Translate

quinta-feira, 11 de abril de 2019

Protestantismo no Brasil: O Presbiterianismo na Terra de Castro Alves e Maria Quitéria



Quando em 1875 a igreja em Cachoeira (BA) foi organizada pelos missionários Francis Schneider Houston, Cachoeira era um dos cinco ou seis municípios do Estado [da Bahia] mais importante depois da capital. Quando possível, convém situar a das igrejas no contexto em que estão situadas, e assim constatar os vínculos, as atuações das igrejas como sal e luz da terra. Cachoeira possui um currículo que vale a pena conhecer. Situada a cento e vinte quilômetros de Salvador, ostenta o título oficial de “Cidade Monumento Nacional” e o de “Cidade Heroica”, por suas lutas em favor da Independência do Brasil. Tornou-se capital do Estado durante dezesseis meses, na época da Bahia Independente e da Revolta da Sabinada, insurreição encabeçada pelo médico e professor Francisco Sabino Álvares da Rocha Vieira, em 1837, contrária ao modelo de independência vigente na menoridade de Dom Pedro II, e visava a separação do Império e a instalação de um governo republicano. Terra de Antônio de Castro Alves, renomado poeta e abolicionista, nascido na fazenda em Curralinho, hoje Castro Alves, comarca de Cachoeira. A fazenda pertencia à localidade de Muritiba, hoje município, onde, na luta pela Independência, o major José Antônio da Silva Castro, avô de Castro Alves, organizou um batalhão de setecentos homens, entre os quais o mais valente era um “disfarçado”; depois descobriram que era uma mulher, Maria Quitéria. Castro Alves pertenceu à terceira geração da poesia romântica ou condoreira. O poeta Manuel Bandeira dizia que Castro Alves tinha a mente borbulhante do gênio, a maior força verbal e a inspiração mais generosa de toda a poesia brasileira. Cachoeira é ainda terra natal do engenheiro e abolicionista André Rebouças e de Ana Néri, enfermeira que tão relevantes serviços prestou na Guerra do Paraguai.
O evangelho em Cachoeira
Uma das cidades mais desenvolvidas da Bahia, a fama de Cachoeira despertou nos missionários o interesse de levar a mensagem à cidade, ate então dominada totalmente pelo romanismo e fechada para o protestantismo. Não foi possível levantar informes precisos sobre o começo do trabalho em Cachoeira. Fato certo é que já existiam, na cidade, crentes quando os Revs. Francis Schneider e James Houston organizaram a igreja, em setembro de 1875. Não há precisão também quanto ao dia em setembro, nem como foi a organização, primeiros oficiais e outros atos. Uma publicação de aniver­sário da igreja diz: “Infelizmente não temos o livro de atas que registrou a organização da igreja, e isso se dá em razão das constantes cheias do Rio Paraguaçu, que foram responsáveis por perdas irreparáveis de alguns documentos históricos de nossa igreja”. Mediante atas da igreja da Bahia, verificadas pelo presbítero Eudaldo Andrade Costa, sabe-se que, nos pri­meiros anos, eram pastores da igreja de Cachoeira os mesmos da igreja da Bahia. Cachoeira foi, portanto, a segunda igreja fundada na Bahia e também a segunda em toda a extensão do Nordeste e do Norte. Apesar de rejeições e retaliações romanas, várias congregações e igrejas surgiram no Recônca­vo Baiano. Dentre elas as congregações de Engenho Velho da Vitória, São Gonçalo dos Campos, Cruz das Almas, Conceição de Faria, Governador Mangabeira, Santiago do Iguape, Santo Amaro, Morro do Chapéu e Muritiba. Esta última consta existir desde 1934. Informações chegadas da igreja afirmam que ela na verdade tinha começado em São Felix, e que era doze o número de membros que a formaram.
Grande luta inicial para conseguir um local de reuniões. Na época era proibido às igrejas acatólicas em todo o território nacional construir casas de cultos cm forma de templo. Ademais, não havia recursos financeiros e a igreja, por algum tempo, reuniu-se em residências. Depois alugou um imó­vel na Rua das Flores, atualmente Prisco Paraíso. Em 1901, a Intendência Municipal doou um terreno, mas o local, às margens do rio Paraguaçu, era muito difícil para se construir, pois havia necessidade de muito material de aterro. Com muito esforço, a igreja construiu e inaugurou o templo em 1903, onde até hoje a igreja se reúne, na Praça Ubaldino de Assis. O Rev. Chamberlain era o pastor da época e o projeto de construção foi elaborado e executado pelo Rev. William Wadell, engenheiro e pastor da igreja da Bahia. Mestre de obras, José Martins Alves, pertencente a uma das mais antigas famílias da igreja da capital. Quando inaugurado o templo, era de noventa e sete o número de membros arrolados. A igreja prosseguiu na luta pela sal­vação de almas, tinha já Mesa Administrativa, correspondente ao Conselho, desde 1895, dirigida pelo Rev. Chamberlain. Os presbíteros Francisco David de Magno, Hermelino Ferreira Silva e Agripino Costa Timbeiro eram primeiro e segundo secretários e tesoureiro, respectivamente.
A igreja ia muito bem, mas o prédio onde se reunia, não. Diversas vezes causou transtornos. Mesmo as melhores estruturas desmoronam ante a corrosão, solapamento, enchentes e vendavais. No dia 26 de outubro de 1906, o templo desabou por inteiro e seis pessoas ficaram feridas e hospitalizadas. O então pastor, Henry John McCall, estava para viajar aos Estados Unidos e adiou a viagem para ajudar na reconstrução do templo. Num período de meses, a igreja reuniu-se na Escola América, em São Félix. Com as periódicas, mas certas enchentes do rio Paraguaçu, outras ocorrências foram registradas e danificaram o templo. Em 1960, o assoalho não resistiu e completamente, e em 1989, contrariando as mais experientes previsões, águas invadiram totalmente o templo e causaram estragos enormes.
Pastores da igreja
Como já dito, os primeiros pastores eram os mesmos da igreja da Bahia, mas a partir de 1901 outros chegaram. O Rev. Chamberlain, após a amarga experiência em Feira de Santana, passou a residir e fazer de São Félix e Cachoeira a sede de seu campo missionário, de 1889 a 1902. Pastoreou a igreja de Cachoeira, mas em 1902 seguiu para os Estados Unidos em busca de cura para o câncer. Não teve jeito e pediu que o trouxessem de volta Brasil onde desejava ser sepultado. À beira da morte, visitou Cachoeira pela última vez, e faleceu na casa do filho Pierce, em Salvador, no dia 31 de julho de 1902. Segundo Alderi Matos, nesse mesmo dia chegou a Cachoeira, para pastorear a igreja, o Rev. John McCall, que permaneceu na cidade ase 1908; em fevereiro de 1903 a Junta de Nova York designou-o para todo o campo com base em Cachoeira. Alderi Matos conta que, ao chegar de viagem pastoral pelo campo, em 1904, McCall encontrou pregando no púlpito de Cachoeira o Rev. Álvaro Reis. Mesmo com traje de viagens, as botas meladas de barro, correu para abraçar o célebre pastor da igreja do Rio de Janeiro.
Além do ministério de pregação, a igreja sempre acudiu com víveres a comunidade carente da cidade. A Escola Presbiteriana, com o nome de Simonton, foi fundada como educandário modelar para crianças e jovens de Cachoeira, com ensino segundo as necessidades de preparo dos alunos para a vida, mas sob a ética dos ensinos de Cristo, para esta vida e para a eternidade.
Pastorearam a igreja, além dos mencionados, os Revs. José Ozias Gonçalves, Salomão Ferraz, Augusto Dourado, Manoel A. da Silva, Sérgio Maranhão, Jerônimo Rocha, Milton Ribeiro, Sebastião Gomes, Rodger V. Perkins, Richard Wadell, Sebastião Elias da Silva, Lafaiete Pereira Rocha. Adalto Magalhães, Joel R. Cavalcante, Geraldo Nobre, Milton Loula Dourado, João Dias de Araújo, Laudionor Vieira, José Walmir Lafene, Vicente Cardoso Péricles Evangelista, Caetano Athaide, Josadak Bezerra, Everaldo Porto e Leandro Souza Cruz de Andrade.

Utilização livre desde que citando a fonte
Professor Caleb Soares
Historiador
Mestre em Letras
Mestrando em Teologia
Fundador e Presidente do
Instituto de Pedagogia Cristã (IPC)

Referência Bibliográfica
SOARES, Caleb. 150 anos de paixão missionária – o presbiterianismo no Brasil. Santos (SP): Instituto de Pedagogia Cristã, 2009.

Artigos Relacionados
Protestantismo no Brasil: Italianos Presbiterianos
Protestantismo Presbiteriano no Interior São Paulo: Brotas
Resenha: 150 Anos de Paixão Missionária – O presbiterianismo no Brasil
O Protestantismo na Capital de São Paulo: A Igreja Presbiteriana Jardim das Oliveiras.
DOCUMENTO: O Primeiro Esboço do Presbiterianismo no Brasil
Primeiro Curso Teológico Protestante no Brasil
Resenha: Do Baú do Enos Pai (compartilhando a História do Protestantismo Brasileiro)
Resenha: Os Pioneiros Presbiterianos do Brasil (1859-1900)
Resenha: Léonard, É.-G. O Protestantismo brasileiro
O Protestantismo na América Latina: Implantação
O Brasil pelo Prisma Protestante (J. C. Fletcher)

Nenhum comentário:

Postar um comentário