Translate

quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

PROTESTANTISMO - A Reforma na Inglaterra - Eduardo VI e Maria Tudor


Eduardo segurando
uma Bíblia
historiologiaprotestante.blogspot.com.br
Eduardo VI (1547-1553)

Em sua obsessão por um herdeiro masculino o rei Henrique VIII, visto que Ana Bolena não mais poderia lhe proporcionar, desvencilha-se dela e casa-se pela terceira vez, com Jane Seymour, que finalmente apazigua os temores do rei, dando-lhe um filho, Eduardo. Mas a saúde do infante é extremamente precária.

Com a morte de Henrique VIII, o infante Eduardo assume o trono, aos nove anos de idade. Evidentemente que foi tutelado por pessoas mais velhas, inicialmente por seu tio, o duque de Somerset [1] (1547-1549), e posteriormente por Warwick [2](1549-1553), duque de Northumberland, e o então arcebispo Cranmer de Cantuária todos com ascensão protestante. Assim, durante seu breve reinado de apenas seis anos e meio, a Inglaterra foi finalmente conduzida ao Protestantismo.

O Parlamento, por pressão de Eduardo, revoga os Seis Artigos, libera a distribuição de bíblias, então restrita aos clérigos e as colocadas nos templos, autoriza-se o casamento de cléricos,os leigos podem participar dos dois elementos da ceia, imagens são retiradas dos templos e as sentenças sobre os hereges são revogadas, abrindo a possibilidade da repatriação de inúmeros expoentes protestantes que haviam se refugiado em outros países como Pedro Martir, Bernardino Ochino, Martinho Bucer e Giovanni Laski, que foram alçados a posições de destaque no governo de Eduardo, principalmente nas Universidades.

Em 1548 uma Ordem de Comunhão foi impressa para que os leigos participassem efetivamente do culto. E em 1549 um Ato de Uniformidade foi aprovado pelo Parlamento e que exigia o uso por parte de todos os oficiantes e em todos os cultos. Mas este guia litúrgico não era uma ruptura, mas uma junção da liturgia católica e reformada, ainda que se retirasse toda referência de sacríficio.[3] Deste modo, mais uma vez católicos e reformados sentiram-se frustrados com este meio termo.

Em 1552 um novo Ato de Uniformidade foi promulgado e uma revisão do Livro de Oração Comum foi aprovada, com uma ênfase mais reformada.[4] Os cultos tornam-se obrigatórios, sob a pena do negligente ser preso e condenado, e o uso do Livro de Oração Comum torna-se compulsório, sob a pena da perda da função clerical. Em 1553 foram elaborado os “Quarenta e Dois Artigos de Religião”, posicionando doutrinariamente a Igreja da Inglaterra, sob a tutela do rei.
Mas todas as perspectivas de reformas são abruptamente interrompidas pela precoce, porém esperada, morte do jovem rei Eduardo VI, aos quinze anos de idade (1553, vítima de tuberculose.

Maria Tudor (1553-1558)

O catolicismo nunca esteve erradicado na Inglaterra. Com a morte precoce de Eduardo VI, porém esperada devido a debilidade de sua saúde, assume o trono sua meio irmã Maria, filha de Catarina de Aragón e extremamente católica. Mesmo tendo um reinado curto, de pouco mais de cinco anos (1553-1558), foi suficiente para fazer retroceder todo o processo reformado inglês.

Imediatamente faz restaurar a autoridade papal no país. Os líderes reformados mais uma vez tiveram que buscar o exílio em países protestantes no Continente;[5] os bispos católicos foram restaurados em suas dioceses; anula-se a utilização do Livro de Oração Comum, bem como se revoga a liberação para que os clérigos pudessem casar, de maneira que praticamente se retrocede aos últimos dias de Henrique VIII.

A figura proeminente neste período foi Reginald Pole, que havia vivido anos no exílio, mas que retorna com todo respaldo da rainha. Torna-se arcebispo da Cantuária e neste oficio trás a Inglaterra de volta ao catolicismo. Revive o monasticismo, quase erradicado nos dias de Henrique, e coloca estrategicamente sacerdotes católicos nas principais Universidades de Oxford e Cambridge.

O fato de receber a alcunha de “Maria, a Sanguinária”, se deve muito mais às seguidas e violentas revoltas ocorridas no período, do que por uma índole cruel ou vingativa da rainha ou de seu chanceler Pole.[6] De maneira que se ela agiu de forma exagerada, não o foi muito além do que seu pai, Henrique VIII e posteriormente sua meio irmã, Elizabete I, tenham feito.

Com sua morte em 17 de novembro de 1558 encerra-se a última oportunidade de uma reconciliação entre Roma e a Inglaterra no século XVI.



Utilização livre desde que citando a fonte
Guedes, Ivan Pereira Mestre em Ciências da Religião.
Universidade Presbiteriana Mackenzie
Outro Blog
Reflexão Bíblica



Referências Bibliográficas

ARMESTO-FERNÁNDES, Felipe e WILSON, Derek. Reforma: o cristianismo e o mundo 1500-2000. Trad. Celina Cavalcante Falck. Rio deJaneiro: Record, 1997.
BOISSET, J. História do protestantismo. São Paulo: Difusão Européia, 1971.
DANIEL-ROPS. A igreja da renascença e da reforma I: a reforma protestante. São Paulo: Ed. Quadrante, 1996, p. 435.
FISHER, Jorge P. Historia de la reforma Barcelona: Ed. CLIE, 1984.
GONZALEZ, Justo L. Uma história do pensamento cristão - da reforma protestante ao século 20, v. 3.  São Paulo: Cultura Cristã, 2004.
HILLERBRAND, Hans Joachim. The division of Christendon: Christianity in the sixteenth century. Louisville, Kentucky: Published by Westminster John Knox Press, 2007.
LATOURETTE, Kenneth Scott. Uma história do cristianismo - volume II: 1500 a 1975 a.D. São Paulo: Editora Hagnos, 2006.
LINDSAY, Tomas M. Historia de la Reforma, v.2, ed. La Aurora e Casa unida de Publicaciones, 1959.
NOLL, Mark A. Momentos decisivos na história do cristianismo. São Paulo: Cultura Cristã, 2000.
POLLARD, Albert Frederick. Thomas Cranmer and the and the english reformation (1489-1556). London : G. P. Putnam’s Sons, 1906.
WALKER, Williston. História da Igreja Cristã, ed. JUERP/ASTE, v.2, 3ª ed. Rio de Janeiro, 1981.
Zabriskie, Alexander C. Anglican Evangelicalism. Philadelphia, 1999.

______________________
[1] Defendia um luteranismo mais ao estilo de Melanchton, sem grandes rupturas com o romanismo para não provocar maires escandanlos no povo.
[2] É neste momento que o calvinismo genebriano se faz mais presente e influencia o movimento de reforma religiosa na Inglaterra. 
[3] A grande distinção entre o culto protestante e a missa católica romana e que nesta todas as vezes se repete o sacrifício de Cristo, enquanto no culto protestante não há esta implicação. Por esta razão no culto protestante o púlpito e não a mesa de sacrifício é o centro.
[4] Aqui aparecem mais acentuadamente a teologia calvinista. João Calvino via no jovem rei Eduardo a possibilidade de se efetuar uma reforma religiosa como nos dias do rei Josias do Antigo Testamento.
[5] Um numero aproximado de oitocentos reformados, entre os quais João Knox, se refugiaram na Alemanha e Suiça.
[6] Foram executados 273 reofrmados dentre os quais estava a proeminente figura de Cranmer, até então arcebispo da Cantuária.

Nenhum comentário:

Postar um comentário