Uma
organização muito importante no contexto histórico das décadas de cinquenta e início
dos sessenta é a Associação de
Seminários Teológicos Evangélicos (ASTE).
Ela foi uma fomentadora de propostas ecumênicas e abasteceu os seminários no
Brasil de uma literatura teológica pensada na Europa e mais progressista,
fugindo assim do padrão norte americano e conservador.
Com
apoio do Conselho Mundial de Igrejas (CMI) ela foi fundada no dia 19 de
Dezembro de 1961, em Rudge Ramos, São Bernardo do Campo, São Paulo, numa
Assembleia Constituinte, tendo as dependências do Seminário Teológico da Igreja
Metodista como sede deste primeiro encontro da ASTE[2] tendo
como representantes deste momento histórico: Paul Schelp, Nathanael I. do
Nascimento, Aharon Sapsezian, Jaci C. Maraschin, Harding Meyer , Othon G.
Dourado, Carlos Cunha, José Del Nero, Isaías F. Sucasas, Martin Regrich, Júlio
A. Ferreira, então diretor do Seminário Presbiteriano de Campinas e José Borges
dos Santos Jr., então presidente do SC da IPB (cf. identificados na foto ao
lado).
Após
eleição a primeira diretoria ficou assim constituída: Presidente: Júlio
Andrade Ferreira (IPB) Vice-presidente:
Oton Guanais Dourado (IPB) Secretário:
Jaci Correa Maraschin (Anglicano) Tesoureiro:
Nathanael I. Nascimento (Metodista).
Também foram eleitas diretorias para três departamentos que funcionariam
permanentemente: Depto de Literatura: Pres. A. Bem Oliver, Aharon
Sapsezian (Redator da Revista) e dois Membros: Heinrich Tappenbeck, Benedito de
Paula Bittencourt e Merval Rosa; o Centro Evangélico de Estudos tendo na
presidência: Nathanael Innocêncio do Nascimento e como Membros: Joaquim Beato,
João Mizuki, Waldir de Carvalho Luz e Carlos Cunha; Depto de Reconhecimentos e
Bolsas sendo o presidente Wilson Guedelha e como Membros: Paul Schelp, Harding Meyer, Jaci C. Maraschin
e José Gonçalves Salvador (LONGUINI NETO, 1991, p. 87).
Os
três Seminários Presbiterianos em funcionamento naquele período, Campinas (SP),
Recife (PE) e o recém-formado Centenário em Vitória (ES), fizeram parte das
instituições teológicas fundadoras da ASTE, bem como instituições[3] de
outras denominações como Batista, Congregacional, Presbiteriana Independente,
Metodista, Luterana, Episcopal, Igreja Evangélica Armênia.
Na
Revista Teológica do Seminário Presbiteriano de Campinas de dezembro de 1962 a
ASTE é assim apresentada aos leitores, pelo Rev. Prof. Julio A. Ferreira, que
foi seu primeiro presidente:
Essa associação foi fundada em dezembro de 1961, e é, de
certo modo, continuadora da Comissão de Literatura Teológica, fundada sob os
auspícios do Fundo de Educação Teológica e, no Brasil, da Confederação
Evangélica do Brasil. Como já tivemos oportunidade de anunciar por esta
Revista, a ASTE através de seus três departamentos, Reconhecimentos e Bolsas,
Literatura Teológica e Centro de Estudos Evangélicos é uma organização da qual
muito se espera. Estamos informados que neste ano, além dos primeiros passos
indispensáveis e complexos para a estruturação da novel Associação, já foram
tomados sérios contactos com o Fundo de Educação Teológica, de modo, a obter
deste a promessa de um ― major grant. São sim previsíveis as consequências
benéficas dessa grande dádiva no levantamento geral do nível da educação
teológica em todo o Brasil.
Por
outro lado, estão em franco andamento os preparativos para um simpósio sobre a
situação atual da Igreja Católica Romana. Espera-se que em princípios de
novembro se dê, em S. Paulo, provavelmente na Associação Cristã de Moços (ACM),
tal encontro. Para a primeira parte do próximo ano já está sendo planejado um
encontro de Seminários para estudo sério de reestruturação de currículos
teológicos. (p. 5-6).
Será
através dos Simpósios promovidos pela ASTE e de seu Departamento de Literatura
que os seminaristas haverão de serem impactados e desafiados a assumirem um
posicionamento mais propositivo em relação às questões relevantes da sociedade
brasileira. Em 1963 e 1964 o Rev. José Borges dos Santos Jr. foi um dos
conferencistas dos Simpósios anuais promovidos pela ASTE; ele ainda 1964
participa de 02 reuniões; em 1966 participa de 01 reunião do Conselho; e a
partir de 1967 não constam mais atividades junto a esta organização teológica.
Ao
introduzir a teologia dialética de Karl Barth (1886-1968), posteriormente
chamada de ―teologia da Palavra de Deus e mais recentemente englobada sob a
nomenclatura generalizada de ―neo-ortodoxia, apontando para ação contínua de
Deus na história humana e que segundo ele o ser humano torna-se peça
fundamental nesta ação divina, somando-se a outros teólogos como Emil Brunner
(1889-1966) e Rudolf Bultmann (1884-1976) e um que particularmente impactou com
mais força a juventude cristã brasileira, Dietrich Bonhoeffer (1906-1945) que
foi martirizado pelos nazistas alemães e que em suas cartas posteriormente
editadas, desafiava os cristãos a vivenciarem a fé no meio da sociedade
secularizada indo além de uma religiosidade e mesmo além das estruturas
eclesiásticas das igrejas, cuja teologia recebe o título de ―Teologia Radical.
Através destas literaturas a ASTE vai começar a mudar o bibliocentrismo
teológico conservador cultuado nos seminários, assim como contribuirá para
atiçar ainda mais o fogo que começa a incendiar a alma dos jovens estudantes de
teologia brasileira, que culminara em um crescente movimento de contestação
dentro das instituições teológicas e que se espalhara pelas denominações
através de seus departamentos de jovens.
A
Mocidade presbiteriana com suas lideranças engajadas, entre eles Waldo César,
Cirene Louro, Paulina Steffen, Homero Silva, Esdras Borges Costa, Lysâneas
Maciel, Elter Maciel, e sua estrutura organizacional espalhada por todo país,
que em 1958 contava com 17.000 membros e 600 sociedades organizadas (União de
Mocidade Presbiteriana - UMP), esta intensamente envolvida e acaba assumindo a
vanguarda dos movimentos progressistas que estão polvilhando o protestantismo
brasileiro.
Evidentemente
que tudo isto faz disparar o alarme das autoridades eclesiásticas mais
conservadoras, que certamente não estavam preparadas para tantas convulsões ou
simplesmente não desejavam mudanças estruturais, pois as estruturas produzem
uma sensação de segurança e poder. A reação é imediata, como pudemos constatar
em diversos momentos desta pesquisa e que culminara com a extinção da
Confederação Nacional de Mocidade e a intervenção e fechamento de seminários e
o expurgo de toda a liderança progressista em todos os âmbitos da denominação.
Utilização
livre desde que citando a fonte
Guedes,
Ivan Pereira
Mestre
em Ciências da Religião.
Universidade
Presbiteriana Mackenzie
me.ivanguedes@gmail.com
Outro
Blog
Reflexão
Bíblica
http://reflexaobiblica.spaceblog.com.br/
Referências Bibliográficas
FILHO, Manoel
Bernardino de Santana. A ASTE e a
ditadura militar. Mnemosine Revista do Programa de Pós-Graduação em
História da UFCG, v.5, n. Especial, 2014. Disponível em: http://www.ufcg.edu.br/~historia/mnemosinerevista/Revistas/Vol%205%20Num%20Especial%20-%202014.pdf.
Acesso em: 20/09/2015.
GUEDES, Ivan Pereira. O protestantismo na cidade de São Paulo –
presbiterianismo: primórdios e desenvolvimento do presbiterianismo.
Alemanha: Ed. Novas Edições Acadêmicas, 2013.
LONGUINI, Luiz. O Novo Rosto da Missão. Viçosa, MG:
Ultimato, 2002.
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Inserção
do Presbiterianismo no Brasil
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Presbiterianismo
na Cidade de São Paulo
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Conferência
do Nordeste http://historiologiaprotestante.blogspot.com.br/search/label/Confer%C3%AAncia%20do%20Nordeste
[1]
Aparte do meu livro: O protestantismo na cidade de São Paulo –
presbiterianismo: primórdios e desenvolvimento do presbiterianismo (cf. ref. abaixo),
com acréscimos e notas de referências.
[2]
Houve quatro reuniões do conselho deliberativo da Comissão de Literatura do
Fundo de Educação Teológica (FET) criado em 1958 pelo (CMI), como preparativo
para esse momento conclusivo: a primeira nos dias 23 e 24 de junho de 1960 e a segunda
no dia 07 de setembro do mesmo ano, ambas no Rio de Janeiro; a terceira nos
dias 14 a 16 de maio de 1961 e a quarta e última desse conselho sendo a primeira
da ASTE no dia 19 de dezembro, em São Bernardo do Campo (SP). Ela nasce
independente da CEB (Confederação
Evangélica do Brasil) e do FET, ainda que
recebia suporte financeiro deste último organismo internacional.
[3]
Lista completa dos Seminários fundadores: Seminário Presbiteriano do
Norte – Recife/PE; Seminário Teológico Batista do Norte do Brasil – Recife/PE; Seminário
Teológico Presbiteriano do Centenário – Vitória/ES; Seminário Teológico do Rio
de Janeiro – Pedra de Guaratiba/RJ; Seminário Teológico Batista do Sul do Brasil
– Rio de Janeiro/RJ; Faculdade de Teologia da Igreja Presbiteriana Independente
– São Paulo/SP; Faculdade de
Teologia da Igreja Metodista Livre – São Paulo/SP; Faculdade da Teologia da
Igreja Metodista – Rudge
Ramos/SBC/SP; Seminário Teológico Presbiteriano de Campinas - Campinas/SP; Seminário
Concórdia da Igreja Evangélica Luterana – Porto Alegre/RS; Seminário Teológico
da Igreja Episcopal do Brasil – Porto Alegre/RS; Faculdade de Teologia da
Igreja Evangélica de Confissão Luterana – São Leopoldo/RS.
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