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sexta-feira, 16 de dezembro de 2016

A Bíblia, a Renascença e a Imprensa

               
"a impressão foi o mais alto e extremo ato de graça de Deus, pelo qual o negócio do Evangelho é impulsionado para a frente" Martinho Lutero.
       Uma pesquisa recente realizada pelo Google, tendo como base seu projeto de digitalização de livros o Google Books, divulgou que há 149.864.880 milhões de livros no mundo. Para chegar a esta conclusão eles coletaram dados em mais de 150 fontes espalhados no mundo e depois de várias varreduras eliminaram o máximo possível de edições repetidas ou reproduzidas com títulos diferentes.    Mas com absoluta certeza nenhum destes milhões de livros chegam ao menos próximo à importânciarelevância e influência produzida pela Bíblia ao longo da história humana. Em todas as pesquisas realizadas para se conhecer qual livro é o mais lido a Bíblia destaca-se com ampla vantagem com cerca de 6 bilhões de exemplares e traduzida para pelo menos 2.500 línguas e dialetos. Seria possível colocar um exemplar da Bíblia nas mãos de cada habitante do mundo hoje!

Entretanto, nem sempre foi assim. Até o século 16 a Bíblia como qualquer outro livro era objeto raro e caríssimo, pois o processo de cópias era manual, portanto, lenta e custosa. No caso mais especifico da Bíblia havia além de tudo o monopólio da Igreja que inibia cópias que não estivessem sob a supervisão do clero. Estas cópias normalmente eram realizadas por monges uma vez que os mosteiros eram os maiores produtores literários e também zeladores das maiores e mais importantes bibliotecas da época.

           A partir do século XV surge um dos movimentos mais fecundantes da história humana, a Renascença.[1] Não se deve reduzir este movimento a um simples resgate da literatura antiga e uma redescoberta da arte greco-romana, pois as ondas produzidas por ela iram transformar todas as esferas sociais, morais, estéticas, filosóficas e religiosas.

É comum destacar certo numero de invenções que surgiram neste período histórico, entre as quais a de Johannes Gensfleisch zur Laden zum Gutenberg, ou simplesmente Johannes Gutenberg (Mogúncia, c. 1398 - 3 de Fevereiro de 1468) gráfico alemão. Ele pioneiramente criou o chamado tipo móvel em que cada letra era esculpida em alto relevo em um pedaço de madeira, posteriormente de metal, e que possibilitava a impressão de textos em papel[2] e assim permitindo reproduzir obras literárias de forma mais rápida e mais barata.

                A partir de sua invenção em 1450, a imprensa começa sua trajetória, ainda que inicialmente lenta, mas crescente: Veneza, Estrasburgo, Bolonha, Florença e Palermo, mas ainda era um processo custoso – a Bíblia imprimida por Mentel em Estrasburgo, em 1466, custava equivalente a três bois. E como tudo que é novo houve também resistência por parte de muitos humanistas que preferiam a manutenção da escrita. Mas a imprensa veio para ficar e tornou-se uma das maiores invenções humanas em todos os tempos. Assim como hoje é impossível imaginar um mundo sem computadores e sem internet, torna-se impossível imaginar um mundo sem a criação do processo de imprimir de Gutenberg.

Apenas um século antes, tanto John Wycliffe (Inglaterra) quanto John Huss (Boêmia) produziram movimentos de intenso fervor espiritual e escreveram proficuamente. Mas suas mensagens e escritos reformistas não tiveram um impacto e alcance maior por falta de um instrumento de impressão mais eficiente. 

            John Foxe oferece seu testemunho sobre a mudança que a maquina de impressão havia feito em relação ao seu famoso Livro dos Mártires: "Embora através do poder [o papa] tenha parado a boca de John Huss [John Wycliffe], Deus nomeou a Imprensa para pregar, cuja voz o Papa nunca foi capaz de parar com todo poder de sua tríplice coroa." Assim, é impossível não relacionar a invenção da Imprensa com a Reforma Religiosa e/ou Protestante desencadeada no século 16.

Ao lançar suas 95 teses manifestando suas preposições contrárias às várias práticas religiosas utilizadas então pela Igreja Católica Romana, Martinho Lutero com certeza não tinha percepção de como isto afetaria todo o campo religioso cristão em todos os lugares e em todos os tempos. Rapidamente suas teses foram impressas divulgadas em toda Alemanha e ultrapassando as fronteiras alcançam rapidamente outras nações. Os embates entre ele e seus opositores são impressos e distribuídos, de maneira que um número crescente de pessoas começa a tomar conhecimento destas discussões e começam a opinar. Nesta esteira a Reforma Religiosa toma proporções cada vez maiores, assim como uma tormenta que se inicia com ventos mais intensos e transforma-se em um movimento incontrolável, o mesmo vai ocorrer com o movimento reformista.

                A Igreja até então estava acostumada a suprimir movimentos correlatos, primeiramente tentando cooptar suas lideranças e não sendo possível utilizava-se a força bruta para erradicar tais movimentos e a História registra em suas páginas tanto uma quanto outra. Mas agora há fatores totalmente inéditos – o movimento renascentista com toda sua força e pujança transformadora de mentalidades, propondo abertamente mudanças em todas as esferas da sociedade e o surgimento da Imprensa com sua agilidade em reproduzir as ideias fossem quais fossem.

                A Reforma Religiosa proposta por Lutero e seus companheiros que se multiplicam por toda a Europa tem um pressuposto fundamental – A Bíblia e somente a Bíblia. Este livro que até então era propriedade unicamente do clero e de alguns privilegiados da sociedade medieval, quer pelo custo altíssimo de se fazer uma cópia, quer por se ter oficialmente apenas a versão em latim e, portanto de forma elitista, acessível apenas ao seleto grupo dos clérigos e acadêmicos.

                Imediatamente Lutero, Calvino e outros reformadores iniciam uma versão da Bíblia para as línguas vernáculas alemã, francesa e inglesa. Estas versões começam a serem impressas e distribuídas nestas e em outras regiões. O numero crescente de pessoas que começam a ter contato direto com a mensagem bíblica vai se multiplicando vertiginosamente e como uma avalanche que não pode ser detida, assim a leitura da Bíblia nas versões nacionais tornam-se inevitáveis.

                Desde então este livro que já foi de capa preta, agora pode ser encontra nas mais diversas cores e formatos, desde mais populares até as mais acadêmicas, tanto para crianças quanto para os da melhor idade. De tempos em tempos é classificada de ultrapassada e fadada a ocupar um lugar nos museus, todavia, continua sendo impressas aos milhões ano a ano, batendo todos os recordes e deixando outras obras cada vez mais distantes na preferencia dos leitores.

                Mas além de tudo, a Bíblia continua sendo a portadora da mensagem transformadora de Deus! A prova esta no fato de que bilhões de pessoas ao tomarem contato com seu conteúdo são impactados de tal forma que suas vidas e histórias são radicalmente mudadas. Países inteiros tiveram suas histórias alteradas por causa deste livro; de tempos em tempos a Sociedade curva-se diante do poder emanado de suas páginas. O ser humano tem procurado suprimir a mensagem da Bíblia; tem procurado colocar outras ideais e alternativas para suas vidas, mas o resultado é que tais esforços tornam-se estéreis de resultados e um retorno à mensagem Bíblica torna-se inevitável.

                Somente a Bíblia oferece um caminho seguro para que a pessoa possa estabelecer uma relação estável com Deus e que produz uma estabilidade para si mesma, para seus relacionamentos e para a própria sociedade em que esta inserida.

                No Brasil o “Dia da Bíblia” é comemorado sempre no segundo domingo do mês de dezembro e gostaria de deixar a você um convite e um desafio: LEIA A BÍBLIA!

 

Utilização livre desde que citando a fonte
Guedes, Ivan Pereira
Mestre em Ciências da Religião.
Universidade Presbiteriana Mackenzie
me.ivanguedes@gmail.com
Outro Blog
Reflexão Bíblica
http://reflexaoipg.blogspot.com.br/

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[1] Foi o historiador Jules Michelet que em sua obra “Histoire de France” em 1855 utilizou pela primeira vez o termo Renascença para designar um período especifico da historia da civilização.

[2] Evidentemente que sem o desenvolvimento da técnica do fabrico de papel pelos chineses, desde 105 da era cristã, a ideia de Gutemberg possivelmente não seria concretizada.


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