Rev. José Borges dos SAntos Junior Velho Mestre |
A questão educacional sempre foi a menina dos olhos do
protestantismo de forma geral e não poderia ser diferente quando de sua
implantação no Brasil. Desde seus primórdios a educação em suas duas vertentes
religiosa e secular foi colocada como parte integrante do programa de expansão
do protestantismo no país.
O então jovem e recém chegado missionário estadunidense Ashbel Green Simonton inicia suas atividades com uma “escola dominical” onde ministra
os pontos básicos do evangelho evangélico protestante. Estabelece um embrião de
“escola fundamental” para crianças, aliado à um curso de alfabetização para
adultos. Revela toda sua preocupação com a questão educacional quando,
juntamente com seus companheiros, inicia o primeiro Curso Teológico protestanteno Brasil, e provavelmente na América Latina, cunhado pelos historiadores
protestantes de “Seminário Primitivo”, que formou os primeiros quatro pastores
presbiterianos brasileiros.
Por onde o protestantismo foi sendo implantado no
território brasileiro a educação sempre foi um dos pilares mestres, seja na
forma das “escolas paroquiais”, visando atender os filhos dos membros ou no
formato “colégios” visando alcançar as elites brasileiras.
Desde a fundação de seus primeiros Seminários os
presbiterianos sempre zelaram para que seus seminaristas fossem formados não
apenas no aspecto teológicos, mas nas mais diversas áreas do saber humano.
Apenas uma leitura simples de seus currículos deixa evidente uma preocupação
multicultural na formação dos seus novos pastores.
Em um país onde a educação e a cultura nunca foram de
fato e de verdade uma prioridade, de maneira que apenas uma pequena e privilegiada
camada social podia e era estimulada a uma formação acadêmica, os Seminários
protestantes tornaram-se centros de excelência acadêmica e de fato formaram
pastores e homens altamente qualificados.
Na
década de 40-50 os Seminários protestantes eram tratados como Universidades e
seus alunos eram qualificados entre os mais atuantes nos meios acadêmicos do
país, estando na vanguarda dos grandes movimentos estudantis emergentes no
Brasil, incluindo a hoje famigerada UNE, mas que naquele momento histórico fundante
contava em seus quadros com alguns dos mais iminentes jovens seminaristas dos centros
acadêmicos protestantes, bem como de seus diversos colégios espalhados pelos
grandes centros urbanos brasileiros.
Entre tantos nomes
proeminentes que devem ser destacados neste caudaloso rio educacional, quero
trazer à memória o do Rev. José Borges dos Santos Jr.
Ele
sempre esteve ligado umbilicalmente com a questão educacional. Fez seu curso
ginasial no Ateneu Valenciano, cuja propriedade pertencia desde 1908 ao
Comendador Antonio Jannuzzi,[1]
que mais tarde o doou a Igreja Presbiteriana de Valença, que lá criou o Colégio
Atheneu Valenciano.[2]
Tudo leva a crer que durante o seu curso pré-teológico Borges tenha sido aluno do
Rev. Erasmo de Carvalho Braga, uma das figuras mais proeminentes, nacional e
internacionalmente, do presbiterianismo brasileiro, o que ocorrido certamente
impregnou o jovem seminarista das ideias e conceitos teológicos mais avançados
da época.
Particularmente
sua vida acadêmica sempre esteve ligada ao Seminário Presbiteriano de Campinas,
desde quando seminarista e por muitos anos já como pastor. Foi esta sua
dedicação e paixão pelo ensino e pela instituição teológica que lhe outorgaram
a alcunha de - Velho Mestre - que
expressava o reconhecimento e carinho de seus antigos alunos.
Neste
Seminário Borges lecionou inicialmente, no Curso Propedêutico,[3] as
matérias de Lógica Formal, Latim, Português e Introdução à Filosofia, entre os
anos de 1930 e 1934. A partir de 1934 a 1946, conforme noticiou a revista
teológica do Seminário (1939, p. 35) ele havia sido eleito para ocupar a
cadeira de Teologia Sistemática, mas lecionou também História da Filosofia que
era sua paixão pessoal.
Um
de seus alunos, que posteriormente tornou-se também professor do Seminário, registra
a reação dos seminaristas às aulas do novo catedrático:
A prodigiosa informação do novel professor de Teologia
sobre autores tradicionalmente tidos como autoridade – Hodge, Dabney, Shedd –
além do compêndio de Strong, nos assombrava. Mas principalmente seu conhecimento
de Metapsíquica é que nos chegou a intrigar. Até parecia que se preparava para
a tarefa mesmo antes de sua escolha. (1939, p. 35).
O
Dr. Waldyr, outro ex-aluno, registra algumas outras características que ajudam
a elaborar com certa dose de exatidão o perfil catedrático de Borges:
Tinha a seu cargo a área da teologia e da filosofia. Bom
professor, temido pelo seu tom dogmático e cortante ironia, além de dar provas
de improviso, o que exigia constante preparo do aluno para a imprevisível
ocasião. Incompassivo, não vacilava em reprovar o estudante que não fazia jus à
nota mínima. (1994, p. 122).
Quando
se transferiu para São Paulo, enquanto pastor auxiliar ainda continuou
lecionando no Seminário de Campinas, mas quando assumiu a titularidade do pastorado
da IPUSP[4] a
partir de 1947, apesar de todos os rogos da Direção do Seminário, o Conselho
daquela igreja não o liberou, de maneira que teve que abrir das suas preciosas
aulas no final do período letivo de 1946.
Em
seu excelente trabalho sobre a vida de Borges, o pesquisador Castro menciona
que em diversas Atas do Conselho da IPUSP registram-se correspondências da
direção do Seminário para que Borges fosse liberado para continuidade de suas
aulas, chegando ao ponto do próprio Diretor, o Rev. Jorge Goulart, manter
conversas com alguns presbíteros individualmente e na Ata 977, registra sua
presença, como porta-voz oficial do seminário, e ―insiste para que o Conselho
libere o Rev. Borges, um dia por semana‖ (2011, p. 29).
Todo
este esforço tinha uma razão, é que naquele momento Borges era um dos professores
mais conceituado do Seminário e suas aulas de filosofia às terças feiras, assim
como os cultos matinais em que se fazia presente atraia a presença de todos os
alunos, o que em ambiente de seminário é uma coisa rara, demonstrando assim o
carisma que o - Velho Mestre - exercia
sobre o corpo discente.
Utilização livre desde que citando a fonte
Guedes, Ivan Pereira
Mestre em Ciências da Religião.
Universidade Presbiteriana Mackenzie
me.ivanguedes@gmail.com
Outro Blog
Reflexão Bíblica
http://reflexaobiblica.spaceblog.com.br/
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Cidade de São Paulo - Pioneiro do Radialismo Evangélico
http://historiologiaprotestante.blogspot.com.br/2014/02/presbiterianismo-na-cidade-de-sao-paulo.html
Referências Bibliográficas
CASTRO, Luís Alberto
de. A Trajetória do “Velho Mestre: Uma
Biografia do Rev. José Borges dos Santos Júnior – um recorte historiográfico da
Igreja Presbiteriana do Brasil. Dissertação (Mestre em Divindade) – Centro
Presbiteriano de Pós-Graduação Andrew Jumper, São Paulo, 2011.
GUEDES, Ivan Pereira. O protestantismo na cidade de São Paulo –
presbiterianismo: primórdios e desenvolvimento do presbiterianismo.
Alemanha: Ed. Novas Edições Acadêmicas, 2013.
Revista Teológica –
Seminário Teológico Presbiteriano de Campinas, n° ?, 1939.
[1] Antônio Jannuzzi (1855-1949) Natural da
Itália, grande empresário e construtor no Rio de Janeiro, edificador de
templos, benemérito de muitas instituições (Hospital Evangélico, Ateneu
Valenciano, Orfanato Presbiteriano). Alderi Souza de Matos (Pioneiros
Presbiterianos no Brasil - Galeria de Leigos)
http://www.mackenzie.br/7159.98.html. Foi membro da IPB do Rio de Janeiro, pastoreado
pelo Rev. Álvaro Reis do qual se tornou amigo.
[2] Em 1924 o coronel Cardoso o adquire da
Igreja Presbiteriana e o doa para a mitra diocesana com uma clausula de no
prazo de dois anos ali se instalar um estabelecimento de ensino secundário.
[3] Servia de preparação e introdução ao
curso teológico propriamente dito.
[4] Igreja Presbiteriana Unida de São
Paulo.
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