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quarta-feira, 12 de julho de 2017

Quadro Sintético dos Sete Concílios Cristão Ecumênicos

Introdução
            A história dos concílios, ou sínodos eclesiásticos é uma área do conhecimento pouco explorado pelos evangélicos de forma geral, mesmo se tratando das chamadas denominações históricas. Neste mundo evangélico-protestante a impressão é que a história e a própria teologia surgiram apenas após a denominada Reforma Protestante ocorrida no século XVI. Ao jogar quinze séculos de história e teologia fora se corre o velho risco de jogar a água e a criança juntas. Desde os dias dos apóstolos (Atos) até o século XVI (Reforma) a Igreja Cristã construiu todos os seus fundamentos e na verdade o que os reformadores desejavam unanimemente era resgatar as verdades bíblico-teológica-eclesiástica que haviam sido amalgamadas com toda sorte de erros, desvios e equívocos muitas vezes por razões às mais espúrias imagináveis. Por está razão o movimento foi denominado Reforma e a ruptura com a Igreja Católica Romana ocorre pela razão de não haver possibilidade de se realizar as mudanças necessárias.
            Assim sendo, não se deve desprezar os quinze séculos iniciais do cristianismo, mas ao contrário, temos o dever de estuda-los com afinco e acuidade e extrairmos tudo quanto de bom e coerência bíblica. Esses séculos se constituem em um enorme e caudaloso rio com suas tranquilas, suas corredeiras turbulentas e perigosas, suas cachoeiras magnificas e que precisa ser navegado continuamente para se explorar todas as suas riquezas.
Uma parte importante desta vasta historiologia são os chamados Concílios Ecumênicos ou Sínodos Eclesiásticos.  Ainda que Lucas registre a realização de um Concílio em Jerusalém (Atos 15), para se discutir a questões da entrada dos gentios na Igreja, cujas teses de Paulo e Barnabé prevaleceram sobre as teses do grupo denominado judaizantes e posteriormente Tertuliano mencionem algo semelhante para discutir a permanência ou não do escrito “Pastor de Hermas” no cânon das Escrituras cristãs, no século III (HESS, 2002, p. 15), o primeiro nos moldes mais modernos do termo e dos quais suas resoluções foram registradas e preservadas é o de Elvira (306) atual cidade de Granada no Sul da Espanha.
Somente a partir de Constantino, com sua politica fortemente benéfica ao cristianismo, tem inicio por iniciativa dele mesmo a série de Concílios da Igreja Cristã com representantes das igrejas do Ocidente e do Oriente, por está razão chamados de Ecumênicos. O primeiro convocado pelo Imperador é o de Nicéia (325) que tem como objetivo uniformizar os dogmas e práticas dentro da multiplicidade de grupos religiosos que se classificavam como cristãos (YOUNG, 2007). Nesse século IV o cristianismo precisa urgentemente forjar sua identidade pois terá que buscar sua integração no império e na sociedade não mais na condição de conflito e perseguidos, mas de parte integrante deste novo processo histórico. E será na bigorna dos Concílios ou Sínodos que se forjara com muita lagrima, suor e sangue a homogeneização dos dogmas de fé e prática que se constituíram nas muralhas do que vira a se constituir no grande império cristão.
Os Concílios são assembleias amplas em que se fazem presentes os bispos representantes de suas igrejas, ainda que seja possível a presença de outros clérigos e leigos, porém sem direito a voto. A convocação poderia ser feita por um bispo de grande prestígio, por uma autoridade política, mormente pelo imperador de plantão. Uma vez cumprido os requisitos legais eclesiásticos o concílio estava legitimado. A partir de então seus participantes iniciavam os debates de ordem teológica ou disciplinar, que geralmente se conclui em uma norma, sentença ou esclarecimento doutrinal que assume a forma de um cânone pronunciado ao final da reunião, que tem força de decisão colegiada ou conciliar, a qual se sobrepõe a autoridade individual ou local.
Na leitura das discussões e resoluções tomadas nesses Concílios é possível reconstruirmos a configuração que a Igreja Cristã foi tomando na medida em que se configurava a sua identidade assumindo cada vez mais seu aspecto institucional e normativo dos comportamentos dos seus fieis e sua relação com o Estado e a Sociedade na busca de sua legitimidade e hegemonia, o que veio a ocorrer no período final do Império Romano e inicio do que veio a ser denominado de Sacro Império Romano, onde a Igreja Cristã coroava imperadores e reis.

Quadro Sintético dos Sete Concílios Cristão Ecumênicos
Concílio/Ano
Tema Central
Personagens Principais
Resolução
NICÉIA – 325
A Natureza de Cristo dentro da Trindade
Ário, de Alexandria; Alexandre, de Alexandria; Eusébio de Nicomédia.
O imperador Constantino, chamou os bispos para Nicéia. Mais de 300 bispos se fizeram presentes. O credo oferecido por Eusébio de Cesaréia foi rejeitado. Escreveu-se o credo de Nicéia, com as declarações “geradas, não feitas... consubstancial com o Pai (homo-úsios)”. Foram rejeitadas frases arianas, tais como “havia tempo quando ele não era”, e “feito do que não era”. Foram exilados os poucos que não aceitaram a fórmula nicena. A unidade eclesiástica foi o grande objetivo do imperador.

CONSTANTINOPLA - 381
De que forma a humanidade e a divindade se relacionam em Jesus Cristo. Conflito entre a hermenêutica da escola de Alexandria (alegorista) e a de Antioquia (literalista).

Apolinário de Laodicéia; Damário de Roma; Gregório de Nazianzo.  
Houve vários sínodos que se pronunciaram contra o apolinarismo (Jesus tinha corpo e alma humana, mas o espírito era o Logos) defendia a unicidade de Jesus; e Damário e Gregório defendia a dualidade de Jesus, pois ao se encarnar Ele era plenamente humano e plenamente divino. Este concílio também reafirmou as decisões de Nicéia contra o arianismo.
ÉFESO - 431
Qual a maneira que a humanidade e a divindade de Jesus se relacionam. A grande polêmica foi sobre o termo “theótokos” (mãe de Deus/genitora de Deus) e como deveria ser aplicado à pessoa de Maria.
Nestor e Anastácio de Constantinopla, Diodoro de Tarso, Teodoro de Mopsuéstia (escola de Antioquia); Cirilo de Alexandria, Celestino I, bispo de Roma levantaram os contrapontos.  Realça-se a rivalidade crescente entre Roma e Constantinopla pela primazia cristã.
Concílio ecumênico, convocado pelo imperador Teodósio II. Foi um dos mais tumultuados e politizados. Em sessão (junho) liderada por Cirilo (Roma), e dominada pelos bispos do Egito, condenou e depôs a Nestor (Constantinopla). Em no mês seguinte (julho), com a chegada da comissão liderado por João de Antioquia efetua-se a condenação e deposição de Cirilo e seus seguidores. Em agosto, os legados papais (também chegados atrasados) juntaram-se a Cirilo e seus bispos, e declararam depostos não somente Nestor, mas também a João. Ao mesmo tempo condenaram o nestorianismo, o pelagianismo, o messalianismo, assim como mantiveram a condenação do arianismo e do sabelianismo.. Posteriormente Cirilo (Roma) e João (Antioquia) fizeram um acordo (fórmula da unidade), mas Nestor (Constantinopla) não foi convidado a participar e ficou exilado até a morte.
CALCEDÔNIA - 451
Continua a discussão sobre a humanidade e a divindade de Jesus Cristo. Há uma natureza ou duas?
Dióscoro, bispo de Alexandria, Êutico, abade de Constantinopla, Crisápio, capelão do imperador em Constantinopla (Escola Alexandria); do outro lado Flaviano, bispo de Constantinopla, Pulquéria, irmão do imperador e Marciano, esposo de Pulquéria (escola Antioquia), apoiados por Leão, o Grande, bispo de Roma.
Em 449 havia sido realizado o segundo Concílio em Éfeso. Um total fracasso. Após a morte do imperador (Teodósio II) Pulquéria e seu marido Marciano fizeram nova convocação conciliar, agora em Calcedônia. São condenados Êutico e Dióscoro (monofisismo), aprovando a tese de Leão (diofisismo) definindo que existem em Jesus Cristo “duas naturezas em uma só pessoa [hipostática]”. Este concílio encerrou as discussões cristológicas que permearam os três concílios ecumênicos.
CONSTANTINOPLA (2º) 553
O modo em que a humanidade de Cristo se relaciona com a divindade. Os “monofisitas” afirmavam que Cristo tinha uma só natureza.
Egito e Síria (monofisitas – uma só natureza); Basílisco, imperador (475-476); Zenon, imperador (476-491); Acácio, bispo de Constantinopla; Félix III, bispo de Roma (483-492); Justino, imperador e Hormisdas, bispo de Roma; Justiniano, imperador (527-565).
Reafirmação do Concílio de Calcedônia; condenação dos escritos dos monofisitas: Teodoro de Mopsuéstia, Teodoreto de Ciro, e Ibas de Edessa, conhecida como a “Condenação dos Três Capítulos”.
CONSTANTINOPLA (3º) 680/81
Discussão sobre a proposição do monotelismo - afirmava que Cristo tinha duas naturezas, mas uma só vontade.
Sérgio, bispo de Constantinopla, apoiado por Honório, de Roma.
Foi lida uma carta do papa Ágato, que explicava a crença tradicional da Igreja de que Cristo tinha duas vontades, divina e humana e os conciliares concordaram. Macário de Antioquia e o papa Honório, que haviam defendido o monotelismo foram condenados, assim como todos os seus partidários. O concílio, em acordo com a carta de Ágato, definiu que Jesus Cristo possuía duas energias e duas vontades, de modo que a vontade humana de Cristo segue a vontade divina, sem estar em resistência nem, oposição em relação a ela, mas antes sendo subordinada a esta vontade todo-poderosa.  Também foi condenado o monoenergismo. Quando o Concílio terminou, os decretos foram enviados à Roma, onde o sucessor de Ágato, o papa Leão II também concordou com eles[2].
NICÉIA (2º) – 787 - Último dos chamados Concílios Universais e/ou Ecumênicos.
O uso de imagens nas igrejas e no culto.
Os iconoclastas, destruidores de imagens X os iconodulos, adoradores de imagens; imperatriz Irene, Tarásio, bispo de Constantinopola e Adriano, bispo de Roma.

O Concílio (2º de Nicéia, aceito como o 7º Concílio Ecumênico) fez duas coisas: restaurou o uso de imagens nas igrejas e nos cultos, e, diferenciou entre “latria”, a adoração que se deve a Deus, e “dulia”, a veneração inferior que se presta a imagens. Todavia, no Ocidente o latim não possuía duas palavras distintas para adoração (latria e dulia) de maneira que houve muita confusão.


   

Utilização livre desde que citando a fonte
Guedes, Ivan Pereira
Mestre em Ciências da Religião.
Universidade Presbiteriana Mackenzie
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Referências Bibliográficas
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