Depois de Constantino a Igreja Cristã jamais foi a mesma
e somente no século XVI ela sofrerá uma transformação tão profunda.
Evidentemente que não se devem colocar todos os problemas da Igreja na conta do
Imperador, todavia, com ele as deturpações e desvios que já em curso foram
efetivadas e outras, advindas da estatização foram agregadas. Os benefícios, e
de fato houve vários, de longe perderam para os malefícios que se perpetuaram e
se expandiram dentro da Igreja Cristã, como tão bem se pode ver no
desenvolvimento de sua história.
Os Descendentes de Constantino
Apesar de terem recebido toda uma orientação cristã em
suas formações, os descendentes do Imperador, após sua morte, demonstraram que
não haviam assimilado absolutamente nada do cristianismo.
Após a morte de Constantino (337), os numerosos
meios-irmãos e sobrinhos se digladiaram pelo poder. Muitos foram mortos em
tramas desenvolvidas nas 13 entranhas da política palaciana. Sobreviveram
apenas Constâncio II (317-340) que assumiu o trono imperial e dois primos
Constâncio Galo e Juliano, que posteriormente exerceram as funções de César.
O novo imperador implementa coercitivamente a “conversão”
dos adeptos de outras religiões. As ofertas dos templos pagãos e de seus
sacerdotes foram confiscadas e parte transferidas para os templos cristãos.
Foram proibidos os sacrifícios e ritos de adoração pagãos foram proibidos e
passíveis de punição legal, incluindo a pena de morte. Templos não cristãos
foram demolidos ou adaptados para cultos cristãos; torna-se proibido falar
contra o cristianismo e qualquer literatura contrária devia ser queimada. Aqui
inicia o período de terror cristão que perdurara por dois séculos, onde
milhares de pessoas foram mortas das formas mais violentas possíveis. Os cristãos perseguidos se transformam em cruéis
perseguidores.
Um pequeno período de retrocesso, em que o cristianismo
foi contestado, foi no governo de Juliano (361-363),[1] denominado
na literatura cristã de “o apóstata”,[2]
sobrinho de Constantino. Apesar de ter sido educado na religião cristã, nutria
um antagonismo com a nova religião e se empenhou em resgatar as antigas crenças
pagãs greco-romanas.
Depois de vencer Constâncio e assumir o poder imperial,
ele assume sua religiosidade pagã e gerando a pergunta perturbadora nos
círculos cristãos: voltariam as perseguições religiosas? Conhecedor da história
o novo imperador sabia que os perseguidos de hoje se tornam os mártires do
amanhã, sua tática é diferente. Proclama um edito de tolerância para todas as
religiões e ordena a restauração dos templos pagãos e todo sistema religioso
deles, incluindo a retirada dos privilégios financeiros usufruídos pela Igreja
Cristã [mexeu no bolso]; simultaneamente promoveu um
sincretismo dos ritos pagãos com os ritos cristãos: pregação dinâmica,
vestimentas coloridas, musica orações, etc. [qualquer
semelhança é mera coincidência].
Teodósio, o primeiro imperador cristão.
Depois da morte de Juliano (363), todos os imperadores
romanos adotaram o cristianismo e antes de encerrar o quarto século,
a religião cristã torna-se oficialmente religião do império – com Constantino
era apenas oficioso. O imperador Teodósio (379-395) é considerado o primeiro
imperador ortodoxo, ou seja, que defendia a religião cristã e seus dogmas.
Conseguiu que o Senado Romano reconhecesse o Cristianismo como religião
oficial. Esse reconhecimento legal incitou lideranças cristãs a promoverem atos
violentos contra os templos pagãos. Desta forma oficialmente o cristianismo foi vitorioso,
todavia, muitos dos conceitos pagãos já haviam sido inoculados no organismo da
igreja cristã.
Utilização livre desde que citando a fonte
Guedes,
Ivan Pereira
Mestre em Ciências da Religião.
Universidade Presbiteriana Mackenzie
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Reflexão
Bíblica
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[1] Tornou-se soberano inconteste do
Império a três de novembro de 361, morrendo a 26 de junho de 363, com 33 anos;
reinou, portanto, por apenas dezoito meses.
[2] Um exemplo é a literatura de Gregório
de Nazianzo (330-390), contemporâneo do imperador Juliano, em que na coletânea
de seus discursos, dois deles, são denominados “Contra Juliano”, refletindo a
reação política contra essa volta ao helenismo, por parte da Igreja Cristã.
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