Quando
nos propomos a estudar a História da Igreja Cristã muitas pessoas são induzidas
a pensar que essa História nada tem a ver com as demais Histórias. Ledo engano,
pois a Igreja foi e está inserida na História Humana. Todos os fatos históricos
de uma forma direta ou indireta estão relacionados com a História da Igreja e
tudo o que acontece com a Igreja terá impacto no desenvolvimento histórico
mundial.
A Bíblia
nunca ensinou o teísmo, onde Deus criou todas as coisas, coloco-as em
funcionamento e foi embora (teoria do
relojoeiro). O Deus da Bíblia nunca restringiu
Sua ação Soberana apenas e tão somente à Igreja em si. Tudo nesse mundo tem a
ver com Deus e Deus age e interage permanentemente em todas as
esferas das atividades humanas. A Encarnação
de Jesus Cristo é a prova contundente de que Deus sempre quis fazer parte
integrante da História Humana.
Portanto,
a História da Igreja Cristã nunca esteve solta na História, mas é parte
integrante dela, assim como a História sofre permanentemente a influência da
História da Igreja. Tudo que acontece com a Igreja tem a ver com a História mundial.
Agostinho e Pelágio: Dois
Sistemas Teológicos dentro do Cristianismo
Ainda
nas páginas do livro de Atos e principalmente nas epístolas é visível a crescentes
dificuldades em se manter dentro do cristianismo primitivo uma unidade
teológica. Evidentemente que a literatura preservada no cânon neotestamentário
fundamentou uma ortodoxia básica no que se refere aos pontos cardeais da fé
cristã como entendida pelos respectivos escritores e posteriormente mantida nas
comunidades cristãs.
Com o
passar dos séculos múltiplas controvérsias foram surgindo nas esferas
eclesiásticas sobre os mais variáveis temas doutrinários. Nas diversas
literaturas que tratam da História dos Dogmas podemos encontrar um reflexo dos
embates que se travaram nas entranhas conciliares da igreja cristã através dos
séculos.
Evidentemente
que as controvérsias fazem parte do processo de maturação de uma organização
viva e tão ampla quanto a Igreja Cristã. Ainda que muitas delas é provocada
pelo personalismo, outras por falta de uma melhor diretiva e outras onde o
espírito fraternal foi sacrificado, a controvérsia torna-se o instrumento de
depuração dos sistemas eclesiástico-teológico do cristianismo. Uma árvore
torna-se tão resistente quanto as tempestades pelas quais ela passa, uma boa
controvérsia que exige a busca de novas respostas é preferível à estagnação que
atrofia e mata.
As
controvérsias surgem na estrada da Igreja Cristã e são caracterizadas por suas
motivações centrais: administrativas, com os donatistas; trinitariana, com o
arianismo; cristológica com o Apolinarianismo e nestorianismo; antropológica, com
o pelagianismo e agostianismo.
A
controvérsia antropológica ainda que tratada continuamente nos Concílios
Cartago em 412 e ratificada também em Cartago em 431 (dezenove anos depois),
ela se perpetuou no rasgar dos séculos e ainda hoje seus respectivos sistemas
teológicos dividem a teologia cristã.
No
período pós Reforma Protestante haveremos de visibilizar novamente este embate
nas controvérsias dos calvinistas ancorados no pensamento teológico de
Agostinho e os arminianos fundamentados no pensamento teológico de Pelágio.
Estes
dois expoentes da teologia cristã não poderiam ser mais diferentes em suas
índoles e experiências vivenciais. Suas diferenças acabaram se refletindo na
contradição que veio a coloca-los em posições distintas e opostas em relação à
doutrina da natureza humana e da graça de Deus.
Agostinho
era naturalmente irascível e apaixonado. Possuía um cabedal cultural como
poucos em seus dias, e travou por toda sua vida uma luta intima em relação às
suas propensões humanas para o pecado. Na medida em que examinava a literatura
de Paulo, sobre sua exposição da luta feroz entre a carne e o espírito, conclui
que a natureza humana decaída é totalmente depravada, de modo que o livre
arbítrio, ou seja, a capacidade livre do ser humano escolher algo melhor é tão
somente uma ilusão.
Pelágio
também era um monge muito bem instruído, entretanto, de natureza mais meiga e
praticante perene da abstinência, o que lhe capacitava um estilo de vida mais
voltada para a espiritualidade. Enfrentando menos embates internos advoga que o
ser humano é capaz de livremente obedecer à voz da consciência e resistir ao
mal e escolher o bem, de maneira, conclui ele, que a raça humana não herdou o
pecado adâmico.
Deste
modo, partindo de premissas diametralmente opostas, ambos elaboraram seus
sistemas teológicos. Pelágio defende com veemência uma bondade inerente no ser
humano, que apesar da natureza pecaminosa, ainda detém a capacidade de escolher
e obedecer a Deus livremente; Agostinho por sua vez entende que o ser humano
após a queda se tornou totalmente incapacitado para escolher livremente
obedecer à vontade de Deus, necessitando para isso da continua atividade da
graça divina, que soberanamente é outorgada à aqueles que Deus escolhe antes da
fundação do mundo.
Abaixo
temos uma visualização contrastante destes dois sistemas teológicos que ainda
hoje mantém suas controvérsias dentro do cristianismo protestante.
O SER HUMANO NA CRIAÇÃO
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|
PELAGIO
|
AGOSTINHO
|
O ser humano foi criado
inocente, capaz de livre arbítrio absoluto, porém, mortal.
|
O ser humano foi criado com a capacidade de escolher
livremente, inocente e inclinado ao bem, capaz de tornar-se livre do pecado
pela continua obediência, porém sujeito à morte.
|
O SER HUMANO NA QUEDA
|
|
A queda trouxe como
consequência imediata a morte espiritual de Adão e Eva, porém, atingiu os
seus descendentes somente como exemplo.
|
A queda trouxe a morte tanto espiritual quanto física
de Adão e Eva, e, através deles, à toda humanidade, escravizando-lhes a
vontade.
|
O SER HUMANO DEPOIS DA
QUEDA
|
|
Todas as pessoas ao
nascerem são como Adão antes da queda e se sujeitam ao pecado por livre e
espontânea vontade e atos pessoais.
|
Todos ao nascem com uma natureza humana corrupta e com
sua vontade escravizada ao mal e totalmente incapacitada de proceder com
retidão.
|
LIVRE ARBÍTRIO
|
|
O ser humano é sempre
livre e igualmente capaz de fazer uma escolha tanto para o bem quanto para o
mal.
|
O ser humano era livre somente antes da queda e
propenso ao bem e à justiça, todavia, após a queda perdeu a sua liberdade e
retidão, e escravizou-se ao mal.
|
O PECADO
|
|
O pecado é um ato
resultante da vontade, não é da natureza, e, portanto, as pessoas não são
necessariamente pecadoras e algumas podem até viverem sem pecar.
|
O pecado é inato à natureza humana (pecado original) e
manifesta-se em ações pecaminosas. Desta forma, todo ser humano, cá om
exceção de Cristo, é necessariamente pecador desde seu nascimento.
|
A GRAÇA
|
|
A “graça divina” consiste
nos privilégios que Deus outorga ao ser humano.
A salvação é pessoal, sem
lei nem evangelho. A vantagem do evangelho é que por ele se torna mais fácil
ser crente.
|
A graça é a operação da vontade do Espírito Santo no
ser humano, pela qual a vida espiritual começa e se aperfeiçoa. Sem ela a
pessoa não pode arrepender-se nem tão pouco crer. A graça redentora é
inquebrantável em sua operação sobre os eleitos: nada lhe pode resistir.
|
A ELEIÇÃO
|
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Não há uma eleição
incondicional.
|
A eleição é eterna e absoluta e é incondicional.
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BATISMO INFANTIL
|
|
O batismo infantil é coisa
boa, mas não essencial à salvação das crianças.
|
É necessário o batismo para a salvação das crianças,
desde que elas são pecadoras, pois o batismo é o único meio pelo qual uma
igreja se torna regenerada. Alguns dentre os regenerados pelo batismo podem
cair, e de fato assim acontece, porém, os eleitos jamais cairão.
|
Utilização livre desde que citando a fonte
Guedes, Ivan Pereira
Mestre em Ciências da Religião.
Universidade Presbiteriana Mackenzie
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Reflexão Bíblica
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