RESUMO
Esta tese visa a mostrar como o protestantismo brasileiro, através de um
grupo de intelectuais, inseriu-se culturalmente no tecido social urbano na
primeira parte do século XX. A participação desses intelectuais protestantes
deu-se na esteira de um modelo anterior, praticado por lideranças importantes
da igreja evangélica no Brasil, como o pastor Eduardo Carlos Pereira
(1855-1923), que foi também professor de ginásio e reconhecido gramático. Tais
lideranças detinham uma postura religiosa conservadora que se refletiu em sua
produção científica, voltada para a manutenção da sociedade brasileira nos
padrões desejados pelas oligarquias rurais do país. Diferentemente da geração
anterior, os intelectuais protestantes, que também eram líderes religiosos - a
maior parte deles ligada à Igreja Presbiteriana Independente do Brasil, a mesma
a qual pertencia Eduardo Carlos Pereira - assumiram o mesmo espírito de
transformação e de modernização social que estava presente na burguesia urbana
ascendente. Primeiramente, aspiraram a uma re-elaboração do protestantismo
brasileiro, que julgavam muito aquém das necessidades no estabelecimento de um
diálogo com a cultura brasileira. Em segundo lugar, desejavam que esse
transformar da mentalidade protestante permitisse a evangelização das “classes
cultas", ou seja, das elites dirigentes brasileiras e da burguesia urbana.
Fechadas as portas a eles, por lideranças conservadoras, das igrejas e de suas
estruturas internas de poder, decidiram usar o expediente das revistas de
cultura religiosa para falar ao universo protestante sem serem impedidos pelas
lideranças das igrejas. Os principais articuladores dessas revistas foram os
pastores presbiterianos Epaminondas Melo do Amaral, Miguel Rizzo Júnior,
Othoniel Motta e Erasmo Braga. As revistas lançadas - Revista de Cultura
Religiosa, Lucerna, Fé e Vida e Unitas - compuseram um capítulo de
extraordinária relevância para a disseminação da cultura religiosa no Brasil,
particularmente nas décadas de 1920, 1930, 1940 e 1950. Crises doutrinárias e
confrontos políticos em finais da década de 30 e princípios da década de 40
resultaram na organização, pelos intelectuais protestantes, da Igreja Cristã de
São Paulo, em 1942. Tal comunidade procurou marcar em sua experiência
evangélica os traços que seus fundadores desejavam ver em todo o protestantismo
brasileiro. Tal comunidade, porém, não conseguiu sensibilizar outras igrejas,
que temiam o discurso demasiadamente crítico e moderno que a Igreja Cristã de
São Paulo verbalizava. O ápice da influência cultural dos intelectuais
protestantes deu- se através da presença de alguns deles na Universidade de São
Paulo - Lívio Teixeira, Theodoro Henrique Maurer Júnior e Isaac Nicolau Salum -
a partir de final dos anos 30. O trabalho desenvolvido por esses protestantes
na USP determinou o surgimento de importantes institutos de pesquisa e ensino
na mais antiga universidade paulista, a demonstrar a competência científica e o
rigor desses professores, frutos, em grande medida, de seu “espírito protestante".
Palavras-chave: Protestantismo Brasileiro.
Intelectuais. Cultura Religiosa. Liberalismo. Sociedade Urbana. Revistas
Protestantes.
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO............................................................................... 10
1 EDUARDO
CARLOS PEREIRA: PRIMEIRO MODELO DE INTELECTUAL
PROTESTANTE BRASILEIRO.................................................. 25
1.1 Caracterizações sócio-biográfica......................................... 25
1.2 A gramática como ciência da ordem.................................... 41
1.3 A produção conservadora da
história religiosa................ 64
1.3.1 O Livro Fundador As Origens da Independência Presbiteriana..........73
1.3.2 Os
sermões-discurso do “31 de Julho”....... 79
2 OS
INTELECTUAIS PROTESTANTES E SUA PRODUÇÃO DE SACRISTIA: AS REVISTAS DE CULTURA
RELIGIOSA 86
2.1 As revistas de cultura
religiosa e o desafio das “classes cultas” ..............89
2.2 A Revista de Cultura Religiosa: janela protestante aberta à
modernidade......92
2.2.1 La Revue du Christianisme Social: matriz francesa da Revista de
Cultura Religiosa 99
2.22 A Revista de Cultura Religiosa: sua formatação e conteúdos............103
2.23 A RCR: objetivos e temas.................................................... 114
2.2.4 A
Revista de Cultura Religiosa e a oposição conservadora................121
2.2.5 A
Revista de Cultura Religiosa e seus interlocutores ...124
2.3 Lucerna, Fé e Vida, Unitas:
versões “populares” de revistas de cultura religiosa. 126
3 OS
INTELECTUAIS PROTESTANTES E A UNIVERSIDADE: A SACRISTIA
CHEGA AO LABORATÓRIO...................................................... 143
3.1 Lívio Teixeira no Departamento de Filosofia da USP...... 150
3.2 Maurer, Salurn: os estudos
Biológicos na USP............... 158
CONCLUSÃO................................................................................ 170
BIBLIOGRAFIA.............................................................................. 177
GLOSSÁRIO.................................................................................. 195
Lima, Éber Ferreira Silveira - "Entre
a sacristia e o laboratório": os intelectuais protestantes brasileiros e a
produção da cultura (1903-1942)
Orientador: Profº
Dr. Antonio Celso Ferreira
Tese (Doutorado) - Universidade
Estadual Paulista, Faculdade de Ciências e Letras, 2008.
Guedes, Ivan Pereira
Mestre
em Ciências da Religião.
Universidade
Presbiteriana Mackenzie
me.ivanguedes@gmail.com
Outro
Blog
Reflexão Bíblica
http://reflexaobiblica.spaceblog.com.br/
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