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sexta-feira, 9 de maio de 2025

Calvino – Profeta Ezequiel o "Canto do Cisne Inacabado de Calvino"

Mesmo para aqueles que conhecem o mínimo do extraordinário trabalho realizado por João Calvino, reformador protestante genebrino, que elaborou (e pregou e lecionou) quase a totalidade dos livros que compõem a Bíblia, resgatar seu comentário sobre o profeta Ezequiel, toca o coração e a alma, não apenas pela qualidade de excelência com que ele tratou cada um de seus comentários bíblicos (e todas suas centenárias obras), mas neste caso em particular pelo fato de constituir seu último trabalho bíblico, visto que antes de poder envia-lo, após rígidos critérios de revisão, para ser editado, o amado reformador, que estava extremamente debilitado fisicamente, veio a falecer, em sua casa, arrodeado pelos amigos, pastores de Genebra e arredores, bem como de muitos de seus alunos (detalhes específicos deste momento de despedida leia o artigo indicado abaixo).

Se não fosse suficiente a qualidades intrínsecas acadêmica e profundamente pastoral, o fato de se constituir seu “Canto do Cisne” literário, torna, ainda que inacabado em sua edição final, parando no capítulo 16, um comentário único em sua singularidade. Para os mais poéticos como eu, ao ler os textos, é possível ouvir com o coração e a alma, ainda que distanciados por séculos, o pulsar da mente e do coração do Mestre (na verdade Doutor) e Pastor João Calvino em seus últimos esforços de oferecer aos leitores cristãos de sua amada comunidade genebrina, e aos cristãos reformados espalhados pelo mundo inteiro, irradiados da Universidade de Genebra por ele iniciada na referida cidade (que ele adotou e foi adotado, visto sua origem francesa),  pois seus escritos continuam sendo lido e edificando vidas ainda hoje.

Meu singelo esforço é apenas colocar em porções homeopáticas o conteúdo desta obra, que, como um bom vinho, quanto mais anos se passam, mais saboroso se torna ao ser degustado, permitindo que seus aromas sejam apreciados em toda a sua riqueza e sutileza. Este é um esforço concomitante com sua obra magistral, as Institutas da Religião Cristã, que você pode acompanhar nos links abaixo.

Com raríssimas exceções, o propósito maior é deixar o Mestre Calvino falar, permitindo que seus comentários e mensagens sejam plenamente apreciados. No entanto, como venho fazendo com as Institutas, inseri algumas poucas questões para reflexão, com o intuito de oferecer ao leitor uma oportunidade de pensar um pouco mais sobre os textos por ele apresentados em cada artigo.

Vamos nos assentar em um dos bancos da Catedral de Saint-Pierre, em Genebra, Suíça, ou em uma das carteiras da sala de aula de João Calvino na Academia de Genebra (fundada em 1559, e posteriormente transformada na Universidade de Genebra após sua morte em 1564, por volta do século XVII). Ali, com avidez e desejo de sermos edificados, ouviremos suas palavras e cresceremos na graça e no conhecimento das Escrituras.

Que o Espírito Santo, que capacitou João Calvino no século XVI, com o mesmo poder capacitador, ilumine ainda hoje nossos corações e mentes, no século XXI pós-moderno, para que possamos apreender os princípios e verdades imutáveis da Palavra de Deus. Amém e amém!

Commentary on Ezekiel

John Calvin

O próprio Ezequiel explica, logo no início de seu Livro, em que período ele cumpriu o ofício profético; e disso depende o conhecimento de seu argumento. Pois, a menos que entendamos como Deus o despertou, podemos com dificuldade entrar em seu espírito e seremos incapazes de receber qualquer fruto justo de sua instrução. É necessário, portanto, começar a partir deste ponto: a saber, o tempo de sua profecia: pois ele diz:

CAPÍTULO 1

CAPUT 1

Primeira Lição

Prima Lectio

1. No trigésimo ano, no quarto mês, no quinto dia do mês (estando eu entre os cativos junto ao rio Quebar, os céus se abriram e tive visões de Deus.

1. Et fuit tricesimo anno, quarto meuse quinta mensis, et ego  f22 in medio Captivitatis,  f23 super fluvium Chebar aperti sunt coeli, et vidi visiones Dei.

2. No quinto dia do mês, que foi o quinto ano do cativeiro do rei Joaquim. 

2. In quinta mensis, ipse est annus quintus captivitatis regis Joiakim.

 

PRIMEIRA LIÇÃO

Ezequiel explica logo no início de seu livro o período em que exerceu seu ofício profético; e a compreensão dessa época é essencial para entender sua mensagem. Pois, se não entendermos como Deus o despertou, dificilmente conseguiremos captar seu espírito e obter proveito de seu ensinamento.

Vemos que o Profeta foi chamado ao ofício de Mestre no quinto ano depois que Joaquim se entregou voluntariamente ao rei da Babilônia (2 Reis 24:15); e foi arrastado para o exílio, junto com sua mãe: pois foi, diz ele, "no trigésimo ano". Pois foi, como ele declara, "no trigésimo ano". A maioria dos comentaristas segue o parafraseador caldeu, interpretando que essa contagem começa a partir da descoberta do Livro da Lei. É evidente que esse ano corresponde ao décimo oitavo ano do reinado de Josias, mas, em minha análise, não concordo com aqueles que adotam essa data. Afinal, a expressão "o trigésimo ano" pareceria excessivamente ambígua e forçada. Em nenhum lugar encontramos registros de que escritores posteriores adotaram essa data como um padrão. Além disso, não há dúvida de que o método usual entre os judeus era iniciar a contagem a partir de um Jubileu, pois esse era o marco inicial para os anos futuros. Por isso, não tenho dúvida de que esse trigésimo ano foi contado a partir do Jubileu. Minha opinião não é inédita, pois Jerônimo a menciona, embora a rejeite completamente, por ter sido levado a erro por uma visão contrária. No entanto, como é certo que os judeus utilizavam esse método de contagem, iniciando a partir do Jobel, ou seja, do Jubileu, essa é a explicação mais adequada para o trigésimo ano. Se alguém objetar que não há registro de que o décimo oitavo ano do rei Josias tenha sido o ano habitual em que cada um retornava às suas terras (Levítico 25), em que os escravos eram libertos e toda a restauração do povo ocorria, a resposta ainda assim é simples.

Embora não possamos determinar com precisão em que ano ocorreu o Jobel, basta atribuir o Jubileu a este período, pois os judeus costumavam contar seus anos a partir dessa instituição. Assim como os gregos tinham suas Olímpiadas e os romanos seus Cônsules, a partir dos quais faziam a contagem de seus anais, os hebreus também tinham um sistema de referência: costumavam iniciar a contagem dos anos a partir do Jobel, o ano do Jubileu, e assim seguiam até a próxima restauração, como mencionei anteriormente. Portanto, é provável que este tenha sido um ano de Jubileu — é provável, então, que este tenha sido o Jubileu.

Diz-se que Josias celebrou a Páscoa com uma pompa e esplendor tão grandiosos que não houve nada semelhante desde o tempo de Samuel (2 Crônicas 35:18). A explicação mais plausível para isso não é que ele sempre realizava a Páscoa com tamanha magnificência, mas que foi levado a fazê-lo por causa da ocasião especial: um momento em que o povo foi restaurado, voltou às suas terras e os escravos foram libertos. Como se tratava do Jubileu, o piedoso rei sentiu-se motivado a celebrar a Páscoa com um esplendor muito maior do que o habitual — chegando até mesmo a superar Davi e Salomão. Além disso, embora tenha reinado por mais treze anos depois desse evento, não há registro de que Josias tenha celebrado outra Páscoa com um esplendor notável. Não há dúvidas de que ele realizava a celebração anualmente, pois isso era um costume estabelecido (2 Reis 23:23). Dessa observação, concluímos que essa celebração específica foi extraordinária e que o ano em questão foi o Jobel. Ainda que isso não esteja explicitamente mencionado nas Escrituras, é suficiente saber que o profeta calculava os anos conforme o método tradicional do povo.

Ele afirma que este foi "o quinto ano do cativeiro do rei Jeconias", também chamado de Jeoaquim. Jeoaquim sucedeu a Josias e reinou por onze anos. Se somarmos os treze anos restantes do reinado de Josias e esses onze anos, chegamos a vinte e quatro anos (2 Reis 23:36).

Seu sucessor, Jeconias, foi rapidamente entregue ao rei Nabucodonosor e levado cativo logo no início de seu reinado, governando apenas por três ou quatro meses (2 Reis 24:8). Depois disso, o último rei, Zedequias, foi colocado no trono por determinação do rei da Babilônia.

E agora devemos considerar a intenção de Deus ao designar Ezequiel como Seu profeta. Jeremias havia proclamado a palavra por trinta e cinco anos, mas com pouco impacto. Deus, então, desejou dar-lhe um auxiliador, alguém que confirmasse sua mensagem e amplificasse seu alcance. Foi um grande alívio para Jeremias saber que o Espírito Santo falava através de outro profeta, em plena harmonia com ele, fortalecendo a verdade de sua pregação.

Jeremias iniciou seu ministério profético no décimo terceiro ano do reinado de Josias (Jeremias 1:2). Se somarmos os dezoito anos restantes de Josias, os onze anos de Jeoaquim, mais um ano e outros cinco, chegamos aos trinta e cinco anos em que Jeremias clamou sem cessar, mesmo diante de um povo indiferente, ou até insensato.

Para socorrê-lo, Deus levantou Ezequiel como profeta em Babilônia, proclamando as mesmas mensagens que Jeremias anunciava em Jerusalém. Sua pregação beneficiava não apenas os cativos, mas também os que permaneceram na cidade e na terra. Essa confirmação era essencial para os exilados, pois havia falsos profetas entre eles, como Acabe, filho de Colaías, e Zedequias, filho de Maaseias (Jeremias 29:21). Esses homens alegavam possuir o Espírito de revelação, faziam promessas grandiosas e desprezavam aqueles que haviam deixado sua pátria. Incentivavam resistência até o fim, afirmando que lutar pela terra prometida era a única opção digna.

Além deles, havia Semaías, o nehelamita (Jeremias 29:24), que escreveu ao sumo sacerdote Sofonias, repreendendo-o por não castigar Jeremias, acusando-o de falso profeta e impostor. Diante da atuação de tais agentes do engano, Deus posicionou Ezequiel no exílio, evidenciando o quanto sua missão era não apenas útil, mas indispensável.

Mas sua influência ia além dos cativos. Os habitantes de Jerusalém também foram obrigados a prestar atenção às profecias de Ezequiel, anunciadas na Caldeia. Ao perceberem que suas mensagens estavam em plena sintonia com as de Jeremias, inevitavelmente se perguntaram sobre essa impressionante coincidência. Afinal, não é natural que dois profetas, em locais distintos, proclamem suas palavras em perfeita harmonia, como dois cantores unindo suas vozes no mesmo tom.

Essa sincronia entre Ezequiel e Jeremias forma uma melodia profética inigualável. Agora compreendemos melhor o significado do que Ezequiel escreve sobre os anos: "No trigésimo ano, no quarto mês e no quinto dia do mês, quando eu estava entre os cativos."

Antes de avançar, farei uma breve abordagem dos temas tratados por Ezequiel. Como mencionei, ele compartilha muitos aspectos em comum com Jeremias, mas com uma particularidade: Ezequiel anuncia o último juízo contra o povo, pois eles continuavam a acumular iniquidade sobre iniquidade, intensificando ainda mais a ira divina.

Por isso, ele os ameaça repetidamente, não apenas uma vez, pois o coração endurecido do povo tornava insuficiente proclamar o juízo de Deus três ou quatro vezes—era necessário reforçá-lo constantemente. Ao mesmo tempo, Ezequiel expõe as razões pelas quais Deus decidiu punir severamente Seu povo: estavam contaminados por superstições, eram perversos, avarentos, cruéis e corruptos, entregues ao luxo e à depravação. O profeta reúne todos esses aspectos para demonstrar que o julgamento divino não é excessivo, pois o povo havia alcançado o ápice da impiedade e da maldade.

Entretanto, em meio às advertências, Ezequiel também oferece vislumbres da misericórdia de Deus. Afinal, as ameaças seriam inúteis sem uma promessa de redenção. Se a ira de Deus se manifestasse sem qualquer esperança, os homens seriam lançados ao desespero, e este os levaria à loucura. Quando alguém percebe a severidade do juízo divino, inevitavelmente se angustia e, como uma fera enraivecida, volta-se contra o próprio Deus.

Por essa razão, afirmei que todas as advertências são vãs sem um vislumbre da misericórdia divina. Os profetas não argumentam com os homens senão para levá-los ao arrependimento—e isso só seria possível se houvesse a certeza de que Deus poderia se reconciliar com aqueles que dEle haviam se afastado. Assim, tanto Ezequiel quanto Jeremias, ao repreenderem o povo, temperam sua severidade com promessas de restauração.

Além disso, Ezequiel profetiza contra diversas nações pagãs, como Jeremias, incluindo os amonitas, moabitas, tirios, egípcios e assírios (Jeremias 26-29). A partir do capítulo quarenta, ele passa a tratar extensivamente sobre a restauração do Templo e da cidade, anunciando que um novo estado surgiria, no qual a realeza voltaria a florescer e o sacerdócio recuperaria sua antiga glória. Até o fim do livro, ele revela as singulares bênçãos de Deus, que seriam concedidas após o término dos setenta anos de exílio.

Neste ponto, é útil recordar o que observamos no caso de Jeremias (Jeremias 28): enquanto os falsos profetas prometiam ao povo um retorno imediato, dentro de três ou cinco anos, os verdadeiros profetas anunciavam o que realmente aconteceria. Assim, o povo deveria se submeter pacientemente à correção divina e entender que o longo período de exílio não deveria abalar sua confiança na justiça de Deus.

Agora que compreendemos o que nosso profeta está tratando, bem como a direção e o conteúdo de seu ensinamento, avancemos para o contexto.

Ele declara: “estando entre os cativos.” Alguns intérpretes procuram explicar suas palavras de maneira sofisticada, argumentando que Ezequiel não estava realmente entre os exilados, mas que essa passagem se referiria a uma visão. Segundo essa leitura, o termo "entre", no sentido de "no meio", poderia indicar sua participação em uma assembleia do povo. No entanto, sua intenção é bem diferente: ele emprega essa expressão para demonstrar que compartilhava do exílio com os demais, e ainda assim recebeu o espírito profético naquela terra contaminada.

Portanto, a frase “entre os cativos” ou “no meio dos cativos” não indica uma reunião pública, mas simplesmente afirma que, embora o profeta estivesse distante da Terra Sagrada, a mão de Deus ainda se estendia até ele, concedendo-lhe o dom profético. Isso refuta aqueles que negavam que Ezequiel já possuía o Espírito de revelação antes do exílio. Esses críticos não erram apenas por desconhecimento, mas por pura obstinação, pois os judeus resistiam profundamente à ideia de que Deus pudesse reinar fora da terra santa.

Até hoje, muitos ainda mantêm essa rigidez, mesmo dispersos pelo mundo, pois preservam traços do antigo orgulho. Na época, porém, quando havia esperança de retorno, considerar a manifestação de Deus fora da Terra Sagrada parecia um sacrilégio, especialmente se ocorresse fora do Templo. Ezequiel, então, evidencia que foi chamado ao ofício profético no meio dos exilados, sendo um deles.

Aqui se revela a inestimável bondade de Deus, pois Ele chama o profeta do abismo—e Babilônia, naquele período, era um abismo profundo. Assim, o Espírito Santo surge com seu instrumento, levantando Ezequiel como mensageiro e anunciador do juízo, mas também da graça divina.

Portanto, testemunhamos como Deus faz resplandecer a luz nas trevas, ao convocar Ezequiel ao seu ministério durante o exílio.

Além disso, embora seu ensinamento fosse útil aos judeus que ainda permaneciam na terra, Deus não queria que voltassem a Ele sem antes carregarem um sinal de sua desonra. Afinal, desprezaram as profecias proferidas no Templo, no Santuário e em Sião. Agora, as revelações brotariam daquela terra impura, por meio de um mestre que, como mencionei, estava afundado naquele abismo profundo.

Com isso, Deus castiga o desprezo do povo por Sua palavra, expondo sua rebeldia. Por muito tempo, Isaías exerceu o ministério profético, depois veio Jeremias, mas o povo continuava tão endurecido quanto antes.

Como desprezaram a profecia quando esta fluía diretamente da fonte, Deus levantou um profeta na Caldeia. Assim, agora podemos entender o significado completo dessa passagem.

Ele menciona "o rio Quebar", que muitos identificam com o Eufrates, mas sem apresentar razões concretas para isso—apenas porque não encontram outro rio célebre na região. A justificativa oferecida é que o Tigre perde seu nome ao desaguar no Eufrates, levando alguns a sugerirem que Quebar seria, na verdade, o próprio Eufrates. No entanto, não há certeza sobre a localização exata do exílio do profeta: pode ter sido na Mesopotâmia ou mesmo além da Caldeia. Além disso, como o Eufrates tem muitos afluentes, é provável que cada um tivesse seu próprio nome.

Diante dessas incertezas, prefiro deixar a questão em aberto.

Como a visão profética ocorreu às margens do rio, alguns interpretam que suas águas eram, de certa forma, consagradas para revelações. Buscando justificativas, argumentam que a água é mais leve que a terra, e como um profeta deve elevar-se acima do mundo material, a água seria um elemento adequado para as manifestações divinas. Outros relacionam isso à purificação, sugerindo que o batismo estaria prefigurado nesse episódio.

Contudo, deixo de lado tais sutilezas, pois elas se dissolvem por si mesmas. Evito essas especulações porque, ao seguir esse caminho, a Escritura perderia sua solidez. Embora conjecturas desse tipo pareçam plausíveis, devemos buscar na Escritura ensinamentos seguros e firmes, nos quais possamos confiar.

Há quem distorça, por exemplo, a passagem:
"Junto aos rios de Babilônia, ali nos assentamos e choramos" (Salmo 137:1)—como se o povo tivesse procurado as margens dos rios para orar e cultuar. No entanto, o texto simplesmente descreve a geografia da região, destacando seus numerosos cursos d’água, como mencionei anteriormente.

Contudo, deixo de lado tais sutilezas, pois elas se dissolvem por si mesmas. Evito essas especulações porque, ao seguir esse caminho, a Escritura perderia sua solidez. Embora conjecturas desse tipo pareçam plausíveis, devemos buscar na Escritura ensinamentos seguros e firmes, nos quais possamos confiar.

Há quem distorça, por exemplo, a passagem:
"Junto aos rios de Babilônia, ali nos assentamos e choramos" (Salmo 137:1)—como se o povo tivesse procurado as margens dos rios para orar e cultuar. No entanto, o texto simplesmente descreve a geografia da região, destacando seus numerosos cursos d’água, como mencionei anteriormente.

Ele declara: “os céus se abriram, e eu vi visões de Deus”. Quando Deus abre os céus, isso não significa uma abertura física, mas sim a remoção de todo obstáculo que impeça os fiéis de contemplarem Sua glória celestial. Afinal, mesmo que os céus fossem rasgados mil vezes, ainda assim a luz divina seria imensurável.

O sol, embora nos pareça pequeno, supera em tamanho a Terra; os demais planetas, exceto a lua, são como centelhas, e o mesmo vale para as estrelas. Assim, se até a luz natural enfraquece à medida que tentamos penetrar na vastidão do cosmos, como então poderíamos vislumbrar a glória incompreensível de Deus?

Portanto, ao abrir os céus, Deus não apenas remove barreiras, mas também concede nova visão aos seus servos, permitindo-lhes ultrapassar dimensões que normalmente seriam inalcançáveis. Foi isso que aconteceu com Estêvão, ao contemplar os céus abertos (Atos 7:56)—seus olhos foram iluminados por uma percepção extraordinária. Da mesma forma, no batismo de Cristo, os céus foram abertos (Mateus 3:16) de maneira que João Batista pôde ter uma visão elevada e sobrenatural.

No mesmo sentido, Ezequiel emprega essa expressão, dizendo: “os céus se abriram.”

Ele acrescenta: “eu vi visões de Deus.” Alguns entendem que isso se refere a visões extremamente sublimes, porque na Escritura tudo o que é excelente pode ser chamado de divino—como montes e árvores grandiosas, que recebem a designação de montes e árvores de Deus. No entanto, essa interpretação parece limitada. É mais plausível que Ezequiel esteja se referindo à inspiração profética, declarando assim que foi enviado por Deus, pois, ao assumir essa missão, ele deixou de lado suas limitações humanas para se tornar instrumento da revelação divina.

Não surpreende que ele utilize essa expressão, pois era difícil de acreditar que um profeta pudesse surgir na Caldeia. Assim como Natanael questionou se alguma coisa boa poderia vir de Nazaré, (João 1:46), os judeus não conseguiam conceber que a luz da doutrina celestial pudesse brilhar na Babilônia ou que um profeta da graça divina surgisse naquela terra estrangeira.

Essa incredulidade tornava essencial que o chamado de Ezequiel fosse marcado de maneira clara e extraordinária.

Ele então menciona que esta visão ocorreu no quinto ano do cativeiro do rei Jeconias (Jehoiachin, Jeconias ou Jechanias), destacando a teimosia do povo. Quando Deus castiga severamente, no início somos abalados, mas com o tempo acabamos nos submetendo. Contudo, após cinco anos, os judeus ainda não haviam se humilhado diante de Deus—o que evidencia sua persistência na rebeldia.

Além disso, aqueles que permaneceram em Jerusalém se orgulhavam, acreditando que tinham sido poupados do exílio e por isso desprezavam seus irmãos cativos. Jeremias frequentemente menciona essa atitude arrogante entre os judeus que ficaram na terra.

Dessa forma, Ezequiel enfatiza a data, pois era necessário confrontar essa arrogância, já que os judeus rejeitaram as profecias de Jeremias. Agora, Deus levantava um segundo martelo, para parti-los completamente, e esse martelo era Ezequiel.

Essa é a razão pela qual ele destaca o quinto ano do cativeiro do rei Jeconias—para expor a obstinação do povo e tornar evidente a dureza de seu coração diante do juízo divino.

Se precisar de refinamentos ou ajustes na linguagem, estou à disposição! 😊✨

Dessa forma, Ezequiel enfatiza a data, pois era necessário confrontar essa arrogância, já que os judeus rejeitaram as profecias de Jeremias. Agora, Deus levantava um segundo martelo, para parti-los completamente, e esse martelo era Ezequiel.

Essa é a razão pela qual ele destaca o quinto ano do cativeiro do rei Jeconias—para expor a obstinação do povo e tornar evidente a dureza de seu coração diante do juízo divino.

 

Utilização desde que citando a fonte
Guedes, Ivan Pereira
Mestre em Ciências da Religião.
Universidade Presbiteriana Mackenzie
me.ivanguedes@gmail.com
Outro Blog
Reflexão Bíblica
http://reflexaoipg.blogspot.com.br/

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Referência Bibliográfica
CALVIN, John. Commentary on Ezekiel - Volume 1. www.reformedontheweb.com/home/.html (Reformed on the Web)

 

 


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