.
O antigo Império Romano havia desaparecido, primeiramente
no Ocidente e posteriormente no Oriente e neste vácuo a Igreja Romana prosperou
e se fortaleceu. Reacende com mais força o velho e acalentado anseio de se
constituir em primado sobre todo o cristianismo.
Patrimônio de São Pedro
Muitos
nobres, antes de morrer ou de se recolher a um entre as centenas de mosteiros
espalhados por todo Ocidente, deixavam em testamento seus bens e territórios ao
Bispo/Igreja de Roma, que veio a se constituir no chamado “Patrimônio de São Pedro”, que constava de terras na Itália e nas
ilhas adjacentes. Esses bens, de extensão cada vez maior, permitiam ao Papa
assumir posição de certa independência diante do Imperador bizantino e do
representante deste em Ravena: o Pontífice tinha sob a sua jurisdição civil
grande número de cidadãos, que trabalhavam sob a tutela papal ou eram
socorridos por esta nos hospitais, asilos e orfanatos pontifícios.
Tabuleiro Político Religioso
Naqueles
dias jogava-se no mesmo tabuleiro todas as peças ao mesmo tempo. Os movimentos
políticos eram religiosos e os religiosos eram políticos.
§ Desde a conversão de Clóvis ao cristianismo ortodoxo (496),
em que os francos renunciaram sua fé cristã ariana, cria-se ligações umbilicais
entre o Estado e a Igreja. Todavia, a dinastia merovíngia foi muito inepta e
fraca. Gregório I tentou impor reformas eclesiásticas na França, mas os
resultados foram mínimos.
§ Apesar dos reis serem merovíngios[1],
quem de fato controlava o poder era os denominados “prefeitos do paço”. Quando
Carlos Martelo (715-741) assumiu os poderes da casa real, após conter o avanço
maometano na Europa ocidental, apoia os esforços missionários na Alemanha
ocidental e nos Países Baixos (Holanda), pois ambicionava a extensão de seu
poder político. Está bem-sucedida cooperação vai render frutos no futuro.
§ Winfrid ou
Bonifácio (680-754). De origem anglo-saxão e depois de vários trabalhos
missionários ele foi conduzido pelo Papa Gregório II (715-731) para trabalhar
na Alemanha. Era profundamente comprometido com a lealdade papal. Depois de
alcançar ótimos resultados foi nomeado pelo Papa Gregório III (731-741)
arcebispo em 732. Organiza a Igreja da Baviera (John Huss) e de Turíngia. Em
744 ajuda a fundar o mosteiro beneditino de Fulda, que veio a se constituir em
centro de erudição e educação para o sacerdócio em toda aquela região
centro-oriental da Alemanha. Muito zeloso fortaleceu a ordem e a disciplina nas
igrejas sob sua jurisdição, fortalecendo a autoridade papal na região.
§ Desde a crise das imagens (731) onde o Papa de Roma
recusa-se a retirá-las de suas igrejas, o Imperador retira a jurisdição do Sul
da Itália e a Sicília e as subordina à sé de Constantinopla. Em diversas
ocasiões Roma tenta se livrar da pressão dos lombardos apoiados pelo Império.
Quando Pepino, o Breve, assume a prefeitura do paço, ele almeja o título de rei
na França, mas para depor o último rei da linhagem merovíngia, Quilderico III[2],
e ser coroado ele necessita tanto do reconhecimento precisava da aprovação da nobreza
francesa e da sanção moral da Igreja. Apela ao Papa Zacarias (741-752), que o
apoia prontamente e antes de terminar o ano 751 Pepino está ungido e coroado. Esse movimento vai mudar totalmente a configuração do
tabuleiro de poder no Ocidente.
§ Posteriormente o Papa Estevão (752-757) vai até a França e
faz nova coroação de Pepino e seus filhos na Igreja de São Dionísio em Paris.
Ambos firmam um pacto onde Pepino reconhece validade do documento “Doação
de Constantino” e o rei recebe da Igreja o título de “Patrício
dos Romanos”, onde se compromete a dar integral proteção ao papado. O
historiador W. Walker resume muito bem a repercussão histórica desse
acontecimento:
Essa
transação, que na época parece ter sido muito simples, estava prenhe de
consequências importantíssimas. Dela poderia inferir-se que o papa tinha poder de conceder ou retirar
poderes reais. Implícitos nela estavam o restabelecimento do império no
Ocidente, o Sacro Império Romano, e a
inter-relação entre o papado e império que ocupa lugar tão relevante na
história da Idade Média. Desse ponto de
vista, foi o acontecimento mais importante da história medieval (1967, p.
266 – Itálico meu).
§ Carlos Magno: Com a morte de Pepino sucederam-no seus dois
filhos Carlos (Magno) e Carlomano (771). A morte prematura do segundo faz de Carlos
o único soberano. De personalidade forte e até violento, amenizava com suas
ações positivas. A dobradinha Carlos e o Papa Adriano I (772) foi de grande
relevância para o Império e para a Igreja.
Após derrotar definitivamente os lombardos Carlos
assumiu oficialmente o título, de “Rei dos francos e dos lombardos e Patrício
dos Romanos”.
Em 781 os últimos vestígios de dominação
bizantina (Império do Oriente) foram rompidos. A relação do rei e do papado é
tenso, mas equilibrado. O Papa não era vassalo do rei, mas havia um pacto de
aliança entre iguais. O título de
“Patrício” dava a Carlos Magno a liberdade para ingerir nas eleições de bispos,
protestar através de representantes em matéria de administração temporal e no
tocante ao governo interno da Igreja.
Com a morte do Papa Adriano I, seu sucessor foi
Leão III que precisou muito do respaldo do rei Carlos Magno, que passou a
ingerir muito mais na vida da Igreja.
§ Carlos Magno Imperador: Na noite de Natal de 800, após participar da celebração
natalina, o papa Leão III coloca sobre a cabeça de Carlos Magno uma preciosa
coroa, enquanto era aclamado pela multidão: “A Carlos Augusto, coroado por vontade de
Deus, grande e pacífico Imperador Romano, vida e vitória!” Tudo,
porém, havia sido preparado minuciosamente com antecedência.
§ Este evento significava a reedificação do Império Romano Ocidental, que havia
desaparecido em 476, mas agora com um sentido distinto: o “Patrício Romano” se tornava Imperador Romano no Sacro Império
Romano, desta maneira, a Itália e o Papado ficavam definitivamente
fora da jurisdição de Constantinopla. O novo título implicava, para
Carlos, um aumento de autoridade sobre os demais soberanos do Ocidente e uma
dignidade religiosa que o confirmava na função de proteger a Igreja. A coroação
de Carlos tornou possível uma identidade comum à toda a Europa.
§ Para assegurar a subserviência de seus súditos,
principalmente os nomeados para funções públicas, utilizou-se de bispos e
outros religiosos que espalhados por todo o império eram seus olhos e ouvidos
ou ficais dos fiscais.
§ Com Carlos Magno a espada tornou-se o maior instrumento de
conversão. A cada conquista agrega-se
mais território e o império ganhava mais vassalos e a Igreja mais cristãos.
Utilização livre desde que citando a fonteGuedes, Ivan PereiraMestre em Ciências da Religião.Universidade Presbiteriana Mackenzieme.ivanguedes@gmail.comOutro BlogReflexão Bíblica
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Referências Bibliográficas
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WALKER, W. História da Igreja Cristã. v. 1.
Tradução D. Glênio Vergara dos Santos e N. Duval da Silva. São Paulo: ASTE,
1967.
[1] O Império ou Reino Merovíngio perdurou entre os anos de 481 a 751, descendentes de Meroveu (impôs sua hegemonia na Gália), os primeiros reis francos (constituíram o mais poderoso reino da Europa Ocidental) dessa dinastia passaram a ser chamados de Merovíngios.
[2] Quilderico III (714 — 754), chamado o Idiota ou o Rei Fantasma, foi o décimo-quarto e último rei de todos os francos da dinastia merovíngia.