O
termo “Pais da Igreja” pode soar estranho aos ouvidos dos
cristãos evangélicos do século XXI, todavia nos primeiros anos ou até mesmo
séculos da era cristã o termo era comum para se referir àqueles que tinham a
responsabilidade de ensinar e orientar nas igrejas ou mesmo na forma de
discipulado.
Ainda
em suas correspondências o apostolo Paulo faz uso desta imagem paternal para se
referir ao seu relacionamento para com aqueles aos quais ele conduziu a Cristo
e lhes ensinou os princípios elementares da fé cristã: "Mesmo que tenham
dez mil tutores em Cristo, vocês não têm muitos pais, porque somente eu os
gerei em Jesus Cristo por meio do Evangelho"1 Co 4, 15
.
Ireneu
de Lyon explica assim o termo: "Quando alguém recebe o ensinamento de lábios
de outro, é chamado filho daquele que o instrui, e este último, por sua vez, é
chamado seu pai” Contra as Heresias 4, 41, 2.
Com
a subsequente morte da geração apostólica o ofício de ensino passou a ser da
responsabilidade dos Presbíteros (Anciãos, Bispos), assim como carinhosamente o
título "Padre [Pai]". Mas
em decorrência das múltiplas controvérsias doutrinárias do século IV, o
conceito de “Pai” foi gradualmente modificado e consequentemente se
distanciando de seu sentido primário original.
Com
multiplicidade do uso do termo passou a ser utilizado a forma plural “Pais”
designando um grupo mais ou menos circunscrito de personagens eclesiásticos dos
séculos iniciais da era cristã, cujas opiniões e definições passaram a serem
fontes autoritativas no que tange aos aspectos teológicos e eclesiásticos.
Muitos
reformadores no século XVI, incluindo João Calvino, buscaram
criteriosamente ensinos dos “Pais da Igreja”, como fontes secundárias [o que
não anula ‘somente as Escrituras’ como fonte primária] para defender
seus pontos cardeais de fé e eclesiologia.
Desta
forma passou a ter maior relevância não a declaração feita por um ou outro
isoladamente, mas sim o acordo conjunto de vários em algum ponto da doutrina bíblica.
Nesse sentido, o pensamento dos bispos reunidos no Concílio de Nicéia, o primeiro
dos Concílios chamados Ecumênicos (ano 325), adquire força e autoridade muito
especiais, de maneira que as definições conciliares passaram a constituir o
padrão doutrinário e eclesiástico (ortodoxia) das igrejas e discordar tornou-se
heresia.
O
bispo Basílio referindo-se aos “Pais Nicenos”, que formaram o primeiro Concílio
declara: "O que ensinamos não é o resultado de nossas reflexões pessoais,
mas o que aprendemos dos Santos Padres Epístola 140, 2. 4..”
A partir do século V, recorrer aos "Pais" torna-se um fator
definidor para resolve as controvérsias.
Por
que conhecer os Pais
Os
denominados “Pais da Igreja” não se consideravam e nem podem ser
considerados no mesmo nível das testemunhas diretas e escritores de literaturas
canônicas, como a geração apostólica que os antecedeu. O critério objetivo com
que devem ser tratados e os seus escritos são seus fundamentos canônico
literário, ou seja, o quanto se aproximam ou distanciam das Escrituras do Novo
e do Antigo Testamentos. Nada do que escreveram tem em si valor e autoridade da
literatura inspirada, de maneira que devem ser recebidos sob rigoroso e
criterioso exame à luz da literatura canônica estabelecida. O grande valor
deles e seus estudos é confirmarem e exporem a verdade bíblica (somente as
Escrituras). Quaisquer outros atributos ao trabalho deles torna-se perigoso e
nocivo. Mas quando humildemente vistos como servos das Escrituras tornam-se
instrumento útil para preservação da verdade bíblica e instrumentos pedagógicos
para edificação dos cristãos.
Eles
em momento algum consideraram a si mesmos como testemunhas diretas da revelação
divina e/ou inspirados. Tudo quanto escreveram, breves literaturas polêmicas e
apologéticas, de material devocional, sistemática e, ocasionalmente, histórica,
era completamente dependentes da interpretação dos escritos bíblicos.
A relevância da literatura desta geração pós
apostólica está no fato de que se constituem testemunhas privilegiadas do
ensino direto dos apóstolos; desenvolveram métodos hermenêuticos e teológicos
seguros; produziram uma fonte de riqueza cultural e literária que os tornaram
grandes mestres da igreja de ontem e de hoje. Em consequência destes fatores se
constituem em patrimônio do cristianismo em todos os tempos.
O
período histórico em que eles atuaram ficou conhecido como a “Era Patrística” e
abrange aproximadamente do final do século 1 (com a morte de João o último dos
apóstolos) até meados do século VIII. O apogeu de suas atividades foram os
séculos IV e V, quando o cristianismo estava no processo de se estabelecer como
a igreja estatal do Império Romano. Os que aceitam um período mais longo
considera que seu encerramento ocorre com a morte de João de Damasco em 749.
Eles
podem ser divididos de várias maneiras sendo um método favorito por períodos:
os Padres Ante-Niceno até 325; os Grandes Padres do século IV e metade do
quinto (325-451); e os Padres posteriores. Uma divisão mais simplificada é em
orientais e ocidentais.
Ante-Nicenos: Os Escritos até 325 d.C.
Os Padres Apostólicos com Justino Mártir
e Irineu, Clemente de Roma, Mateus, Policarpo, Inácio, Barnabé, Papias, Justino
Mártir, Irineu.
Século II - Hermas, Taciano, Teófilo, Atenágoras,
Clemente de Alexandria, Tertuliano
Século III - Tertuliano Parte IV; Minúcio Félix;
Commodian; Orígenes; Hipólito; Cipriano; Caius; Novaciano; Gregório
Thaumaturgo; Dinoysius, o Grande; Júlio Africano; Anatólio; Metódio; Arnóbio.
Séculos III e IV - Lactâncio, Venâncio, Astério, Vitorino,
Dionísio.
Nicenos e Pós-Nicenos – Agostinho; Crisóstomo; Eusébio;
Sócrates; Teodoreto; Jerônimo; Genádio, Rufino; Sozomeno; Atanásio; Gregório
de Nissa; Cirilo de Jerusalém, Gregório Nazianzeno; Basil;
Hilário de Poitiers, João de Damasco; Ambrósio; Sulpitius Severus, Vicente de
Lerins, João Cassiano; Leão Magno, Gregório Magno; Ephriam Syrus,
Aphrahat.
VERBETE
- Pais Apostólicos
https://historiologiaprotestante.blogspot.com/2020/02/verbete-pais-apostolicos.html?spref=tw
VERBETE
– Puritanismo
https://historiologiaprotestante.blogspot.com/2013/10/verbete-puritanismo.html
VERBETE
– Protestantismo
https://historiologiaprotestante.blogspot.com/2013/11/verbete-protestantismo.html
VERBETE
– Denominacionalismo
https://historiologiaprotestante.blogspot.com/2014/01/verbete-denominacionalismo.html
VERBETE
– Calvinismo
https://historiologiaprotestante.blogspot.com/2014/01/verbete-calvinismo.html
VERBETE
- Jacob Arminius
https://historiologiaprotestante.blogspot.com/2016/06/verbete-jacob-arminius.html
Referências
Bibliográficas
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Hans von. Os Pais da Igreja – a vida e a doutrina dos primeiros teólogos
cristãos. Tradução de Degmar Ribas Júnior. Rio de Janeiro, CPAD, 2005-2010.
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Oscar de, HARNACK, Adolfus and ZAHN, Theodorus. Patrum Apostolicorum
Opera. Lipsiae: J.C. Hinrichs, 1877.
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Christopher A. Lendo as Escrituras com os pais da igreja, 2. ed.,
tradução de Rubens Castilho; Meire Santos. Viçosa: Ultimato, 2007.
HAMMAN,
Adalbert-G. Para leer los padres de la iglesia. Traducción: Santiago
García Rodríguez. Bilbao: Editorial Desclée S.A., 2009.
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J.B. The Apostolic Fathers. 5 vols. London: Macmillan, 1893.
Updated by Holmes, Michael, The Apostolic Fathers: Greek Texts and English
Translations. 3d rev. ed. Grand Rapids: Baker, 2007.
LITFIN,
Bryan M. Conhecendo os Pais da Igreja - uma introdução evangélica. Tradução
de Márcio Loureiro Redondo. São Paulo: Vida Nova, 2015.
VIVES,
Josep. Los Padres de la Iglesia. Barcelona: Ed. Herder, 1982.
VIVES,
Josep y LOARTE, René. El tesouro de los padres de la iglesia. Editorial: RIALP, 2021.
Christian
Clssics Ethereal Library. Early Church Fathers. Early Church Fathers - Christian Classics
Ethereal Library (ccel.org). Contém as obras escritas por quase todos os Pais
da Igreja.
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