A cidade de São Paulo já demonstrava seu potencial econômico e sua força
no desenvolvimento político do país no inicio do século XIX. Neste período a
cidade experimentava um crescimento populacional e material bastante
expressivo, iniciando um processo de urbanização que haveria de se intensificar
cada vez mais.
O novo momento de São Paulo não tinha nada a vê com seus primeiros anos,
quando, depois ter sido fundada, em 1554, permaneceram três longos séculos à
margem da economia colonial e imperial. Isolada no alto da Serra do Mar, a
vila, que só se tornou cidade em 1711, havia sobrevivido todo esse tempo da
lavoura de subsistência, da escravização de índios e das expedições
bandeirantes. (ARAUJO, 2006, p. 11). Ainda que tenha sido a capitania hereditária
responsável pela expansão territorial e o povoamento de quase todo o interior
do Brasil.
A causa primária do deslocamento econômico e político do Rio de Janeiro,
até então capital do Império, para São Paulo foi sem duvida alguma o
desenvolvimento do setor da industrialização do café no Oeste paulista e suas
inovações no setor de comercialização do produto. A riqueza gerada pelo “ouro
verde” conforme ficou denominado o café, alavancou a acelerada urbanização e a
industrialização da cidade.
A partir da década de 1870,[1] São Paulo tornava-se um lugar privilegiado das transformações
socioeconômicas, urbanísticas, físicas e demográficas. Bem no meio da
prosperidade crescente da lavoura cafeeira e das tensões ligadas à crise final
da escravidão no país, a cidade se transformava de forma acelerada na
“metrópole do café”. Todo esse conjunto de fatores implicou, por sua vez, em
alterações profundas nas funções e espaços da cidade, em favor de um maior
controle e racionalização, de modo a assegurar para São Paulo o importante status
de entreposto comercial e financeiro privilegiado para as relações entre a
lavoura cafeeira paulista e o capital internacional. (LEMOS, 1989, Apud
HENRIQUES, 2011, p. 364) [2]
As linhas férreas, que ligavam o interior da província ao porto de
Santos, por onde escoavam as safras, e posteriormente expandiram-se por todo o
Estado[3] tornaram-se rotas e lugares estratégicos para se propagar a mensagem
evangélica e estabelecer as novas denominações protestantes, conforme indicado
anteriormente neste trabalho.
Deste modo, São Paulo vai ocupando um espaço cada vez maior no destino
da nação, como marco do tão desejado progresso. Em consequência ocorre uma
reestruturação do poder, o que vai resultar no surgimento de tendências mais
radicais que propunham a autonomia das províncias como solução para os muitos
conflitos que insurgiam continuamente. Segundo Emília Viotti Costa os prósperos
agricultores desta região oeste de São Paulo é um representativo desta
postura:
O caráter pioneiro, a mobilidade social, a
prosperidade crescente favoreciam a difusão das ideias novas, desde que elas
significassem uma promessa de satisfação dos anseios dos novos grupos e a
possibilidade de ampliar a ação e o domínio. A ideia republicana oferecia essa
perspectiva aos fazendeiros do Oeste Paulista que se sentiam lesados pelo
governo imperial e que desejavam não só obter maior autonomia, como imprimir à
vida econômica e política da nação as suas próprias diretrizes (1999, p.481).
Acredito que este espírito de autonomia e independência permeou logo
cedo os jovens pastores presbiterianos nacionais, conforme os eventos
sucessivos haverão de revelar.
Os primeiros missionários que passaram pela cidade de São Paulo, como
Kidder e Fletcher, conforme citados em artigos anteriormente, já pressentiam o
grande potencial dela como importante na estratégia para o desenvolvimento do
protestantismo no Brasil.
Tendo conhecimento destas informações sobre o potencial da cidade, bem
como da boa receptividade para com a mensagem evangélica protestante, Simonton
ainda em seus primeiros esforços missionários, empreende uma primeira viagem a
São Paulo, conforme indica em seu registro do diário – São Paulo, 30 de
dezembro de 1860 (Hotel da Itália):
[...] Desde que cheguei aqui tenho-me alegrado na
expectativa de encontrar um campo para pregação do Evangelho nesta cidade.
[...] Já fiz todas as indagações possíveis; a maioria das opiniões é favorável
à realização da tentativa, mas só se pode adquirir certeza experimentando.
[...] Creio que se deve tentar. Se orando pela direção divina, minha opinião
persistir, esforçar-me-ei para dar inicio ao trabalho. O clima aqui é bastante
agradável e o custo de vida muito menor. Caso pudéssemos ocupar dois pontos,
não hesitaria em estabelecer um em São Paulo, pois assim poderíamos também
aproveitar a mudança de clima. [...] (RIZZO, 1962, p. 73).
Mas coube ao Rev. Alexander L. Bleckford a iniciativa pioneira de
implantar e desenvolver o presbiterianismo na cidade paulistana. Após o retorno
de A. G. Simonton dos Estados Unidos em 16 de julho de 1863, o reverendo
Blackford recebeu autorização da Junta Missionária Norte Americana para dar
início ao trabalho missionário na Província de São Paulo.[4]
Utilização livre desde que
citando a fonte
Guedes, Ivan Pereira
Mestre em Ciências da Religião
me.ivanguedes@gmail.com
Outro
Blog
Reflexão Bíblica
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______________
[1] A cidade de São Paulo em que D. Pedro I se hospedou e que foi
palco da proclamação da Independência do Brasil, na descrição do
historiador Afonso A. de Freitas, era tão somente: "...uma pequena
cidade, quase aldeia, acanhada e de ruas pouco extensas, estreitas e tortuosas.
Abrigava na área urbana somente 6.920 habitantes e incluindo sua zona rural não
ultrapassaria 20.000 moradores. Desde esta época a cidade revela sua
vocação para participar dos grandes momentos da História do país, com sua elite
provinciana orgulhosa que, "apesar do isolamento, acompanhava com
interesse as grandes transformações na Europa e nos Estados Unidos. ....os
paulistas do começo do século 19 estavam longe de serem todos matutos ou
caipiras." (GOMES, Laurentino. 1822 - como um homem
sábio, uma princesa triste e um escocês louco por dinheiro ajudaram D. Pedro a
criar o Brasil - um país que tinha tudo para dar errado. Rio de Janeiro:
Nova Fronteira, 2010, p. 103).
[2] Maria Lucília Viveiros Araújo em seu excelente livro “Os caminhos da riqueza dos paulistanos na
primeira metade do Oitocentos” (2006), a partir de sua tese de
doutoramento, orientada pelo Prof. Dr. Nelson Hideiki Nozoe, reformula o mito
da pobreza paulistana na primeira metade do século XIX, pois segundo ela o
ciclo do açúcar também se fez acompanhar de uma série de atividades econômicas
complementares e paralelas gerando riqueza e progresso. Herança da
historiografia tradicional, esse mito, que prevaleceu até a década de 1960-70,
costumava opor a pobreza paulistana à opulência trazida com o boom do café,
sugerindo a existência de um corte profundo entre os dois ciclos.
[3] “O fenômeno das estradas de ferro foi sem dúvida o mais
importante, do ponto de vista da irradiação de um certo padrão de vida urbana,
de capitalização e de articulação do resto da Província com São Paulo e com os
principais centros mundiais. Dele participaram capitais internacionais, mão de
obra nacional e de imigrantes, além de iniciativas das lideranças locais. A
Companhia Paulista (empresa brasileira particular), ligando a São Paulo as
cidades de Jundiaí, Campinas, Limeira, Rio Claro e Descalvado; a Companhia
Ituana, chegando a Piracicaba; a Sorocabana, em direção a Sorocaba, Ipanema e
Tietê; a Mojiana, abrangendo de Campinas a Mogi-Mirim, Amparo, Casa Branca,
Ribeirão Preto e Poços de Caldas (incorporando o Sul de Minas à esfera
econômica de São Paulo) demarcariam o novo sistema econômico-social, com fortes
implicações políticas regionais e nacionais”. (MOTA, 2004, p. 14)
[4] Desde o primeiro momento outros dois nomes estão vinculados
diretamente a implantação e desenvolvimento do presbiterianismo em São Paulo e
outras cidades do interior e do litoral paulista, são eles Francis Joseph
Christopher Schneider, alemão de origem, mas naturalizado norte-americano, e
que se tornou o terceiro missionário presbiteriano no Brasil e George Whitehill
Chamberlain que visitando o Brasil e tomando conhecimento do trabalho realizado
por Simonton e Blackford sente-se compelido a permanecer e participar desta
obra, e posteriormente sua esposa Mary Ann Annesley.
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