Introdução
A Reforma Religiosa ocorrida
no século XVI, também denominada de Reforma Protestante, foi sem dúvida alguma um dos
acontecimentos histórico mais impactante na vida de pessoas, nações e do mundo
Ocidental. Suas ondas sísmicas ainda se fazem sentir, mesmo que de forma tênue,
nos dias iniciais deste nosso século XXI.
Evidentemente que um movimento
desta envergadura e abrangência haveria de produzir personagens da mesma
magnitude. Nomes como os de Martinho Lutero, João Calvino, Zwínglio tornaram-se
de domínio público e ainda hoje inspiram cristãos e não cristãos em todo mundo
ocidental.
Mas um movimento com esta
dimensão continental, originariamente de cunho religioso, não poderia ter alcançado
esta magnitude e expandindo tão rapidamente se não estivesse inserido em uma
esfera maior dos acontecimentos sociais, políticos e econômicos que lhes estão
conectados e até mesmo amalgamados.
Desta forma, ao nos referirmos
à Reforma Religiosa e/ou Protestante, a empobreceremos muito se nos
restringirmos apenas aos personagens e movimentos eminentemente religiosos. Inúmeros
personagens e movimentos paralelos contribuíram de forma efetiva nos movimentos
iniciais que culminaram com a Reforma em si, bem como nos múltiplos
desdobramentos produzidos em sua esteira no transcorrer dos anos.
Esse singelo espaço será
ocupado pelo esforço de resgatarmos esses personagens e movimentos que
paralelamente acompanharam desde sua origem a Reforma Protestante e seus
desdobramentos na sociedade humana.
ERASMO DE ROTTERDAM: Um
Renascentista na Reforma Religiosa e/ou Protestante
Seu nome de batismo era Geer
Geertz, de origem holandês, mas posteriormente optou, como tantos outros
contemporâneos igualmente influenciados pelo movimento humanista,[1] por um nome de origem
latina Desiderius Erasmus, mas o nome que prevaleceu na literatura acabou sendo
Erasmo de Rotterdam, vinculado à cidade em que nascera em 1446.[2]
Erasmo nasce no entroncamento
de dois séculos, XV e XVI, demarcando uma das mais significativas mudanças de
mentalidade na sociedade ocidental. Nada seria mais como antes, as
transformações iniciadas no século XV e efetuadas no século XVI não deixariam
pedra sobre pedra. Todas as esferas da sociedade, incluindo a até então intocável
religião, seriam afetadas profundamente e tomariam formas e dimensões jamais
imaginadas por qualquer pessoa ou instituição daqueles dias.
Como filho da Renascença[3] Erasmo assume um papel
significante na área do conhecimento e seus escritos filosófico-religioso
demonstram sua erudição e lhe outorga o respeito e admiração de seus pares
acadêmicos, mais ainda, extrapolando as rígidas fronteiras acadêmica alcança a
mentalidade da sociedade. Seu esforço é direcionado em unir o ser humano, a
religião e o conhecimento advindo das experiências vivenciais. Esta proposta, aparentemente
simples para nós hoje, naqueles dias tornam-se estopim de uma enorme batalha,
pois bate de frente com a toda poderosa teologia tomista-aristotélica,[4] mergulhada em discussões e
elucubrações intermináveis sobre temas metafísicos e dialéticos totalmente
alienados da realidade da sociedade e da vida cotidiana das pessoas.
Em nenhum momento Erasmo rompe
oficialmente com Tomás de Aquino,[5] o arquiteto do sistema
teológico tomista que procurava fazer a junção da filosofia grecolatina
clássica (principalmente de Aristóteles)[6] para compreender a revelação
religiosa do cristianismo, mas em seus escritos fica claro as discordâncias de
Erasmo em relação aos conceitos tomista que castrava qualquer outra forma de
pensar e conhecer. Partindo dos princípios fomentado dentro da rigidez escolástica
a teologia cristã acabava produzindo uma religiosidade estéril, de maneira que
a força vivificadora e transformadora do Evangelho se tornava apenas uma vaga
lembrança. Mas é esta concepção aristotélico-tomista que vai predominar na
tardia Idade Média e moldar o pensamento da igreja e da sociedade – uma religião
especulativa que perdera a capacidade de dar esperança e paz aos corações dos
medievos aterrorizados continuamente pelo prisma da morte e do inferno.[7]
A proposta abraçada por Erasmo
e por seus contemporâneos humanistas era tão somente retornar às origens. Para
ele era preciso urgentemente redescobrir a simplicidade e singeleza do
Evangelho; era necessário retornar aos princípios elaborados por Cristo; a
religião cristã precisava alcançar a vida das pessoas proporcionando a elas um
cristianismo vivencial centrado no tripé da fé sincera, amor sem hipocrisia e
esperança que não se envergonha, afastando-se das especulações metafísicas e
argumentações dialéticas. Para que este objetivo pudesse ser alcançado se fazia
necessário um retorno às fontes primarias do cristianismo – os textos
evangélicos do Novo Testamento.[8]
Em sua obra mais profícua –
Elogio da loucura (Encomium moriae seu laus stultitiae) – Erasmo expõe todo seu
arsenal crítico da religiosidade de seus dias. A leitura desse livro incomoda
ainda hoje e deveria ser leitura obrigatória a todos que estão ligados à
religião cristã, bem como as instâncias da política e governança. Seus
paradoxos e ironias, suas críticas acerbas e diretas contra as lideranças
eclesiásticas, sua exposição das hipocrisias e da corrupção, aliada a uma
exaltação dos valores transcendentais, fecundadas no tripé da fé, da esperança eterna
e da pratica do amor torna a leitura dessa obra obrigatória.[9]
Longe de ser uma obra cômica
da vida, ela oferece a oportunidade de um autoexame profundo no que concerne à
vida humana em todas as suas dimensões que se revelam em todos os caminhos e
descaminhos trilhados pelo ser humano; aquilo que somos transparece de uma
forma ou outra, nos atos, fatos, erros e acertos do indivíduo e que retumba com
toda intensidade na sociedade em todas as suas dimensões eclesial, civil,
política e econômica. As palavras se Luiz Feracine (2011, p. 44) são oportunas:
O que mais encanta nessa obra é a relação dos opostos entre
ilusão e verdade, sabedoria e doidice, máscara e autenticidade.
Sabemos que o impacto provocado pela edição daquele texto
acusatório contribuiu para a reflexão e mesmo para a reforma interna no âmbito
eclesiástico tanto da época como do período posterior a Erasmo.
Em suma, “Elogio da Loucura” concretiza o senso sacro do
profetismo sob a modalidade de pilhéria mordaz.
Erasmo e sua Relação com a
Reforma Protestante
Erasmo vivenciou dois dos
maiores movimentos que eclodiram e transformaram a história ocidental – o
Humanismo Renascentista e a Reforma Protestante.
A situação caótica da
sociedade e da Igreja Cristã perfazem o contexto onde prolifera ambos os
movimentos: tensões políticas e sociais, catástrofes climáticas, pragas na
agricultura, propagação de doenças, sendo a principal delas a peste negra, que
sozinha dizimou aproximadamente um terço da população europeia; o juízo final
nunca antes foi tão iminente, o pavor da morte aterrorizava as pessoas em todas
as esferas da sociedade; a Igreja Cristã que deveria amenizar esse terror e
apontar um caminho para sair desta situação caótica e desesperadora, está mergulhada
em suas próprias mazelas, tomada pela corrupção moral, econômica e eclesiástica.
As imoralidades dos papas, bispos, sacerdotes, o cisma do Ocidente com o cativeiro
do papa em Avignon, o comercio das relíquias e das indulgências, a simonia
desvairada, o nepotismo exacerbado de bispos e cardeais, tudo contribuía para
que a religião fosse banalizada e a autoridade da igreja se tornasse uma peça
de ficção. O cristão para ter acesso a Deus precisava trilhar um caminho longo
e tortuoso: “pároco, bispo, papa, missa, confissão, comunhão, oração,
indulgências, relíquias, rosário, peregrinações, jejuns, abstinências etc.”
(MONDIN, 1981, p. 15). Mas na mesma medida em que esse sistema complexo ruía as
pessoas paulatinamente tomam consciência de que deveria haver um caminho mais
simples e menos oneroso para se chegar a Deus.
Após a edição de seu livro “O
Elogio da Loucura” publicada pela primeira vez em latim em 1509, mas
rapidamente traduzido para outras línguas, inclusive para o inglês em 1549, elevou
Erasmo a um dos expoentes do movimento humanista.
O Humanismo Renascentista e a Reforma Protestante são
considerados o prelúdio da Modernidade na Europa e de fato compactuavam em diversos
pontos:[10] um retorno à Bíblia,
buscando as origens evangélicas; uma religião mais interior, pessoal, tornando
desnecessário os intermediários entre Deus e os fiéis e consequente minimização
da hierarquia eclesiástica, do culto dos santos e das longas cerimônias
católicas. Todavia, também compartilhavam aspectos divergentes que no transcorrer
do tempo demonstrariam serem irreconciliáveis. Para não delongar cito apenas os
dois aspectos mais significantes que criou um fosso cada vez mais profundo
entre os dois grandes movimentos.
O primeiro está justamente no fato de que Erasmo permaneceu
um humanista. Assim como os demais amigos da vertente do Humanismo Cristão,
advindos do Norte da Europa, que tinham como objeto primário a própria Bíblia
para seus estudos filológicos e exegéticos, Erasmo manteve-se neutro[11] em
relação ao movimento da Reforma principiada por Lutero e os demais
reformadores. Manteve-se firme em seu ideal de uma reforma interna da Igreja
sem o espectro da ruptura. Acredita que na medida em que se resgatasse os
ensinos dos clássicos, retornando cada vez mais aos princípios originais do
ensino bíblico-cristão, se criaria as condições ideais para uma reforma
interior da Igreja e que esse movimento ocorreria naturalmente, sem guerra[12]
ou ruptura. A melhor exposição desta “filosofia de Cristo” proposta por Erasmo
está em seu livro “Manual do soldado cristão” (Enchiridion), escrito em 1503,
mas que somente a partir da terceira edição em 1515 (dois anos antes do início
da Reforma) produz um forte impacto. Nessa obra ele esboça sua tese
revolucionária de que era possível produzir uma reforma na Igreja a partir de
um retorno coletivo aos escritos dos pais da Igreja e da Bíblia, pois para ele
a vitalidade do cristianismo se encontrava na força leiga e não nas limitações
do clero (MATOS, 2008, p. 135).
Para Lutero e seus companheiros reformadores a proposta dos
humanistas era insuficiente, pois a deturpação e corrupção desenvolvida nas
entranhas da Igreja havia alcançado o nível de metástase, de maneira que, nada
menos do que uma cirurgia radical seria necessária para se extrair a parte
ainda saudável da Igreja cristã, antes que ela apodrecesse por inteira. Na
permanência destas duas interpretações e posturas o distanciamento dos
humanistas cristãos e dos reformadores torna-se cada vez mais irreversível.
O segundo aspecto que demarcou definitivamente a distância
entre os dois movimentos foi a interpretação irreconciliável da questão sobre o
livre arbítrio da vontade humana.
Na mesma medida em que o movimento da Reforma tornava-se
cada vez mais abrangente e consistente, Erasmo começa a ser pressionado pelas
lideranças eclesiásticas da Igreja Romana para que assuma uma posição clara
contra Lutero e suas proposições “heréticas”. Tinha ele o direito de se abster,
de ser uma testemunha passiva desta "tragédia" que por culpa de uns e
de outros, iria em breve dilacerar a sua Igreja? Mas Erasmo em uma correspondência com seu
amigo Wolfgang Capitone deixa claro sua contrariedade em fazê-lo: “Os teólogos
pensam que Lutero não pode ser subjugado, exceto pelo seu estilo, e isso
ocultamente demandam: que eu escreva contra ele. Mas eu me abstenho como sendo
isso insanidade”. (PINTACUDA, 2001, p. 51). Pela similaridade de suas críticas aos
erros da Igreja muitos suspeitavam e insinuavam que Erasmo estivesse apoiando o
movimento de Lutero.[13] A pressão torna-se
insuportável de maneira que o humanista escolhe um tema que sabia de antemão
qual seria a reação do reformista – o livre-arbítrio.[14] Esta intenção de Erasmo
chega ao conhecimento de Lutero que lhe escreve uma carta, datada de 15 de
abril de 1524, onde argumenta que se Erasmo não desejava fazer parte do
movimento reformador, que permanecesse neutro e não se colocasse abertamente
contra, no que o reformador não foi atendido.
Em setembro de 1524, no transcorrer da feira de Frankfurt,
lança seu livro “De Libero Arbítrio” (FEBVRE, 2012, p. 280). É possível uma
tripla divisão desse livro: inicialmente ele propõe algumas questões acerca da
importância do tema e os pressupostos metodológicos que deverá utilizar no
transcorrer da sua argumentação. Na segunda parte ele faz um levantamento dos
textos bíblicos que fundamentam o livre-arbítrio e os textos que são utilizados
para nega-lo. Um último bloco é utilizado para analisar a argumentação de
Lutero em sua negativa do livre-arbítrio. Erasmo opta por contestar a
interpretação antropológica utilizada por Lutero em suas asserções e em outras
literaturas do reformador alemão.[15]
A resposta de Lutero vem no ano seguinte quando em dezembro
de 1525 publica sua obra “De Servo Arbítrio” (FEBVRE, 2012, p. 280). Sua
intenção é contestar cada uma das argumentações de Erasmo. Sua tese é que a
Bíblia não pode ter divergências, pois seu autor é apenas um, o Espírito Santo.
Para o reformador a vontade humana, corrompida pelo pecado, não tem força
suficiente para alcançar a salvação sem ação continua da graça de Deus. Para
ilustrar o domínio do pecado sobre a vontade humana utiliza a figura do jumento
que é dominado por seu montador, que o dirige para onde quiser, no caso seria
Deus ou Satanás. E mais ainda, não é o ser humano que escolhe seu “montador”,
mas ele é escolhido. Para Lutero, em termos de salvação ou condenação, o ser
humano não possui livre-arbítrio, pois sua vontade esta cativa, escravizada
pelo pecado.
É perceptível a irritação e até mesmo uma dose de decepção
por parte de Lutero em relação as assertivas de Erasmo. Crítica a definição de
livre-arbítrio oferecida pelo humanista, o qual o reformador declara não fazer
sentido, pois a única coisa capaz de romper os grilhões do pecado humano são as
ações de Deus e Sua palavra. E como era de seu feitio utiliza a ironia dizendo
que se Erasmo não desejava abordar esta questão, não deveria ter escrito o
livro “De Libero Arbítrio” onde acaba falando mais da graça de Deus do que
sobre a vontade livre do homem (LUTERO, 1993, p. 27 e 36). Em relação às leis
contidas nas Escrituras, elas são reveladoras da total incapacidade do ser
humano em obedece-las ao invés de atestar sua capacidade de escolha. Quanto ao exemplo utilizado por Erasmo, sobre
o endurecimento do coração de Faraó, o reformador acusa o humanista de fazer similitude
e deduções que vão além da simplicidade da narrativa bíblica.
Quando
Erasmo escolheu a temática do livre arbítrio ele sabia que uma conciliação com
Lutero seria impossível, pois ambos partiam de primícias diferentes e,
portanto, acabariam chegando a conclusões excludentes. Erasmo como
representante do humanismo cristão, entende que a vontade humana é livre para
fazer suas próprias escolhas seja o bem ou mal, determinando a questão da
salvação. Para ele o ser humano não está totalmente depravado, pois na
utilização de suas faculdades racionais ele ainda é capaz de boas ações. A
concepção de Lutero é justamente o oposto, pois segundo ele o ser humano está
totalmente depravado e, portanto, naturalmente o ser humano não é capaz de
fazer o bem, pois todas suas ações são más por natureza, de maneira que não
pode determinar sua própria salvação. Assim, Erasmo mantendo seus pressupostos
humanistas desenvolve uma visão positiva sobre o ser humano e Lutero coerente
com seus pressupostos exegético-teológico mantém sua concepção negativa do ser
humano.
Conclusão
A relevância de Erasmo para o movimento da Reforma
Religiosa e/ou Protestante não pode de forma alguma ser desmerecido. Sua
análise crítica da Igreja medieval, apontando as suas distorções do Evangelho,
enriquecimento financeiro, injustiça social e implacável opressão política,
assim como a busca incansável das origens cristãs, seja com uma tradução mais
exata dos textos bíblicos evangélicos, seja resgatando a ampla literatura dos
pais da igreja, abriram e indicaram o caminho por onde todos os reformadores,
incluindo o próprio Lutero, trilharam até o ponto em que rompendo com a Igreja
Romana acabam por prosseguirem em direções distintas.
Erasmo de Roterdã, príncipe dos humanistas cristãos, é uma
das figuras relevantes que direta e indiretamente contribuíram para o início do
movimento reformado, que acabou por transformar completamente não somente a
história da igreja, mas a própria história da sociedade ocidental. Depois de
Erasmo e seu humanismo e de Lutero e sua reforma o mundo Ocidental jamais seria
o mesmo.
Utilização livre desde que
citando a fonte
Guedes, Ivan Pereira
Mestre em Ciências da
Religião.
Universidade Presbiteriana
Mackenzie
me.ivanguedes@gmail.com
Outro Blog
Reflexão Bíblica
http://reflexaobiblica.spaceblog.com.br/
Referências
Bibliográficas
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Pesquisa Histórica] Curitiba: Universidade Federal do Paraná, 2008.
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[1] Ainda que o termo “Humanismo” tenha
sido usado pela primeira vez no início do 800 (F. I. Niethammer) para
contrastar as disciplinas dos estudos clássicos em relação às disciplinas
cientificas, a palavra humanista já era utilizada no 400 como derivada de
humanitas, em que Cícero e Gélio faziam referência a educação e formação
espiritual do homem, cujas disciplinas poesia, retórica, história e filosofia
eram essenciais e que em seu conjunto eram denominadas de studia humanitatis e studia
humaniora, que segundo os gregos (paideia) se relacionava com a educação e
formação do homem. Esse conjunto de saberes possibilitava o ser humano conhecer
a si mesmo e assim se fortalecer e se potenciaza-se. A partir do século XV as
litterae humanae, cujo paradigma eras as obras latina e grega antigas e cujos
autores tornaram-se os verdadeiros mestres da humanidade, demarcando o início
de um novo período histórico cultural. Reale e Antiseri destacam os
representantes das duas formas opostas de se interpretar contemporaneamente a
significância do humanismo (2004, p. 06-08).
[2] Há discussões sobre a data de seu
nascimento e alguns colocam 1469 como a data mais correta.
[3] O termo se define no oitocentos tendo
como referencial bibliográfico a obra de Jacob Burckhardt (1818-1897) que tinha
o título “A cultura da Renascença na Itália” (Basileia 1860). Nesse termo há os
germes dos movimentos que vão nascendo dentro do espírito de “renovatio” e a
redescoberta da antiguidade. O movimento humanista e da reforma religiosa foram
possíveis por causa do espírito renascentista. Os oitocentistas foram radicais
ao designar o período medieval anterior como sendo um “período de trevas” e o
período deles como de “luz”. Hoje há uma percepção mais equilibrada: “Portanto,
o ‘renascimento’ que constitui a peculiaridade da ‘renascença’ não é o
renascimento da civilização contra a incivilização, da cultura contra a
incultura e a barbárie, do saber contra a ignorância: ele é muito mais o
nascimento de outra civilização, de outra cultura, de outro saber”. (REALI e
ANTISERI, 2004, p. 11). O mesmo se aplica a questão eminentemente religiosa,
pois antes da Reforma Protestante, houve inúmeros movimentos reformista que
foram suplantados pelo poder que a Igreja Católica Romana detinha.
[4][4] “Nutria grande admiração por Sócrates, enaltecendo-o como
modelo da sabedoria natural, assim como Jesus o era da sabedoria e bondade
sobrenaturais. ” (MATOS, 2008, p. 134).
[5] São Tomás de Aquino foi um
importante teólogo, filósofo e padre dominicano do século XIII. Foi declarado
santo pelo papa João XXII em 18 de julho de 1323. É considerado um dos
principais representantes da escolástica (linha filosófica medieval de base
cristã). Foi o fundador da escola tomista de filosofia e teologia.
[6] Em seu adágio “Os Silenos de Alcebiades”
Erasmo reconheciam que seria um crime e sacrilégio diminuir em qualquer ponto a
autoridade de Aristóteles que ele o considerava como um homem de um saber
excepcional, mas qual luz se radiosa fosse ela não se obscureceria em
comparação a sabedoria celeste! (NASCIMENTO, 2011, p. 52)
[7] “[...] após a Peste negra, os artistas
acharam uma deleitação mórbida em pormerizar completamente a variedade dos
suplícios infernais. [...]. Mais ainda que o juízo final e o inferno, a morte é
o grande tema da iconografia da Idade Média a findar. Incessantemente ressoa
através da vida o apelo do memento mori. [...] a morte é, nos frescos, na
literatura, nas imagens dos livros de horas, o grande personagem do tempo”. (DELUMEAU,
1989, p. 62)
[8] A tradução do NT de Erasmo produziu uma
repercussão intensa, pois ele utiliza os manuscritos gregos originais e não o
texto latino da Vulgata. Nas duas primeiras edições de 1516 e 1519 alcançou a
expressiva tiragem de 3.300 exemplares. A segunda edição já trazendo o título
de “Novum Testamentum” foi utilizada por Martinho Lutero como base para sua
tradução para o alemão. Mas ele foi fortemente criticado pelos defensores da
Latina até então a única tradução oficial. Seus críticos centraram em três
questões: 1) as diferenças que havia entre sua nova tradução latina e a
consagrada Vulgata; 2) as longas anotações, que justificava sua tradução e 3) a
inclusão, entre as notas, de comentários sobre a vida desregrada e corrupta de
muitos sacerdotes. Além das críticas nos púlpitos e nas Universidades, como as
de Cambridge e Oxford, proibia-se os alunos de lerem e os livreiros de venderem
a “herética” tradução. Um dos editores da Poliglota Complutense, Lopes de
Stunica, o acusa de não ter incluindo o texto de 1 João 5.7 e 8 (Coma Joanina),
o que ele replicou de que não havia encontrado em nenhum manuscrito grego a
referida passagem e desafio seu acusador a trazer ao menos um texto grego que a
comprovasse. Um manuscrito lhe foi trazido e ele honrou sua promessa e incluiu
a referida passagem em sua terceira edição, todavia, incluiu uma longa nota
marginal colocando sob suspeita o texto que lhe foi trazido. Muitos críticos
textuais entendem que o texto foi fabricado artificialmente em Oxford, em 1520,
por um frade franciscano chamado Froy, que ele extraiu da Vulgata Latina.
[9] Ele chegou a ser ordenado sacerdote
(1492), todavia, não conseguiu se adaptar à vida religiosa e pediu dispensa do
ministério e do hábito, mas jamais se afastou da temática religiosa e seus
escritos demonstram o alto apreço que manteve das questões relacionadas à fé.
[10] Muitas das posições esposada por
Erasmo, principalmente suas críticas à Igreja e ao clero renascentista,
antecipam muitas das posições que haverão de serem esposada por Martinho Lutero
que desembocara na Reforma Protestante, inicialmente na Alemanha e depois por
toda a Europa.
[11] Se a postura ambígua de neutralidade
lhe trouxe algum benefício imediato, ao longo do tempo o deixou isolado e sem
seguidores. Sem o apoio dos reformadores acabou angariando a aversão dos
católicos e sofrendo duras críticas por parte dos assessores do Papa: Lopes de
Zuniga, Egídio de Viterbo e Batista Casali. Posteriormente parte de suas obras
foram colocadas no “Index” e recomendando-se cautela em relação às demais e em
1529 um dos tradutores de suas obras, Louis de Berquin, foi queimado na
fogueira, em Paris, pela Inquisição.
[12] Erasmo era um pacifista resoluto e para
ele a guerra era inaceitável e o maior e mais terrível dos males da humanidade,
portanto, injustificável em quaisquer fossem as circunstâncias. Em seu livro
“Elogio da Loucura” escreve: “Não existe
doidice maior do que a guerra. Seja qual for o resultado, cada um dos
opositores colhe prejuízos pesados. O certo mesmo seria imitar Arquílogo que
jogou no chão suas armas e desertou”. [negrito meu].
[13] A publicação em 1504 do seu “Manual do
Soldado Cristão”, onde tecia fortes críticas, principalmente às autoridades
eclesiásticas e à decadência da religião cristã, reforçada posteriormente por
sua tradução do Novo Testamento do grego para o latim (1504), independente e
crítica da Vulgata, o tornava referencial para as propostas formuladas pelos reformadores.
“Lutero? Filho espiritual e êmulo de Erasmo – o realizador de suas veleidades
reformadoras” (FEBVRE, 2012, p. 154).
[14] Segundo Roland Bainton, essa temática
foi sugerida por muitos daqueles que o pressionavam para se posicionar contra
Lutero ([1969?], p. 221, apud RODRIGUES, 2008, p. 6).
[15] Martin Dreher deduz que a obra não
representa a posição teológica de Erasmo sobre a questão, servindo mais para
marcar posição contra as insinuações de ser luteranizante, do que uma opinião conclusiva
sobre o assunto (DREHER, 1993, p. 15, apud CUNHA, 2014, p.56).
para quem esta antenado nos vestibulres ...
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