Com a morte de Maria Tudor (1553-1558) sua sucessora é Elizabete, filha da decapitada Ana Bolena.
Diferentemente de seus antecessores, ela haveria de tornar-se a mais longínqua
e vitoriosa governante da Inglaterra (1558-1603). Seu nome e seu reinado esta
perpetuado na história da Inglaterra como um dos períodos mais esplendorosos e
profícuos seja na proliferação da literatura, na expansão comercial e
consequente aumento da riqueza, consequência direta de seu domínio sobre os
mares à custa de impor a mais estrondosa derrota a até então imbatível armada
espanhola de Filipe II (LATOURETTE, 2006, p. 1096).
Esse longo tempo
de governo aliado a todos estes fatores positivos lhe proporcionou a
oportunidade de consolidar de uma vez para sempre a Igreja inglesa, como tão
bem descreve Giacomo Martina:
Unia extraordinários dotes
de governo a um autêntico cinismo em sua vida privada. Com uma segura intuição,
ela conduziu o país pela estrada que nos séculos seguintes levaria a Inglaterra
ao ápice de sua potência política e econômica: industrialização, com apoio,
sobretudo às indústrias têxteis, hegemonia naval subtraída à Espanha e
ciosamente guardada e defendida contra qualquer ameaça, expansão colonial,
desenvolvimento comercial em escala mundial e proteção oferecida a todos os que
lutavam contra o imperialismo espanhol. A Inglaterra se tornava assim, ao mesmo
tempo, a campeã da resistência contra o catolicismo. Com Elizabeth I o
protestantismo se firmou definitivamente na Inglaterra, e desde então o amor à pátria
e a fidelidade à dinastia reinante se uniram estreitamente à hostilidade em
relação ao papado e ao catolicismo, a ponto de se tomar um dos componentes
essenciais da alma inglesa, pelo menos ate o século XIX. (1995, p. 150).
Hábil
negociadora e perspicaz em analisar seus adversários e aliados, ela foi
construindo um reinado fundamentado no equilíbrio das forças políticas e
religiosas. Sabia, como seu pai e outros monarcas poderosos, que não poderia
abrir mão do controle absoluto da Igreja e muito menos da fonte renda advinda
dela,[1]
mas teve a sensibilidade de não fazê-lo sem que antes conquistasse um amplo
apoio de seu povo e do Parlamento.
Para isso teve
que equilibrar as forças entre católicos e protestantes dentro da Igreja da
Inglaterra.
“Ela não poderia esperar agradar a ambos, os católicos romanos e
os protestantes extremados, mas poderia alcançar (e alcançou) um
estabelecimento que provou ser aceitável para a maioria dos ingleses de sua
época e que, sem alterações básicas, caracterizaria a Igreja da Inglaterra dali
por diante” (LATOURETTE, 2006, p. 1.097).
Em 1559 promulga
o Ato de Supremacia, resgatando sua
plena autoridade sobre a Igreja da Inglaterra, e para não insuflar reações
maiores, por parte do clero totalmente masculino, substitui a expressão “Cabeça Supremo”, por “Suprema governadora deste reino, e de todos
os outros domínios e países, assim como em todas as coisas espirituais ou
eclesiásticas ou cousas temporais”.
Também, por meio
do Parlamento, restaura o Ato de
Uniformidade, com alterações significativas do Segundo Livro de Oração Comum produzido no reinado de seu irmão EduardoVI (1547-1553), decretando sua obrigatoriedade em todas as atividades religiosas, bem como estabelecendo
em lei a obrigatoriedade da frequência nos cultos. O casamento de clérigos,
sempre uma questões efervescente, tornou-se possível desde que com autorização
expressa do bispo, duas magistraturas de paz e dos pais da noiva. Ela combateu
os excessos religiosos místicos, bem como toda sorte de simonia.
Todavia, faltava
um ponto fundamental para o estabelecimento definitivo da Igreja da Inglaterra.
Elizabete não foge ao desafio estabelecendo os Trinta e Nove Artigos da Religião, que era uma variação dos Quarenta e Dois Artigos do reinado
anterior de Eduardo, cujos aspectos teológicos “ainda que levemente atenuada mediante sua orientação e mais bem
luterana que a diferenciava do calvinismo estrito dos ‘quarenta e dois artigos’”
(CASALIS, p. 153). É promulgado em 1571
e a subscrição é compulsória por parte de todos os clérigos, com pena da perda
das funções religiosas.
Duas obras
acadêmicas foram produzidas com o intuito de construir uma base eclesiástica
para a nova igreja. A primeira foi elaborada por John Jewel intitulada “Apologia ecclesiae anglicanae” (1562) e
a segunda, de maior envergadura, produzida por Hooker com o titulo de “Laws of
elcesiasticalpolity”, que oferecia uma base para defesa do anglicanismo diante
dos ataques advindos do catolicismo quanto dos puritanos.
Com um longo
reinado e uma politica forte Elizabete consegue impor a Igreja Anglicana,
dando-lhe uma estrutura e forma de adoração, bem como uma afirmação de fé que
agradou à grande maioria do povo inglês, evitando assim as terríveis guerras
civis que seus vizinhos experimentaram. Mas, os extremistas tanto católicos
quanto reformados, continuavam insatisfeitos.
Utilização livre desde que
citando a fonte
Guedes, Ivan Pereira
Mestre em Ciências da
Religião.
Universidade Presbiteriana
Mackenzie
ivanpgds@gmail.com
Outro Blog
Reflexão Bíblica
http://reflexaobiblica.spaceblog.com.br/
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Verbete:
Protestante
Verbete:
Protestantismo
Verbete:
Calvinismo
[1]
Latourette desta este aspecto: “Ela [Elizabete] manteve alguns de seus bispados
vagos por anos e se apropriou de seus rendimentos. Diversos postos
eclesiásticos eram pagos pelos seus designados por alienar porções de suas
dotações.” (2006, p. 1097).
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