Translate

sábado, 3 de maio de 2025

CALVINO em Cinco Minutos – O Que o Conhecimento de Deus Faz em Nós?



Como mencionado no artigo anterior, a proposta nesta série é simples e objetiva – deixar Calvino falar. Seu propósito primário parra elaboração das Institutas foi pedagógico fornecendo uma base sólida para que cada cristão possa estabelecer suas bases doutrinas no único fundamento que a Palavra de Deus. No quadro abaixo o que está em negrito é o tema deste artigo, o que não está é um tema anteriormente aborda e pode ser lido conforme abaixo indicado em Artigos Relacionados.

Vamos ouvir então mestre João Calvino.

Observação: Para melhor aproveitamento dos artigos achei oportuno colocar algumas questões para reflexão no final de cada texto de Calvino.

LIVRO 1 – (18 capítulos)

O CONHECIMENTO DE DEUS E O CONHECIMENTO DE NÓS MESMOS SÃO COISAS CORRELATAS E SE INTER-RELACIONAM

O Conhecimento de nós mesmos nos conduz ao conhecimento de Deus

O conhecimento de Deus, humilha nosso orgulho, desvenda nossa hipocrisia, demonstra as perfeições absolutas de Deus e nosso próprio desamparo.

Por outro lado, é evidente que o homem nunca alcança um verdadeiro autoconhecimento até que tenha contemplado previamente a face de Deus e descido após tal contemplação para olhar para dentro de si mesmo. Pois (tal é o nosso orgulho inato) sempre parecemos justos, retos, sábios e santos, até que estejamos convencidos, por evidências claras, de nossa injustiça, vileza, loucura e impureza. Convencidos, no entanto, de que não estamos, se olharmos apenas para nós mesmos, e não também para o Senhor - Ele sendo o único padrão pela aplicação do qual essa convicção pode ser produzida. "Pois, uma vez que todos nós somos naturalmente propensos à hipocrisia, qualquer aparência de justiça é suficiente para nos satisfazer em vez da própria justiça. E como nada aparece dentro de nós ou ao nosso redor que não esteja contaminado com uma impureza muito grande, enquanto mantivermos nossa mente dentro dos limites da poluição humana, qualquer coisa que seja em algum grau menos contaminada nos deleita como se fosse mais pura: assim como um olho, ao qual nada além de preto havia sido previamente apresentado, considera um objeto de tonalidade esbranquiçada, ou mesmo acastanhada, perfeitamente branco. Não, o sentido corporal pode fornecer uma ilustração ainda mais forte do quanto somos iludidos ao estimar os poderes da mente. Se, ao meio-dia, olharmos para o chão ou para os objetos ao redor que estão abertos à nossa vista, pensamos que somos dotados de uma visão muito forte e penetrante; mas quando olhamos para o sol e olhamos para ele sem véu, a visão que fez muito bem para a terra está - constantemente tão deslumbrada e confusa com a refulgência, que nos obriga a confessar que nossa perspicácia em discernir objetos terrestres é mera escuridão quando aplicada ao sol. Da mesma forma, isso acontece ao estimarmos nossas qualidades espirituais. Enquanto não olhamos além da terra [humanidade], ficamos bastante satisfeitos com nossa própria retidão, sabedoria e virtude; nos dirigimos a nós mesmos com termos extremamente lisonjeiros e nos vemos como pouco menos que semideuses.

Mas, se começarmos a elevar nossos pensamentos a Deus e refletirmos sobre que tipo de Ser Ele é e quão absoluta é a perfeição daquela retidão, sabedoria e virtude, à qual somos chamados a nos conformar como padrão, aquilo que antes nos encantava com sua falsa aparência de justiça se tornará corrompido pela maior iniquidade; o que nos enganava sob o nome de sabedoria nos parecerá repulsivo por sua extrema insensatez; e o que aparentava ser uma força virtuosa será condenado como a mais miserável impotência.

Tão distantes estão as qualidades que em nós parecem mais perfeitas de qualquer semelhança com a pureza divina.

 

João Calvino

Institutas da Religião Cristã

1559

 

Questões Para reflexão

1.     O autoconhecimento depende apenas da introspecção humana ou exige uma referência externa, como Deus, para ser completo?

2.     Por que tendemos a nos iludir sobre nossa própria justiça, sabedoria e virtude?

3.     O que acontece quando começamos a ver nossas qualidades sob a luz da perfeição divina?

4.     A ilusão da visão física pode ser comparada à ilusão da mente?

 

Artigos Relacionados

CALVINO em Cinco Minutos - O Que Devemos Conhecer de Deus https://historiologiaprotestante.blogspot.com/2025/04/calvino-em-cinco-minutos-o-que-devemos_7.html?spref=tw

Calvino e Suas Institutas – Uma Leitura: Introdução

https://historiologiaprotestante.blogspot.com/2022/06/calvino-e-suas-institutas-uma-leitura.html?spref=tw

Calvino - Prefácio das Institutas: Carta ao rei Francisco I https://historiologiaprotestante.blogspot.com/2022/06/calvino-prefacio-das-institutas-carta.html?spref=tw
Calvino Singularidades: O Motivo Primário Para Escrever as Institutas
https://historiologiaprotestante.blogspot.com/2020/03/Calvino-singularidades-o-motivo.html?spref=tw
João Calvino – As Institutas da Religião Cristã e seus Temas Principais

https://historiologiaprotestante.blogspot.com/2023/07/joao-calvino-as-institutas-da-religiao.html?spref=tw

Calvino: Academia de Genebra
https://historiologiaprotestante.blogspot.com/2020/06/calvino-academia-de-genebra.html?spref=tw 

Calvino: Comentários Bíblicos em Ordem Cronológica
https://historiologiaprotestante.blogspot.com/2020/07/calvino-comentarios-biblicos-em-ordem.html?spref=tw
Calvino e a Importância da Música (1ª Parte)
https://historiologiaprotestante.blogspot.com/2020/05/Calvino-e-importancia-da-musica-1-parte.html?spref=tw

Referências Bibliográficas

CALVINO, João. As Institutas da Religião Cristã, edição clássica, em quatro volumes, tradução de Waldyr Carvalho Luz, com base na edição de 1559 em latim. São Paulo: Editora Cultura Cristã, Primeira Edição, 1984.

___________. As Institutas ou Instituição da Religião Cristã (da edição original francesa de 1541). Tradução e leitura de provas Odayr Olivetti; revisão e notas de estudo e pesquisa Herminsen Maia Pereira da Costa. 1ª edição. São Paulo: Editora Cultura Cristã, 2002.

___________. As Institutas ou Instituição da Religião Cristã, em dois volumes, tradução de Carlos Eduardo de Oliveira [vol 1], Omayr J. de Moraes Jr. e Elaine C. Sartorelli [vol 2], com base na edição de 1559 em latim. São Paulo: Editora da UNESP, 2008 [vol 1] e 2009 [vol 2].

CALVINO, João. O Livro dos Salmos. Tradução Valter Graciano Martins. São Paulo: Paracletos, 1999, Vol. 1.

D'AUBIGNÉ, J. H. Merle. The Reformation in Europe in the time of Calvin. Vol. VIII. Translated William L. R. Cates. New York: Robert Carter and Brothers, 1879.

FERREIRA, Wilson Castro. Calvino: vida, influência e teologia. Campinas, SP: Edição de Luz Para o Caminho, 1985.

HALL, David W. e LILLBACK, Peter A. (Eds.). A Theological Guide to Calvin's Institutes – essays and analysis. Phillipsburg, New Jersey, P & R Publishing, 2008. [PACKER, J. I, Prefácio, p. xiii].

WILEMAN, Willian. John Calvin: his life, his teaching, and his influence. London: Robert Banks and Son.

 

Nenhum comentário:

Postar um comentário