Martinho Lutero defende suas teses na Dieta Worms
Pelo menos sete Dietas teve lugar nessa cidade alemã
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Em 1517, um jovem monge
alemão chamado Martinho Lutero elaborou uma relação de questionamentos em
relação ao ensino e divulgação da chamada indulgência, um documento com
autoridade Papal que possibilitava às pessoas que a adquirisse o perdão de seus
pecados e até mesmo o resgate de entes queridos que porventura estivesse no
purgatório, um lugar intermediário, criado pela Igreja, em que o morto ficava
antes de ser lançado definitivamente no inferno. Esta lista de questionamentos ficou
famosa pelo nome de “as noventa e cinco
teses”, que Martinho Lutero afixou à porta da igreja do castelo de Wittenberg.[1]
Sem qualquer dúvida essa foi
uma ação corajosa, visto que Lutero não tinha uma expressão maior dentro da
estrutura da Igreja, era professor em uma Universidade pequena e não detinha
qualquer titulo de nobreza. No décimo sexto século a Igreja Cristã era a Instituição
mais poderosa do Ocidente, de maneira que reis e imperadores não ousavam lhe enfrentar
ou questionar; havia apenas uma expressão de fé oficial em toda a Europa: o Catolicismo
Romano, liderado implacavelmente pela sucessão de Papas em Roma.
O protesto deste monge agostiniano[2] deu inicio a uma série de desdobramentos
que extrapolou em muito o propósito primário de sua iniciativa, que era apenas
chamar atenção para os absurdos da venda sem escrúpulos das famigeradas indulgências.
Mas sua pequena iniciativa culminou com
o maior movimento de reforma religiosa já vista na História da Igreja Cristã
Ocidental, que tantos antes dele sonharam e morreram sem alcança-la.
A partir deste movimento
religioso a Igreja Cristã passou a se expressar em dois blocos distintos e
conflitantes: católicos romanos e protestantes, dicotomia que ainda perdura até
os dias atuais. Este evento, conhecido como “Reforma Religiosa e/ou Reforma
Protestante”, tem sido objeto de estudo por mais pesquisadores do que quase
qualquer outro assunto. Essa Reforma tem exercido um fascínio sobre dezenas de
milhares de estudiosos ao longo de vários séculos e não há nenhum sinal de que
esse interesse tenha declinado nos dias atuais, principalmente pela proximidade
de completar seus 500 anos.
Neste pequeno texto quero apenas
destacar e conceituar alguns termos relacionados a este evento histórico, tendo
o propósito de vislumbrar um pouco o contexto e as circunstâncias em que esses termos
ocorreram.
“Reforma”
Primariamente o termo “Reforma”
é um conceito neutro usado para descrever qualquer processo histórico
indistintamente. Os aspectos mais relevantes desta “Reforma” ocorrida no século
dezesseis é que um grande número de cristãos em diversos países da Europa,
como: Alemanha, Suíça, Escandinávia, Holanda e Grã-Bretanha se desvincularam do
Catolicismo e constituíram igrejas cristãs autônomas, que assumiram o termo
Reformadas para distingui-las da Igreja Romana.
Mas se faz necessário nos deter
um pouco mais no exame do termo “Reforma”. Essa palavra forjada na bigorna do tempo,
desperta um sentimento imediato de que as mudanças por ela produzidas foram
para melhor e foram para endireitar o que estava errado. Durante estes quase
500 anos em que se estuda a História da Europa do século XVI, o termo “Reforma”
tem sido utilizado como propaganda para as igrejas cristãs advindas deste
movimento.
Todavia, o termo “Reforma"
não foi usado neste sentido quer no tempo em que os fatos eclodiram, ou mesmo
no transcorrer dos muitos anos posteriores. Veio a ser assim identificada e
popularizada apenas no século XVIII por historiadores protestantes na Alemanha
que passaram a ser referir indistintamente e sem qualquer questionamento de que
a "Reforma" havia sido um processo pelo qual um grande número de
cristãos genuínos, incapazes de aceitar os abusos generalizados da Igreja Romana,
romperam seus vínculos para formar sua própria igreja purificada.
Evidente que hoje o termo
com essa significação já esta cristalizada na mente e nas páginas da literatura
histórica, de maneira que inibe qualquer outra significação. O máximo que se
tem conseguido é a utilização do termo Reforma Religiosa, que é mais amplo,
visto que o movimento desde seu gênesis abalou todo o sistema religioso cristão
europeu.
Desta forma, quando
utilizamos o termo “Reforma”, precisamos estar cientes de que endossamos um
conceito histórico pejada de um número expressivo de pressupostos e julgamentos
de valor simultaneamente.
Protestante
Assim como o termo “Reforma”,
a palavra "protestante" pode confundir a nossa compreensão do período.
Esta palavra foi originalmente usada para descrever os príncipes alemães que
formalmente endossaram as propostas reformadoras de Lutero e "protestaram"
contra a Igreja Católica na Dieta Imperial[3] (Parlamento) de Speyer, em
1529. Como resultado, 'protestante' é muitas vezes usado para significar a
mesma coisa como "luterana". Isso é enganoso, pois 'protestante' era
um termo geral para qualquer um que fizesse ou expressasse oposição aos
ensinamentos da Igreja Católica. A 'luterana' é um termo específico para um tipo
de Protestante, que seguiu os ensinamentos de Martinho Lutero em particular, de
modo que todos os luteranos eram protestantes, mas nem todos os protestantes
eram luteranos. Havia outros tipos de protestantes também - por exemplo, os que
adotaram os princípios elaborados por Zwinglio (muitos grupos batistas), os que
optaram pelos ensinos de Calvino (calvinistas, entre os quais os presbiterianos),
os que avançaram ainda mais nas propostas de “Reforma” e compunham o bloco dos
chamados radicais (anabatistas,[4] menonitas[5]), bem como os que aderiram
à Igreja da Inglaterra (anglicanismo).
Desta forma, se faz
necessário estudar o período para nos certificarmos de que estamos usando os
termos corretamente, dentro de seu devido contexto. A palavra “Protestante”
deve ser utilizada somente quando desejamos nos referir aos diversos movimentos
que tinham em comum sua oposição à Igreja Romana, caso contrário corre-se o
risco de induzir à ideia equivocada de que todos os “Protestantes”
compartilhavam de um mesmo conjunto de conceitos e interpretações uníssono, o
que qualquer verificação ainda que superficial testemunha que nunca foi uma
realidade. Evidente que todos os “Reformados” compartilham de pontos em comum,
mas também é verdadeiro que sempre tiveram e mantiveram conceitos teológicos e
eclesiásticos distintos.
Alemanha
Em 1500 “Alemanha” era um
termo geral utilizado para se referir a uma vasta área geográfica. O país que
hoje conhecemos como Alemanha somente passou a ser uma realidade a partir de 1871,
que até então a Alemanha pertencia ao grande "Sacro Império Romano"[6], que cobria grande parte
da região central europeu. Era presidido por um Imperador que podia convocar
uma Dieta[7] sempre que fosse conveniente
e em qualquer cidade que lhe fosse favorável. No entanto, na prática, o Sacro
Imperador Romano tinha poderes limitados. Primeiramente, o seu poder era
limitado pela "doutrina das duas espadas”, onde havia uma dupla distinção
nas esferas de poder: o Papa detinha o controle total da religião no Império (a
espada “religiosa”), enquanto o Imperador exercia o poder político (a “espada
secular”). Um segundo fator de limitação é que o Império se constituía de uma fragmentada
constelação de mais de 300 Estados Independentes, vilas e cidades imperiais
livres que em grande parte decidiam seus próprios assuntos internos. Isso
significava que era extremamente complexo conciliar em uma Dieta qualquer tipo
de acordo sobre questões importantes - e ainda mais complexo implementar as
suas decisões, se e quando se alcançava um acordo.
Por esta razão
politica-econômico-geográfica as ideias protestantes foram rapidamente sendo assimilados
por grande parte dos Estados Independentes alemães que passaram a dar sustentação
ao monge alemão Martinho Lutero e suas teses críticas do sistema religioso
vigente.
Utilização
livre desde que citando a fonte
Guedes,
Ivan Pereira
Mestre
em Ciências da Religião.
Universidade
Presbiteriana Mackenzie
ivanpgds@gmail.com
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Bíblica
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Protestante
Verbete:
Protestantismo
Verbete:
Calvinismo
[1]
Wittenberg (oficialmente: Lutherstadt Wittenberg) é uma cidade da Alemanha,
localizada no estado de Saxônia-Anhalt.
[2]
A Ordem de Santo Agostinho (em latim Ordo Sancti Augustini, OSA) é uma ordem
religiosa católica de frades mendicantes que seguem a linha de pensamento de
Santo Agostinho. Seus membros são denominados frades agostinianos ou
agostinhos.
[3]
O termo Reichstag compõe-se das palavras alemãs Reich ("império",
"país") e tag (que aqui não significa dia, mas é derivada do verbo
tagen, "reunir-se"). Em português, costuma-se traduzi-lo por Dieta ou Dieta Imperial.
[4]
Anabaptistas ou Anabatista ("re-batizadores", do grego ανα
(novamente) + βαπτιζω (baptizar); em alemão: Wiedertäufer) são cristãos
sectários do Anabatismo, a chamada "ala radical" da Reforma
Protestante. Os Anabatistas não formavam um único grupo ou igreja, pois havia
diversos grupos chamados genericamente de "anabatistas" com crenças e
práticas diferentes e divergentes. Em seu livro “In Nomine Dei” José Saramago
romanceia o período de 1532 a 1535 cujos personagens são anabatistas da cidade
alemã de Munster.
[5]
Tem o seu nome derivado do teólogo frísio Menno Simons (1496-1561), que através
dos seus escritos articulou e formalizou os ensinos dos anabatistas suíços.
Segundo estimativas de 2009, há mais de 1,6 milhões de menonitas espalhados
pelo mundo todo.
[6]
O Sacro Império Romano-Germânico (em alemão Heiliges Römisches Reich; em latim
Sacrum Romanum Imperium) foi a união de territórios da Europa Central durante a
Idade Média, durante toda a Idade Moderna e o início da Idade Contemporânea sob
a autoridade do Sacro Imperador Romano, tendo como marco fundante a coroação de
Carlos Magno comoo o primeiro Sacro Imperador Romano, coroado em 25 de dezembro
de 800 d.C.
[7]
Em política, a Dieta, aproxima-se do que era uma Corte, é uma assembleia
deliberativa oficial de alguns Estados. Seu uso corrente é mais histórico,
embora algumas instituições parlamentares modernas ainda recebam este nome.
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