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quinta-feira, 21 de janeiro de 2021

Protestantismo Presbiteriano – Conselho Inter Presbiteriano (CIP)

O protestantismo presbiteriano foi implantado no Brasil a partir do final dos oitocentos através de duas Juntas Missionárias americanas: Presbiterian Church of United States (PCUS - Igreja do Sul) e a Presbiterian Church of United States of the America (PCUSA - Igreja do Norte). Mas apenas nas proximidades de seu Centenário a Igreja Presbiteriana do Brasil (IPB) passou a ter de fato plena autonomia, quando houve uma mudança profunda nas relações da IPB com as Juntas Missionárias americanas, com a formação e instalação do Conselho Inter Presbiteriano (CIP).

Um dos personagens mais atuantes na elaboração e efetivação da CIP foi sem duvida alguma o Rev. José Borges dos Santos Jr que revela toda sua dedicação e zelo pelo bem estar da denominação e a determinação em torná-la cada vez mais forte e atuante no país.

O Conselho Inter Presbiteriano (CIP) nasce após a Conferência Interpresbiteriana que ocorreu no inicio de 1954, realizado em Campinas, onde representantes das duas Juntas Missionárias americanas que atuavam no país desde os primórdios os de Nova York (PCUSA) e os de Nashiville (PCUS) e as lideranças da IPB, redefiniram os termos das parcerias que até então estavam sendo regidas pelo ―Modus Operandi‖ estabelecido nos idos de 1917:

A “Comissão Modus Operandi”, em 1917, separou os campos missionários, mas não tinha força nenhuma sobre eles, senão diplomática. Para evitar a célebre “questão missionária”, de modo pacífico, embora, alheou-os (FERREIRA, v.2, 1992, p. 430). A divisão dos trabalhos se faria preliminarmente por uma separação entre campos missionários economicamente ainda não auto-suficientes, e que assim ficariam a cargo das organizações americanas e seus agentes, e de outro lado, comunidades capazes de por si mesmas proverem às necessidades de seu desenvolvimento e dependentes da Igreja Presbiteriana brasileiras (LÉONARD, 1963, p. 162ss). Para Leonard, o que foi celebrado como um avanço, pelas lideranças nacionais, na verdade na pratica tornou-se um retrocesso, pois muitos campos missionários “nacionalizados” ficaram a míngua, sem recursos e sem obreiros suficientes e assim encolheram. Esta situação somente mudara com a instituição do CIP e da atuação incansável de Borges.

Após esta Conferência a relação entre as partes passou a ser através do Conselho Inter Presbiteriano (CIP). Se no modelo anterior a IPB não tinha voz, este novo modelo de cooperação proporciona uma participação mais efetiva junto às juntas missionárias, de maneira que todas as questões devem ser discutidas e aprovadas em conjunto. Foram representantes no CIP neste momento inicial (1955) os Revs. José Borges dos Santos Júnior, Dr. Benjamin Moraes, Amantino Adorno Vassão, Natanael Cortez, Dr. Diniz Prado de Azambuja Neto, Prof. Basílio Catalã Castro, Uriel de Almeida Leitão, Américo J. Ribeiro, Adauto Araújo dourado, Daniel das Chagas e Silva, Boanerges Ribeiro e o Pb. Heitor Gomes de Paiva.

Tendo acabado de ser eleito Presidente do SC (1954) e possuindo conhecimento profundo sobre as questões relacionadas às Missões e a IPB e tendo alcançado forte prestígio junto às missões americanas, o Rev. Borges assume a liderança desta primeira reunião da CIP, e é eleito seu primeiro Presidente, conforme suas próprias palavras: “[...] e compareci à primeira reunião do Conselho Inter Presbiteriano, tendo sido eleito presidente” (RELATORIO PASTORAL, 1955) e desta forma consolida sua influência tanto na esfera nacional quanto internacional. Esta primeira reunião do CIP ocorre em 29 de janeiro de 1955, na cidade do Rio de Janeiro, e Ferreira nomeia todos os participantes das Juntas e da IPB e suas funções representantes (v.2, 1992, p. 429), que foram além dos que menciono aqui.

Em seus Relatórios Pastorais de 1955 a 1964 (que marca sua saída da CE/IPB) é evidente o quanto se empenhou para que os projetos missionários coordenados pela CIP alcançassem resultados positivos. As reuniões e viagens se multiplicam por todo o território brasileiro e no exterior; em 1955 visita os campos missionários do Norte de Minas, Vale do São Francisco, Bahia Goiás, Mato Grosso e Santa Catarina, num total de 40 cidades diferentes; em 1961 faz parte da recém-criada Comissão de Educação do SIP. Viaja aos Estados Unidos algumas vezes para participar de reuniões com as Juntas Missionárias, sempre no sentindo de manter a continuidade da cooperação e financiamentos dos projetos desenvolvidos no Brasil através da IPB.

Se não fosse a atuação contundente e o respeito que adquiriu junto aos americanos, as Juntas teriam deixado os campos brasileiros, pois há muito tempo, desde a predominância das teses ecumênicas, na América, elas questionavam a necessidade de se permanecer em campos já cristianizados, o que para a PCUSA, por exemplo, incluía não apenas protestantes, mas católicos também. Ainda em 1956, participando da Conferência Missionária Mundial de Lake Mohonk, Borges começa a mudar a ênfase centenária de evangelismo de católicos para a indígena, ainda que como Castro expressa, não pode se afirma categoricamente, mas tudo indica que ele o faz com o propósito de manter os investimentos da missão nortista no Brasil.(2011, p. 87) Ele mesmo manteve apoio continuo ao trabalho missionário e evangelístico desenvolvido pela Missão Caiua e que continua atuando até hoje junto às tribos indígenas da região do Mato Grosso, Dourados, onde mantém Igreja, Escola e Hospital.

Entre tantos resultados alcançados por Borges junto ao CIP, certamente destaca-se a implantação de uma Igreja Presbiteriana na recém-inaugurada cidade de Brasília, a nova capital do Brasil.[1] A construção do novo templo presbiteriano despendeu todo o empenho e determinação dele: consegue um obreiro sustentado pelas Missões Oeste e Central, faz uma campanha financeira junto às igrejas, onde a Igreja Presbiteriana Unida de São Paulo (IPUSP) destaca-se na contribuição, consegue financiamento junto a Companhia Urbanizadora da Nova Capital do Brasil no valor de Cr$300.000,00 cruzeiros; apoiado pela Junta de New York consegue dois terrenos próximos ao centro (quadra comercial 307, num total de 70m²) e consegue autorização do SC para buscar recursos financeiros no exterior para a construção imediata do Templo, conforme Digesto:

Quanto ao Doc. 138, [...] c) relativamente a área doada, também de 15.000 m2, considerando que toda a demora para entrar na posse dessa área é prejudicial, dar os passos necessários para se obter os recursos para o início da construção da Catedral de Brasília, aprovando-se a sugestão da presidência no sentido da IPB recorrer às Igrejas Presbiterianas dos Estados Unidos e da Europa, solicitando uma oferta especial para a construção do aludido templo, na capital de nosso país. (SC-62-054)

Ele consegue junto ao Dr. Niemeyer, arquiteto responsável pelo projeto de Brasília, a elaboração gratuita da planta do primeiro templo, consegue também uma área de 60.000 m2 para a construção que pudesse abrigar o Instituto Presbiteriano para Leigos[2] e outras organizações tanto da IPB quanto das Juntas Missionárias que ali desejassem desenvolver suas atividades (DIGESTO, CE-57-088 e SC-58-216, edição online).

O resultado de todo este esforço se concretiza em 1960, quando com grande comoção do presbiterianismo nacional se procede a organização da Igreja Pioneira no dia 21 de abril, quando da inauguração de Brasília e a organização da Igreja Presbiteriana Nacional no dia 12 de agosto, quando do aniversário de 101 anos da IPB.

Utilização livre desde que citando a fonte
Guedes, Ivan Pereira
Mestre em Ciências da Religião.
me.ivanguedes@gmail.com
Outro Blog
Reflexão Bíblica
http://reflexaobiblica.spaceblog.com.br/

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Referências Bibliográficas

CASTRO, Luís Alberto de. A Trajetória do “Velho Mestre: Uma Biografia do Rev. José Borges dos Santos Júnior – um recorte historiográfico da Igreja Presbiteriana do Brasil. Dissertação (Mestre em Divindade) – Centro Presbiteriano de Pós-Graduação Andrew Jumper, São Paulo, 2011.

FERREIRA, Júlio Andrade. História da Igreja Presbiteriana do Brasil, vol. 2. São Paulo: Casa Editora Presbiteriana, 1992.

GUEDES, Ivan Pereira. O Protestantismo na Capital de São Paulo - A Igreja Presbiteriana Jardim das Oliveiras. Dissertação apresentada à Universidade Presbiteriana Mackenzie como requisito parcial à obtenção do grau de Mestre em Ciências da Religião. Orientador: Prof. Dr. João Baptista Borges Pereira

LÉONARD, Émile G. O protestantismo brasileiro: estudo de eclesiologia e história social. 1ª Edição, Rio de Janeiro e São Paulo: JERP/ASTE, 1963.

DIGESTO PRESBITERIANO (1951-1960), edição online, Disponível em: http://www.ipb.org.br/download/arquivos/digesto_ipb_1951-1960.pdf. Acesso em 14/05/2013.

 


[1] Borges produz dois Relatórios relacionados à implantação do trabalho presbiteriano e a construção do templo em Brasília, que Castro coloca na integra em seus anexos (2011, Anexos ns° 7 e 8).

[2] A proposta esboçada na resolução do SC-58-216 se tivesse sido colocada em prática revolucionária os métodos e práxis evangelísticas da IPB. Destaco apenas um item da proposta para o Instituto: ―c) Promover encontros entre presbiterianos, bem como irmãos de outras Igrejas evangélicas, que exerçam funções na vida pública; que sejam cientistas; educadores; escritores; jornalistas; líderes sindicais e operários; homens de negócios; capitães da indústria; ou de qualquer outro modo conhecedores da vida nacional. O objeto desses encontros será estudar as bases de nossa cultura, e particularmente a influência das religiões não evangélicas em nossa formação nacional, juntamente com a mensagem bíblico adequada à nossa vida e época;‖ (edição online).

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