que faz: de sorte que
conclui-se antes em seu Autor um afeiçoado do Brasil, do que um desses
viajantes que não tendo saído do seu gabinete maldizem de tudo e de todos; se
Fletcher censura é porque desejaria que o Brasil e os brasileiros progridam na
civilização.(RIHGB, xxv [862], p. 292/293, apud VIEIRA, 1980, p. 80).
Assim, em suas críticas, às
vezes até contundentes, transparece o carinho e respeito que o autor nutre pelo
Brasil e suas instituições e povo. Como ele mesmo haveria de salientar em outro
momento, em nota ao próprio imperador D. Pedro II quando do envio de uma nova
edição, as críticas sinceras e genuínas são preferíveis às palavras lisonjeiras
e dissimuladas.
Ainda
nas primeiras páginas os autores esclarecem um motivo pelo qual elaboraram o
livro. Segundo eles o público americano tinha uma concepção equivocada sobre o
que veria a ser o Brasil. Deste modo, pretendem oferecer aos leitores uma visão
real e despojado de qualquer espírito jocoso. Para eles a nação brasileira é uma potencia a
ser desenvolvida e, portanto, de grande interesse para intercâmbios e acordos
comerciais com os Estados Unidos. É um país que tem um governo estável, a
monarquia parlamentar, com uma constituição moderna. Tudo que se registra foi
testemunhado de forma ocular pelos escritores durante o tempo em que cada um
deles permaneceu e percorreu o vasto território nacional (KIDDER and
FLETCHER, 1879, p. 3-5).
Evidentemente
que na abordagem referente à religião os autores revelam seus posicionamentos
protestantes em aberto contraste com a religião oficial do país, o Catolicismo
Romano. Destacam as incursões francesas dos huguenotes (protestantes) no Rio de
Janeiro e posteriormente os holandeses em Recife. Descrevem o catolicismo como
sendo uma religião em declínio e profundamente associada a toda sorte de
heresias e superstições, arguque na mentos esses que na verdade se constituía
na grande bandeira das ações protestantes em todos os países católicos. Reforçam
a tese de que o catolicismo representa o atraso, que a partir da religião acaba
por permear toda a civilização brasileira, e que o protestantismo é o
representativo do progresso que haveria de alçar o Brasil ao topo das nações
civilizadas e prospera.
Segundo Alfredo de Carvalho
(em sua obra Escritores Exóticos no Brasil), Brazil and the Brazilians é,
"ainda hoje, nos Estados Unidos, senão o livro clássico, o mais
vulgarizado (popular) sobre o nosso país". Também Marchant (em
Handbook of Latin American Studies, 1938) escreve que a obra de Kidder e
Fletcher "é, em sua época, certamente, a mais importante obra americana
sobre o Brasil".
Edições em Inglês
1ª, 1857, Childs & Peterson, Filadélfia.
2ª, 3ª, 4ª e 5ª — 1858 a 1866, Childs &
Peterson, Filadélfia, e Little, Brown, Boston, acréscimo de um mapa do Brasil e
outro da Baía do Rio de Janeiro por C. B. Colton.
6ª — 1866 —
Childs & Peterson, Filadélfia.
7ª — 1867 —
Childs & Peterson, Filadélfia.
8ª — 1868 — Childs & Peterson,
Filadélfia.
José Carlos Rodrigues, em
Religiões Acatólicas no Brasil, refere-se a nove edições, e Alfredo de
Carvalho, em Escritores Exóticos no Brasil, fala de 12 edições, porém não
especificando datas.
Assim, apesar dos autores cuidadosamente
se esforçarem por colocarem o Brasil e os Estados Unidos no mesmo nível como
nações ocidentais, realçando ao máximo as qualidades excepcionais e potenciais
do país descrito, é possível se aperceber uma ascendência civilizacional, pois
o país norte americano é constituído em modelo a ser seguido pelos brasileiros
para alcançarem o progresso. Esse gargalo de renunciar a religião e a cultura
nacional, para avançar em rumo ao progresso civilizatório idealizado na nação
norte americana nunca de fato foi desobstruído e permaneceu mesmo após os
protestantes se estabelecerem por definitivo por todo o país.
As
elites brasileiras, ao menos uma grande parte delas, abraçaram
entusiasticamente as propostas progressistas embutidas no protestantismo americano,
mas em momento algum cogitaram em abrirem mão de sua religião e suas tradições.
Seus filhos podiam livremente estudar nas Escolas protestantes, mas mantinha-os
arraigados no velho e seguro porto do catolicismo brasileiro.
Por
sua vez, os protestantismos que por aqui foram aportando, se contentaram em
construir cada um seus próprios espaços protestante-feudais, satisfazendo-se em
se defenderem de possíveis reações católicas, que acabaram não se efetivando, e
por fim ficaram satisfeitos em vivenciarem suas expressões de fé protestante-transcurais,
enquanto o restante da sociedade brasileira permaneceu sem ser incomodada.
Nos primórdios da
implantação do protestantismo, uma porcentagem pequena de famílias
estabelecidas acabou sendo alcançadas pela mensagem e proposta progressista
protestante, mas de fato vai exercer uma forte atração junto às camadas mais
carentes e marginalizadas da sociedade brasileiras, avidas por uma oportunidade
de ascensão e inserção social, se não para si mesmo, mas para seus filhos e
netos. E de fato é isso que vai acontecer no transcorrer do processo, de
maneira que, a partir da terceira geração os protestantes nacionais estarão
confortavelmente inseridos nas zonas de conforto da classe média e nos estratos
sociais mais elevados. Foram alavancados pelo sistema educacional ampla e
estrategicamente desenvolvido nos grandes centros urbanos, começando pelos
Colégios e posteriormente pelas Universidades. Mas o preço foi extremamente
alto – a opção pela alienação da sociedade brasileira.
Utilização livre desde que citando a fonte
Guedes, Ivan Pereira
Mestre
em Ciências da Religião.
Universidade
Presbiteriana Mackenzie
me.ivanguedes@gmail.com
Outro
Blog
Reflexão
Bíblica
http://reflexaobiblica.spaceblog.com.br/
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Primeiro Curso Teológico Protestante no
Brasil
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Protestantismo no Brasil e a Fundação da ASTE
O Protestantismo na Capital de São Paulo: A
Igreja Presbiteriana Jardim das Oliveiras.
Referências Bibliográficas
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sobre o Brasil e os brasileiros nos escritos de Thomas Ewbank (1846). Revista
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VIEIRA, David Gueiros. O Protestantismo, a Maçonaria e a Questão Religiosa no Brasil. Brasília: Editora Universidade de Brasília, 1980.
[1] Seu nome foi uma homenagem a James
Cooley, professor de direito do pai em Urbana, Ohio.
[2] Essa instituição teológica desempenha
um papel relevante na formação dos missionários protestantes que vieram para o
Brasil. Fletcher possivelmente estudou sob Samuel Miller, Joseph Addison
Alexander, Charles Hodge e Archibald Alexander, alguns dos principais teólogos
calvinistas da época (DULLES, 1909, p. 17).
[3] Além de seu casamento, o jovem
Fletcher teve oportunidade, enquanto na Europa, de Entre outras experiências
vividas na Europa, teve a oportunidade de encontrar-se com Alexis
de Tocquevile em Paris (KIDDER & FLETCHER, 1879, p. 138) e
participar do encontro do Congresso
Internacional da Paz na mesma cidade em 1849, como correspondente
para o jornal Observer de Nova Iorque (GAYLE;
RIKER & CORPUZ, 1975, p. 135).
[4] Desembarca no porto do Rio de Janeiro
acompanhado da esposa Henriette e do filho Edmond.
[5] Esta obra Kidder foi traduzida por
Moacir N. Vasconcelos e editada na Biblioteca Histórica Brasileira, Livraria
Martins, São Paulo, com o titulo de “Reminiscências de viagens e permanência no
Brasil”.
[6] Este trabalho desenvolvido por
Fletcher e outros missionários e colportores foram a sementeira para a futura
colheita feita pelos missionários posteriores que vieram com a finalidade de
implantar e desenvolver suas denominações evangélicas protestantes no Brasil,
incluindo aqui os pioneiros presbiterianos com Ashbel G. Simonton e seus
companheiros.
[7] O Prof. Agassiz recebeu do Instituto
Histórico e Geográfico o certificado de membro honorário que lhe foi entregue
por Fletcher e posteriormente o cientista agradeceu pessoalmente ao Instituto
pelo título recebido (16 de junho de 1865).
[8] O objetivo especificamente da ATS
nesse momento era encontrar uma forma rápida e eficaz de evangelizar
especialmente no oeste americano, daí o uso de panfletos e folhetos contendo
informações resumidas e de fácil assimilação.
[9] “Sketches of Travel
and Residence in Brazil”. Esta obra Kidder foi traduzida por Moacir N.
Vasconcelos e editada na Biblioteca Histórica Brasileira, Livraria Martins, São
Paulo, com o titulo de “Reminiscências de viagens e permanência no Brasil”.
[10] Essa invisibilidade e expurgo
sofridos por Fletcher se deve alguns fatores concretos: ele sempre foi muito
empolgante, até mesmo esfuziante e seus projetos sempre foram, ao menos no
desejo, muito grandes (seu desejo acalentado era de “converter” D. Pedro II ao
protestantismo); esse “barulho” que Fletcher fazia de suas ideais e ações
incomodavam os posteriores missionários que aqui chegaram com projetos bem
definidos de implantação de suas denominações, de modo que optaram pela
discrição para não chamarem demasiadamente atenção das autoridades e
principalmente dos eclesiásticos católicos romanos. Outras razões seriam mais
subjetivas, visto que Fletcher não morreu prematuramente enquanto atuava no país,
não recebeu o “galardão” de mártir, tão ao gosto de um protestantismo carente
desta figura; também contribuiu para seu ostracismo histórico o fato de que não
erigiu nenhum “templo” que são marcos “eterno” de uma atividade missionária
relevante no país. Mormente os demais que se enquadra em uma ou outra destas
razões, também foram banidos para o “limbo” das historiografias oficiais das
denominações.
[11] O nome original em inglês: The
Brazil and The Brazilians – Portrayed in Historical and Descriptive Sketches
[12] Acessado em
http://www.harpers.org/subjects/BrazilAndTheBraziliansBook.
Obrigada por nos trazer um pouco da história do protestantismo no Brasil. Realmente pouquíssima valorizada. Emocionante o relato do missionário daquela época sobre o campo missionário brasileiro.
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